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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Entrevista - Edição 30


A sustentabilidade como um processo
Pedro Salanek Filho
Diretor da Revista Geração Sustentável

1 – De forma geral, o que há em comum entre as empresas, entidades e pessoas que têm a sustentabilidade entre seus princípios?

Sustentabilidade é um tema relativamente novo. De forma geral, faz aproximadamente 40 anos que se iniciaram os debates sobre os impactos no homem no meio ambiente, o que é muito pouco tempo para consolidar sustentabilidade como cultura. As primeiras iniciativas globais ligadas ao tema surgiram nos anos 70 com um direcionamento mais voltado à ecologia. Nessa época, o tema estava mais restrito aos cientistas e a algumas ONGs. Nos anos 80, o tema passou a ter o envolvimento de alguns governos, quando já se falava em Eco desenvolvimento. Para os negócios e, principalmente, para os cidadãos, esses conceitos são bem mais recentes. Apesar de já se falar de Responsabilidade Social nos anos 80 (no Brasil pelo sociólogo Herbert de Souza e pelo Instituto IBASE), na prática as iniciativas começaram mesmo na metade dos anos 90.
Para o cidadão, principalmente na ótica de consumidor, esse tema é tratado há menos de uma década. Dessa forma, como vem ocorrendo um envolvimento de diferentes setores da sociedade ao longo do tempo, entendo que a principal relação entre empresas, entidades (principalmente as públicas) e as pessoas será a corresponsabilidade entre os impactos de produção e de consumo. Falando em Brasil, um dos avanços é a Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual um dos fatores tratados é a corresponsabilidade na destinação de resíduos. Vejo também que, pelo fato de o tema sustentabilidade ser sistêmico, cada vez mais veremos a inter-relação entre esses diversos agentes. Outro exemplo é a aproximação das empresas com entidades do terceiros setor, principalmente para a viabilização e implementação de projetos socioambientais.

2 – De acordo com a sua experiência, a ideia de que sustentabilidade vai além de preservar o meio ambiente já está clara para a maioria das empresas, entidades e da população?

Infelizmente não! O tema ainda está muito ligado ao meio ambiente, incluindo aí alguns tópicos como gestão do lixo e reciclagem e o desenvolvimento de alguns projetos sociais. Olhando o universo de empresas que temos no Brasil, a sustentabilidade e sua relação estratégica com a continuidade dos negócios não é uma realidade. Por outro lado, podemos comemorar como um processo que está sendo iniciado e isso é muito positivo. Se observarmos o envolvimento das empresas, há 10 anos era menor do que há cinco, quando era menor do que é hoje. Nessa tendência, para os próximos anos, essa questão irá se aprimorar cada vez mais.
O que precisa ser praticado, principalmente nos negócios, é que estamos em um momento de reflexão e avaliação da nossa forma de produzir e consumir. Quero deixar claro que não sou contra a produção e o consumo, mas precisamos colocar nessa conta os impactos e as limitações que iremos enfrentar. Os custos ambientais não são contabilizados. Muitas empresas, porém, estão inovando e buscando alternativas para minimizar os impactos da sua forma de produção e dos seus resíduos. Estrategicamente, os gestores sabem que se não provocarem essas mudanças dentro dos seus negócios, os seus concorrentes farão isso e o seu negócio perderá espaço no mercado. Portanto, a inclusão desse tema nos negócios não é só uma opção para dizer que a empresa é cidadã e que faz alguma ação socioambiental, mas sim uma questão de sobrevivência do próprio negócio. Empresas que inovarem e atuarem de forma mais sustentável serão mais bem vistas pelo mercado (considerando o mercado com todos os seus stakeholders) e assim  mais valorizadas.
Vejo que podemos fazer uma comparação da sustentabilidade nos dias de hoje com os projetos de qualidade total que tivemos há mais de duas décadas. Quando os conceitos de qualidade total começaram a se propagar, todas as empresas queriam produzir com qualidade e buscar a certificação para seus produtos e serviços. Guardadas as proporções, é um processo semelhante que estamos vivendo com a incorporação da sustentabilidade nos negócios.

3 – Baseado nos exemplos de iniciativas, ações e projetos que já fizeram parte das páginas da revista é possível dizer que já houve evolução acerca do entendimento de sustentabilidade corporativa?

Sem dúvida! Como mencionado anteriormente, o processo de evolução precisa ser comemorado. Quando iniciamos a revista em 2007, tínhamos até dificuldade de encontrar bons projetos para incluir na pauta das edições. Além dessas dificuldades, algumas empresas se mostravam um pouco receosas com a divulgação dos projetos. 
A revista procurou nesse período enaltecer e “pulverizar” para nossos leitores as boas práticas empresariais. Os exemplos de empresas que passaram a compor as matérias foram sendo disseminados. Fixamos o nosso compromisso em divulgar essas iniciativas. Destacamos projetos com tecnologias inovadoras. Mencionamos inúmeros projetos desenvolvidos, muitas vezes por pequenas empresas, mostrando que existem novas formas de produzir. Em diversas edições, citamos os avanços de tratamento de efluentes e dos diversos tipos de resíduos. Entrevistamos gestores que incorporaram o conceito e que já avaliam os resultados. Gestores que desenvolveram visão sistêmica em suas empresas. Apresentamos novas metodologias de mensuração de indicadores de sustentabilidade, bem como os selos e certificações que estão surgindo. Demonstramos iniciativas da construção civil como prédios verdes, de acessibilidade e de mobilidade urbana, dos carros elétricos, dos projetos de recuperação de matas ciliares, de cooperativas de catadores, de produtos de limpeza menos agressivos, de composteiras, de projetos ligados à educação corporativa, de geração de renda nas comunidades, de reaproveitamos de água de chuvas, de manejo florestal, de energias mais limpas, de redução de emissões de poluentes com alternativas logísticas, de qualidade de vida de colaboradores, etc. Procuramos sempre fixar os princípios do pacto global e dos objetivos do milênio. Citamos também, em algumas edições, o perfil do gestor de sustentabilidade e dos profissionais que desejam buscar novas habilidades para incorporam em suas carreiras esses novos conhecimentos... Enfim, foram mais de 1.600 páginas que trataram desse tema no período de cinco anos.  

4 – A sustentabilidade corporativa pode ser entendida como um processo? Como ele funciona e de que forma as empresas podem ter certeza de que estão no caminho certo?

Sustentabilidade corporativa de fato é um processo. Os negócios são muito dinâmicos. Da mesma forma que encontraram alternativas tecnológicas para fabricar produtos e embalagens, estão evoluindo em pesquisas para produzir de forma mais limpa e com menos impactos. É óbvio que temos muito para evoluir e melhorar, mas o conceito de sustentabilidade, ou qualquer outra palavra que seja usada no futuro para definir esse envolvimento maior dos negócios com as questões socioambientais está sendo incorporado. Além do processo de reciclagem de produtos e resíduos, estamos passando também por um processo de reciclagem de mentes dos gestores. Nesse contexto, a revista Geração Sustentável continuará divulgando essas práticas e experiências, sempre acreditando que teremos gestores, governantes e consumidores conscientes. 

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Veja outros conteúdos dessa edição:

Matérias:Capa: 5 anos Gerando Sustentabilidade - Relembrando o passado para projetar o futuro
Tecnologia e Sustentabilidade: Sustentabilidade Corporativa Estratégica
Visão Sustentável: Parcerias que constroem sonhos
Responsabilidade Social Corportativa: A força das alianças sociais
Gestão de Resíduos: Compostagem abre portas no país
Desenvolvimento Local: Conscientização empresarial e compromisso com o futuro do planeta: União de empresários faz a força para o desenvolvimento local e empresarial

Artigos:
Rosimery de Fátima Oliveira: O verdadeiro profissional da sustentabilidade
Ivan Dutra: Sistemas de cotas nas universidades - Política de ação afirmativa?
Jeronimo Mendes: Brasil - Emergente para sempre?

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