A sustentabilidade como um processo
Pedro Salanek Filho
Diretor da Revista Geração Sustentável
1 – De forma
geral, o que há em comum entre as empresas, entidades e pessoas que têm a
sustentabilidade entre seus princípios?
Sustentabilidade é um tema
relativamente novo. De forma geral, faz aproximadamente 40 anos que
se iniciaram os debates sobre os impactos no homem no meio ambiente,
o que é muito pouco tempo para consolidar sustentabilidade como cultura. As
primeiras iniciativas globais ligadas ao tema surgiram nos anos 70 com um
direcionamento mais voltado à ecologia. Nessa época, o tema estava mais
restrito aos cientistas e a algumas ONGs. Nos anos 80, o tema passou a ter o
envolvimento de alguns governos, quando já se falava em Eco desenvolvimento.
Para os negócios e, principalmente, para os cidadãos, esses conceitos são
bem mais recentes. Apesar de já se falar de Responsabilidade Social nos anos 80
(no Brasil pelo sociólogo Herbert de Souza e pelo Instituto IBASE), na prática
as iniciativas começaram mesmo na metade dos anos 90.
Para o cidadão, principalmente na
ótica de consumidor, esse tema é tratado há menos de uma década. Dessa forma,
como vem ocorrendo um envolvimento de diferentes setores da sociedade ao longo
do tempo, entendo que a principal relação entre empresas, entidades
(principalmente as públicas) e as pessoas será a corresponsabilidade entre os
impactos de produção e de consumo. Falando em Brasil, um dos avanços é a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, na qual um dos fatores tratados é a corresponsabilidade
na destinação de resíduos. Vejo também que, pelo fato de o tema
sustentabilidade ser sistêmico, cada vez mais veremos a
inter-relação entre esses diversos agentes. Outro exemplo é a aproximação das
empresas com entidades do terceiros setor, principalmente para a viabilização e
implementação de projetos socioambientais.
2 – De
acordo com a sua experiência, a ideia de que sustentabilidade vai além de
preservar o meio ambiente já está clara para a maioria das empresas, entidades
e da população?
Infelizmente não! O
tema ainda está muito ligado ao meio ambiente, incluindo
aí alguns tópicos como gestão do lixo e reciclagem e o desenvolvimento de
alguns projetos sociais. Olhando o universo de empresas que temos no Brasil, a
sustentabilidade e sua relação estratégica com a continuidade dos negócios não
é uma realidade. Por outro lado, podemos comemorar como um processo que está
sendo iniciado e isso é muito positivo. Se observarmos o envolvimento das
empresas, há 10 anos era menor do que há cinco, quando era menor do que é
hoje. Nessa tendência, para os próximos anos, essa questão irá se
aprimorar cada vez mais.
O que precisa ser praticado,
principalmente nos negócios, é que estamos em um momento de reflexão e
avaliação da nossa forma de produzir e consumir. Quero deixar claro que não sou
contra a produção e o consumo, mas precisamos colocar nessa conta os
impactos e as limitações que iremos enfrentar. Os custos ambientais não são
contabilizados. Muitas empresas, porém, estão inovando e buscando alternativas
para minimizar os impactos da sua forma de produção e dos seus resíduos.
Estrategicamente, os gestores sabem que se não provocarem essas mudanças dentro
dos seus negócios, os seus concorrentes farão isso e o seu negócio perderá
espaço no mercado. Portanto, a inclusão desse tema nos negócios não é só uma
opção para dizer que a empresa é cidadã e que faz alguma ação
socioambiental, mas sim uma questão de sobrevivência do próprio negócio.
Empresas que inovarem e atuarem de forma mais sustentável serão mais bem vistas
pelo mercado (considerando o mercado com todos os seus stakeholders) e assim mais valorizadas.
Vejo que podemos fazer uma
comparação da sustentabilidade nos dias de hoje com os projetos de qualidade
total que tivemos há mais de duas décadas. Quando os conceitos de
qualidade total começaram a se propagar, todas as empresas queriam produzir com
qualidade e buscar a certificação para seus produtos e serviços. Guardadas as
proporções, é um processo semelhante que estamos vivendo com a incorporação da
sustentabilidade nos negócios.
3 – Baseado
nos exemplos de iniciativas, ações e projetos que já fizeram parte das páginas
da revista é possível dizer que já houve evolução acerca do entendimento de
sustentabilidade corporativa?
Sem dúvida! Como mencionado
anteriormente, o processo de evolução precisa ser comemorado. Quando iniciamos
a revista em 2007, tínhamos até dificuldade de encontrar bons projetos para
incluir na pauta das edições. Além dessas dificuldades, algumas empresas se
mostravam um pouco receosas com a divulgação dos projetos.
A revista procurou nesse período
enaltecer e “pulverizar” para nossos leitores as boas práticas empresariais. Os
exemplos de empresas que passaram a compor as matérias foram sendo
disseminados. Fixamos o nosso compromisso em divulgar essas iniciativas.
Destacamos projetos com tecnologias inovadoras. Mencionamos inúmeros projetos
desenvolvidos, muitas vezes por pequenas empresas, mostrando que existem novas
formas de produzir. Em diversas edições, citamos os avanços de tratamento de
efluentes e dos diversos tipos de resíduos. Entrevistamos gestores que
incorporaram o conceito e que já avaliam os resultados. Gestores que
desenvolveram visão sistêmica em suas empresas. Apresentamos novas metodologias
de mensuração de indicadores de sustentabilidade, bem como os selos e
certificações que estão surgindo. Demonstramos iniciativas da construção civil
como prédios verdes, de acessibilidade e de mobilidade urbana, dos carros
elétricos, dos projetos de recuperação de matas ciliares, de cooperativas de
catadores, de produtos de limpeza menos agressivos, de composteiras, de projetos
ligados à educação corporativa, de geração de renda nas comunidades, de
reaproveitamos de água de chuvas, de manejo florestal, de energias mais limpas,
de redução de emissões de poluentes com alternativas logísticas, de qualidade
de vida de colaboradores, etc. Procuramos sempre fixar os princípios do pacto
global e dos objetivos do milênio. Citamos também, em algumas edições, o perfil
do gestor de sustentabilidade e dos profissionais que desejam buscar novas
habilidades para incorporam em suas carreiras esses novos conhecimentos...
Enfim, foram mais de 1.600 páginas que trataram desse tema no período de cinco
anos.
4 – A
sustentabilidade corporativa pode ser entendida como um processo? Como ele
funciona e de que forma as empresas podem ter certeza de que estão no caminho
certo?
Sustentabilidade corporativa de fato é um processo. Os
negócios são muito dinâmicos. Da mesma forma que encontraram alternativas
tecnológicas para fabricar produtos e embalagens, estão evoluindo em pesquisas
para produzir de forma mais limpa e com menos impactos. É óbvio que temos muito
para evoluir e melhorar, mas o conceito de sustentabilidade, ou qualquer outra
palavra que seja usada no futuro para definir esse envolvimento maior dos
negócios com as questões socioambientais está sendo incorporado. Além do
processo de reciclagem de produtos e resíduos, estamos passando também por um
processo de reciclagem de mentes dos gestores. Nesse contexto, a revista
Geração Sustentável continuará divulgando essas práticas e experiências, sempre
acreditando que teremos gestores, governantes e consumidores conscientes.
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