BRASIL: EMERGENTE PARA SEMPRE?
Há
dois anos, a edição de 12 de novembro de 2009 da Revista The Economist foi
recebida com euforia pela Comunidade Econômica Internacional e, em especial, pelo
Governo Brasileiro, capitaneado, na época, pelo Presidente Luis Inácio “Lula”
da Silva. A notícia ajudou a consolidar a eleição da sua sucessora, Dilma
Roussef, até então, Ministra da Casa Civil, com pouca expressão no cenário
político nacional.
Com
a capa estampada sob o título “Brazil takes off” (O Brasil decola), o
editorial fez elogios rasgados ao recente desenvolvimento do país, entretanto,
sem meias palavras, afirmou também que o maior risco para o grande sucesso da América
Latina era a prepotência dos seus governantes, empolgados com o crescimento econômico,
mesmo sem atentar para as bases do desenvolvimento.
Como
se sabe, o Brasil faz parte do acrônimo BRICs, formado pelas iniciais de
Brasil, Rússia, Índia e China, termo concebido e utilizado sabiamente pelo
economista Jim O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do grupo
financeiro Goldman Sachs, em 2001. A sigla em inglês também pode significar tijolo
em alusão à formação de uma nova comunidade com elevado potencial de
desenvolvimento econômico.
Dois
anos depois, passada a euforia, a mesma Revista The Economist coloca em xeque o
crescimento sustentado dos quatro países formadores do BRIC, ao compará-los com
o de países como Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia e Hong
Kong, os únicos que conseguiram sustentar o crescimento por quatro décadas
seguidas. Desde 1950, somente um terço dos chamados emergentes foram capazes de
manter suas taxas de crescimento econômico superiores a 5% ou mais.
Em
artigo recente, publicado no site da
Revista com o título BrokenBRICs (BRICs quebrados), o editorial chama novamente
a atenção da comunidade econômica ao relembrar que, desde 2009, a China, líder
do crescimento econômico mundial, teve seu ritmo desacelerado de maneira
drástica, de dois dígitos para menos de 7%, em média. O crescimento do Brasil
estacionou na casa de 2% a 3%, o da Rússia despencou de 7% para 3,5% e o da
Índia, de 9% para menos de 6% ao ano.
O
editorial também questiona o atual momento do BRICs e menciona que o grupo, a
despeito de todas as dificuldades inerentes aos países mais desenvolvidos, tornou-se
o símbolo da esperança para a economia mundial, o que não se confirmou, pelo
menos por enquanto.
Dessa
forma, a esperança de aumentar a convergência entre os países em
desenvolvimento e os desenvolvidos é um mito. Dos 180 países monitorados pelo
Fundo Monetário Internacional, somente 35 são desenvolvidos e, infelizmente,
nenhum país membro do BRICs faz parte dessa elite, segundo os critérios da
instituição. Na prática, a maioria dos países emergentes tem sido emergente por
muitas décadas e assim deverá continuar por muito tempo.
De
fato, o Brasil carrega o título de “emergente” desde a década de 1970, quando o
chamado “milagre econômico brasileiro”, sustentado pelos altos investimentos do
Governo Militar em obras de porte como a Rodovia Transamazônica, a Usina
Atômica de Angra dos Reis e, principalmente, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, proporcionou
taxas de crescimento bem superiores às do Primeiro Mundo.
Embora
o país tenha experimentado períodos de crescimento econômico favoráveis, não
apenas na década de 1970, mas, recentemente, durante o Governo Lula também, sustentar
o crescimento não é tarefa simples. A dinâmica do mundo globalizado e
extremamente competitivo exige muito mais do que investimentos em obras
faraônicas, incentivo ao consumo e à isenção de impostos para montadoras de
veículos.
Em
termos de infraestrutura, educação, cultura, saúde e segurança pública,
principais pilares do desenvolvimento econômico sustentável, ainda há muito o
que fazer. Evoluímos bastante na democracia, entretanto, não conseguimos nos
livrar da corrupção, da violência e da burocracia.
Não
se trata de torcer contra nem exaltar os males do país, mas de fazer uma
profunda reflexão a respeito do quanto ainda precisamos caminhar para conquistar
o status de primeiro mundo. Países
com poucos recursos naturais evoluíram bem mais rápido que o Brasil, como o
Japão, a Coreia do Sul e o Canadá.
A
mudança não depende exclusivamente dos governos. Depende muito mais da força e
da inteligência da sua gente, por meio do voto, do trabalho estruturado e da
fiscalização do uso consciente do dinheiro público para promover as mudanças
necessárias capazes de garantir o crescimento econômico sustentado.
Se
as forças políticas e econômicas do país forem concentradas somente para a
realização da Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016, o título
de “emergente” será carregado por muito mais tempo do que o necessário.
Jerônimo Mendes
Administrador, Coach Empreendedor, Escritor e Palestrante
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE
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