Que tal
um 2013 mais sustentável?
O ano de 2012 acabou há poucos
dias, mas em questões de sustentabilidade, deveríamos ter dado o ano por
encerrado em 22 de agosto, quando tudo o que consumimos até então o planeta
ainda tinha condições de renovar. De lá até o dia 31 de dezembro o tudo que
utilizamos de água, alimentos e biodiversidade não poderá mais ser recuperado.
O dado é do Global Footprint
Network e é um importante alerta para quem planeja o futuro. O mundo dispõe de
um estoque de recursos renováveis e a cada ano, esse estoque diminui em razão
de não conseguirmos conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação do
planeta. Para comportar nossos padrões de consumo, o planeta tinha que ser 56%
maior, ou a população 36% menor, e assim, manter equilibrado o consumo com a
renovação.
Do jeito que estamos, ano a ano
nosso estoque de sustentabilidade ambiental está se reduzindo a taxas
aceleradas e diminuindo nossa capacidade de recompor a pegada ecológica.
Difícil falar sobre sustentabilidade nesse contexto, mas vamos lá!
Esse é um dado global, que agrega
as médias de consumo versus biocapacidade. Nos EUA, o consumo é o mais
agressivo de todos. Para comportar o padrão americano de consumo, seria
necessário termos 4.16 planetas trabalhando para renovar a biocapacidade.
No Brasil, se olharmos nossa
pegada versus nossa biocapacidade, nota-se que consumimos 30% da
capacidade de renovação dos nossos recursos naturais, ou seja, bastante abaixo
da capacidade de renovação, o que nos concede uma poupança de sustentabilidade,
já que ano após ano, permitimos que os recursos sejam renovados.
Essa constatação coloca o Brasil
na vanguarda da sustentabilidade. Claro que há muito por fazer, nosso consumo
de recursos naturais cresce a cada ano e temos que cuidar para que não passemos
dos limites. Temos, ao contrário de maioria das outras nações, condição de
planejar nosso crescimento sustentável. Está aí uma excelente promessa para
2013: colocar isso na pauta da vida pessoal e corporativa cotidianamente.
O Brasil é, definitivamente um
bom exemplo de sustentabilidade ambiental, mas não há sustentabilidade parcial
ou segregada e os dados acima não consideram importação e exportação na
metodologia de estimação. O mundo tem que agir em conjunto para pensar em
sustentabilidade global e nós temos um papel fundamental nesse cenário. Temos a
condição de mostrar que é possível ajudar a quebrar alguns paradigmas que tanto
atrapalham o desenvolvimento sustentável.
A nossa filosofia de entendimento
das coisas é pautada na divisão para aprofundamento e conhecimento. Por
exemplo, se vamos estudar o céu, o dividimos em constelações, galáxias,
sistemas planetários, etc... Quando vamos à escola, temos diferentes aulas, como
português, matemática, geografia. Sem dúvida esse método é útil, mas não é
único e nem pode ser assim entendido.
Quando trata-se de
sustentabilidade, há que se observar tudo de forma integrada e ainda não
estamos preparados pra isso. Ainda acreditamos que o excesso de interferência
sobre a natureza se resolve com mais interferência ainda sem medir os riscos a
que isso nos leva. Naturalmente, ninguém pode entender de tudo, então,
deveríamos ter diversos agentes especialistas trabalhando em conjunto para
entender como as questões de desenvolvimento econômico, social e ambiental
(esse é o tripé da sustentabilidade) podem interagir em prol da
sustentabilidade.
Em suma, se queremos ser
sustentáveis (e não vejo outro caminho), temos que fomentar o diálogo e a visão
compartilhada dos problemas a se resolver. Já estamos avançando nas questões
climáticas em termos científicos e de diálogo político e essa agenda tem que
permear todos os outros aspectos da organização global. Dado o nível
tecnológico de comunicação que o mundo dispõe, trata-se apenas de querer
aprofundar.
Que tal em 2013 nos engajarmos
nas questões mais amplas? Sairmos da nossa zona de conforto e atuarmos em
conjunto para o bem maior? Que tal se conseguíssemos reverter a tendência de
super consumo e termos como meta comemorar o ano novo em setembro em 2013,
outubro em 2014, novembro em 2015 e dezembro em 2016? Cabe a cada um dos 7
bilhões de habitantes dar sua contribuição.
Desejo a todos um excelente ano
em 2013 e já que não podemos replicar a biocapacidade do mundo nos moldes
brasileiros, que possamos ser um exemplo de consumo consciente!
Felipe Bottini é economista pela USP com especialização em Sustentabilidade por Harvard -
Consultor Senior e cofundador da Green Domus Desenvolvimento Sustentável,
Neutralize Carbono e Consultor especial do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD.
Nenhum comentário:
Postar um comentário