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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Artigo_Gestão Estratégica_Por Hugo Weber JR

A logística reversa e o mercado

“Comece fazendo o necessário, depois o que é possível e de repente você estará fazendo o impossível”.
São Francisco de Assis

A instituição do Plano Nacional de Resíduos Sólidos está dando muito “pano pra manga” e está sobrando muito pano nisso. Onde vai parar tanto pano? No aterro? Ou existirá uma lei que faça com que esse pano volte para quem o produziu? Essa é a grande discussão. A política de Logística Reversa e de Responsabilidade Compartilhada está sendo discutida há muito tempo e ainda não se chegou a um consenso. Chegará ou não chegará? De um lado está o Poder Público, com sua vontade de instituir as leis de “cima para baixo”, de outro, estão os fabricantes que querem ouvir o mercado e muito mais,“ouvir suas planilhas de custos”. De outro, estão as Instituições que representam cada segmento da economia e da Sociedade e, ainda, de outro, está o consumidor final, que não quer pagar essa conta. Aonde chegará tudo isso?


Já existem produtos em que a Logística Reversa está funcionando muito bem. Exemplo? Os defensivos agrícolas e os agrotóxicos. Para se adquirir um novo produto é obrigatória a devolução das embalagens usadas. Existem outros produtos em que será fácil executar tal política, tais como embalagens de cartuchos para impressoras. Mas no caso de geladeiras? Como será possível devolver a antiga? Quem arcará com os custos de levá-la ao fabricante? E se já não existir mais o fabricante? Como levar uma geladeira em seu carro para a troca? Quando o produto for de tamanho reduzido, é fácil colocar no seu carro, no seu bolso e efetuar tranquilamente a troca, mas em produtos maiores? E o custo dessa operação ficará a cargo do fabricante ou do consumidor final? Esses são os maiores desafios para que a política de Logística Reversa funcione a contento.

Onde está a responsabilidade do consumidor final nessa questão? Assume o ônus de tal compromisso com o meio ambiente?

O Marketing já realiza campanhas e programas em que por meio de bônus ou troca por novos produtos já funcionam muito bem. Creio que aí é que está o “x” da questão. Cada produto ou embalagem que será devolvido ao supermercado ou ao fabricante seria pontuado e este realizaria troca por novos produtos dentro, por exemplo, de um supermercado. Devolvo uma embalagem de leite, duas de margarina, três garrafas de PET e uma sacola plástica e seria beneficiado por um número de pontos que poderia ser trocado por novos produtos, ou, ainda, ser agraciado com descontos por um elenco de produtos nesse mesmo supermercado. Isso estaria dentro de uma estratégia de marketing das empresas e o consumidor seria beneficiado por essas atitudes. É mais racional e todos ganham. O fabricante, o supermercado, o consumidor e, finalmente, o maior beneficiado de todos,o meio ambiente. O marketing já realiza esse tipo de campanhas e promoções em sua estratégia tradicional, basta acrescentá-lo em campanhas a favor do meio ambiente. O marketing pode muito bem estar a serviço da saúde ambiental. Basta ter espírito de iniciativa e vontade de querer.

HUGO WEBER JR.
Consultor em Gestão Verde. Diretor da AGRESSOR ZERO – Sustentabilidade Corporativa






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Responsabilidade Social Corporativa_Edição 36


Muita gente não sabe, mas desde 2002 empresas que são tributadas pelo Lucro Real e pessoas físicas que declaram no modelo completo do Imposto de Renda (IR) e que tem imposto a pagar podem destinar recursos para programas sociais que beneficiam crianças, adolescentes, projetos culturais, esportivos, idosos e recentemente a lei que aprova o destino para o Programa Nacional de Apoio a Atenção oncológica (PRONON) e o Programa Nacional de Atenção a Saúde da Pessoa com Deficiência (PRONAS/PcD).

No caso do contribuinte pessoa física, o prazo para doações vai até dezembro do ano anterior à declaração. Já as empresas podem deduzir do IR em cada período de apuração.

Há diversas vantagens nesse tipo de destinação, principalmente porque é possível contribuir com projetos já conhecidos e com resultados comprovados, além disso, os doadores podem acompanhar melhor a aplicação do recurso pela instituição ou pelo projeto, muitas vezes levando recursos que não chegariam à sua comunidade.

De acordo com a Lei Federal (8.069/90) Funcriança, pessoas físicas podem doar até 6% do imposto devido e pessoas jurídicas 1%. As destinações desses percentuais significam um valor que pode ser deduzido do IR a pagar no exercício seguinte.

O recibo para fins de comprovação da doação será emitido posteriormente pelo órgão competente e enviado ao doador especificado na guia. De acordo com Narciso Doro, presidente do Sindicato dos Contabilistas de Curitiba, os benefícios são para as entidades que prestam um serviço social e que muitas vezes fazem o que a administração pública não consegue, e também porque a destinação de parte do imposto de renda devido será aplicado nos projetos sociais da cidade.

Segundo explica Doro, infelizmente as empresas que pagam imposto de renda pelo lucro real são as grandes organizações, que representam 6% do total das empresas existentes no Brasil.

“As demais ou são microempresas ou apuram por meio do lucro presumido, casos em que a destinação não é permitida. Já levantamos essa questão e trabalhamos para tentar incluir na lei todas as empresas. Um maior universo significa mais incentivo”, destaca. 

Responsabilidade social • A siderúrgica brasileira Gerdau é referência em incentivo à doação do imposto de renda para entidades beneficentes.


Por meio do Fundo Pró-Infância dos Profissionais Gerdau Brasil, mais de R$40 milhões já foram destinados para 308 mil crianças de 53 Conselhos no Brasil. O programa contempla empresas Gerdau e seus colaboradores no Brasil.

“Somos referência para várias empresas no Brasil. Tenho proferido várias palestras para estimular e sensibilizar mais empresas e colaboradores”, diz Clodis Xavier, gerente do Instituto Gerdau e coordenador
do projeto na Gerdau no Brasil. Segundo Xavier, a Gerdau, uma das maiores companhias mundiais do ramo de siderurgia, soube da existência do Fundo em 1999, quando quatro entidades assistenciais de Porto Alegre bateram à porta da empresa para dizer que poderiam ter o apoio da empresa sem qualquer gasto.

“A ideia foi muito bem recebida”, lembra. Para incentivar a participação, a Gerdau financia a doação dos colaboradores. “Se 250 mil pessoas, de um universo de quase 1,7 milhão de habitantes de Porto Alegre, por exemplo, fizerem a doação de R$ 95,31 será possível arrecadar, pelo Funcriança, R$ 23 milhões”, destaca.

Xavier ainda lembra que na hora de doar, é importante levar em conta a idoneidade da instituição. “As crianças são o futuro do Brasil”, ressalta.

Pela saúde das crianças • Maior hospital pediátrico de média e alta complexidade do país – destacando-se como um centro de tecnologia de ponta e excelência na realização de procedimentos clínicos e cirúrgicos, o Hospital Pequeno Príncipe (HPP), localizado em Curitiba, é uma das organizações beneficiadas pela destinação do imposto de renda.

Segundo conta a diretora executiva do HPP, Ety Cristina Forte Carneiro, o hospital capta recurso pela renúncia fiscal desde 2004, por meio Fundo para Infância e Adolescência (FIA), pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMTIBA), no município, e pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDECA), no estado, além de captar também para projetos culturais pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.

De acordo com Ety, os recursos são muito importantes para garantir o direito à vida e à saúde. No Pequeno Príncipe, as doações apoiam programas de assistência, ensino e pesquisa que visam à diminuição da mortalidade infantojuvenil por meio de inovação e renovação tecnológica, para formação de profissionais de saúde, materiais e insumos e medicamentos de alto custo, programas de humanização e ampliação da capacidade de atendimento. “O Hospital destina 70% da sua capacidade de atendimento ao SUS, no entanto, segundo a FEMIPA/2012, o valor repassado pelo governo representa cerca de 60% do custo total. Os recursos captados viabilizam a continuidade do atendimento”, destaca.

Ainda segundo conta a diretora executiva do HPP, ano a ano o percentual de reinvestimento cresce. “Em 2012, 66,42% das empresas que investiram no Pequeno Príncipe em 2011 repetiram a ação. Além disso, a base de parceiros tem aumentado e, consequentemente, a representatividade das doações também. Para se ter ideia, em 2005, a captação representava cerca de 4% do nosso orçamento, em 2012, a participação mais do que dobrou e chegou a 10%”, relata Ety.

Relacionamento • O HPP tem conhecimento de quem destina recursos para a instituição e faz um trabalho ativo de prospecção junto às áreas de responsabilidade social de diferentes empresas para busca de potenciais doadores via destinação de imposto de renda. “Ao longo do ano, desenvolvemos um relacionamento intenso com nossos parceiros, que inclui reuniões de trabalho, boletins informativos e também um canal aberto para atendê-los, o que os permite acompanhar de perto a execução dos nossos projetos. As ações de relacionamento, aliadas à importância dos nossos projetos, têm trazido resultados significativos”, conta a diretora executiva do hospital.

Engajamento • Sobre o nível de engajamento das empresas em relação à responsabilidade social, o presidente do Sindicato dos Contabilistas de Curitiba, Narciso Doro, destaca que ainda há muito a ser feito. “É possível detalhar diversas questões sociais mal resolvidas e que precisam do terceiro setor. É o caso da droga, do meio ambiente, das crianças abandonadas. Hoje se faz um conceito com mais prudência do assunto, mas na prática ainda devemos muito. Há empresas que tem um trabalho digno, de respeito, mas ainda são poucas, e mais desastrosa é a agenda dos governos, que não priorizam essas questões”, analisa.

Para Clódis Xavier do Instituto Gerdau, nos últimos cinco anos, o Brasil cresceu muito no tema. “Saindo do assistencialismo e investindo em projetos transparentes e de credibilidade que tenham impacto na comunidade e sejam sustentáveis”, diz.

A diretora executiva do HPP, Ety Cristina Forte Carneiro, acredita que a responsabilidade social está consolidada no país. Segundo ela, de grandes a pequenas organizações há a preocupação e o engajamento das instituições com o tema. “É sabido que apenas o segundo setor, o governo, não consegue resolver todos os problemas do país e a única solução possível é a união de esforços. Nossos parceiros demonstram envolvimento com a causa e preocupação com os resultados”, destaca.

Porém, de acordo com ela, muitas empresas ainda desconhecem o mecanismo de destinação do IR. “O potencial de valor que poderia ser mobilizado a projetos sociais pelo Fundo da Infância e Adolescência (FIA) é de R$ 2,3 bilhões, e apenas R$ 261 milhões é utilizado. Segundo pesquisa do GIFE, infelizmente, saúde é a penúltima área de destinação de recursos”, detalha.

Como ajudar? • “O Pequeno Príncipe acredita que a união de todos os esforços faz a diferença Apoiar programas pelo IR além de fácil é seguro e pode transformar a realidade dos meninos e meninas do Brasil, trazendo equidade, oportunidade e desenvolvimento. Além de destinar, as empresas têm um enorme potencial multiplicador junto a outras empresas e colaboradores. Os projetos que possuem o benefício da renúncia fiscal são aprovados por órgãos deliberadores e fiscalizadores de política pública e são auditados pelos conselhos e Tribunal de Contas. Por ser um mecanismo acessível e com resultados comprovados, pode e deve ser mais utilizado”, diz Ety.

O Hospital Pequeno Príncipe tem uma equipe preparada e à disposição. Para destinar a outras instituições de Curitiba, os interessados podem acessar criancaquerfuturo.curitiba.pr.gov.br ou pedir orientação ao seu contador.

Projetos que podem receber doação pelo IR

• AFECE - Associação Franciscana de Educação ao Cidadão Especial:
Projeto Mãos à Obra para Construir, PET Integração, Convivendo com amigos especiais, Produzir e Manter para Crescer, Saúde e Assistência Social – a Serviço da Vida Especial, Vamos ao Toque Final.

• Associação Alírio Pfiffer
Aquisição de equipamentos médicos, computadores, televisores, utensílios e mesa de anestesia.

• Associação Beneficente Renascer
Desenvolvimento de trabalho Sócio Terapêutico

• Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas
Adequação da Unidade de Endocrinologia Pediátrica; aquisição de materiais e equipamentos para diagnóstico e atendimento pediátrico; Centro de Neuropediatria: estudo cerebral e cardíaco; Serviço de Medicina Respiratória Pediátrica do Hospital de Clínicas.

• Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia
Profissional Solidário 2013

• Associação SERPIÁ
Crianças e Adolescentes em Sofrimento Psíquico I

• Centro de Ação Voluntária de Curitiba
Programa Sou Cidadão I: Cidadania e Voluntariado

• Centro de Orientação e Controle de Excepcionais de Curitiba – COCE
Prevenção, diagnóstico e atendimento; Plano terapêutico multiprofissional

• Fundação de Ação Social
Projeto ApriMorar

• Hospital Pequeno Príncipe
Assistência e proteção a crianças e adolescentes.

• Instituto de Educação para Não Violência
Direitos Humanos e Educação: Um caminho para a paz

• Instituto Pro Cidadania de Curitiba – IPCC
Curitibaninhos II; Jogo Limpo II; Parceria Nota 10 III

Em todo o Brasil, é possível encontrar projetos municipais e estaduais de destinação, nas regionais do CPCE, em Maringá, Londrina, Cascavel e Ponta Grossa, são realizados seminários e mobilizações em torno do tema. Veja abaixo algumas organizações do Conselho que possuem projetos no FIA e que podem receber a doação pelo IR:


Mais informações
Com o objetivo de incentivar a destinação e disseminar informações sobre como o procedimento pode ser feito, o Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), pertencente ao Sistema Fiep, distribui a “Cartilha do uso de incentivo fiscal para projetos sociais”. A publicação está disponível para download no site www.cpce.org.br e faz parte das ações do CPCE para apoiar campanhas e iniciativas voltadas a divulgar a importância da destinação de imposto devido para o FIA ou para projetos aprovados pelos Conselhos de Direitos Municipais.

Com ela é possível verificar na tabela elaborada pelo Dr. Fernando Mânica como são os percentuais para cada caso e a possiblidade da utilização de impostos como o IPTU e ISS no município de Curitiba. Consulte o Conselho dos Direitos da sua Cidade e os incentivos fiscais no site da Prefeitura.

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Artigo Edição 36_Gestão Sustentável_Por Jerônimo Mendes

O fim da Teoria X

Em pouco mais de três anos, a Teoria X foi do céu ao inferno, desacreditada pelos mesmos criadores que a colocaram em evidência: o mercado financeiro. A teoria nasceu da ambição desmedida de um empresário que compartilhou publicamente a visão de se tornar o homem mais rico do mundo até 2015. Com o tempo, a visão foi esticada para 2020 e, por enquanto, não existe a mínima perspectiva de que ela se concretize.

No início, a Teoria X ganhou adeptos de todas as partes do mundo e apoio maciço do Governo Federal, por meio do seu principal banco de desenvolvimento. Alicerçado por interesses predominantemente políticos, o poder público despejou a maior parte dos seus recursos disponíveis numa aposta perigosa sem a menor preocupação com as consequênciasde médio e longo prazo.

Durante o período de desenvolvimento da teoria, o governo despejou mais de 10 bilhões de reais via BNDES para colocar em prática uma ideia que, desde o início, foi concebida em bases duvidosas, a despeito de todas as críticas bem fundamentadas pelos analistas de mercado, mas alguém bateu o pé com bravatas do tipo “deixe o homem trabalhar” e “oposição frustrada não quer o bem do país”, entre outras.

Durante muito tempo, a Teoria X funcionou da seguinte maneira: você deve criar várias empresas, colocar a letra X para dar um aspecto de prosperidade e de multiplicação dos lucros, emprestar a maior quantidade de dinheiro público possível com juros de pai para filho, convidar um grande número de políticos para a festa de inauguração dos empreendimentos e rezar para que a economia mundial não pare de crescer.

Quando se trata de economia, os ambiciosos e simpatizantes da teoria desprezam uma variável fundamental para a sua comprovação: o apetite insaciável do mercado por resultados de curto prazo. Em meados de 2012, quando a economia do país começou a dar sinais visíveis de desaquecimento, as empresas do Império X estremeceram, em especial a petroleira, menina dos olhos do grupo, que foi obrigada a comunicara redução brutal das suas expectativas de produção, o que, por sua vez, frustrou também a expectativa dos investidores.

O valor das empresas criadas na expectativa de sucesso da Teoria X despencou de quase R$ 100 bilhões para menos de R$ 6 bilhões nos últimos três anos, obrigando o seu principal mentor e ex-candidato a bilionário a se desfazer dos ativos e buscar investidores para retomar o estudo da teoria com bases e princípios mais sólidos.

Em mercados essencialmente competitivos, de bases capitalistas, todas as teorias são válidas, porém, a aplicação continua sendo um perigo na mão dos aventureiros que brincam com o dinheiro público como se estivessem brincando com a sua própria conta bancária. Aliás, ninguém em sã consciência faz isso com as suas próprias finanças.

O mais intrigante de tudo isso é que a derrocada da Teoria X não deixou apenas vítimas na Bolsa de Valores. Com base nas expectativas de ganhos no mercado futuro, alguns dos seus defensores, travestidos de executivos e de prestadores de serviços de consultoria, receberam mais de R$ 300 milhões em salários, bônus, ações e doações sem trazer um centavo de retorno para as empresas órfãs da mesma teoria que os beneficiou.

Criar e colocar em prática teorias baseadas em egocentrismo, risco financeiro, venda de ilusões e dinheiro público é a prova de que o capitalismo e as diretrizes públicas têm muito para evoluir, ao contrário do que pensam a maioria dos políticos e empresários brasileiros vislumbrados com o poder.

Apesar do estrago, torço para que a Teoria X não se dissolva por completo, afinal, se isso ocorrer, a conta será transferida mais uma vez para o povo brasileiro, em troca de menos estradas, hospitais, ferrovias e saúde, todos em estado terminal.

JERÔNIMO MENDES
Administrador, Coach Empreendedor, Escritor e Palestrante
Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE






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Edição 36_Gestão Ambiental

Tijolo a tijolo, uma construção mais ecológica



Solo-cimento e bloco reciclado, conheça duas soluções para construção civil que promove menos impactos ambientais que os tijolos convencionais, sem perder a qualidade



A construção civil é uma das áreas mais ricas em inovações que buscam a aplicação de elementos recicláveis ou que cause o menor impacto possível ao meio ambiente. O conceito de sustentabilidade está presente em inúmeras soluções para o setor, da fundação da obra até o acabamento.


Uma das soluções que busca diminuir a agressão ao meio ambiente, sem colocar em risco a qualidade da construção, é o tijolo solo-cimento, também conhecido como tijolo ecológico ou modular. A substituição do tijolo convencional pelo ecológico garante à obra redução de resíduos e de argamassa, além de dar celeridade à construção e diminuir a emissão de gás carbônico.

O tijolo ecológico é composto por cerca de 90% de solo silte arenoso, com 10% de cimento, feito com prensas hidráulicas. Segundo o arquiteto Ricardo Tempel Mesquita, a forma como é curado o tijolo é uma das maiores vantagens para o meio ambiente, pois não há queima. “A enorme vantagem é que o tijolo de solo-cimento é curado a frio, ou seja, não precisa queimar, como é o caso do convencional. Há, dessa forma, uma redução brutal na emissão de CO², proveniente da queima de madeira para a cura dos tijolos convencionais”.

Para a sua produção, a receita, de acordo com o arquiteto, é bem simples, usando solo arenoso, cimento e água. “O solo de tem que ser o silte arenoso, como o macadame, em abundância na natureza. Além disso, não pode haver traços de materiais orgânicos, como a terra preta, que interfere na resistência e qualidade do tijolo de solo-cimento. Ou seja, solo silte arenoso, cimento de boa qualidade e água”.

Segundo a Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica (Anab), o setor de construção civil brasileiro é responsável pelo consumo de 40% dos recursos naturais, 34% do consumo de água, 55% de madeira não certificada, além de gerar 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos e 50% de volume total de resíduos. É preocupado com os impactos que sistemas construtivos convencionais causam ao meio ambiente que Mesquita se dedica à aplicação de medidas ecológicas e sustentáveis em seus projetos.

Mesquita trabalha com pesquisa e uso do solo-cimento desde 1984, primeiramente estudando o elemento do trabalho de conclusão do curso de arquitetura, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC). Naquela época, um dos problemas era o tipo de solo usado. O projeto previa a aplicação de argila, que é danosa para o tijolo ecológico, pois ela trabalha com a umidade, podendo até se desmanchar. Isso acabou atrapalhando a ideia do sistema construtivo. Voltei após uma das edições da Feira Internacional de Construção Civil (Feicon), onde vi a apresentação de uma máquina pequena para prensar tijolos. Trouxe a ideia a Curitiba e comecei a trabalhar nela”.

De acordo com o arquiteto, o equipamento possibilitava a produção de blocos de 10 x 20cm. Preocupado com os resíduos provenientes das quebras, devido ao tamanho dos blocos, Mesquita adaptou o sistema para atender medidas fechadas. “Fiz blocos de 12,5 x 25 cm, com 6,5 cm de altura, que me dava um parâmetro métrico, ou seja, a cada 4 blocos dava um metro, a cada 8 de largura também é um metro, a cada 16 blocos no perfil de altura também dá um metro, então coloquei esse parâmetro métrico na relação”.

Devido aos encaixes, o tijolo ecológico oferece mais rapidez na construção, além de eliminar ou diminuir alguns elementos presentes na construção com tijolo convencional, conforme afirma Mesquita, que é especialista em acessibilidade e entusiasta do uso de elementos recicláveis e sustentáveis nas construções. “O sistema de encaixe dá mais celeridade à obra, além de diminuir consideravelmente o uso de argamassa. Além disso, dispensa o uso de madeiras para sustentação e nas caixarias dos pilares, vergas e contravergas. as. Há também redução no uso de ferro”.

Apesar de oferecer uma série de benefícios para o meio ambiente, além de proporcionar agilidade e redução de custo nas obras, o tijolo de solo-cimento não é totalmente livre de impacto ambiental. “O cimento emite CO² durante a sua fabricação, só que numa proporção bem menor do que se usaria, por exemplo, em relação ao bloco de concreto, que usa 3 para 1 de proporção de cimento e areia. O tijolo solo-cimento é de 16 pra 1, então você reduz consideravelmente o uso de cimento que usaria num sistema convencional de bloco de cimento”, pondera Mesquita.

Apesar dos benefícios, a alavancagem do uso do solo-cimento carece de metodologia técnica • O sistema base do solo-cimento não é novo, segundo Mesquita, mas utilizado, em sua essência, em construções milenares, como as babilônicas “Teoricamente, a concepção é a mesma utilizada em construções como as fenícias e persas, que usava um tipo de solo cimento. Aqui a Ilha do Mel, a Fortaleza é construída em um estilo de solo-cimento, só que sem o cimento, obviamente. Na essência, o sistema é o mesmo, com o uso de solo com calcário moído, e em alguns casos gordura ou sangue animal”.

A evolução tecnológica e os estudos de novos elementos é que possibilitam o uso do solo-cimento num sistema mais moderno, com ótimos índices de resistência. “Quando eu estava produzindo os tijolos, fizemos a medição de compressão e dava 7,5 MPa, que é compatível com a resistência dos blocos de concreto. Os tijolos convencionais, de argila assada, se a compressão chegar a 2 MPa já é considerado um ótimo produto. Têm tijolos que dá para quebrar com os dedos. Na há quase nada em termos de ensaios tecnológicos nos tijolos convencionais”, aponta Mesquita.

O arquiteto defende uma análise criteriosa e técnica na fabricação dos tijolos ecológicos, com o objetivo de garantir uma normatização e alavancagem do seu uso. “A fabricação deve ser feita dentro de conceitos técnicos, com ensaio tecnológico do solo, do produto, do prisma, para ver a compressão, os impactos laterais, ou seja, tem que ser cercado de tecnologia, se não vira um produto artesanal sem nenhuma normatização”, alerta.

Segundo Mesquita, o desenvolvimento de uma metodologia na produção dos tijolos ecológicos pode proporcionar ao produto melhor aceitação no mercado e entre os profissionais que atuam no setor de construção civil. “A Caixa Econômica não financia empreendimentos com solo-cimento exatamente porque não existe uma metodologia aplicada. Agora, a partir do momento em que a gente consiga provar que o produto supera o convencional tanto nos aspectos técnicos quanto nos ambientais, daí é natural que a coisa evolua”.

Outro quesito para o aumento do uso do solo-cimento, para o arquiteto, é a própria mudança de consciência dos profissionais da área de construção civil, que devem ser ousados a ponto de aproveitar as tecnologias existentes no mercado, totalmente sustentáveis, amigas do meio ambiente, e que proporcionam redução de gastos nas obras, como o tijolo ecológico, que diminui até o uso de revestimentos.

“Como os tijolos são prensados, temos um parâmetro dimensional constante, de 12,5 x 25 x 6,5 centímetros. Os convencionais até são extrudados no mesmo parâmetro, mas o empilhamento e o assamento faz com que tenha uma inconstância de medida, o que acarreta diferença na parede e gasto excessivo de revestimento, ao passo que no solo-cimento, o acabamento interno que nós usávamos era apenas o gesso, aplicado com uma espátula, resultando em uma película de milímetros. Ou seja, com a série de benefícios dos tijolos de solo-cimento, fazer casas com tijolo convencional é o mesmo parâmetro de retrocesso que você continuar fazendo calçada de pedra lascada. Além de ser um dano ambiental enorme, é um recurso que redunda em muito desperdício de material”, critica Mesquita.

Blocos reciclados, o upgrade do solo-cimento • Se nos tijolos de solo-cimento há inúmeras vantagens do ponto de vista ambiental, com os blocos de materiais reciclados se acentua ainda mais o valor em termos de sustentabilidade ambiental. O processo de produção é similar ao do tijolo ecológico, segundo o engenheiro civil Eliel Lopes Ferreira Junior, presidente do Grupo Bricka, com sede em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, e que atua desde a década de 1970 com desenvolvimento de sistemas construtivos. “Você passa os resíduos coletados em construções em uma moedora, mistura com cimento e pressiona, da mesma forma que os tijolos de solo-cimento”.

Dessa forma, com os blocos reciclados, reduz-se também um dos malefícios das construções convencionais, que é a produção de resíduos, que, conforme dados da Anab, totalizam, na construção civil, 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos e 50% de volume total de resíduos. Sendo assim, o que sobra nas construções é recolhido, triturado, incluído na produção de novos blocos, retornando às construções, numa espécie de círculo virtuoso.

No entanto, da mesma forma que os tijolos ecológicos, os blocos de materiais reciclados também carecem de aprimoramento. “Os blocos de concretos para pavimentação e alvenaria obedecem a normas e regras, e a dificuldade que encontramos é atender a essas normas, sem impactar no preço final do bloco”, afirma Lopes.

A contaminação das caliças provenientes das construções faz com que seja necessário aumentar a proporção de cimento, para manter a resistência do bloco próxima a do bloco paver. “Os materiais recolhidos nas obras vêm com muita contaminação, ou seja, com muito material orgânico, que diminui a resistência do produto. Por isso, temos que aumentar bastante a quantidade de cimento, o que aumenta o custo do bloco”.

Óleo, terra e argila são alguns elementos que contaminam os resíduos de construção, que, segundo Lopes, para a reciclagem, deveriam ser separados e classificados em níveis de pureza. “O ideal para a produção dos blocos com proporção razoável de cimento é o resíduo classe A, que é livre de pureza. Hoje, consigo fazer isso com materiais praticamente puros, com um bloco que racha no manuseio, que posso reciclar 100%”.

Para Lopes, a viabilidade do sistema de blocos de materiais reciclados hoje está diretamente vinculada ao apelo ecológico e sustentável que o produto tem. Além disso, uma das soluções para o sucesso da reciclagem no sistema de blocos pode depender de ações governamentais. “Uma das soluções para que seja viável, do ponto de vista financeiro, é implantar e cobrar o uso de regras de separação dos materiais ou trabalhar com um sistema de incentivo tributário, que torne mais atrativo o bloco, bem como uma solução que agrida menos o meio ambiente e que seja sustentável”.

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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

ISAE/FGV realiza palestra gratuita de sustentabilidade para a comunidade


No próximo dia 3 de fevereiro, às 19h30, começa o Ciclo de Palestras Ponto e Contraponto ISAE/FGV, uma oportunidade de discutir temas atuais e promover o conhecimento das práticas de gestão. No dia 04 de fevereiro será ministrada a palestra “Sustentabilidade com Diferencial Competitivo” às 19h30.
Segundo o diretor de educação, Antonio Raimundo dos Santos, “o ciclo busca sempre unir o ponto de vista acadêmico com uma interface do mercado. Nosso objetivo é gerar discussões de novas ideias e soluções, além do networking que o ciclo sempre gera a cada ano”.
Os encontros são abertos para toda a comunidade e ministrados por professores do ISAE/FGV e profissionais com amplo conhecimento mercadológico nas áreas de Finanças, Sustentabilidade, Gestão e Projetos. Confira a programação completa que acontece, gratuitamente, até o dia 6 de fevereiro:

Dia 3 de fevereiro (segunda-feira)
Gestão Financeira: Gerando Valor para a Empresa Professores: Eduardo Schermak (especialista em Gestão Financeira e Controladoria e Auditoria-FGV; docente em cursos de pós-graduação em gestão empresarial) e Marco Antonio Cunha (mestre em Gestão Empresarial- FGV, especialista em Economia de Empresas e farmacêutico/UEPG).

Dia 4 de fevereiro (terça-feira)
Sustentabilidade com Diferencial Competitivo
Professores: Norman de Paula Arruda Filho (presidente do ISAE/FGV, membro da Diretoria do Comitê Brasileiro do Pacto Global e presidente do Capítulo Brasileiro do PRME; doutor em Gestão Empresarial Aplicada-ISCTE/Portugal, mestre em Gestão Empresarial e Pública-EBAPE e especialista em Administração Pública-FGV) e Cleverson Andreoli(doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento-UFPR, mestre em Ciências do Solo e Engenheiro Agrônomo; membro permanente da International Water Academy e ganhador do Prêmio FINEP de Inovação Tecnológica em 1998 e 2007).

Dia 5 de fevereiro (quarta-feira)
Por que é Importante a Transição de Empresa Familiar para Empresa Profissional?Professores: José Carlos Abreu (doutor em Engenharia Industrial PUC-RJ, mestre em Business Administration-Columbia University e engenheiro Eletrônico-UnB) e Augusto Fontoura Benzi (graduado em Administração de Empresas com MBA em Gestão Comercial ISAE/FGV).

Dia 6 de fevereiro (quinta-feira)
As Competências de Relacionamento do Gerente de Projetos e StakeholdersProfessores: Mathias Freire de Carvalho (publicitário com MBA em Gestão de Projetos e pós-graduação na FGV e Programa de Intercâmbio em Administração de Marketing e Marketing de Serviços na HEC/ISA) e Gianfranco Muncinelli (mestre em Engenharia Elétrica-UTFPR, especialista em Gestão Empresarial-UFSC, especialista em Telecomunicações-PUC-PR; tem MBA em Gestão Comercial-FGV e formação em Coaching e Análise Transacional-SBC).

Agende-se:
Ciclo de Palestras Ponto e Contraponto ISAE/FGV
Data: 3 a 6 de fevereiro
Horário: 19h30
Inscrição: Gratuita (vagas limitadas) via site http://www.isaebrasil.com.br/eventos.aspx
End.: ISAE/FGV (Av. Visconde de Guarapuava, 2943 I Centro I Curitiba-PR)
Contato: (41) 3388-7811 ou eventos@isaebrasil.com.br
Redes Sociais: FacebookTwitterLinkedIn

Artigo Edição 35_Economia e Sustentabilidade_ Por Daniel Thá

Mudanças Climáticas 
A Tragédia dos Comuns

O último relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, divulgado final de setembro, não deixa dúvidas: "é extremamente provável que a influência humana tenha sido a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século 20."O ritmo de mudanças atual não se deve aos ciclos solares, vulcões ou raios cósmicos. Ou seja, para os céticos que ainda restam(vam): sim, somos nós mesmos os culpados.

Considerando válido o arbitrário limite de 2ºC de elevação de temperatura média como limite de segurança, já poluímos a atmosfera com quase metade dos gases de efeito estufa (GEE) que poderíamos. Com isso, estamos alterando a química dos oceanos, tornando-os ácidos ao ponto de não suportarem mais corais e crustáceos – a base da vida marinha e de seu equilíbrio. O Ártico deverá ter seu primeiro verão sem gelo na próxima década. As geleiras restantes no mundo estão desaparecendo. As camadas de permafrost vão encolher, liberando enormes quantidades de GEE.

Mesmo rumando francamente ao caos, com mais ondas de calor, aumento do nível do mar, derretimento do gelo e condições climáticas extremas, não temos um acordo internacional para frear o ritmo das emissões de GEE. Porquê?

Não há como se estabelecer direitos de propriedade e nem restringir o acesso ao fino envelope gasoso que permite a vida na Terra, a atmosfera. Como demonstrou *Hardin (The Tragedy of the Commons), qualquer um com acesso a um recurso comum tem interesse em explorá-lo em excesso porque, se não o fizer, alguém o fará... Por mais que os ganhos marginais de todos diminuam à medida que novos entrantes usem o recurso, o único incentivo é a sobre-exploração: a "tragédia dos comuns".

Mal ou bem executadas, existem políticas ambientais para problemas de poluição nacional. Problemas transfronteiriços podem ser combatidos por meio de acordos bilaterais... mas para problemas globais, como as mudanças climáticas, nenhuma autoridade supranacional pode aplicar uma política ambiental.
Dependemos de acordos ambientais internacionais voluntários.

Desde a Eco 92, muito se avançou nesse sentido: a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC); o Protocolo de Quioto de 1997, ratificado em 2004 ea implementação de seus mecanismos (Mercado de Emissões Europeu e o de Desenvolvimento Limpo); a inclusão do REDD+ (Reducing Emissions from Deforestationand Forest Degradation). Enquanto os pontos positivos (são muitos) e negativos de cada um desses mereceria um artigo exclusivo, a sensação é de que pouco adiantaram para reverter as emissões de GEE.

E, de fato, as emissões de GEE nunca estiveram tão altas. O grande impasse para um acordo internacional significativo permanece sendo o dos países "desenvolvidos" (altas emissões históricas) com os "em desenvolvimento" (que "devem" emitir GEE para crescerem). Basicamente, nenhum país quer abrir mão de suas emissões sabendo que alguém ainda está emitindo.

É impossível fugir da discussão da moralidade de se conter emissões versus a responsabilidade pelo estoque de GEE na atmosfera. Não obstante, permanecermos presos nessa dualidade nos levará fatalmente ao caos climático. Quanto mais longo o impasse, mais os países são incentivados a poluir e investir, dentro de suas próprias fronteiras, em adaptação em detrimento à mitigação.

As incertezas sobre o custo real dos danos também dificultam estratégias de mitigação e privilegiam as de adaptação. Eis que os custos da desestabilização climática são por vezes incalculáveis... e deverão causar mudanças estruturais nas economias.

Do último encontro internacional, COP 19 em Varsóvia, saíram resultados amenos e um (retórico) suporte americano por metas globais, a ser discutido em 2015. Será que o Brasil, a Índia e a China as acatarão? Apenas uma solução totalmente cooperativa poderá interromper a tragédia dos comuns, em que todos são influenciados pela ação de todos. Esse é o ápice da globalização.
*Hardin, G., 1968. The Tragedy of the Commons. Nature, 162, 1243-1248.

DANIEL THÁ
Mestre em Economia Ambiental e Economia Internacional, consultor







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Edição 36 - Desenvolvimento Local - Networking sustentável


Clube de negócios WTC proporciona rede de relacionamentos entre empresários de todo o mundo

Com sua primeira unidade fundada pela conhecida família Rockefeller, em Nova York, na década de 1960, o Clube de Negócios World Trade Center (WTC) é uma instituição engajada com a sustentabilidade dos negócios, o que demonstra e incentiva em suas atividades de networking entre empresários por todo o mundo. Presente em mais de 100 países, o WTC conta com associados dos mais diferentes segmentos e setores da economia, o que proporciona uma verdadeira troca de informações, conhecimentos, contatos e facilidades sem fronteiras.

Em Curitiba, o WTC existe há dois anos e tem entre seus participantes representantes de organizações como a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e a especializada em estrutura de Tecnologia da Informação QualityWare. Apesar de serem companhias de diferentes portes e atividades, elas têm algo em comum: prezam pela sustentabilidade.

Administração aeroportuária • A Infraero participa das reuniões do clube de negócios WTC em Curitiba com um representante como convidado. Para Antonio Pallu, superintendente do Aeroporto Internacional Afonso Pena (unidade administrada pela Infraero), “ser membro convidado da WTC Curitiba é uma oportunidade de relacionamento que a equipe aeroportuária tem para mostrar sua dedicação constante em oferecer soluções aeroportuárias inovadoras e sustentáveis aproximando pessoas e negócios”, disse.

Segundo conta Pallu, desde sua fundação, em 1973, a Infraero já apresentava uma preocupação com o desenvolvimento sustentável, apesar de o termo não ser utilizado na época, ganhando força a partir de 1995 com a implantação de políticas voltadas à sustentabilidade e à responsabilidade social.

Atualmente, o compromisso social da Infraero é respaldado pela integração da empresa ao Pacto Global. A companhia desenvolve diversos programas que visam o desenvolvimento social sustentável das comunidades carentes circunvizinhas aos aeroportos e se preocupa com o cumprimento de normas e padrões de proteção ao meio ambiente na implantação, operação e expansão dos seus aeroportos administrados, visando à minimização e prevenção dos impactos ambientais que possam ser provocados por suas atividades.

No Aeroporto Internacional Afonso Pena, são desenvolvidos projetos como a Escola de Informática e Cidadania, que visa à preparação de menores carentes para o mercado de trabalho, mediante aulas de informática, preparação para empregabilidade, noções de inglês e cidadania, bem como orientação para confecção de curriculum e encaminhamento para a aquisição de documentos pessoais.

Não apenas a comunidade, mas o público interno é beneficiado pela conduta adotada pela companhia. “Adotando práticas trabalhistas orientadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Infraero oferece ambiente organizacional saudável e que visa promover amotivação dos empregados”, conta Pallu. Ao todo, a Infraero conta com cerca de 32.000 profissionais, entre empregados concursados (13.135) e terceirizados (18.925),e no Aeroporto Internacional Afonso Pena são 268 empregados orgânicos (dados de julho/2013).

Tecnologia da informação • A empresa curitibana especializada em Tecnologia da Informação (TI), Qualityware, surgiu em 1994, com o objetivo de atender a uma demanda crescente, basicamente por cabeamento de rede e elétrico. É composta por 60 colaboradores organizados em cinco áreas: Administrativo-financeiro, comercial e marketing, Operações de Engenharia, Serviços e Controle de Qualidade.

Segundo Marcelo A. Piuma, diretor de Vendas e Marketing da empresa, a preocupação com o desenvolvimento sustentável e com a responsabilidade socioambiental surgiram com a construção da nova sede da Qualityware. “Desde a construção, buscamos materiais alternativos e métodos construtivos menos impactantes ao meio ambiente. Reaproveitamento de água e consumo de energia para climatização foram estudados e aplicados na nova sede”, conta.

Entre as ações de destaque adotadas pela empresa estão separação do lixo, uso de canecas cerâmicas em vez de copos plásticos, uso de material reciclado no que for possível, premiação para a redução de impressão e uso de material de limpeza biodegradável. “Externamente, temos ações com a comunidade no entorno da sede para o plantio de árvores e em todos os projetos de data center criamos projetos com ‘selo verde’”, conta.

Atualmente, a Qualityware atua com três unidades de negócios, sendo elas: Produtos (HP, HPN, Microsoft), Serviços de TI (IDM, Comunicação Unificada, NOC e BPO) e Infraestrutura (Cabeamento e Data Center). Os principais clientes da empresa são BR Distribuidora, Leão Junior, Tribunal de Contas do PR, Capital Cobrança, UEGA, Copel, Rocha Log, Berneck, entre outros.

A entrada da empresa no WTC aconteceu em setembro de 2013, onde chegou por indicação. “O principal benefício é o networking e a capacidade de capilarizar nossa operação para outras praças onde o WTC tem atividade”, destaca.

Para Piuma, o principal desafio para uma empresa desse segmento atuar em consonância com o desenvolvimento sustentável é a falta de cultura desse mercado no tema. “Infelizmente, nossa preocupação com o meio ambiente não é vista com um diferencial competitivo, por conta disso, dificilmente conseguimos apoio para nossos projetos”, lamenta.

Ainda segundo ele, manter-se no mercado por 19 anos por si só já é uma conquista e um desafio. “A partir de 2010, conseguimos iniciar nosso crescimento de forma mais consistente, conquistando projetos de âmbito nacional”, lembra.

Para estimular a conscientização para o desenvolvimento sustentável, a empresa criou um comitê interno para debater o assunto e “tentar reduzir nossa pegada com ações simples internamente e também para nossos projetos, principalmente nas obras”, relata o diretor. Para 2015, a empresa está buscando a certificação 14.000.


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Artigo Edição 36 - Talentos Voluntários - Por Rafael Giuliano

Protagonismo Individual e iniciativas colaborativas

Em grande parte das organizações, a colaboração e o engajamento estão no foco de diálogos em torno dos desafios diários da gestão de pessoas, estando intimamente ligados tanto à sustentabilidade do negócio quanto às iniciativas de voluntariado.

A importância desses temas já foi debatida aqui na coluna, na edição 33, sob o título “Engajando e cultivando talentos”, e é recorrente nos círculos de diálogo com gestores. No último encontro da Rede de Voluntariado Empresarial (RVE), um dos participantes questionou o grupo, formado por representantes de organizações dos mais diversos segmentos, sobre a adesão dos colaboradores às iniciativas voluntárias, em especial àquelas realizadas no contraturno, fora do horário de trabalho, por ainda representar um obstáculo em seus projetos.

Os participantes compartilharam suas experiências, suas percepções sobre a relação entre quantidade e qualidade na participação de pessoas e grupos, trazendo um elemento em comum na maior parte das histórias. Existe sempre alguns indivíduos altamente comprometidos que garantem a realização da ação e inspiram àqueles que ainda não estão tão envolvidos com a causa.

Ouvindo a cada um dos relatos, trazendo-os para a realidade do convívio social, em casa, no trabalho e na comunidade, é fácil perceber a existência desse protagonismo individual, promovido por pessoas que articulam e inspiram outros àação. Essas lideranças surgem no voluntariado da mesma maneira que no ambiente organizacional, destacando-se entre os membros de equipes de trabalho, respondendo às necessidades de outras pessoas ou grupos, propondo soluções e se envolvendo com suas implementações.

Esses voluntários também requerem incentivo e atenção individualizados para potencializar os impactos de suas ações, trazendo-nos o desafio de propor iniciativas em que cada pessoa possa fazer suas contribuições sem “depender de outros”, mas somando por meio da colaboração.

É comum imaginarmos projetos de maior abrangência e complexidade, envolvendo grande quantidade de voluntários, o que nem sempre é algo fácil de conseguir, mesmo para empresas com programas de voluntariado implantados há muito tempo, com centenas de colaboradores. O desafio está em projetar iniciativas colaborativas, em que o protagonismo individual de uma pessoa possa fazer a diferença, e também se somar ao de outras pessoas envolvidas com a causa.

É imprescindível lembrar-se das palavras de Vince Lombardi, que dizia: “Comprometimento individual a um esforço conjunto —isso é o que faz um time funcionar, uma empresa funcionar, uma sociedade funcionar, uma civilização funcionar”. É importante as pessoas saberem de seu talento individual para fazer a diferença, para então reconhecer o potencial de somar esforços na realização de ações mais abrangentes, de maneira colaborativa. E isso vale tanto para pessoas quanto para empresas!

Um bom exemplo é a Rede de Voluntariado Empresarial (RVE), ou apenas “Rede” como é chamada por seus membros. Trata-se de um movimento criado em 2012 por iniciativa de empresas envolvidas com ações ou programas de voluntariado, buscando promover o diálogo e a troca de experiências, além de propor a realização de ações voluntárias conjuntas.

Atualmente, organizações membros da Rede, como Unimed Curitiba, Mondelez Brasil, Instituto Renault, entre outras, já abrem suas portas para realização de ações conjuntas, disseminando o conhecimento sobre a aplicação de seus projetos, inspirando pessoas e equipes de diferentes empresas.

A Rede prepara, para 2014, a realização de um encontro de trabalho que reunirá organizações e profissionais ligados à causa do voluntariado, a fim de debater seus principais temas e desafios, promovendo a geração de novas melhores práticas, aplicáveis à realidade brasileira.

A sociedade requer, cada dia mais, o comprometimento individual consciente e presente, que se some num esforço conjunto para transformar nosso presente, atuando de maneira a deixar um mundo e as gerações sempre melhores para o futuro…

RAFAEL GIULIANO
Voluntário e pesquisador de novas interações de aprendizagem







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Artigo_Até quando as concessionárias vão desperdiçar água? Por Fernando de Barros

*Por Fernando de Barros

A crise da água se avizinha. Frequentemente se ouve declarações a respeito da falta de água, que já atinge várias partes do mundo de forma alarmante. Por outro lado, nos locais em que ela está presente, a poluição não favorece o uso. 

O Brasil tem orgulho de abrigar mais de 12% da água doce do planeta. Diferente de alguns países com muita água restrita às geleiras, e por isso, indisponível aos seres vivos, enquanto as terras brasileiras guardam abundância de água em rios e aquíferos.

A gritante necessidade de mudança dos hábitos de consumo de água é uma realidade. A mídia e marketing de responsabilidade socioambiental das concessionárias bombardeiam os consumidores com recomendações para a economia de água. Contudo, tais recomendações deveriam se estendem às indústrias e comércios.

Tecnologias que envolvem a captação de água pluvial para uso não potável e reuso de águas cinza, como válvulas de duplo fluxo nos vasos sanitários, torneiras economizadoras e restritores de vazão corporificam uma importante tendência. Nesse sentido, há legislação em alguns municípios que obriga o empreendedor de novas edificações a captar a água da chuva para uso em sanitários, serviços de limpeza e rega de jardim.

Quando se trata de consumo de água, estima-se que o Brasil é um dos maiores (talvez o maior) produtor de alimentos do mundo. Por outro lado, a agricultura representa o setor que mais consome água doce do planeta, o equivalente a cerca de 70% desse uso para irrigação e dessedentação de animais, segundo o Relatório Estado do Mundo de 2011, publicado no Brasil pela parceria do Instituto Akatu com o World Watch Institute (WWI). Isso significa que o abastecimento de água dos segmentos industrial, comercial e residencial fica restrito a cerca de 30%.

Ao mesmo tempo, os interesses de corporações mundiais voltam-se ao Brasil, que desponta como exportador potencial de água. Ao exportar produções de aves, suínos e bovinos, soja, milho e outros grãos, o Brasil também está exportando água, visto que a produção agropecuária é responsável pela maior parte do consumo.

Enquanto isso, outro dado revela que, em média, no Brasil, a cada 100 litros de água doce captados nos rios pelas concessionárias, somente 64 chegam efetivamente às casas, o que significa que 36 litros se perdem no caminho. Mais alarmante ainda é observar que há locais no Nordeste, onde essa perda pode atingir 60%! Desperdício irreversível para um recurso natural dos mais essenciais à existência dos seres vivos.

Ainda que desperdícios inacreditáveis como esses causem espanto e, por vezes indignação, eles são prorrogados na medida em que a falta de uma gestão eficiente de recursos hídricos se sedimenta em território brasileiro. No lugar de concentrar esforços na origem da questão, as poucas ações de políticas públicas executadas são dispersas, o que provoca graves conseqüências.

Em um primeiro momento, o desperdício de água, evidencia um impactante problema: a escassez. Por outro lado, o consumidor tem que pagar mais pela água, já que dos 100 litros de água captados apenas 64 são repassados ao uso. Logo, os consumidores pagam pelo tratamento de 100 litros a água, mas só de levam 64, sobretudo, por ineficiência do sistema de distribuição e controle das concessionárias. Até quando vamos conviver com o desperdício?


* Fernando de Barros é engenheiro civil, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento e responsável técnico da Master Ambiental. www.masterambiental.com.br

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Matéria Capa_Edição 36

Práticas sustentáveis conquistam o mercado de ações

Nível de responsabilidade socioambiental já pode determinar lucratividade das organizações

O índice de sustentabilidade corporativa de uma organização é cada vez mais mensurável e valorizado no mercado de ações. Isso significa que a lucratividade de uma empresa já pode ser relacionada com o nível de importância que ela confere aos aspectos socioambientais. Eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa estão entre as qualidades destacáveis nesse mercado, além de serem consideradas diferenciais na gestão dos negócios.

Em um cenário no qual as expectativas da sociedade com relação às empresas são crescentes, a sustentabilidade corporativa ganha cada vez mais status de vantagem competitiva.

E para nortear os investidores para que tenham comprovações técnicas das empresas nas quais pretendem aplicar seus recursos, as bolsas de valores de São Paulo e de Nova York contam com indicadores para avaliar diversos aspectos envolvidos com sustentabilidade, como transparência e estabilidade financeira.

Criados pela BM&F Bovespa, os indicadores ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e o ICO2 (Índice de Carbono Eficiente) utilizam diferentes metodologias para qualificar a gestão empresarial das organizações participantes do mercado de ações. O ICO2 é composto pelas ações das companhias participantes do índice IBrX-50 (que mede o retorno total de uma carteira teórica composta por 50 ações selecionadas entre as mais negociadas na bolsa em termos de liquidez) e que aceitaram participar dessa iniciativa, adotando práticas transparentes com relação às suas emissões de gases efeito estufa (GEE).

Já o ISE, atualizado pela última vez em novembro de 2013, reúne um grupo de empresas nacionais selecionadas por desenvolverem projetos sustentáveis. Esse é o nono ano de desenvolvimento da carteira, quando foram incluídos mais três setores (transporte, serviços médicos e serviços financeiros diversos) e quatro novas empresas. A carteira ISE reúne, atualmente, 51 ações de 40 companhias. Elas representam 18 setores e somam R$ 1,14 trilhão em valor de mercado, o equivalente a 47,16% do total do valor das companhias com ações negociadas.

Semelhante ao ISE, o índice DowJones de Sustentabilidade (DJSI) da bolsa de valores de Nova York reúne empresas de todo o mundo. Em 2013, oito empresas brasileiras integram a nova composição da carteira que começou a vigorar a partir de setembro. Nessa última edição, o índice contemplou 333 empresas de 59 setores da indústria de 25 países. O DJSI é um dos principais índices de sustentabilidade empresarial mundial, visto que as organizações listadas são reconhecidas como líderes globais em sustentabilidade.

ISE • A mais recente carteira do ISE foi anunciada no dia 28 de novembro de 2013 e vigora de 06 de janeiro de 2014 a 02 de janeiro de 2015.

Foram convidadas para participar da atual carteira ISE as 183 companhias que detinham as 200 ações mais líquidas da bolsa de valores em dezembro de 2012. Dessas, 45 empresas se inscreveram para participar do processo concorrendo ao ingresso na carteira.

As empresas são avaliadas sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. O índice amplia o entendimento sobre empresas e grupos comprometidos com a sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível de compromisso com o desenvolvimento sustentável, equidade, transparência e prestação de contas, natureza do produto, além do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira, social, ambiental e de mudanças climáticas.

Criado em dezembro de 2005, seu desenho metodológico é responsabilidade do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). A metodologia busca avaliar de forma integrada os diferentes aspectos da sustentabilidade. Seus objetivos são atuar como indutor de boas práticas no meio empresarial brasileiro e ser uma referência para o investimento socialmente responsável.


Raio X • Apesar de fazerem parte de diferentes setores da economia e de adotarem diferenciados modelos de gestão, empresas como Copel, Santander, Itaú-Unibanco, Braskem, WEG, Fibria e Natura, que integram a nova carteira ISE, possuem, juntamente com as outras companhias selecionadas, algumas particularidades. Todas publicam relatório de sustentabilidade e possuem compromisso com o desenvolvimento sustentável formalmente inserido na estratégia. Em 93% das companhias, existe envolvimento direto dos administradores na definição do Relatório de Sustentabilidade, 98% das companhias possuem programa de educação e sensibilização sobre o desenvolvimento sustentável, 95% das componentes possuem diretoria que se reporta diretamente ao primeiro escalão e 58% possuem Comitê de Sustentabilidade que se reporta ao Conselho de Administração.

Compromisso com a energia • A Companhia Paranaense de Energia (Copel) é pioneira no Brasil em estudos e relatórios de impacto ambiental na construção de usinas hidrelétricas e essa preocupação vem sendo mantida em todos os novos empreendimentos. Desde a sua criação, preocupa-se com o desenvolvimento social em sua missão empresarial. A partir de 2003, a organização inseriu também o termo sustentabilidade na sua missão, com o objetivo de deixar explícita uma cultura organizacional voltada para o desenvolvimento sustentável.

A Copel abriu seu capital na Bolsa de São Paulo em 1994, na Bolsa de Nova Iorque em 1997 e, em 2002, a Copel iniciou a negociação de ações no LATIBEX – que é parte da Bolsa de Valores de Madri para títulos latino-americanos negociados em euros. Para Paulo Sérgio Pereira, superintendente de Sustentabilidade e Cidadania Empresarial da organização, “a abertura de capital é uma etapa importante na possibilidade de crescimento das empresas, além de uma forma de captação de recursos para financiar seus projetos, significa estar de acordo com as normas de governança e ser transparente com a sociedade”, diz.

A Companhia foi selecionada para integrar a carteira do ISE da BM&F Bovespa em 2005. Excetuando-se a carteira de 2009, esteve presente em todos os outros anos, inclusive nesta última edição, com vigência para 2014. De acordo com Pereira, não é possível afirmar que a participação da organização na carteira do ISE afeta de maneira relevante o preço e as negociações das ações, porém, segundo ele, há uma quantidade expressiva de estudos que apontam uma relação da valorização das companhias devido a iniciativas de responsabilidades social e ambiental, principalmente as iniciativas voltadas ao seu core business.

Na opinião de Pereira, os investidores deveriam olhar as empresas que prezam pela sustentabilidade devido à sua maior capacidade de inovação, maior ganho reputacional, além de uma melhor capacidade de influência diante de incertezas regulatórias, o que traria maior vantagem competitiva. “Estudos têm apontado que existe uma associação de maior retorno e de menor risco às empresas que prezam pela sustentabilidade, pois essas empresas estariam mais bem preparadas para enfrentar as oscilações do mercado. Com isso, os investidores, principalmente aqueles que querem uma garantia de retorno em longo prazo, estão cada vez mais propensos a investir em empresas que têm uma governança voltada à sustentabilidade”, diz.

Diferenciais • A responsabilidade socioambiental da Copel está presente em diversas esferas, fator que determina seu destaque no mercado de ações. Signatária do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) desde fevereiro de 2000, a empresa adota as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI) na elaboração do seu Relatório de Sustentabilidade e utiliza os indicadores Ethos de Responsabilidade Social Corporativa desde 2000.

A empresa iniciou em 1999 o Programa de Voluntariado Eletri Cidadania, cujo propósito é dar direcionamento empresarial para diversas realizações que vinham obtendo expressivos resultados em diferentes regiões do Estado do Paraná. As frentes de atuação são inspiradas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM e abrangem temas como direitos humanos, educação, inclusão, saúde, meio ambiente, cidadania e sustentabilidade. A cada ano, são mobilizados quase 200 voluntários que geram mais de 1100 horas de voluntariado (dados de 2012).

Além de integrar o ISE, a Companhia vem se preparando para entrar no Dow Jones Sustainabilility Index – DJSI – nos próximos anos. “Por isso, outras diversas iniciativas estão sendo desenvolvidas para tornar a empresa cada vez mais aderente aos requerimentos”, finaliza o superintendente da Copel.

Financiando boas práticas • Outra empresa que se destaca em termos de sustentabilidade corporativa e por isso está contemplada no ISE é o banco Santander. De acordo com o diretor de Desenvolvimento Sustentável da organização, Carlos Nomoto, o Santander demonstra preocupação com a sustentabilidade de seus processos e do planeta por se relacionar com diferentes cadeias produtivas e por estar em uma posição privilegiada, na qual é possível ajudar a induzir o avanço do tema nas empresas e nos setores econômicos.

Cerca de R$ 1,5 bilhão das concessões de crédito do banco no varejo foram direcionadas a empresas que investiram em mudanças na matriz energética, na gestão de resíduos, dentre outros projetos. “Temos condições de atuar não só sobre o nosso próprio negócio, como fazemos, por exemplo, ao neutralizar as emissões de gases de efeito estufa, mas também de influenciar outras empresas. Isso sem falar nas ações que utilizamos para conscientizar nossos 55 mil colaboradores e os mais de 24 milhões de clientes que se relacionam conosco. Nosso objetivo é justamente criar mecanismos financeiros para ajudar os nossos clientes e a sociedade a serem mais sustentáveis”, destaca Namoto.

Segundo conta o diretor, a atuação da organização está baseada em três eixos: Inclusão Social e Financeira, Educação e Mudanças Climáticas. O eixo de inclusão financeira, por exemplo, inclui programas para apoio de empreendedores. Já em educação, a atuação do banco compreende iniciativas de apoio a Instituições de Ensino Superior no Brasil. O banco tem parceria com 435 universidades no País e em 2012 concedeu mais de 17.930 bolsas de estudo. Já o eixo de mudanças climáticas representa esforços como análise de Risco Socioambiental, investimento em energias renováveis e financiamentos de soluções sustentáveis.

Com o objetivo de mobilizar clientes, funcionários e sociedade para um tema ainda pouco compreendido, que é a redução e compensação de emissões de gases de efeito estufa, o banco desenvolve a campanha Reduza e Compense. Trata-se de uma plataforma na web na qual é possível calcular quantas toneladas de gases uma pessoa emite, além de oferecer a possibilidade de se compensar essas emissões comprando créditos de carbono de três projetos desenvolvidos no Brasil. Além disso, todos os clientes que contratam financiamento de veículos têm os primeiros mil quilômetros compensados pelo banco e são estimulados a continuar a realizar o cálculo. Para os funcionários, o banco oferece até uma tonelada para aqueles que aderirem ao Reduza e Compense.

Sustentabilidade e lucratividade • O Santander ingressou no ISE em 2010 e desde então tem conseguido cumprir os requisitos para continuar fazendo parte do índice. “O fato de integrar o ISE colabora para melhorar a percepção da empresa no mercado, ao sinalizar que o banco adota as melhores práticas de sustentabilidade. São essas práticas, na verdade, que trazem mais impactos positivos para nossas atividades”, diz o diretor do Santander.

Segundo relata Namoto, a experiência do banco mostra que há uma frequente coincidência entre problemas socioambientais e dificuldades financeiras. De acordo com ele, a não adequação aos critérios socioambientais pode resultar na redução do fluxo de caixa, na perda de ativos e aumentar o risco de imagem da empresa. “Já a companhia que cuida do bem-estar de seus funcionários e do ambiente em que atua costuma ter uma gestão mais responsável e eficiente, com mais chances de honrar seus compromissos financeiros e gerar bons negócios, com consequente impacto sobre os indicadores de mercado e o desempenho da empresa na bolsa de valores”, destaca.

No entanto, de acordo com o diretor, há muito que se avançar na mensuração dos impactos e do valor que a sustentabilidade aporta a uma empresa, sua marca e a atratividade de novos clientes e investidores. “A sustentabilidade é uma necessidade de nossos clientes, seja para reduzir o consumo de energia ou adequar instalações para maior acessibilidade, entre outros exemplos. Ao financiar essas soluções, estamos ajudando nossos clientes a ser mais eficientes contribuindo para o resultado do banco e induzindo impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente”, comenta o diretor.

Rede de relações • Para a empresa brasileira de cosméticos Natura, criada em 1969, em um mercado dominado por empresas estrangeiras, ser sustentável é utilizar de forma adequada os recursos naturais disponíveis no momento, garantindo as necessidades de futuras gerações. A estratégia de sustentabilidade da empresa nasceu da relação que possui com seus clientes, fornecedores e todos os seus parceiros. Com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento do País, a Natura mantém relações comerciais com dezenas de comunidades para adquirir os insumos naturais utilizados em seus produtos a fim de influenciar diretamente o desenvolvimento econômico e social dessas populações. Em 2012, esses acordos comerciais movimentaram R$ 12 milhões, volume 12% superior a 2011.

A empresa opta por um modelo de negócios baseado na venda direta por consultores e consultoras (CNs), ampliando assim sua rede de relações. A Natura inova ao adotar o uso de ingredientes naturais vegetais nas formulações de seus produtos e é a primeira empresa de cosméticos a oferecer produtos com refil. Além de estabelecer diversas parcerias com comunidades indígenas e outras para fornecimento de matéria-prima, a Natura não realiza mais teste com animais desde 2006. A empresa também apoia e desenvolve diversos projetos que visam preservação do meio ambiente, a educação e o relacionamento com stakeholders.

Consumo consciente • Segundo relata Fábio Cefaly, executivo de Relação com Investidores da Natura, atualmente o consumidor está muito mais consciente sobre temas que envolvem a sustentabilidade, e a Natura sempre soube que o engajamento com questões ambientais pode fazer diferença no presente e futuro de todos.

“Priorizamos o uso de matérias-primas renováveis e inserimos nossas operações em planos de desenvolvimento sustentável. Também nos preocupamos cada vez mais em incentivar o consumo consciente. Desde 2007, passamos a incluir nas embalagens dos produtos uma Tabela Ambiental, que oferece informações ao consumidor que vão desde a escolha e obtenção da matéria-prima até a origem e o descarte da embalagem no meio ambiente”, relata.

Entre outras ações de destaque da empresa estão a gestão do consumo da água, tema considerado prioritário quando se tratam de impactos gerados durante a fabricação de cada cosmético. Em 2013, a marca renovou seu portfólio de 32 produtos da linha Plant e inovou nos materiais das embalagens para reduzir o impacto no meio ambiente. “Os sachês reduzirão 78% do uso de plástico nas embalagens dos shampoos, 84% nas máscaras e evitará desperdício na reutilização. Como resultado, a produção de resíduos cai 97% e a emissão dos gases (GEE) responsáveis pelo aquecimento global é 77% menor em relação à embalagem original, que passam a ser feitas com o Plástico Verde (PE Verde). Em 2012, 14% dos produtos faturados eram refis”, explica o gestor.



Além do ISE • A Natura está na bolsa de valores desde 2004. Segundo avalia Cefaly, entre os benefícios para a companhia, destaca-se um melhor posicionamento no mercado de capitais para ciclos futuros de expansão das atividades, inclusive por meio da redução no custo de capital. “Estamos desde 2005 na carteira do ISE e somos um dos ícones da tradição em sustentabilidade no País, e cada vez mais temos certeza das vantagens de figurar o grupo”, diz.

Ainda na opinião de Fábio Cefaly, os investidores devem preservar a ideia de que empresas sustentáveis duram mais, pois têm relação mais adequada com o governo, meio ambiente e sociedade. “Mas só o selo ISE não traz mais valor de mercado, é preciso realizar ações diárias que demonstrem tal preocupação ambiental. Nossa experiência indica que os investidores estrangeiros estão mais atentos a diferenciais de sustentabilidade, e reparam no papel do triple botton – aspectos econômico, social e ambiental. Mas essa ideia está expandindo e conquistando um público maior a cada dia. As empresas que seguem os conceitos de sustentabilidade terão destaque gradativamente maior no futuro”, analisa.

A Natura hoje estuda possibilidades de novas certificações, considerando os investimentos que a empresa faz no uso de tecnologias sustentáveis e inovadoras.

Índice mundial • O grupo seleto de participantes brasileiros no índice Dow Jones de sutentabilidade (DJSI) é formado pelas empresas Bradesco, Cemig, Embraer, Itaú-Unibanco, Itaúsa, Petrobras, Banco do Brasil e a Fibria. Para serem incluídas, elas passaram por rigoroso processo seletivo, que analisa dados econômicos, desempenhos ambiental e social, governança corporativa, gestão de risco, mitigação da mudança climática e práticas trabalhistas.

Em comunicado publicado em setembro de 2013, os diretores de Relação com Investidores da Holding Itaú Unibanco, Alfredo Egydio Setubal e da Itaúsa, Henri Penchas, informaram que ao longo de suas participações no Dow Jones Sustainability Index, o Itaú Unibanco e a Itaúsa detêm conquistas importantes, entre elas o fato de o Itaú ter sido selecionado para o índice pelo 14º ano consecutivo e por ser o único banco latino-americano a participar da composição do índice desde sua criação em 1999.

Nessa nova edição, o Itaú atingiu a melhor nota do setor Bancário nos quesitos “Política Anti-crime/Medidas”; ‘’Gerenciamento da Marca’’ e ‘’ Estabilidade Financeira e Risco Sistêmico’’. Já a Itaúsa compõe o índice pelo 10º ano, uma vez que este é o primeiro no setor bancário. A empresa obteve a maior nota do setor nos quesitos: “Política Anti-crime/Medidas”, “Gerenciamento da Marca”, Estabilidade Financeira e Risco Sistêmico’’ e “Desenvolvimento do capital humano”.

“A participação no índice Dow Jones reflete o compromisso de longo prazo da Itaúsa e do Itaú Unibanco com a conduta ética dos negócios, transparência, cumprimento da legalidade, governança corporativa e responsabilidades social, cultural e ambiental. Acreditamos que esse compromisso é fator determinante para mantermos nos próximos anos o crescimento sustentado direcionado para criação de valor para nossos acionistas e para sociedade”, relataram os diretores de Relação com Investidores da Holding Itaú e da Itaúsa.

Transparência • A Petrobras é outra empresa brasileira participante do índice Dow Jones de sustentabilidade. Selecionada pelo oitavo ano consecutivo, a empresa obteve nota máxima nos critérios Transparência, pela sétima vez, e Liberações ao Meio Ambiente. A Companhia também se destacou nos critérios Impacto Social nas Comunidades, Políticas e Sistemas de Gestão Ambiental e Gerenciamento de Risco e Crise.

De acordo com comunicado oficial da empresa, em 2012, os investimentos e gastos operacionais em proteção ambiental da Petrobras totalizaram R$ 2,9 bilhões, um aumento de 7% em relação ao ano anterior. O valor inclui projetos de gestão ambiental e patrocínio a projetos externos. Entre os resultados dos projetos de gestão ambiental, destaca-se a economia de 4 mil barris de óleo equivalente por dia (boed) ou 8,6 milhões de gigajoules (GJ) de energia.

“A transparência é um valor muito forte para a Petrobras. Quando vemos o mais importante índice mundial de sustentabilidade reconhecer a empresa e avaliá-la com nota máxima em transparência, temos a certeza de que estamos no caminho certo de crescimento com sustentabilidade”, avaliou a presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster.

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