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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Artigo_Até quando as concessionárias vão desperdiçar água? Por Fernando de Barros

*Por Fernando de Barros

A crise da água se avizinha. Frequentemente se ouve declarações a respeito da falta de água, que já atinge várias partes do mundo de forma alarmante. Por outro lado, nos locais em que ela está presente, a poluição não favorece o uso. 

O Brasil tem orgulho de abrigar mais de 12% da água doce do planeta. Diferente de alguns países com muita água restrita às geleiras, e por isso, indisponível aos seres vivos, enquanto as terras brasileiras guardam abundância de água em rios e aquíferos.

A gritante necessidade de mudança dos hábitos de consumo de água é uma realidade. A mídia e marketing de responsabilidade socioambiental das concessionárias bombardeiam os consumidores com recomendações para a economia de água. Contudo, tais recomendações deveriam se estendem às indústrias e comércios.

Tecnologias que envolvem a captação de água pluvial para uso não potável e reuso de águas cinza, como válvulas de duplo fluxo nos vasos sanitários, torneiras economizadoras e restritores de vazão corporificam uma importante tendência. Nesse sentido, há legislação em alguns municípios que obriga o empreendedor de novas edificações a captar a água da chuva para uso em sanitários, serviços de limpeza e rega de jardim.

Quando se trata de consumo de água, estima-se que o Brasil é um dos maiores (talvez o maior) produtor de alimentos do mundo. Por outro lado, a agricultura representa o setor que mais consome água doce do planeta, o equivalente a cerca de 70% desse uso para irrigação e dessedentação de animais, segundo o Relatório Estado do Mundo de 2011, publicado no Brasil pela parceria do Instituto Akatu com o World Watch Institute (WWI). Isso significa que o abastecimento de água dos segmentos industrial, comercial e residencial fica restrito a cerca de 30%.

Ao mesmo tempo, os interesses de corporações mundiais voltam-se ao Brasil, que desponta como exportador potencial de água. Ao exportar produções de aves, suínos e bovinos, soja, milho e outros grãos, o Brasil também está exportando água, visto que a produção agropecuária é responsável pela maior parte do consumo.

Enquanto isso, outro dado revela que, em média, no Brasil, a cada 100 litros de água doce captados nos rios pelas concessionárias, somente 64 chegam efetivamente às casas, o que significa que 36 litros se perdem no caminho. Mais alarmante ainda é observar que há locais no Nordeste, onde essa perda pode atingir 60%! Desperdício irreversível para um recurso natural dos mais essenciais à existência dos seres vivos.

Ainda que desperdícios inacreditáveis como esses causem espanto e, por vezes indignação, eles são prorrogados na medida em que a falta de uma gestão eficiente de recursos hídricos se sedimenta em território brasileiro. No lugar de concentrar esforços na origem da questão, as poucas ações de políticas públicas executadas são dispersas, o que provoca graves conseqüências.

Em um primeiro momento, o desperdício de água, evidencia um impactante problema: a escassez. Por outro lado, o consumidor tem que pagar mais pela água, já que dos 100 litros de água captados apenas 64 são repassados ao uso. Logo, os consumidores pagam pelo tratamento de 100 litros a água, mas só de levam 64, sobretudo, por ineficiência do sistema de distribuição e controle das concessionárias. Até quando vamos conviver com o desperdício?


* Fernando de Barros é engenheiro civil, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento e responsável técnico da Master Ambiental. www.masterambiental.com.br

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