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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Artigo Meio Ambiente - Edição 30


O verdadeiro profissional da sustentabilidade

Anda circulando na rede textos abordando quem seriam os profissionais da sustentabilidade. Assim como ocorreu com a palavra ecologia, sustentabilidade tem sido usada para tudo, e acabou sem significado, claro.  Gostaria de dar meu pitaco.

Conforme o professor Gastão Franco da Luz, que também escreve nesta coluna, sustentabilidade é a propriedade de um processo que, além de continuar existindo no tempo, revela-se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b) apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de manutenção (contar com suas próprias forças), (c) pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d) promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza.

Da onde veio esse conceito? Do estudo das bases epistemológicas do tema as quais envolvem Thoreau, Bertalanffy, Odum, Morin, Bauman, entre outros. Matamos a cobra e mostramos o pau. Epa! Não podemos matar a cobra, porque ela pertence a uma rede de coadjuvantes sustentáveis dentro de uma dinâmica ecossistêmica. No máximo capturamos a cobra, caracterizamos e depois soltamos novamente no ambiente a qual ela pertence. Vou tornar a frase sustentável: capturamos a cobra e mostramos a caracterização.

Agora voltamos ao objetivo do texto: quem é o verdadeiro profissional da sustentabilidade? Resposta: o profissional desempregado. Peguei pesado? Explico. No exercício de sua profissão, o profissional da sustentabilidade busca contribuir para o processo da sustentabilidade. Como estou falando de mercado de trabalho, refiro-me à sustentabilidade do urbano insustentável. Então, dentro dos limites desse ecossistema artificial, o profissional minimamente aplica em si mesmo o que prega. Ele não possui automóvel e sempre evitará o uso de um meio de deslocamento que utilize combustível não renovável. Considerando um impacto mínimo, ou ele anda a pé, ou, no máximo, de bicicleta. Ônibus? Só em ladeira. Ele possuirá apenas - e tão somente - o essencial para sua qualidade de vida, ou seja, será módico no quesito habitação, mobiliário, vestuário. Leia-se: nada de descartável. Ele fará uso racional da tecnologia, evitando a aquisição de produtos eletrônicos supérfluos e/ou descartáveis. Ele será um representante ativista da demanda por produtos e serviços que utilizem materiais reciclados, incluindo brexós, sebos, bibliotecas, garage Sales. Ele prega em si mesmo o próprio discurso.

Então, vamos imaginar esse profissional sendo chamado para uma entrevista de emprego. Ele vai de ônibus e, nesse caso, corre o risco de chegar atrasado. Para os padrões de moda das marcas supérfluas, ele possivelmente estará malvestido. Agenda? Aquela antiga de papel reciclado. Seu concorrente na tal entrevista chega dirigindo um automóvel movido a diesel, vestindo os últimos lançamentos da moda metrossexual e anotando dados em um tablet. Qual deles causará melhor impressão?

O mercado empresarial busca profissionais que saibam tornar a sustentabilidade viável sem prejudicar o lado econômico dos negócios. Corretíssimo, ninguém quer montar uma empresa para ter prejuízo. 

Entendeu porque o verdadeiro profissional da sustentabilidade - conceituada no início deste texto - está sub e/ou desempregado? Para sobreviver, temos de ser “meio” sustentáveis. O mercado ainda não tem espaço para o inteiro. Soltei a cobra.


Rosimery de Fátima Oliveira
Especialista em diagnóstico e planejamento sistêmico

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