Muitas empresas, a maioria, eu diria, associa a sustentabilidade a custos; mais um item para ser considerado na hora de formação do preço e que pode inviabilizar a estratégia comercial de uma companhia. Sim, isso realmente pode acontecer. No entanto, a questão vai depender muito mais de como as empresas lidam com o tema do que com o montante de dinheiro disponível.
Se para a empresa sustentabilidade significa apenas projetos sociais como resposta a demandas da sociedade e dos stakeholders em geral, sim, será um custo. Necessário, porém custo. No entanto, se ela encarar a sustentabilidade como um agente catalisador de mudança em seus processos e busca por eficiência operacional, o custo se transforma em investimento, que é pago ao longo do tempo.
Em um mundo que caminha para o esgotamento de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a demanda por eles cresce exponencialmente, adotar a sustentabilidade é uma alternativa para garantir a perenidade do negócio em médio e longo prazos. É um sinal que as empresas dão aos seus investidores de que elas estão trabalhando para que questões como mudanças climáticas, racionamento de água ou mobilidade geográfica não comprometerão sua performance operacional e financeira.
Assim como a qualidade foi há décadas atrás, a sustentabilidade nada mais é que um novo modelo de gestão. Um modelo que proporciona uma série de ganhos. Um modelo que ainda é pouquíssimo praticado pelas empresas, que, em uma visão rasa, basicamente enxergam a possibilidade de retorno de imagem e reputação.
A grande dificuldade para que a sustentabilidade seja efetivamente praticada pelas companhias é mudança de valores e comportamento pela qual elas precisarão passar. É preciso engajar, é preciso capacitar, é preciso cobrar dos colaboradores uma postura sustentável. E o maior desafio é formar profissionais que tenham essa visão não apenas no trabalho, mas na vida.
Aliado ao engajamento e à formação é preciso planejar em longo prazo e ter consciência de que os resultados nem sempre serão alcançados rapidamente. E é justamente essa relação entre tempo e retorno que pauta uma gestão sustentável. Com uma proposta de resultados que transcende as cifras, muitas vezes a implementação da sustentabilidade encontra resistência nas empresas que vivem no modelo de máximo lucro o mais rápido possível.
No entanto, esse modelo capitalista vigente desde o século passado, e grande responsável pela crise que vem assolando a Europa e os Estados Unidos desde 2008, deixa claro que o esgotamento de matérias-primas e o colapso nas relações com stakeholders são apenas uma questão de tempo. Pouco tempo, eu diria.
Por conta disso, questões que há pouco tempo pautavam a agenda de trabalho de gerentes médios (e que muitas vezes acumulavam funções, como, por exemplo, saúde, segurança e meio ambiente ou então comunicação e responsabilidade social), hoje chega ao topo da hierarquia corporativa. Mesmo que ainda estejam pisando em cacos de vidro, as empresas acordaram para a necessidade de trabalhar a sustentabilidade de forma mais estratégica e menos reativa.
A jornada ainda está no começo e algumas empresas largaram na frente, ainda que não seja possível dizer que haja, sequer, uma 100% sustentável. Todas possuem um grande passivo que é o resultado de anos e anos de gestão focada apenas no lucro excessivo. Mas antes de resolver o que está lá atrás, precisamos assegurar que o daqui para frente seja diferente. E essa decisão tem de ser feita já. Atualmente, sustentabilidade não é mais uma questão de escolha.
Julianna Antunes especialista em planejamento estratégico sustentável e processos sustentáveis.
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Matérias:
Capa: Pensamento Sistêmico e Visão Estratégica
Tecnologia & Sustentabilidade: Sustentabilidade comprovada em rótulo (Sustentax)
Visão Sustentável: Excesso de iimpostos e importações ameaça a indústria têxtil brasileira
Responsabilidade Social: Pelo Futuro das Empresas
Empreendedorismo: Iniciativa de inclusão transforma a vida das pessoas por meio do empreendedorismo
Artigos:
Daniella MacDowell: Quem é o profisisonal de sustentabilidade?
Jeronimo Mendes: O que é ser sustentável
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