----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

domingo, 18 de março de 2012

Edição 27 - Entrevista Ozires Silva

Ozires Silva nasceu em Bauru/SP, em 1931. É engenheiro aeronáutico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e atuou como oficial da Força Aérea Brasileira e no Correio Aéreo Nacional. Destaca-se pela sua contribuição para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira com a criação da Embraer, empresa da qual também foi presidente por vinte anos. Atuou também como presidente da Petrobras e da Varig, na área política foi ministro de Estado da Infraestrutura. Atualmente é Reitor da UNISA – Universidade de Santo Amaro de São Paulo, presidindo também a OSEC – Organização Santamarense de Ensino e Cultura; Presidente do Conselho Consultivo do WTC – World Trade Center de São Paulo e Presidente do Conselho de Administração da PELE NOVA Biotecnologia S/A. Autor de vários livros e homenageado por diversas vezes no Brasil e no mundo, Ozires Silva também faz parte de uma série de Conselhos e de Associações de Classe. Nesta edição da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, ele comenta sobre os desafios que enfrentou na implantação de seus projetos inovadores e a respeito dos impactos socioambientais atuais no setor da aviação.

Com sua ampla experiência como gestor e empreendedor em uma trajetória que envolveu riscos, desafios e grandes feitos, quais recomendações o senhor daria hoje para uma pessoa que deseja iniciar seu empreendimento?
Diria que é preciso sonhar, acreditar no que sonhamos e que um dia esses sonhos possam se transformar em realidade. Perseguir sempre, com entusiasmo, fé e tenacidade nossos projetos e não desistindo até que, um dia, seja possível comemorar resultados que tragam benefícios para todos.

Atualmente, são muito questionados os fatores socioambientais nos negócios, como viabilizar uma empresa de forma responsável e lucrativa?
O sonho é um ponto de partida. Daí por diante, os objetivos passam a ser os mais diferentes, conforme as circunstâncias. E não bastam os limites que colocou de “responsável e lucrativo”. Muitos outros atributos devem ser vencidos, inclusive, os que apontou, e isso varia de empreendimento para empreendimento. Não há dois iguais!

Como disseminar para o mercado consumidor as iniciativas sustentáveis e como torná-las diferenciais competitivos?
Nem todas as iniciativas partem como sustentáveis e com diferenciais competitivos, embora sejam itens importantes a serem considerados desde o início, mas tudo depende do período necessário para consolidar o empreendimento.
O mundo não está parado e não nos espera. Os cenários mudam sempre e temos de adaptar os projetos, à medida que se avança, tendo em vista os fatores externos. Se olharmos as histórias dos empreendimentos vamos ver que a concepção do empreendedor, dos instantes iniciais, foi parcial ou inteiramente alterada quando o produto estava pronto para enfrentar o mercado e os consumidores. Como ocorreu no caso dos aviões brasileiros, que hoje foram vendidos e operam em mais de 90 países, o diferencial competitivo, visto desde o início, centrando-se na criação de um mercado para a Aviação Regional, revelou-se algo da maior importância para os sucessos da atualidade.

Como contribuir para a formação e o reconhecimento de empreendedores dentro desses novos desafios da sustentabilidade?
Novamente, a sustentabilidade é um atributo, importante, mas deve ser considerado entre muitos outros. Sinto a preocupação das perguntas, centradas em sustentabilidade, o que, no mundo dos homens, não tem sido suficiente para o sucesso. Desse modo, temos que colocar o objetivo de ter êxito e construir a sustentabilidade dentro dos limites do possível. A sustentabilidade não pode ser constituída numa limitação das ações, pois tendo em vista a variação dos modos de vida, que sempre afetaram e afetarão os empreendimentos, podem vir de qualquer região ou país do mundo global. Assim, embora diferente do que se pensou no passado, diria ser quase impossível responder a isso no início de um projeto.

O ISAE/FGV promove anualmente o prêmio de empreendedorismo sustentável que leva o seu nome. Quais são os pontos relevantes dessa iniciativa?
A iniciativa do prêmio veio da decisão do Professor Norman Arruda que, de forma generosa, julgou que o meu nome poderia incentivar, sobretudo os jovens e estimulá-los a empreender. Assim, entendo – e o Professor Norman pode entender diferentemente – que entre os pontos relevantes podemos nos referir a mostrar que, muitas vezes, um sonho pessoal – como o meu de transformar o Brasil num produtor mundial de aviões – por distante que possa parecer, reunindo os atributos de fé, entusiasmo e crença no sucesso, pode ter êxito.

Com relação às empresas do setor de aviação. Quais são os maiores impactos socioambientais que elas causam? Como superá-los?
O impacto ambiental da operação de aviões, de longe, é muito menos significativo, do que o dos veículos de superfície, que usando motores bem ineficientes provocam danos ambientais muito maiores do que os aviões. Do ponto de vista social, o avião é uma extraordinária ferramenta de transporte rápido e um dos mais importantes atributos do mundo moderno, graças à sua velocidade e à capacidade de vencer distâncias, isso o torna como um dos mais eficazes dos instrumentos hoje disponíveis para assegurar as crescentes exigências da mobilidade moderna. Portanto, visto sob esses ângulos, o avião provoca muito menos prejuízos sociais do que seus concorrentes terrestres.

O senhor acredita que existiram alternativas eficientes e menos poluentes no que diz respeito aos combustíveis utilizados na aviação? Estaremos, dentro de alguns anos, viajando em aviões “ecológicos”?
Os aviões hoje respondem por 2% do chamado efeito estufa, da escala mundial, o que representa valores menores, do que as alternativas de transporte. Os gases de escapamento dos motores aeronáuticos são menos poluidores do que os dos motores, por exemplo, dos automóveis, ônibus, etc. A combustão nos motores aeronáuticos requer mais ar de combustão, do que os motores convencionais a pistão, instalados nos demais veículos, pois, para cada unidade de combustível precisa de 15 unidades de ar, permitindo combustão mais completa do que nos automóveis que queima apenas 1/3 do ar utilizado pelos motores aeronáuticos. No momento atual, embora experimentos com biocombustível estejam sendo realizados, sou muito cético sobre a possibilidade de êxito nessas direções, pelo menos em relação ao que tem sido conseguido até o momento. Os biocombustíveis têm-se apresentado com um poder calorífico da ordem de 30%, mais baixo do que o querosene de aviação. No avião, o peso é um parâmetro entre os mais importantes e os tanques de combustíveis têm de oferecer, para um mesmo volume de armazenamento, a maior quantidade de energia por unidade de peso. Assim, se o combustível alternativo tiver um poder calorífico menor, ele vai requerer mais peso por unidade de potência produzida. Isso reduz a carga-paga dos aviões, reduzindo sua operação economicamente viável.

Iniciativas governamentais como aquela implantada na Europa no início deste ano, tarifando as companhias aéreas e obrigando-as a compensar todo o carbono emitido durante os seus voos. Essa ação do governo é válida?
Há um bocado de demagogia, diria, nessas orientações. Porque não se faz isso para os outros meios de transporte muito mais poluidores do que os aviões, quando sabemos que os aviões queimam pouco mais de 2% do petróleo consumido no mundo, hoje estimado em quase 90 milhões de barris/diários? Note que parece ser objetivo das autoridades centrar suas colocações muito mais contra atividades que tenham impacto junto à opinião pública, evitando atacar aquilo que afeta as pessoas diretamente, como os automóveis particulares ou o transporte de cargas a base de combustível diesel.

Em sua opinião, compensação de carbono resolve o problema ambiental? Pode ser considerada de fato uma ação sustentável?
Boa a sua pergunta. Realmente, o que coloca a necessidade de olhar o meio ambiente no seu todo. Temos que considerar outros itens, como as emissões de particulados resultantes da combustão de um modo geral, do lixo, dos recicláveis, poluição das águas, do solo, extinção das espécies, desmatamento e assim por diante. Como vê, embora todos os esforços na direção de reverter as ações generalizadas contra a vida do planeta ainda não tenha faturado resultados positivos mensurados e palpáveis.

Que mensagem final o senhor quer deixar aos leitores da revista Geração Sustentável?
Seria uma mensagem simples. Recebemos da Natureza um planeta com condições excepcionais para a criação e a preservação da vida, tanto animal como vegetal. O homem na sua marcha para o desenvolvimento não levou tudo isso a sério suficientemente e, como sabemos, desenvolveu uma capacidade muito superior a qualquer outra espécie na Terra, de destruir tudo isso, cujo equilíbrio, como sabemos, é sensível ao extremo. Assim, precisamos, como a Revista Geração Sustentável prega, reverter tudo isso. É fundamental e necessário. E, mais, o que deve nos preocupar é que o período de tempo que temos para conseguir resultados não é infinito.

Entrevista publicada originalmente na edição 27 da revista Geração Sustentável.





Durante a realização do evento Líder Sul do CONAJE e CJE no dia 16 de março. O entrevistado Ozires Silva recebeu os exemplares impressos de Fabrício Campos - Relações Corporativas da Revista Geração Sustentável.






========================================================





Veja outros conteúdos dessa edição:

Matérias:
Capa: Pensamento Sistêmico e Visão Estratégica
Tecnologia & Sustentabilidade: Sustentabilidade comprovada em rótulo (Sustentax)
Visão Sustentável: Excesso de iimpostos e importações ameaça a indústria têxtil brasileira
Responsabilidade Social: Pelo Futuro das Empresas
Empreendedorismo: Iniciativa de inclusão transforma a vida das pessoas por meio do empreendedorismo


Artigos:
Julianna Antunes: A sustentabilidade corportaiva ainda é uma escolha?
Daniella MacDowell: Quem é o profisisonal de sustentabilidade?
Jeronimo Mendes: O que é ser sustentável

============================================================

Seja assinante da Geração Sustentável e ganhe o livro Eco Sustentabilidade

A revista Geração Sustentável faz uma promoção especial para você leitor que busca novos conhecimentos sobre o tema sustentabilidade corporativa.

Fazendo uma assinatura anual (R$ 59,90) da revista você ganha o livro “ECO SUSTENTABILIDADE: Dicas para tornar você e sua empresa sustentável” do consultor Evandro Razzoto.

Aproveite essa oportunidade e faça agora mesmo a sua assinatura!

*Promoção por tempo limitado

Nenhum comentário:

Postar um comentário