Soluções em reciclagem e tecnologias ambientais visam preservar a biodiversidade e manter a sustentabilidade dos negócios
Imagine um mundo sem lixo. Sem cheiro ruim, sem aquele aspecto de destruição, nada de poluição. Este pensamento, que – à primeira vista pode paracer utópico – deve ser o ideal a ser perseguido pelas sociedades de toda a Terra, para que ela continue a ser chamada de Planeta Azul. “O ideal é que no futuro não precisemos conviver com a reciclagem. A ideia é reduzir, romper o paradigma. As indústrias têm que passar a oferecer coisas que não virem lixo depois”, defende o engenheiro químico Cláudio Barretto.
Imagine um mundo sem lixo. Sem cheiro ruim, sem aquele aspecto de destruição, nada de poluição. Este pensamento, que – à primeira vista pode paracer utópico – deve ser o ideal a ser perseguido pelas sociedades de toda a Terra, para que ela continue a ser chamada de Planeta Azul. “O ideal é que no futuro não precisemos conviver com a reciclagem. A ideia é reduzir, romper o paradigma. As indústrias têm que passar a oferecer coisas que não virem lixo depois”, defende o engenheiro químico Cláudio Barretto.
Ele destaca que é preciso, também, consumir menos e gerar menos lixo, mas aí trata-se de uma questão comportamental. “Consciência ambiental é um problema sério, o Brasil não investe em educação, pois isso não traz retorno a curto prazo. É preciso implantar a educação ambiental transversalizada na educação básica”, comenta Barretto. Com 37 anos de experiência na área ambiental, Baretto ressalta que não tem dúvida de que a pior coisa que o homem inventou foi o lixo. “O lixo vai vencer o homem”, comenta o engenheiro químico, mencionando o consumismo, que surgiu em meados do século 18 com o sistema industrial. “O sistema produtivo deve prever o início, o meio e o fim de um produto”, ressalta.
Outra preocupação de Barretto é que o lixo não seja visto como fonte de renda, já que a lógica é exatamente inversa. Para ter uma visão mais completa sobre o assunto, ele sugere atenção aos temas norteadores da Agenda 21, principal documento da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, a Rio-92. Este documento foi assinado por 179 países, inclusive o Brasil, anfitrião da conferência, e busca alcançar o desenvolvimento sustentável a partir da ação conjunta. Este instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, busca conciliar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Em seu capítulo 4, a Agenda 21 aponta para a mudança dos padrões de consumo, que, segundo o documento, provocam o agravamento da pobreza e dos desequilíbrios.
Para Barretto – que integra o Fórum Permanente da Agenda 21 Paraná e é um dos incentivadores da Feira Brasileira de Reciclagem, Preservação e Tecnologia Ambiental – Reciclação (que teve sua quinta edição realizada em junho, em Curitiba) – a Agenda 21 é a melhor ferramenta global para atingir o desenvolvimento sustentável.
Para construir o amanhã: novas tecnologias na produção de cimento
A administradora Luciane Flores Queiroz, que é sócia-gerente da Ação Consultoria Empresarial, destaca que a maior preocupação dos empresários é, ainda, adequar a atividade produtiva à legislação ambiental, mas a preservação e a criação de tecnologias ambientais têm avançado.
Ela tem buscado conscientizar os empresários sobre a relação que existe entre a implantação de uma tecnologia ambiental e a competitividade, como utilizar resíduos como fonte de energia para se manter no mercado, por exemplo. “É preciso reduzir o desperdício na fonte, investir no reuso e o aspecto ambiental entra neste gancho”, comenta.
Ela tem buscado conscientizar os empresários sobre a relação que existe entre a implantação de uma tecnologia ambiental e a competitividade, como utilizar resíduos como fonte de energia para se manter no mercado, por exemplo. “É preciso reduzir o desperdício na fonte, investir no reuso e o aspecto ambiental entra neste gancho”, comenta.
Barretto também enfatiza que as empresas precisam reprojetar seus sistemas produtivos, principalmente quando se trata de matéria-prima e economia de energia. Ele comenta sobre as alternativas para a gestão do lixo: o aterro sanitário (que é um investimento caro e ainda deixa passivos ambientais); a incineração (usada para destinação final de resíduos de alta periculosidade) e o co-processamento (realizado em fornos industriais de clinquerização). Neste processo, inerente às atividades da indústria do cimento, inclusive a cinza se incorpora ao produto.
Em tempos de alta nos investimentos em infraestrutura – com a proximidade de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas – o co-processamento ganha mais simpatizantes. A tecnologia de origem europeia gera economia e minimiza o impacto ambiental. Com ela, a indústria cimenteira aproveita resíduos como substitutos de combustível ou matéria-prima. O procedimento, que passou a ser usado no final do século 20, permite que resíduos como pneus, óleos usados, plásticos, tintas ou biomassa (moinho de carvão vegetal, casca de arroz, bagaço de cana) tenham um destino final adequado.
O processo permite ainda parcialment, reduzir o uso de combustíveis tradicionais não-renováveis, como o coque de petróleo, o óleo combustível e o carvão mineral. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), pouco mais da metade da emissão de CO2 na indústria do cimento é inerente ao processo de produção e ocorre durante a transformação físico-química do calcário em clínquer (principal componente do cimento), reação denominada descarbonatação. A outra parcela é predominantemente resultante da queima de combustíveis no forno de clínquer, cuja chama atinge uma temperatura de até 2.000°C.
Barretto salienta que o co-processamento oferece algumas vantagens na destinação de resíduos, elencadas em 3 “T”s: alta temperatura, tempo de dissidência dos gases e alta turbulência. “Os fornos de cimento são os únicos equipamentos do mundo que têm esta tecnologia. Na Bélgica, 70% dos compostos das cimenteiras são altenativos. Há economia do petróleo e o resíduo vira energia”, conta.
Ele destaca que este processo fez com que a participação da indústria cimenteira na poluição apresentasse queda 16% para 4%. Esta tecnologia é utilizada para dar destinação final pela Ambisol, empresa especializada em soluções ambientais, da qual Barretto é responsável técnico na região sul. A Ambisol oferece manuseio, acondicionamento, trasporte, preparo e tratamento final de resíduos industrais. A Estre Ambiental, empresa do segmento de gerenciamento e disposição final de resíduos, também utiliza o sistema para tratar resíduos industriais por meio da destruição térmica e recuperação energética, visando à substituição do carvão natural na geração de energia nos fornos de cimento.
A Resincontrol – que integra o grupo Estre Ambiental – implantou o sistema para preparação de resíduos perigosos e sua recuperação energética para posterior destruição térmica como combustível de alto poder calorífico, em duas de suas plantas localizadas em Sorocaba (SP) e Balsa Nova (PR). “Essa solução para a destinação correta dos resíduos industriais apresenta alta capacidade de eliminação, contribuindo para a redução do consumo de recursos naturais. Graças a essa tecnologia, tornou-se possível gerar uma atividade econômica e preservar a natureza ao mesmo tempo”, comenta Aurelio Santos, do departamento comercial da Resincontrol.
Biotecnologia: o “invisível” por trás dos processos
A química ambiental Silvia Mara Haluch, da Teclab Tecnologia em Análises Ambientais, que oferece, entre outros serviços, análises para co-processamento, ressalta que uma das novidades em testes laboratoriais ambientais são as análises ecotoxicológicas, que utilizam organismos para análises em laboratório. Enquanto os testes fisico-químico e biológico sejam dos anos 70, a ecotoxicologia tem apenas três anos, mas já demonstra resultados rápidos e confiáveis. Silvia explica que na Alemanha, as multas são aplicadas de acordo com a quantidade de bactérias que morrem nestes testes, em casos de desastres ambientais, por exemplo. A Organosafra também tem utilizado a biotecnologia (bactérias e fungos) como ferramenta de produção. Seu adubo orgânico é produzido a partir de compostagem acelerada a céu aberto, como explica o engenheiro agrônomo José Carlos Maria. O processo é o destino final de residuos agrícolas e agroindustriais. “É uma solução ambiental para inúmeros geradores”, comenta.
Lixo eletrônico dá origem a centros de pesquisa
Você sabe o que fazer com o seu e-lixo? Celulares, computadores, impressoras, televisores, rádios, pilhas, baterias, eletrodomésticos, vídeos, filmadoras, ferramentas elétricas, DVDs, lâmpadas fluorescentes, brinquedos eletrônicos e materiais de escritório. A lista infindável de lixo eletrônico que estava sem um destino correto, agora tem uma solução.
Em Curitiba estes materiais estão sendo separados e serão encaminhados para reciclagem no Instituto Brasileiro de EcoTecnologia (Biet) – Brazilian Institute of EcoTechnology. Além deste serviço, o Biet desenvolve projetos com instituições de ensino superior, como conta o engenheiro civil Maurício Beltrão Fraletti, idealizador do instituto. O instituto está implantando, em várias cidades paranaenses, Centros de Educação, Estudos e Pesquisas Ecotecnológicas por meio de parceriais. Nestes locais, pretende-se que jovens convivam com idosos, para que funcionem como centros socioeducacionais, de estudos ou pesquisas e de desenvolvimento regional e humano. Oficinas serão oferecidas a partir de agosto.
Fraletti destaca que o objetivo é de que tais atividades aconteçam de forma autossuntentável, visando a coleta, o armazenamento, o processamento e a busca de soluções para a correta destinação final de resíduos da indústria mineral e do lixo eletrônico, com geração de empregos e renda.
O Biet – que recebeu este nome pela associação com o byte – recebe materiais no bairro Sítio Cercado, em um barracão de cerca de 200 metros quadrados, cedido pela prefeitura. Pessoas físicas e jurídicas podem fazer a entrega de lixo eletrônico no local, basta fazer um agendamento pelo e-mail falecom@biet.org.br. Odilon Jacobi, da empresa Action Color, distribuidora de insumos para remanufatura de cartuchos e toners, comenta que atualmente, menos de 20% do mercado é composto por cartuchos remanufaturados. “Se todos os cartuchos fossem usados apenas uma vez e jogados fora, teríamos outro aterro do Caximba com lixo tóxico”, explica.
Um cartucho de impressora jato de tinta, por exemplo, pode ser remanufaturado de três a cinco vezes, pois existem mais de 300 tipos de tinta. Já o cartucho de toner pode ser reutilizado até 15 vezes, já que há cerca de 200 modelos de tinta. Entretanto, ele ressalta que muitas pessoas “descartam” a ideia de usar cartuchos remanufaturados porque, em muitos casos, não há qualidade no produto. Isso acontece, segundo ele, porque não há mão de obra capacitada. Jacobi garante que quando a remanufatura é realizada por uma empresa especializada, a qualidade do cartucho é igual ao produto em seu primeiro uso. Por isso, Jacobi recomenda que, antes de ficar insatisfeito com a má qualidade de um cartucho remanufaturado, é preciso atentar para o local onde se fez a compra, pois este precisa ter profissionais capacitados especificamente para esta função. Para reverter este panorama, a Action Color deve oferecer, em breve, cursos para trazer qualidade para esta área.
Tecnologias ambientais e desenvolvimento sustentável
O desenvolvimento e a aplicação de tecnologias ambientais é uma tendência cada vez mais forte no mundo atual, segundo Mauro Banderali, da Ag Solve, empresa especializada em projetos, venda, locação e manutenção de instrumentos para monitoramento ambiental. Banderali destaca que as indústrias precisam produzir e serem sustentáveis ao mesmo tempo, dando um retorno positivo para os órgãos públicos de fiscalização, consumidores e para a sociedade em geral. “O planeta não comportará mais o desenvolvimento econômico nos moldes aplicados até então. Somente o desenvolvimento sustentável poderá garantir a qualidade de vida da população durante os próximos anos. Isto aumenta a demanda por tecnologias ambientais, gerando também um maior comprometimento de todos os atores envolvidos no processo de prevenção e gestão de áreas contaminadas”, ressalta. Uma destas tecnologias é uma bomba para a retirada do chorume em aterros sanitários ajuda na descontaminação da área e ainda oferece a possibilidade gerar energia com o gás proveniente do aterro. Sua vazão é de até 36 litros por minuto e suporta temperaturas de até 125ºC em operação.
A estação meteorológica automática, com telemetria, tem como vantagem a possibilidade de verificação das condições meteorológicas no local de trabalho, facilitando o estudo para a descontaminação da área. Um exemplo disto é a averiguação da tendência de ventos e chuvas na região que, acrescido do pluviômetro, permite a leitura do volume de chuvas e a verificação de infiltrações no lençol freático em áreas de aterros sanitários e outras. Os detectores de gases são utilizados para determinação de gases nocivos ou explosivos em aterros sanitários. Eles visam atender às necessidades de monitoramento de gases para as áreas de investigação e remediação ambiental, segurança patrimonial e pessoal.
Matéria publicada originalmente na edição 18 - Revista Geração Sustentável(Criselli Montipó) Clique na imagem e tenha acesso às últimas edições
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