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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sustentabilidade e inovação são apontados como principais características nos perfis profissionais

Pensar na carreira hoje é uma preocupação que vai muito além dos antigos guias de vestibular, que certamente foram folheados por muitos profissionais da atualidade, quando ainda na adolescência estavam na dúvida sobre qual carreira seguir. Quem pára hoje para analisar que tipo de profissional quer ser no futuro vai encontrar um caminho um tanto quanto nebuloso. Um guia comprado na banca de jornal pouco vai ajudar a resolver essa questão. Afinal, o período atual é de transformação.

No entanto, há pelo menos uma grande certeza: o profissional do futuro, independente da área em que vai atuar, é aquele que sabe bem o que significa responsabilidade socioambiental e inovação. Pelo menos, é isso o que apontam todos os estudos de mercado e carreiras do futuro, a partir do cenário que se desenvolve no presente. Entre as pesquisas mais recentes, uma vem sendo elaborada de forma bem minuciosa no Paraná. Trata-se do projeto Perfis Profissionais do Futuro, que é um trabalho em conjunto feito por pesquisadores que fazem parte do Observatório de Prospecção e Difusão de Iniciativas Sociais do SESI/PR e o Observatório de Prospecção e Difusão de Tecnologia do SENAI/PR, e que ainda conta com a cooperação técnico-científica da Fundação OPTI – Observatório de Prospectiva Tecnológica Industrial, sediada em Madrid. O objetivo principal desse trabalho é identificar os perfis profissionais que serão demandados no futuro pelas empresas e pela sociedade, a partir dos sinais de mudança que o mercado já mostra no momento.

Segundo o coordenador do projeto, Sidarta Ruthes, o estudo é o resultado do Projeto Rotas Estratégicas para o Futuro da Indústria Paranaense, iniciado há alguns anos, que mostrou a necessidade urgente de formação profissional alinhada com as visões e as novas tecnologias para alavancar o desenvolvimento no Paraná. “Foram apontados doze setores estratégicos e quais os perfis profissionais que devem atuar nessas áreas daqui alguns anos. São cerca de 15 ou 20 perfis para cada setor”, aponta Ruthes.

Segundo coordenador, o que ficou evidente na pesquisa que deve ser finalizada e publicada até o final do ano é a importância da sustentabilidade em todos os setores e a preocupação com a inovação. “O que se vê nos perfis é a necessidade de um profissional capaz de inovar com inteligência, que saiba pensar de forma global e refletir as consequências de suas ações. Não é a inovação somente pela inovação”, analisa.

De acordo com Sidarta, a sustentabilidade , em alguns setores, apresenta-se como tendência mais forte, orientando um maior número de perfis profissionais, enquanto em outros impacta com menor intensidade. O setor que apresenta o maior número de perfis profissionais, por exemplo, é o de Biotecnologia, porém outros apresentam o maior número de perfis impactados pela tendência de sustentabilidade, como o de Meio Ambiente e o de Turismo. “No Turismo, o desenvolvimento sustentável já é debatido há mais de 20 anos, com o objetivo de reduzir os impactos causados pelas atividades turísticas e impulsionar o desenvolvimento local”, explica. Os setores contemplados na pesquisa de perfis profissionais do futuro são: Biotecnologia, Saúde, Turismo, Agroalimentar, Energia, Produtos de Consumo, Papel e Celulose, Metal Mecânico, Plásticos, Meio Ambiente, Construção Civil e TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação).

“Este projeto não tem como objetivo criar novas carreiras, mas apontar os perfis profissionais. Muitas vezes, uma mesma pessoa pode acumular três ou quatro desses perfis na sua área de atuação”, explica. Assim que o projeto for concluído, ele será para as instituições de Ensino Tecnológico e Superior no Estado, para poder orientar os cursos a seguirem o rumo da formação desse novo profissional. “As escolas ligadas ao Sistema Fiep serão as primeiras a se atualizarem”, afirma.


Meio ambiente no escritório

Outra pesquisa que aponta quais são as novas carreiras que devem surgir na próxima década é o projeto chamado Carreiras do Futuro, realizado pelo Programa de Estudos Futuros (Proturo) da Fundação Instituto de Administração (FIA), que faz parte da Universidade de São Paulo (USP). O estudo, coordenado pelo professor James Wright, aponta as áreas mais promissoras e onde estarão as oportunidades de negócios para empreendedores até o ano de 2020. Segundo os especialistas consultados, a ênfase crescente na inovação, a busca por qualidade de vida e a preocupação com o meio ambiente estarão entre os fatores mais relevantes no delineamento das carreiras mais promissoras.

Os negócios potenciais estarão no setor de serviços, em áreas como saúde e qualidade de vida, turismo e lazer, alimentação, serviços para a terceira idade e consultorias especializadas (tais como sustentabilidade, desenvolvimento de carreira, consultoria pessoal e planejamento financeiro). Entre as novas carreiras mais promissoras apontadas, há pelo menos uma que chama bastante atenção: é o gerente eco-relações.

A pesquisa, que consultou 112 executivos e líderes empresariais, mostra que a carreira mais promissora no futuro será a do profissional capaz de melhorar o relacionamento entre os grupos envolvidos com a empresa, como entidades não governamentais, poder público, sociedade e meio ambiente. Ele também será responsável por ressaltar os impactos positivos dessa nova relação que empresa deve criar com seu entorno. Segundo Wright, essa atividade já vem surgindo nas empresas, mas não há ainda uma pessoa destacada para essa função. No entanto, setores de uma empresa ou lideranças dentro da empresa já se responsabilizam por atividades similares. Em algumas corporações, por exemplo, que faz essa função são os líderes em sustentabilidade, executivos de médio escalão ligados aos departamentos ou áreas de responsabilidade socioambiental.

De acordo com o estudo Carreiras do Futuro, prevê-se que a ascensão da sustentabilidade nos negócios além de fazer surgir novas carreiras transformará as profissões já existentes. As carreiras, especialmente as ligadas à gestão precisarão incorporar uma visão mais sistêmica, já que serão necessários profissionais capazes de enxergar o todo e não somente uma parte interessada, reavaliando valores e atitudes.


Quem é o profissional do futuro

O profissional do futuro, preocupado com sustentabilidade e inovação, é sem dúvida alguém que pode atuar nas mais diversas áreas. O importante é tentar identificar qual é o modelo desse profissional, como ele pensa e qual o seu poder transformador. E é exatamente isso o que analisa a empresária e psicóloga com MBA em Gestão Empresarial, Marilda Wilczek Morschel, que tem experiência de 28 anos na área de Gestão de Pessoas e Recursos Humanos.

“O perfil do profissional preocupado com a sustentabilidade é bastante interessante. É uma pessoa de bons relacionamentos, com amplo e efetivo network, que pensa no negócio como um todo, que sabe fazer conexões entre todos os públicos envolvidos no negócio da empresa, tem grandes conhecimentos em programas internos, endomarketing e envolvimento do público interno para o engajamento e mobilização para as ações de Sustentabilidade”, aponta. Segundo a psicóloga, que é sócia-diretora da empresa Nossa Gestão de Pessoas e Serviços, esse profissional não só conhece programas de Gestão de Pessoas, mas tem muita informação e habilidade para sintonizar tanto acionistas quanto comunidade para o bem comum, gerando resultados sustentáveis para as organizações. “Ele deve ter boa habilidade em tratar e analisar Indicadores de Resultados e Gerenciamento de Projetos, adaptando-os para os objetivos estratégicos da organização e alinhados com estes a todo tempo”, diz.

Segundo a empresária, vive-se hoje o tempo em que a própria maneira de se relacionar com o outro ganha novo enfoque. “As pessoas estão se preocupando mais com suas ações, com a ética, com a responsabilidade sob todos os aspectos, seja consigo mesma, com os outros ou com o planeta. E estes conceitos já são repassados em muitas escolas. Nossas crianças e jovens já têm contato com isso desde muito cedo, diferente das gerações anteriores”, analisa a psicóloga ao falar dos valores que o profissional do futuro ligado à sustentabilidade carrega.

Esse profissional, a psicóloga explica, é muito mais do que alguém que implanta um programa de reciclagem de papéis, por exemplo. Ele tem uma tarefa muito mais consistente a cumprir. “Já passamos da fase das preocupações com questões de reciclagem, cuidados e ações meramente sociais. Estamos no Brasil no momento de gerar resultados e mobilizar as lideranças das organizações para conduzirem-nas com este outro foco, mais amplo”, analisa.

Marilda também aponta alguns casos de carreira que hoje já exigem esse perfil de profissional: “alguns cargos que podemos encontrar hoje com essas características são os analistas, gestores e diretores de sustentabilidade ou de responsabilidade social. Outros ligados a Comunicação Interna e Desenvolvimento de Pessoas com foco em Sustentabilidade, sendo implícito nas atribuições e nas descrições de cargo destes”, diz. De acordo com a empresária, existem hoje várias posições ligadas à Sustentabilidade nas organizações e que estão à procura desse profissional. “Na maioria dos casos são cargos vinculados a área de Gestão de Pessoas/RH e também posições ligadas a Fundações e Institutos, que também se ampliaram muito nos últimos dez anos”.

Segundo ela, o que tem sido bastante comum, principalmente nas empresas de grande porte, ao recrutarem seus funcionários, é a procura por profissionais mais jovens, com pouca experiência, mas com uma visão alinhada a este propósito. “Muitas vezes a empresa busca contratar este profissional, que já tem muitos conceitos internos de Sustentabilidade e treiná-lo de acordo com suas políticas e seu modelo de gestão”, conta. “É uma nova carreira que está surgindo e crescendo vertiginosamente no Brasil, principalmente com boas oportunidades tanto em empresas nacionais como estrangeiras”, afirma.


Áreas Promissoras

Gestão de Resíduos
- Desenvolver tecnologias de separação, classificação e separação de resíduos;
- Promover parcerias entre produtores, transportadores e receptores de resíduos e subprodutos;
- Desenvolver indicadores qualitativos de resíduos

Recursos Hídricos
- Desenvolver tecnologias de controle on-line de redes de distribuição;
- Avaliar sistemas de detecção de vazamentos;
- Otimizar os sistemas de irrigação;
- Criar tecnologias para tratamento de efluente

Gestão de GEE - Gases Efeito Estufa
- Desenvolver tecnologias para captura dos GEE;
- Aprimorar as técnicas existentes de separação de GEE dos resíduos gasosos;
- Viabilizar novas técnicas para substituição da injeção dos gases no subsolo;

Biotecnologia
- Desenvolver processos biotecnológicos para tratamento de resíduos;
- Desenvolver técnicas para redução do potencial poluidor e da toxicidade de resíduos;
- Aplicar processos biotecnológicos no contexto industrial, visando a produção mais limpa;

Eficiência Energética
- Prospectar tecnologias que otimizem o uso da energia em máquinas e equipamentos;
- Desenvolver recursos que aumentem a eficiência energética de equipamentos obsoletos;
- Criar tecnologias que permitam a geração distribuída de energia;
- Desenvolver sistemas de baixo custo para geração distribuída;

Mobilidade Urbana
- Desenvolver um plano urbanístico sustentável integrando conhecimentos de planejamento urbano;
- Planejar iniciativas para melhorar proteção nas zonas urbanas;
- Promover mudanças com o objetivo de melhorar uma dada comunidade

Ecodesign e Ciclo de Vida de produtos
- Desenvolver produtos com facilidades para reciclagem
- Orientar os demais profissionais envolvidos com o produto quanto às implicações ambientais;
- Implementar e controlar ações viáveis para a gestão do ciclo de vida do produto;
- Incentivar a logística reversa


Matéria de Capa: Edição 19 - Revista Geração Sustentável (Juliana Sartori)
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