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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Artigo: Será que o Brasil decola?

A edição de 12.11.2009 da Revista The Economist foi recebida com euforia pela Comunidade Econômica Internacional e, principalmente pelo Governo Brasileiro, capitaneado pelo Presidente Luis Inácio “Lula” da Silva. Com a capa estampada sob o título “Brazil takes off”, ou seja, “O Brasil decola”, o editorial faz elogios rasgados ao recente desenvolvimento do país, entretanto, sem meias palavras, afirma também que o maior risco para o grande sucesso da América Latina é a prepotência.
O artigo começa com a história da formação do acrônimo BRIC, constituído pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China. O termo foi concebido e utilizado sabiamente pelo economista Jim O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro Goldman Sachs, em 2001. A sigla em inglês também pode significar tijolo em alusão à formação de uma nova comunidade com elevado potencial de desenvolvimento econômico.
No início, os críticos foram reticentes à presença da letra B, representada pelo Brasil, entretanto, oito anos depois da sua concepção, “o ceticismo parece fora do lugar”, descreve a publicação. De acordo com as previsões, em algum lugar na década, depois de 2014, muito antes do que o Goldman Sachs foi capaz de prever, o Brasil deve passar a ocupar o lugar de 5ª maior economia mundial, ultrapassando a França e a Inglaterra com relativa facilidade.
A publicação ressalta que o Brasil já fez sua entrada no palco mundial, mencionando a campanha vitoriosa do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016, dois anos após a realização da Copa do Mundo de 2014. Essas duas conquistas já seriam suficientes para referendar o país na lista dos mais desenvolvidos e atraentes do planeta em termos econômicos, entretanto, ainda há muito chão pela frente.
Embora o crescimento do país tenha sido considerado não repentino, mas consistente e contínuo, o que torna a decolagem brasileira muito mais admirável é o fato de ter sido alcançada através de reformas e decisões democráticas que antecederam ao Governo Lula, porém continuaram a ser respeitadas por ele.
Independentemente dos discursos políticos inflamados e da reivindicação da paternidade, o fato é que, em algum tempo, um novo plano econômico e uma nova filosofia de governo foi capaz de domar a inflação, conceder autonomia ao Banco Central, privatizar empresas de interesse muito mais político do que público e privado e, principalmente, abrir a economia para a entrada do capital e do investimento estrangeiro.
Ao contrário da China, considerado o país mais promissor do mundo atual, somos uma democracia com todos os seus defeitos e suas qualidades, o que nos ajuda e ao mesmo tempo nos prejudica. Se, por um lado, podemos discutir, criticar, participar de alguma forma nas decisões políticas através da eleição dos nossos legítimos representantes na Câmara e no Senado, por outro, os resquícios do colonialismo, da politicagem, da falta de senso crítico, da inversão de valores e da “ilusão das massas” ainda nos incomoda.
Não existe modelo econômico e político ideal. Países desenvolvidos como os Estados Unidos, Japão, Dinamarca e Suécia, além de vários países da Europa enfrentam os sérios problemas para sustentar modelos econômicos e políticos adotados como referência mundial e que, durante a crise de 2008, foram afetados pela crise econômica mundial.
Acreditar que o Brasil decola passa por uma questão de fé no sistema, nas pessoas, na economia, na educação e na política. Isso é fruto da conscientização acelerada em relação aos tipos de governantes que queremos eleger, ao país que queremos construir ao legado que pretendemos deixar para nossos filhos e netos.
Ser a quinta potência econômica mundial é um fator relativo se concluirmos que isso não poderá reduzir a desigualdade e proporcionar chances de crescimento pessoal e profissional para todos. O fato de o Brasil decolar é um grande avanço em termos de desenvolvimento econômico, mas o que garante a sustentabilidade do vôo é a consciência de que a turbulência é cíclica e a habilidade do piloto é fundamental.
** Artigo Publicado originalmente na edição 19 da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Jerônimo Mendes
Administrador, Consultor, Escritor e Mestre em Organizações e Desenvolvimento.

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