Uma casa que guarda (e espalha) a força do imaginário
“Havia um contador de histórias que vivia feliz a espalhar seus contos para as pessoas. Histórias que faziam todas as gentes despertarem a força do imaginário. Ele contava suas histórias para duas, três, muitas pessoas. Até que um dia, alguém o viu contando uma história para o vazio e o indagou sobre aquele ato solitário. O contador respondeu:- Antes eu contava histórias para mudar o mundo, hoje conto histórias para que o mundo não mude a mim.”
“Havia um contador de histórias que vivia feliz a espalhar seus contos para as pessoas. Histórias que faziam todas as gentes despertarem a força do imaginário. Ele contava suas histórias para duas, três, muitas pessoas. Até que um dia, alguém o viu contando uma história para o vazio e o indagou sobre aquele ato solitário. O contador respondeu:- Antes eu contava histórias para mudar o mundo, hoje conto histórias para que o mundo não mude a mim.”
Era uma vez um lugar dedicado à contação de histórias com pessoas que acreditam neste conto, citado acima. Este lugar é real: a Casa do Contador de Histórias, entidade de Curitiba, que surgiu oficialmente em 2003, pela vontade de pessoas de diversas áreas, que já no final da década de 90 usavam o imaginário para transformar.
Os dois amantes das histórias se conheceram em 1997 durante um sarau na casa de Martha. Mauro queria conhecer aquela contadora de histórias que a todos encantava. Tornaram-se amigos e depois, amores. Ela, com uma memória emotiva familiar: a avó materna, Cenira, que cozinhava e costurava em meio aos contos, e a avó paterna, Zulmira, nordestina conhecedora do folclore brasileiro. Ele, além do pai ator, teve contato com a vida simples do campo, e com o caseiro Timóteo e sua esposa Sebastiana, cheios de bons causos para contar. Tais refenciais de simplicidade fundamentam o trabalho destes contadores. “Cada um tem uma história para contar e isso é bom, pois é o que liga as pessoas”, acredita Martha.
A ideia de criar uma entidade para desenvolver o trabalho social contou com o apoio de amigos. Hoje, a Casa do Contador de Histórias – que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Ocip), reconhecida como de Utilidade Pública Municipal desde 2008 – reúne 55 voluntários, que revezam-se semanal ou quinzenalmente, para contarem histórias em onze instituições. Os espaços sociais atendidos abrangem instituições de saúde, de educação e de correção. A missão da casa é resgatar o ato milenar de contar histórias. Os contadores acreditam que é possível ajudar as pessoas a se conectarem aos seus sonhos e ao amor pela vida, despertando a consciência dos valores universais para a construção de um mundo melhor. A formação dos contadores se dá nas oficinas A Arte de Contar Histórias, que são oferecidas periodicamente.
A intenção é de que cada ouvinte experimente nas histórias uma forma de liberdade, seja por meio de um depoimento, de um olhar, uma emoção. Inclusive, a cada roda – em que a fogueira dos antigos contadores está presente, simbolizada pela vela – os voluntários relatam as reações dos ouvintes, que de distantes e ausentes, passam, a cada palavra, a estarem mais presentes e atentos. “Melhorando a condição física e emocional das pessoas”, acrescenta Martha.
Ela ressalta que o imaginário cotidiano, contido nas histórias, é rico em valores, como a amorosidade, a simplicidade, que enfatizam a necessidade de cuidar do outro de forma carinhosa. Mauro lembra que o imaginário liberta. “Quem tem imaginação tem curiosidade, se não sabe de algo, corre atrás”, exemplifica o contador de histórias.
“As pessoas estão com medo de se apoderarem novamente de suas forças do imaginário. Perderam a noção do poder que têm para decisão, para suas escolhas. Isso aconteceu porque se afastaram de seu ritmo simples e natural de viver a vida”, comenta Martha, que esforça-se para, juntamente com os voluntários da casa, recuperar a força do imaginário de cada um, para que ninguém esqueça da magia concreta de um “Era uma vez...”. Esta história é real, mas entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser, que conte, pense, sinta e faça outra!
Serviço: A Casa do Contador de Histórias recebeu uma sede para suas atividades no Centro Histórico de Curitiba, que está sendo reformada e deve ser aberta em dezembro. Saiba mais, acesse http://www.casadocontadordehistorias.org.br/. Telefone: (41) 9116-0587, e-mail: contato@casadocontadordehistorias.org.br.


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