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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Economia Azul

Empresário propõe um novo modelo econômico baseado nos princípios do ecossistema, que funciona com o que está disponível e de acordo com as leis da física O mundo precisa de um novo modelo econômico.

Quem pode argumentar com isso quando se dilui o debate sobre as alterações climáticas, apesar de as temperaturas da Terra continuarem a subir, e tanto o desemprego como a pobreza se tornam cada vez mais alarmantes? A economia planificada nunca foi capaz de distribuir os recursos de forma eficiente. A economia de mercado se transformou num sistema que busca à expansão através de economias de escala e do aumento constante da produtividade, o que desencadeou uma onda de fusões e aquisições, financiadas pela elevação de endividamentos.

Quando a dívida se tornou insustentável, os magos financeiros inventaram instrumentos sofisticados que criaram ativos baseados em nada. Então, o regime entrou em colapso. Os promotores de uma economia verde questionam o crescimento e afirmam que se deve ir além do dinheiro para erradicar a fome e a pobreza, ou seja, que se deve buscar a educação primária universal, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia feminina.

Mas, apesar de todas as boas intenções, a economia verde não conseguiu decolar. Ela exige subsídios governamentais, lucros menores para empresas e pagamentos maiores dos consumidores. Isto é viável com o crescimento e a taxa de empregos elevados, mas é difícil quando os governos estão falidos, a procura e a confiança do consumidor em queda, e dificuldade de os jovens conseguirem trabalho, enquanto um bilhão de pessoas vive na pobreza.

Chegou a hora de adotar inovações que vão além do romance com a natureza e nosso pessimismo sobre a indústria. Trata-se de um redesenho pragmático inspirado nos ecossistemas. Chegou a hora de enfrentar as necessidades urgentes de água, alimento e saúde, com estratégias de longo prazo para construir a equidade. E é hora de encontrar soluções que não gerem consequências imprevistas, como a escassez de alimentos devido à utilização de grãos para produzir biocombustíveis, ou a utilização de óleo de palma para produção de sabonetes biodegradáveis, destruindo grandes extensões de floresta tropical.

Em nosso impulso por adotar princípios de sustentabilidade, temos tolerado "efeitos colaterais", como quando combatemos o terrorismo. Os ecossistemas fornecem a inspiração para criar um novo modelo que vá além do que sabemos até agora. Isto é o que eu chamo de Economia Azul, em meu livro "The Blue Economy". Os ecossistemas fornecem nutrientes e energia em cascata, como demonstrado pelo fantástico trabalho do engenheiro sanitário George Chan, das Ilhas Maurício, pegando o melhor da permacultura (agricultura permanente) e levando-a a uma nova ordem de eficiência.

Nos modelos de Chan, implementados na Colômbia, Namíbia e Ilhas Fiji, vemos que a biomassa utilizada se torna um meio para o crescimento de fungos, de modo que o substrato aparentemente esgotado seja rica fonte de proteína para alimentação do gado. Por sua vez, bactérias inoculadas no esterco desse mesmo gado transformam a matéria em biogás, enquanto o líquido barrento que resulta desta operação é nutriente para algas que promovem a criação de plâncton, que se torna alimento para peixes e enriquece a água de irrigação.

No Brasil, o biólogo Jorge Alberto Vieira Costa reutiliza o dióxido de carbono residual de uma usina a carvão para alimentar as algas spirulina, que por sua vez, produzem alimentos altamente protéicos e podem ser utilizadas para produzir biocombustíveis. O ecossistema funciona com o que está disponível e depende principalmente das leis da física. Os fenômenos físicos são previsíveis e não têm exceções: o ar quente sobe, a água fria cai. Seguir estes princípios ajuda a reduzir ou eliminar resíduos de metais, química e de energia não-renovável.

Os mecanismos desenvolvidos pelas zebras e cupins dominam de maneira muito melhor o ar e a umidade que qualquer uma de nossas soluções mecânicas e eletrônicas. Vemos isso no projeto do arquiteto Anders Nyquist, desenvolvido na escola de Laggarberg, Suécia, no hospital de campo do grupo Gaviotas en Vichada, Colômbia, e do Centro de Eastgate, em Harare, Zimbabue, onde o ar é contínua e naturalmente resfriado sem bombas ou frigoríficos.

A mesma lógica é aplicada para gerar eletricidade. Cada ecossistema gera corrente elétrica por diferenças de pressão, do pH (potencial de hidrogênio) e de temperatura. Estas microcorrentes são suficientes para substituir bilhões de baterias poluentes. Esta ideia foi testada pelo Instituto Fraunhofer, na Alemanha, onde se criou um protótipo de celular que gera eletricidade a partir de diferenças de temperatura entre o dispositivo e o corpo do usuário e converte a pressão da voz em piezoeletricidade, propriedade de certos cristais eletricamente polarizados quando sujeitos a pressão, fornecendo energia para transmissão da voz enquanto falamos. A Economia Azul pretende expor, não impor, o enorme potencial da ciência, para que possa surgir mais cedo, um novo modelo econômico competitivo.

Gunter Pauli (Fundador da Zero Emissions Research, professor, empresário e autor de ficção e fábulas infantis). Direitos exclusivos IPS.

Fonte: Agenda Sustentável (WWW.agendasustentavel.com.br)

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