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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

“Cultivando Água Boa”: um exemplo de como trabalhar de mãos dadas


Programa desenvolvido pela Usina de Itaipu mostra como parceria entre sociedade civil e entidades públicas e privadas pode levar à sustentabilidade

Em novembro de 1982, o Brasil inaugurou uma das mais grandiosas obras arquitetônicas do mundo: a Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu. Construída no Rio Paraná, em parceria entre brasileiros e paraguaios, a usina tem um reservatório que ocupa uma área de oito mil quilômetros quadrados e está localizada em uma região que abrange 29 municípios, com cerca de um milhão de habitantes.

Mas o orgulho da engenharia e modelo internacional já foi um problema por causa da degradação que causou ao meio ambiente, na época de sua construção, como, por exemplo, a alteração do leito do rio, que provocou o desaparecimento de habitat de animais e perda de espaços florestais. No entanto, há 10 anos ocorreu uma mudança institucional dentro de Itaipu. Seguindo ampla iniciativa socioambiental, a hidrelétrica criou o programa “Cultivando Água Boa” e, muito mais do que gerar energia, a binacional passou a criar soluções sustentáveis para a Bacia Hidrográfica do Paraná III, onde está localizada.

Integração

O programa uniu ações que antes eram desenvolvidas de forma isolada e agregou novos projetos. O resultado hoje é um modelo de integração de 20 programas e 65 ações voltadas à comunidade, que se tornaram referência para outras usinas. Por meio de parcerias com instituições públicas, empresas privadas, e a própria sociedade civil, o Cultivando Água Boa desenvolve ações corretivas, como a recuperação da mata ciliar e de áreas assoreadas, e ações preventivas, como o incentivo à agricultura orgânica. Foi criada, assim, uma verdadeira rede de desenvolvimento sustentável. “O programa estabelece uma estreita relação entre o desafio da sustentabilidade planetária, com a realidade e a necessária ação local, a partir de uma visão sistêmica, integral e integrada da relação do homem com seu meio, estabelecendo como novos modos, o de ser/sentir, viver, produzir e consumir.”, explica o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich.

A Itaipu apostou na introdução de técnicas sustentáveis de produção e seu grande triunfo foi a inclusão social. Partindo do princípio de que somente a educação gera mudança, o programa abriu diálogo com a comunidade e promoveu a conscientização dos moradores da região por meio da educação ambiental.

O CAB promove encontros para explicar à população como é seu funcionamento e também chama a atenção para a importância de práticas ambientalmente corretas. Depois a sociedade civil faz um autodiagnóstico, para então ser feito um planejamento das ações. Segundo Friedrich, as pessoas foram estimuladas e houve o despertar para o olhar inovador no cuidado socioambiental ao difundir a prática de pensar e fazer juntos. “Afastou-se a prática do ‘prato feito’ e criamos espaços públicos para discutir, decidir, implementar iniciativas, avaliá-las e corrigir rumos. Abriu-se um horizonte de fecunda participação popular/comunitária, de exercício da cidadania, de florescer de atores sociais, de sujeitos coletivos e de parceria”, afirma o diretor.

Resultados

As ações estão mudando a vida de milhares de pessoas. Entre elas, destaca-se a destinação inteligente de dejetos de animais, de suínos em especial, que antes eram jogados diretamente nos afluentes do Rio Paraná e então levados para o reservatório da usina. Com o programa, foram desenvolvidos biodigestores, que transformam o gás metano em energia renovável suficiente para sustentar 170 residências. A energia é consumida nas propriedades que fornecem o esterco, e o que sobra pode ser comercializado.

O cultivo de plantas medicinais também é uma ação de sucesso que já capacitou mais de dez mil pessoas, entre médicos, dentistas, agentes de saúde, produtores e merendeiras. Moradores da Bacia Hidrográfica do Paraná III plantam 144 espécies, que são utilizadas até mesmo em postos de saúde dos municípios que participam do programa. Há ainda a coleta solidária com 1.500 catadores que trabalham utilizando carrinhos elétricos doados pela Itaipu, entre outras iniciativas.

Peixes

Outro trabalho de extrema importância para o desenvolvimento das comunidades da Bacia Hidrográfica do Paraná III é o projeto “Produção de Peixe em Nossas Águas” (PPNA), que oferece uma alternativa sustentável à
pesca extrativista, para a promoção da sustentabilidade em toda a cadeia produtiva de pescado. A ação envolve
as famílias que tiram sustento da pesca, populações ribeirinha e indígena e agricultores assentados, que complementam a renda com a atividade. 

O PPNA possui 17 ações específicas, que vão desde apoio técnico à atividade até moradia do pescador sem casa própria, e contempla o atendimento a 850 profissionais de colônias e associações de pescadores profissionais artesanais e 153 famílias de indígenas, com cerca de 750 pessoas. O programa apontou áreas adequadas à criação de peixe, necessidades e deficiências locais, e por meio de parcerias também promoveu a capacitação de pescadores e produtores para o manejo sustentável de peixes.

O programa, que busca transformar o “pescador” em “aquicultor” e ensinar a comunidade indígena a criar peixes
em sistema de tanques-rede, conta com várias parcerias, como o Ministério da Pesca e Aquicultura, Instituto Técnico Federal e Universidade Estadual do Oeste do Paraná, além das prefeituras locais.

O reservatório de Itaipu apresenta a capacidade de suporte para produzir sete mil toneladas de peixes nativos (pacu) por ano. Se a atividade for estendida para outras áreas já mapeadas, a produção pode chegar a 16 mil toneladas por ano, o que promoveria ainda mais desenvolvimento social e econômico para a região.

Entre os principais resultados do PPNA, destacam-se a instalação de 595 tanques-rede no reservatório para os pescadores e 135 tanques-rede nos municípios de Santa Helena e Foz do Iguaçu para pesquisa; a elaboração de manuais de boas práticas em aquicultura distribuídos aos pescadores; curso de beneficiamento de pele de peixes e apoio ao processamento, e venda de pescado oriundo da pesca e da piscicultura em tanques-rede.

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Veja os conteúdos dessa edição:

Matérias:
- Capa: Arquiteto Empreendedor
- Entrevista: Jeferson Navolar
- Espaço Arquitetura
- Construções Sustentáveis: Integração e Sustentabilidade desde a concepção do projeto
- Responsabilidade Social Corporativa: (CPCE Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial) Implantação de projetos socioambientais requer planejamento
- Desenvolvimento Local: Aliança Paraná Sustentável
- Desenvolvimento Social: CEF apoia empreendimentos habitacionais sustentáveis



Artigos:
- Artigo: Vamos de carro ou de metrô? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Engajando e cultivando talentos (Rafael Giuliano)
- Artigo: Arquitetura Sustentável: um processo (Ivan Dutra)

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