Políticos que sujam ruas com material de campanha continuam sendo os mais votados
A primeira fase da campanha eleitoral deste ano passou e o resultado, após o primeiro turno - além daquilo que já se sabe das urnas - foram ruas poluídas e o desperdício de papel. Somente em Curitiba, por exemplo, foram recolhidas cerca de 20 toneladas de lixo eleitoral das ruas da cidade. Foram necessárias mais de 700 pessoas para limpar as ruas de santinhos e retirar também a grande novidade da propaganda eleitoral deste ano - os cavaletes com as fotos dos candidatos impressas em plásticos espalhados pelos canteiros das ruas. No Distrito Federal a quantidade de rejeitos de campanhas eleitorais chegou a mais de 200 toneladas; em São Paulo Capital, foram cerca de 170 toneladas; e em Belo Horizonte, pelo menos 210 toneladas. Ou seja, o que não faltou foi desperdício.
De acordo com informações da assessoria do Departamento de Limpeza Pública de Curitiba, o mais triste dessa campanha é que boa parte do material recolhido da cidade sequer pôde ser aproveitado pela reciclagem, no programa municipal que funciona na Usina de Valorização de Rejeitos, localizada no município de Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. Tudo por causa da chuva que atingiu a capital no dia de votação e que praticamente “derreteu” a papelada nas ruas, impossibilitando o uso do material para a reciclagem. Ou seja, grande parte dessas 20 toneladas foi parar no aterro sanitário – pra lá de lotado – da Caximba. De acordo com a assessoria, foi possível aproveitar apenas o material impermeável da campanha, que eram os santinhos plastificados, ou o papel que de alguma forma ficou protegido da chuva.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa de Oliveira, a avaliação que se pode fazer do primeiro turno das eleições 2010 é que a preocupação ambiental tanto dos candidatos como dos eleitores ainda está muito longe das urnas. “Os candidatos que mais sujaram as cidades, com santinhos e esses cavaletes, foram aqueles que mais ganharam votos. Infelizmente essa ainda é a tendência, quanto mais dinheiro tem o candidato, mais ele polui e ganha mais votos”, avalia. Para ele, por mais que o tema sustentabilidade esteja ganhando a cada dia novos adeptos, a questão ambiental ainda está muito longe da preocupação política.
Para Oliveira, a solução mais rápida, enquanto o próprio eleitor ainda não se torna o grande carrasco do candidato poluidor, é a mudança na legislação eleitoral. “Quem deve ter essa primeira iniciativa é a própria legislação, a única capaz de proibir a distribuição dos santinhos, incentivando a discussão e divulgação das ideias dos candidatos por meios não poluidores”, afirma. Além disso, a lei deveria obrigar cada candidato a garantir a reciclagem do seu próprio material de campanha.
Atualmente, a lei permite a distribuição de material gráfico, fazendo a festa dos santinhos bancada pelos candidatos mais endinheirados e, portanto, poluidores. O que é proibido, mas que acontece todos os anos, é a sujeira maciça nas ruas, a qual ocorre geralmente na madrugada anterior às eleições. Na virada do dia 02 para 03 de outubro, por exemplo, quem trabalhava na campanha de candidatos a deputados, senador, governador e presidente simplesmente repetiu a prática que há tantos anos acontece: jogar o material gráfico que sobrou da campanha em todos os cantos, na esperança de conseguir um eleitor desinformado de última hora. Aquele que não sabe em quem votar e opta pelo nome e número encontrado no primeiro pedaço de papel no caminho para a sua zona eleitoral.
De acordo com a assessoria do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), essa prática é proibida e gera multa e punições ao candidato ou cabo eleitoral que for pego em flagrante fazendo a sujeira na rua. “A grande dificuldade é conseguir o flagrante dos poluidores”, afirma a assessoria. Durante os dias de eleições, a justiça eleitoral e a Policia Militar trabalham juntas para coibir as propagandas de boca-de-urna e garantir um processo eleitoral justo e democrático. No entanto, eles admitem que ainda é difícil conseguir garantir um processo limpo. “É impossível conter as manifestações que acontecem em todos os cantos na calada da noite. E sem o flagrante não é possível responsabilizar aquele que comete as infrações”, afirma a assessoria.
Responsabilidade ambiental fora das campanhas – De acordo com o professor Ricardo Oliveira, ao contrário do que muito se falou, o número de votos (mais de 19,6 milhões) para a candidata do Partido Verde (PV) para a presidência da República, Marina da Silva, ainda não significa que o brasileiro levou em consideração as questões ambientais na hora de decidir o seu voto.
“Um dos temas centrais da campanha da Marina pode ter sido o desenvolvimento sustentável. No entanto, muitos eleitores se encantaram com a candidata por outras razões. Pesaram muito mais para os eleitores as questões religiosas e a insatisfação com os outros dois candidatos que conseguiram ir para o segundo turno”, avalia. “Tanto é que na campanha do segundo turno, as propostas ambientais são apenas citadas nas campanhas de Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), mas pouco debatidas. Já a religião e os temas que envolvem ética e crença foram muito mais explorados”, lembra.
Segundo Ricardo Oliveira, os votos que Marina da Silva conquistou, por exemplo, sequer foram transferidos para o próprio PV. “No resultado da votação para o Legislativo, o partido que levantou em suas campanhas a bandeira ambiental não teve o mesmo bom resultado proporcional”, avalia.
Iniciativas positivas
Apesar dos porcalhões terem dominado as eleições, algumas boas iniciativas ganharam destaque na tentativa de acabar com o problema do lixo gerado durante as eleições de 2010.
A prefeitura da capital de Pernambuco, Recife, resolveu dar um bom exemplo para outras cidades do país, com o projeto “Não Jogue Sua Campanha no Lixo. Recicle”. O projeto era uma parceria da Secretaria de Meio Ambiente do Recife, da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A proposta era que o material usado nas campanhas eleitorais, como lonas, papelão, metais, madeiras, plásticos, entre outros fossem todos encaminhados para entidades de reciclagem, transformando todo este material em novos objetos.
Outra iniciativa foi a do candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Alcione Duarte, que também resolveu dar o exemplo. O sanitarista e técnico da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) acabou não sendo eleito. Mas ele marcou as eleições 2010 no Estado chamando a atenção para a responsabilidade de cada candidato em relação a sua própria campanha. Todo o material usado como bandeirolas, faixas e cartazes foi recolhido e encaminhada à ONG Nascente Pequena em Guapimirim, localizada na região serrana do Rio de Janeiro.
O resíduo será utilizado nos programas da ONG para a geração de uma linha de bolsas, entre outras peças, no curso profissional em máquinas industriais. Na ONG funcionam oficinas interativas que aproveitam retalhos para a confecção de bolsas, almofadas, cortinas, colchas e edredons, visando à geração de trabalho e renda para a comunidade carente local.
De acordo com o Duarte, calcula-se que em geral cada candidato gere cerca de 200 quilos de lixo em sua campanha.
Juliana Sartori
A primeira fase da campanha eleitoral deste ano passou e o resultado, após o primeiro turno - além daquilo que já se sabe das urnas - foram ruas poluídas e o desperdício de papel. Somente em Curitiba, por exemplo, foram recolhidas cerca de 20 toneladas de lixo eleitoral das ruas da cidade. Foram necessárias mais de 700 pessoas para limpar as ruas de santinhos e retirar também a grande novidade da propaganda eleitoral deste ano - os cavaletes com as fotos dos candidatos impressas em plásticos espalhados pelos canteiros das ruas. No Distrito Federal a quantidade de rejeitos de campanhas eleitorais chegou a mais de 200 toneladas; em São Paulo Capital, foram cerca de 170 toneladas; e em Belo Horizonte, pelo menos 210 toneladas. Ou seja, o que não faltou foi desperdício.
De acordo com informações da assessoria do Departamento de Limpeza Pública de Curitiba, o mais triste dessa campanha é que boa parte do material recolhido da cidade sequer pôde ser aproveitado pela reciclagem, no programa municipal que funciona na Usina de Valorização de Rejeitos, localizada no município de Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. Tudo por causa da chuva que atingiu a capital no dia de votação e que praticamente “derreteu” a papelada nas ruas, impossibilitando o uso do material para a reciclagem. Ou seja, grande parte dessas 20 toneladas foi parar no aterro sanitário – pra lá de lotado – da Caximba. De acordo com a assessoria, foi possível aproveitar apenas o material impermeável da campanha, que eram os santinhos plastificados, ou o papel que de alguma forma ficou protegido da chuva.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa de Oliveira, a avaliação que se pode fazer do primeiro turno das eleições 2010 é que a preocupação ambiental tanto dos candidatos como dos eleitores ainda está muito longe das urnas. “Os candidatos que mais sujaram as cidades, com santinhos e esses cavaletes, foram aqueles que mais ganharam votos. Infelizmente essa ainda é a tendência, quanto mais dinheiro tem o candidato, mais ele polui e ganha mais votos”, avalia. Para ele, por mais que o tema sustentabilidade esteja ganhando a cada dia novos adeptos, a questão ambiental ainda está muito longe da preocupação política.
Para Oliveira, a solução mais rápida, enquanto o próprio eleitor ainda não se torna o grande carrasco do candidato poluidor, é a mudança na legislação eleitoral. “Quem deve ter essa primeira iniciativa é a própria legislação, a única capaz de proibir a distribuição dos santinhos, incentivando a discussão e divulgação das ideias dos candidatos por meios não poluidores”, afirma. Além disso, a lei deveria obrigar cada candidato a garantir a reciclagem do seu próprio material de campanha.
Atualmente, a lei permite a distribuição de material gráfico, fazendo a festa dos santinhos bancada pelos candidatos mais endinheirados e, portanto, poluidores. O que é proibido, mas que acontece todos os anos, é a sujeira maciça nas ruas, a qual ocorre geralmente na madrugada anterior às eleições. Na virada do dia 02 para 03 de outubro, por exemplo, quem trabalhava na campanha de candidatos a deputados, senador, governador e presidente simplesmente repetiu a prática que há tantos anos acontece: jogar o material gráfico que sobrou da campanha em todos os cantos, na esperança de conseguir um eleitor desinformado de última hora. Aquele que não sabe em quem votar e opta pelo nome e número encontrado no primeiro pedaço de papel no caminho para a sua zona eleitoral.
De acordo com a assessoria do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), essa prática é proibida e gera multa e punições ao candidato ou cabo eleitoral que for pego em flagrante fazendo a sujeira na rua. “A grande dificuldade é conseguir o flagrante dos poluidores”, afirma a assessoria. Durante os dias de eleições, a justiça eleitoral e a Policia Militar trabalham juntas para coibir as propagandas de boca-de-urna e garantir um processo eleitoral justo e democrático. No entanto, eles admitem que ainda é difícil conseguir garantir um processo limpo. “É impossível conter as manifestações que acontecem em todos os cantos na calada da noite. E sem o flagrante não é possível responsabilizar aquele que comete as infrações”, afirma a assessoria.
Responsabilidade ambiental fora das campanhas – De acordo com o professor Ricardo Oliveira, ao contrário do que muito se falou, o número de votos (mais de 19,6 milhões) para a candidata do Partido Verde (PV) para a presidência da República, Marina da Silva, ainda não significa que o brasileiro levou em consideração as questões ambientais na hora de decidir o seu voto.
“Um dos temas centrais da campanha da Marina pode ter sido o desenvolvimento sustentável. No entanto, muitos eleitores se encantaram com a candidata por outras razões. Pesaram muito mais para os eleitores as questões religiosas e a insatisfação com os outros dois candidatos que conseguiram ir para o segundo turno”, avalia. “Tanto é que na campanha do segundo turno, as propostas ambientais são apenas citadas nas campanhas de Dilma Roussef (PT) e José Serra (PSDB), mas pouco debatidas. Já a religião e os temas que envolvem ética e crença foram muito mais explorados”, lembra.
Segundo Ricardo Oliveira, os votos que Marina da Silva conquistou, por exemplo, sequer foram transferidos para o próprio PV. “No resultado da votação para o Legislativo, o partido que levantou em suas campanhas a bandeira ambiental não teve o mesmo bom resultado proporcional”, avalia.
Iniciativas positivas
Apesar dos porcalhões terem dominado as eleições, algumas boas iniciativas ganharam destaque na tentativa de acabar com o problema do lixo gerado durante as eleições de 2010.
A prefeitura da capital de Pernambuco, Recife, resolveu dar um bom exemplo para outras cidades do país, com o projeto “Não Jogue Sua Campanha no Lixo. Recicle”. O projeto era uma parceria da Secretaria de Meio Ambiente do Recife, da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A proposta era que o material usado nas campanhas eleitorais, como lonas, papelão, metais, madeiras, plásticos, entre outros fossem todos encaminhados para entidades de reciclagem, transformando todo este material em novos objetos.
Outra iniciativa foi a do candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Alcione Duarte, que também resolveu dar o exemplo. O sanitarista e técnico da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) acabou não sendo eleito. Mas ele marcou as eleições 2010 no Estado chamando a atenção para a responsabilidade de cada candidato em relação a sua própria campanha. Todo o material usado como bandeirolas, faixas e cartazes foi recolhido e encaminhada à ONG Nascente Pequena em Guapimirim, localizada na região serrana do Rio de Janeiro.
O resíduo será utilizado nos programas da ONG para a geração de uma linha de bolsas, entre outras peças, no curso profissional em máquinas industriais. Na ONG funcionam oficinas interativas que aproveitam retalhos para a confecção de bolsas, almofadas, cortinas, colchas e edredons, visando à geração de trabalho e renda para a comunidade carente local.
De acordo com o Duarte, calcula-se que em geral cada candidato gere cerca de 200 quilos de lixo em sua campanha.
Juliana Sartori
Matéria publicada originalmente na edição 20 da revista Geração Sustentável
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