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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Fórum EXAME de Sustentabilidade: Oportunidades para o desenvolvimento sustentável

Seguem os detabes sobre sustentabilidade... Pena que as ações não evoluem no mesmo ritmo! Abaixo texto sobre debate realizado no início de novembro:

O Fórum EXAME de Sustentabilidade, realizado hoje, discutiu questões ambientais - e uma agenda sustentável brasileira - para que o setor empresarial aproveite as oportunidades de negócio, preservando e recuperando o meio ambiente

Quais os impactos econômicos das questões ambientais? Onde estão as oportunidades para o Brasil seguir uma economia de baixo carbono? E o papel do próximo governo para o desenvolvimento de uma economia sustentável? Para responder essas questões, a revista Exame, da Editora Abril, promoveu, hoje, o II Fórum EXAME de Sustentabilidade, que reuniu diversos empresários de setores variados da economia brasileira. “As questões ambientais já não podem ser ignoradas por uma empresa. Esperamos que a segunda edição do Fórum jogue luz nessa discussão, que é indispensável”, ressaltou Alexandre Caldini, diretor-superintendente das revistas Exame, Info e Você S/A, na abertura do evento.

A primeira apresentação coube ao empresário Ricardo Young, também conselheiro do Instituto Ethos e do Planeta Sustentável, ex-candidato a senador por São Paulo, que traçou um cenário da situação mundial, ressaltando que o envolvimento com o tema é inevitável. Segundo ele, uma série de fatores deixa claro que devemos encarar a questão da sustentabilidade, entre eles:
- crescimento demográfico;
- mudanças no clima;
- grande pressão sobre a produção de alimentos e o uso da terra;
- êxodo rural;
- paralisia nos transportes;
- desastres ambientais;
- escassez de água;
- perda de biodiversidade;
- imigração e desequilíbrio populacional, entre outros.

“Em breve vamos deixar de usar a palavra sustentável. O que precisaremos é de uma agenda de sobrevivência”, afirmou. Para Young, o Brasil ainda deixa a desejar no aproveitamento de oportunidades para caminhar rumo a uma economia de baixo carbono. Mas o país tem condições para ser protagonista mundial nesta questão. “Os ativos ambientais e hídricos brasileiros e a matriz energética razoavelmente limpa podem oferecer uma condição de liderança. Mas estamos fazendo as apostas erradas”. O país não deve abusar de sua riqueza natural de forma ilimitada e, para tanto, o empresário sugere uma agenda sustentável, definida por ele como “uma lista de ações exaustiva, mas não conclusiva”, que vai ajudar a mitigar os problemas. Dentro desta agenda, há a necessidade de trabalhar a múltipla dimensão de conhecimento dos empresários, para que o planejamento de uma companhia seja dinâmico e não mais linear. “Se as empresas cometeram um deslize no século XX foi o entendimento de que a sua relação com o mundo era feita apenas com sua interação com o mercado, e nada além disso”.

Também é importante, como apontado por Young, que as companhias tenham o controle das informações de seus impactos, como ao realizar inventários das emissões de gás carbônico e protocolos de parceria entre empresa e fornecedores. Young destacou, ainda, que a ISO 26000, norma de responsabilidade social aprovada recentemente, é a nova plataforma referencial de sustentabilidade no país. “Foi uma grande conquista no âmbito dos stakeholders”, disse. Por fim, comentou sobre como o desenvolvimento de novas tecnologias e do conhecimento de inovação podem ajudar a superar o atual modelo de mercado, que considera insustentável. “A prática de diversidade nas empresas ainda é ruim. Elas precisam contar com o aprimoramento da tecnologia, novos marcos regulatórios, pesquisa e desenvolvimento”, concluiu.

DESENVOLVIMENTO E RESPEITO AMBIENTAL
A jornalista Ana Luiza Herzog mediou debate entre Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura, e Ozires Silva, reitor da Unimonte – Centro Universitário Monte Serrat. Eles falaram sobre a conciliação da exploração do pré-sal com uma economia verde, ou de baixo carbono, no país. Ana Luiza questionou sobre a possibilidade de a riqueza de petróleo não atrapalhar o futuro do desenvolvimento sustentável brasileiro.

Ozires defendeu o investimento em pesquisas de ciência e tecnologia para o país buscar soluções em eficiência energética. A saída, para ele, está na aposta em massa cinzenta. Deve-se investir, por exemplo, em pesquisas sobre o trabalho de exaustão dos carros para evitar que eles lancem gás carbônico na atmosfera. “Está claro que a energia elétrica é crucial para a economia do pais, mas temos que buscar eficiência”, afirmou. Na visão do acadêmico uma possibilidade para aliar a sustentabilidade à exploração do pré-sal seria vincular parte do imposto que se paga pela eletricidade com soluções para alcançar uma economia de baixo carbono.

Aliar exploração de pré-sal e investimentos em energia renovável também é possível na visão de Adriano Pires. No entanto, ele afirmou: “As políticas que estão sendo adotadas não levam a isso. É preciso destinar recursos nas fontes renováveis”. Para ele, a aposta no óleo do petróleo deve ser feita em conjunto com o investimento na preocupação com o meio ambiente.

O PAPEL DO NOVO GOVERNO
Para contextualizar as questões debatidas em outros painéis no programa do novo governo federal eleito, o Fórum EXAME convidou Alessandro Teixeira, presidente da ApexBrasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, que participou da elaboração do programa de governo de Dilma Rousseff. Alessandro afirmou que a transferência de uma economia baseada em combustíveis fósseis para a que explore fontes renováveis leva tempo. “Pensar que vamos abandonar os fósseis para os renováveis nos próximos dez anos é uma ingenuidade”, ponderou. “Devemos ver nossas possibilidades de desenvolvimento sem se apequenar ao cenário internacional.”

O representante do novo governo disse que a transição para uma economia verde no país implica alguns desafios. O principal deles é transformar a riqueza natural em prosperidade econômica e qualidade de vida para os brasileiros. E para induzir essa transição, o papel do governo, na visão de Alessandro, é incorporar a sustentabilidade no ciclo de desenvolvimento, mobilizar a sociedade e investir em políticas públicas.

Alessandro apresentou as principais ações práticas contempladas no programa da próxima gestão:
- implementação da Política Nacional de Mudanças Climáticas, que desenvolverá trabalhos para a preservação de biomas e redução de 80% do desmatamento da Amazônia;
- incorporação e aprofundamento da sustentabilidade ambiental em todas as políticas do estado brasileiro, além da concessão de financiamentos públicos para projetos verdes;
- apoio a atividades que viabilizem a renda de produtores familiares, como o turismo ecológico;
- destinação de parte do Fundo vindo da exploração do pré-sal para investimentos em educação, cultura, ciência, tecnologia e meio ambiente;
- pagamento por serviços ambientais;
- fortalecimento da cadeia de serviços e bens ambientais, de transportes e saneamento e
- incentivo financeiro à Ciência e Tecnologia.

Ao concluir, o diretor da ApexBrasil, que não confirmou ser cotado para assumir uma pasta de pequenas e médias empresas no próximo governo, disse que está planejada, também, a diminuição da carga tributária para projetos de energia solar e eólica.

INFRAESTRUTURA
Não dá para pensar em progresso e desenvolvimento, sem construção de infra-estrutura, como estradas, portos ou pólos tecnológicos, mas nunca esquecendo a questão ambiental. O consenso do debate sobre infraestrutura, novamente mediado por Ana Luiza Herzog, foi o de que o respeito ao meio ambiente deve ser considerado no nascimento do projeto de um empreendimento. “A variável ambiental deve ser incorporada no momento do desenho da política, do programa de governo ou de um projeto”, afirmou Emílio Lèbe, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia UFRJ. “É necessário haver abertura política para isso”, acrescentou.

Hugo Rosa, presidente da Método Engenharia e membro do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, reforçou essa ideia ao afirmar que “alguns projetos de infraestrutura e hotelaria são feitos sem que se leve em conta o impacto ambiental. Só depois se contrata especialistas para analisar esse impacto”. E compara: “É como se um produto feio fosse criado e depois passasse por um departamento de beleza”. Para o especialista em construções sustentáveis, as questões sociais devem estar no mesmo palanque de importância que as ambientais.

O professor coordenador do Programa de Mestrado da Poli-USP, Hugo Yoshizaki, também presente no debate, afirmou que um dos pontos para melhorar a matriz dos transportes na questão das emissões de carbono é equilibrar o uso de rodovias e ferrovias. Ele disse que das 1,5 milhão de estradas do Brasil, apenas 10% é pavimentada. Se fosse feito o revestimento do piso dessas rodovias, haveria uma grande redução do uso de combustível dos caminhões e, consequentemente, de seu impacto ambiental.

“A ferrovia é uma necessidade do século anterior, mas só agora a sua urgência foi percebida”, completou o advogado Fernando Nabais Furriela, da Santos e Furriela Advogados e ex-presidente do Conselho Executivo do Greenpeace Brasil. Ele destacou que ações do governo que olham para a sustentabilidade não são uma opção, mas uma obrigação que está estabelecida na Constituição brasileira.

BIODIVERSIDADE E ECONOMIA
O debate sobre a inserção da biodiversidade na economia brasileira encerrou o Fórum Exame de Sustentabilidade. Para Maria Cecília Wey de Brito, ex-secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, a maior dificuldade dessa prática vem do fato de que a sociedade não encontrou uma forma de traduzi-la em uma moeda universal, como o carbono se tornou nas questões do clima. “A riquíssima biodiversidade brasileira deve ser aproveitada de forma não destrutiva. E temos muito a ganhar se olharmos para ela sem a visão de que o animal emperra uma obra, por exemplo”, afirmou.

Pedro Passos, presidente do Conselho Administrativo da Natura, disse que essa falta de reconhecimento financeiro da biodiversidade é um dos obstáculos para que a sociedade dê um passo adiante na questão da preservação. “Uma mesa vale mais do que uma árvore de 100 anos em pé, porque esta não entra no PIB”, afirmou. Para ele, é possível que o Brasil valorize sua riqueza natural e se torne pioneiro no desenvolvimento de novas tecnologias, “mas o problema é que isso ainda é encarado pelo lado do custo e não da oportunidade”.

Para se alcançar a economia verde, é necessária uma tensão prepositiva das empresas, segundo Malu Nunes, gerente de Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade do Grupo O Boticário. Malu afirmou que a responsabilidade ambiental não deve estar restrita ao uso de materiais sustentáveis, mas deve fazer parte do processo de produção de uma companhia e das suas relações com parceiros. “Não basta usar de papel reciclável ou estimular o trabalho voluntário de seus funcionários”, destacou. Para ela, outro fator que deve impulsionar ao envolvimento ambiental de uma companhia é que os consumidores estão cada vez mais atentos às práticas socioambientais do setor privado e entendem que a preservação do meio ambiente está ligada à economia. “A biodiversidade deve ser tratada de uma forma séria e consistente”, concluiu.

Fonte: Planeta Sustentável - 10/11/2010

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