A importância da ação local frente os cataclismos globais que tem assolado praticamente todas as regiões do nosso globo terrestre, não só é requisito necessário, como também o é premente.
Nunca antes na história deste país foram tão evidentes as consequências do improviso e da falta de conhecimento especializado aplicado aos problemas que afligem a maioria da população brasileira. De uma fase de planejamento sem o envolvimento da sociedade em eras mais recentes, passamos ao extremo oposto onde a falta de ação planejada e compartilhada, coloca em risco a própria sustentabilidade de uma vida cidadã harmônica e produtiva.
A ausência do envolvimento efetivo dos agentes locais nas decisões governamentais é preocupante e deveria ser objeto da atenção de qualquer cidadão consciente e com um mínimo de entendimento do papel do Estado numa concepção contemporânea ciente, porém, do seu significado e evolução histórica. Projetos e programas de impacto nacional e mesmo global, estão sendo decididos em gabinete fechado no melhor estilo dos governos autoritários outrora execrados e pela superação dos quais muitos dirigentes da atualidade cerraram fileiras. Desastres ambientais e sociais que tem nos assombrado recentemente não podem ser vistos simplesmente como tragédias próprias do destino humano. Tragédia é algo que, mesmo que como possibilidade, é resultado de fatores imprevisíveis pouco amenos ao poder humano. Qualquer outra coisa é risco calculado. Quando uma comunidade assume como normal avançar sobre áreas que o próprio bom senso informa não ser algo prudente ou inteligente, é de se indagar o que, afinal, dá sustentação racional para a sua ação. Qual é o entendimento vigente sobre direitos e deveres? Será que sabemos o que é contrato social? Nossos representantes, em sua grande maioria, fazem questão de demonstrar que não o sabem. E os indivíduos integrantes deste coletivo que costumamos chamar de sociedade brasileira? Será que sabem? Onde se ensina isso atualmente? Em casa? Na escola? Na TV? Nos estádios de futebol?
Nelson Rodrigues, na sua sempre sábia introspecção acerca da alma e do fazer brasileiros, teria comentado que nem muito planejamento seria capaz de produzir tamanho improviso. As conseqüências deste improviso estão a nos fustigar quase que cotidianamente ao vivo e em cores. Não podemos ficar cativos de nossa história calcada em improvisos, interesses pessoais e jogos políticos de curto prazo. O Brasil, ou antes, este continente já habitado quando o explorador europeu aqui pisou, merece mais do que tem sido oferecido por aqueles que se apegaram aos meios e a máquina burocrática que deveria servir aos interesses do bem público. A ação local fica prejudicada e de fato sempre o foi, num país onde o Estado nasceu antes da sociedade a quem deveria servir como bem argumentou Raimundo Faoro. Precisamos, com urgência, romper esta nossa forma de fazer e, valendo-nos do que o conhecimento acumulado e a tecnologia permitem, buscar as soluções que nos farão uma nação sustentável e capaz de realmente liderar os homens e mulheres de boa vontade neste planeta.
Sem previsão bem fundamentada e a construção de uma infra-estrutura adequada que permita a convivência civilizada de todos os segmentos sociais, não há como esperar soluções salvadoras. As catástrofes farão efetivamente parte de nosso cotidiano. A ação local e a formação de agentes capazes de articular e mobilizar suas comunidades pede a participação de todos sem exceção. Os desafios e tarefas dos próximos governantes serão de difícil resolução sem o engajamento social e as definições das prioridades locais. Os instrumentos que favorecem uma governança participativa hoje existem na maioria dos municípios e podem ser ativados pela comunidade local. As audiências públicas garantidas pela legislação, o acompanhamento do Plano Diretor do município, a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, entre outros meios, permitem uma ação mais próxima e efetiva da população. A ideia da formação de agentes de desenvolvimento local pode alavancar esta participação, canalizando e facilitando o entendimento e o acesso a estes instrumentos, nos aproximando mais de uma democracia participativa e não apenas representativa.
** Marcos Schlemm
Administrador e Assessor da Direção Regional do Sistema FIEP/PR
Artigo sobre Desenvovlimento Local publicado originalmente na edição 17 da revista Geração Sustentável
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