“A História é a ironia em marcha, a gargalhada do Espírito através dos homens e dos acontecimentos”. Nesses termos, Cioran (1989) inicia análise sobre as idas-e-vindas dos valores, princípios e crenças do humano em sua trajetória pela Terra.
O credo de hoje (pretensamente ditado pelos deuses, ou resultante de alguma conjuntura de poder), amanhã é tido e havido como superado, inválido e até maldito, não poucas vezes levando à fogueira seus mentores. Neste eterno (des)construir, instala-se uma trajetória pendular de “verdades” que não representam um avanço do pensamento, como imaginavam os crédulos de época, mas apenas evidenciam que a imutabilidade do pensamento, é que não existe, na óptica de Cioran.
Em outra perspectiva, Chomsky (2002), crendo numa natureza humana fundamental que implicaria no que denomina instinto de liberdade, nos aponta para uma possibilidade de evolução a revelar-se de diferentes formas, seja no uso da linguagem, ou na luta contra a depressão. Para ele, o curso da História se move em direção a um (lento) progresso civilizatório que ele chama de decente.
Há quase quatro décadas, durante a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972), deu-se o confronto entre dois blocos de países, então entendidos como “ricos” e “pobres”, com os últimos, incluindo o Brasil, dizendo-se no direito de pagar o preço do desenvolvimento (fosse qual fosse), mesmo que em detrimento dos ambientes. Então houve alguma mudança de postura, uma vez que as idéias sobre “ricos” e “pobres” sofreram reinterpretações – as crises da bolsa de valores de NY (1929) e do petróleo (1956; 1973; 1979; 1991 e 2008), evidenciaram que os “ricos” são dependentes e os “pobres”, ricos em recursos que alimentam o consumismo dos primeiros. Além disso, hoje em ambos proliferam as máximas de que há sim limites ao crescimento, de que temos uma só casa cósmica e de que o preço dos abusos implica em entropias.
Observados os fatos históricos, nos limites do rigor científico-documental e isentos de glamurizações de época (nacionalistas, ideológicas, oportunistas e/oi indecentes), tem-se o reforço da hipótese de que a Educação ainda é a ponta do processo de superação dos óbices e dos vieses determinados tanto pelos impostores, quanto pelos entusiastas inocentes – os primeiros causando danos por suas astúcias e, os segundos, por seus ardores. E, para tanto, o pessimismo de Cioran pode ser a têmpera para que o sujeito educado interprete os argumentos otimistas de Chomsky. Inclua-se nesta sinergia dos opostos, a própria premissa da Educação, uma vez que podemos também educar para impostura, ou para a alienação. Na temática do “desenvolvimento sustentável” os exemplos abundam e o recado encontra ressonância.
Em obra que, dadas as suas instigantes “heresias”, vem gerando protestos à direita e à esquerda, junto a devastadores e conservacionistas, Leandro Narloch (2009) presta um bom serviço ao ato educativo na medida em que, rompendo com a camisa-de-força do “politicamente correto” e com sólida pesquisa documental, deixa claro que somente na liberdade de pensamento compreende-se que muito do que aconteceu não estava combinado, pois não foi de fato o que poderia, ou desejávamos que houvesse acontecido. Isso tudo, tanto nas relações humanas, quanto nas conexões sociedade-natureza no Brasil, nestes 500 anos.
No momento em que os “debates” sobre os destinos do País se dão ao sabor de trocas de acusações pessoais, em detrimento de Programas de Governo, enfaticamente sobre Educação e Política Socioambiental, a ausência do uso da Razão tem um custo elevado. Mas, é a vida como ela é e aí, que se passe a palavra a Nelson Rodrigues, pois, só tem “certezas” quem nada aprofundou.
** Gastão Octávio Franco da Luz: Biólogo, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Consultor em Sustentabilidade
** Gastão Octávio Franco da Luz: Biólogo, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Consultor em Sustentabilidade
Artigo sobre Meio Ambiente publicado originalmente na edição 20 da revista Geração Sustentável
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Nesse processo de mudança constante de valores e verdades, a humanidade se constrói, se modifica, se perpetua, numa luta entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, num ir e vir que nos surpreende a cada leitura dos fatos, quando por exemplo, o mesmo povo vítima da corrupção elege e assim absolve o candidato corrupto ou quando membros de uma universidade condenam o vestuário de uma aluna a ponto de tentar expulsá-la, já por outro lado, temos um presidente negro representante de uma grande potência, mulheres governando países, aumento do número de voluntários se doando a causas nobres, enfim, nessa dialética que nos faz sentir transitar entre o contemporâneo e a idade da pedra, há sempre fontes de enriquecimento do pensar, do sentir, do buscar e nesse trajeto de lutas, perdas e ganhos, encontramos nas palavras do biólogo Gastão um legítimo representante da educação e do conhecimento. Parabéns à revista por proporcionar a seus leitores um profissional dessa qualidade.
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