(Entrevista concedida pelo Biólogo Gastão Octávio Franco da Luz, sobre bem-estar animal para a edição 23 da Revista Geração Sustentável para a jornalista Criselli Montipó)
1. Os setores de produção agropecuária alegam que BEA é um tema controverso, dada a dificuldade de medir cientificamente. Como vê este posicionamento?
R- As dificuldades são inversamente proporcionais à existência de equipes pluridisciplinares, quando das tomadas de decisão, ou seja: projetos de bem-estar animal. Se apenas empresários e a visão econômica atuarem, a questão torna-se de fato impossível. Por outro lado, se profissionais das áreas de Medicina Veterinária, Ciências Biológicas, Engenharia Agronômica, por exemplo, forem chamados às formulações, prescrições científicas serão elaboradas, pois o saber acumulado responde às necessidades de atuação correta sobre o tema.
2.Entretanto, as entidades ligadas aos setores produtivos admitem que o bem-estar animal é componente importante da qualidade. O único entrave, segundo eles, é o custo de produção. Poderia comentar sobre isso?
R- O custo do setor produtivo atuar apenas com o viés econômico, invariavelmente é muito maior. Quando os princípios (científicos) deixam de ser implementados, as conseqüências vão desde comprometimentos em termos de Saúdes Pública e Animal, até o próprio desastre econômico. Improcedências corporativas levaram a eventos como a BSE (Bovine Spongiform Encephalopathy), ou Encefalopatia Bovina Espongiforme, vulgarmente conhecida como Doença da Vaca Louca, tornou-se um clássico. O Prion, (também responsável pela DCJ/Doença de Creutzfeld-Jakob), resulta de uma contradição frente ao conhecimento biológico: não se produz alimento saudável a partir de partes de uma espécie, para nutrir indivíduos da mesma espécie. A literatura corrente (da Filosofia à Biologia) está aí para fazer lembrar que, o canibalismo, não está previsto na ordem da Natureza. E este é um marco referencial de que, a “esperteza” economicista, tem um preço elevado. Valendo-me da máxima popular, este é um caso em que “o barato (para os produtores), saiu caro (para toda a rede produtiva)!
3.Na maioria, tais entidades reforçam que o consumidor é quem vai pagar a conta, ou seja, o encarecimento do produto para a manutenção do bem-estar animal. Como analisa esta questão?
R- A primeira questão, é: e quando foi que o consumidor não pagou a conta? Segunda: o produtor paga a conta, quando suas incorreções comprometem a vida do consumidor? Terceira: será que a resistência, em relação às exigências lógicas da BEA, não decorrem da hegemonia do pensamento econômico de produção em escala? Eu também poderia ponderar com a conhecida fome de lucros ...
4.O Brasil é o maior exportador de carne, entretanto, está atrasado com relação à legislação sobre BEA. A que está relacionado este atraso?
R- Alguns slogans, ajudam a entender: “Desenvolvimento a qualquer custo!”. “Alavancar a Economia!”. “Celeiro do um mundo!”. “Commodity”. Sob estas regras e prerrogativas, de fato, não há espaço para conhecimento científico, prevenção, responsabilidade sócio-ambiental e quetais.
5.O fato de o Brasil exportar para a Europa, por exemplo, que tem legislação específica sobre BEA, pode influenciar a produção brasileira? De que maneira?
R- Sim, pode. Porém, há um condicionante: que os europeus desfavoreçam, combatam e boicotem os slogans que eu cito, na questão anterior. Mas, para quem tem sérios problemas de abastecimento interno, recursos exauridos (água, solo, ...) e habituou-se a importar dos “celeiros”, como fica?
6.As instruções normativas vigentes no Brasil sobre BEA, têm colaborado de alguma maneira?
R- Penso que: (a) no Brasil, haver lei, não significa haver legitimidade e/ou cumprimento de normas; (b) onde tudo pode ser negociado de última hora (acompanhe-se o anátema sobre o Código Florestal), nada implica em “certeza”; (c) enquanto a Economia de Escala for a meta, não há saber que resista ao querer e ao poder.
7.Quais os principais problemas observados no Brasil quando o assunto é bem-estar animal (no setor produtivo)?
R- (a) Fome de lucros. (b) No momento da praxe, a desqualificação (ou, o ignorar) do Conhecimento Científico (incluídos os saberes das Ciências Econômicas).
8.Há pontos fortes? Quais?
R- Até aqui, a provocação ao debate, por esta Revista.
Acesse a matéria completa sobre animais confinados e bem-estar animal. Como são tratados os animais criados para abastecer o seu consumo? As discussões sobre bem-estar de animais vêm ganhando novos adeptos, como os consumidores. Legislação da UE tem influenciado a produção brasileira. Você já parou para pensar sobre as formas de produção da carne, do leite e dos ovos que consome? Sabe como são tratados os animais criados para abastecer o seu consumo? A maioria das pessoas vai às compras sem atentar para este importante detalhe. Entretanto, aprende-se desde cedo que a pirâmide alimentar convencional exige uma dieta que contemple a proteína animal encontrada nestes produtos.
1. Os setores de produção agropecuária alegam que BEA é um tema controverso, dada a dificuldade de medir cientificamente. Como vê este posicionamento?
R- As dificuldades são inversamente proporcionais à existência de equipes pluridisciplinares, quando das tomadas de decisão, ou seja: projetos de bem-estar animal. Se apenas empresários e a visão econômica atuarem, a questão torna-se de fato impossível. Por outro lado, se profissionais das áreas de Medicina Veterinária, Ciências Biológicas, Engenharia Agronômica, por exemplo, forem chamados às formulações, prescrições científicas serão elaboradas, pois o saber acumulado responde às necessidades de atuação correta sobre o tema.
2.Entretanto, as entidades ligadas aos setores produtivos admitem que o bem-estar animal é componente importante da qualidade. O único entrave, segundo eles, é o custo de produção. Poderia comentar sobre isso?
R- O custo do setor produtivo atuar apenas com o viés econômico, invariavelmente é muito maior. Quando os princípios (científicos) deixam de ser implementados, as conseqüências vão desde comprometimentos em termos de Saúdes Pública e Animal, até o próprio desastre econômico. Improcedências corporativas levaram a eventos como a BSE (Bovine Spongiform Encephalopathy), ou Encefalopatia Bovina Espongiforme, vulgarmente conhecida como Doença da Vaca Louca, tornou-se um clássico. O Prion, (também responsável pela DCJ/Doença de Creutzfeld-Jakob), resulta de uma contradição frente ao conhecimento biológico: não se produz alimento saudável a partir de partes de uma espécie, para nutrir indivíduos da mesma espécie. A literatura corrente (da Filosofia à Biologia) está aí para fazer lembrar que, o canibalismo, não está previsto na ordem da Natureza. E este é um marco referencial de que, a “esperteza” economicista, tem um preço elevado. Valendo-me da máxima popular, este é um caso em que “o barato (para os produtores), saiu caro (para toda a rede produtiva)!
3.Na maioria, tais entidades reforçam que o consumidor é quem vai pagar a conta, ou seja, o encarecimento do produto para a manutenção do bem-estar animal. Como analisa esta questão?
R- A primeira questão, é: e quando foi que o consumidor não pagou a conta? Segunda: o produtor paga a conta, quando suas incorreções comprometem a vida do consumidor? Terceira: será que a resistência, em relação às exigências lógicas da BEA, não decorrem da hegemonia do pensamento econômico de produção em escala? Eu também poderia ponderar com a conhecida fome de lucros ...
4.O Brasil é o maior exportador de carne, entretanto, está atrasado com relação à legislação sobre BEA. A que está relacionado este atraso?
R- Alguns slogans, ajudam a entender: “Desenvolvimento a qualquer custo!”. “Alavancar a Economia!”. “Celeiro do um mundo!”. “Commodity”. Sob estas regras e prerrogativas, de fato, não há espaço para conhecimento científico, prevenção, responsabilidade sócio-ambiental e quetais.
5.O fato de o Brasil exportar para a Europa, por exemplo, que tem legislação específica sobre BEA, pode influenciar a produção brasileira? De que maneira?
R- Sim, pode. Porém, há um condicionante: que os europeus desfavoreçam, combatam e boicotem os slogans que eu cito, na questão anterior. Mas, para quem tem sérios problemas de abastecimento interno, recursos exauridos (água, solo, ...) e habituou-se a importar dos “celeiros”, como fica?
6.As instruções normativas vigentes no Brasil sobre BEA, têm colaborado de alguma maneira?
R- Penso que: (a) no Brasil, haver lei, não significa haver legitimidade e/ou cumprimento de normas; (b) onde tudo pode ser negociado de última hora (acompanhe-se o anátema sobre o Código Florestal), nada implica em “certeza”; (c) enquanto a Economia de Escala for a meta, não há saber que resista ao querer e ao poder.
7.Quais os principais problemas observados no Brasil quando o assunto é bem-estar animal (no setor produtivo)?
R- (a) Fome de lucros. (b) No momento da praxe, a desqualificação (ou, o ignorar) do Conhecimento Científico (incluídos os saberes das Ciências Econômicas).
8.Há pontos fortes? Quais?
R- Até aqui, a provocação ao debate, por esta Revista.
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Jucélia de Jesus Seixas
ResponderExcluirNa verdade, nós consumidores, tanto quanto os produtores, somos cruéis com os animais e irresponsáveis com a vida humana, pois aparentamos ignorar o assunto, da mesma forma que eles ignoram as leis, isto é, nos isentamos de culpa e continuamos consumindo e, nesse faz de conta, no qual somos vítimas e algozes, a qualidade e o respeito pela vida de forma geral se torna um mero detalhe.