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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Como são tratados os animais criados para abastecer o seu consumo?

(Não deixe de ler essa matéria... Um ótimo conteúdo da atual edição da revista Geração Sustentável, Pedro Salanek Filho - Editor)

As discussões sobre bem-estar de animais vêm ganhando novos adeptos, como os consumidores. Legislação da UE tem influenciado a produção brasileira


Você já parou para pensar sobre as formas de produção da carne, do leite e dos ovos que consome? Sabe como são tratados os animais criados para abastecer o seu consumo? A maioria das pessoas vai às compras sem atentar para este importante detalhe. Entretanto, aprende-se desde cedo que a pirâmide alimentar convencional exige uma dieta que contemple a proteína animal encontrada nestes produtos.

No Brasil, a média de consumo anual de carne de aves, por pessoa, é de 42 quilos. Em segundo lugar vem o consumo de carne bovina, uma média de 38 quilos, por pessoa, ao ano. Já a média de carne suína consumida pelos brasileiros anualmente é de 13 quilos por pessoa, sendo que destes, 11 quilos são compostos por embutidos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil se consolida como o principal produtor e exportador de proteína de origem animal. O país é o maior exportador mundial de carne bovina, maior exportador mundial de carne de aves, e o quarto maior exportador mundial de carne suína. De acordo com o MDIC, tal cenário está relacionado à intensificação das relações comerciais internacionais, ao aumento da renda e ao crescimento da população mundial.

Diante destes dados, imagine quantos animais são criados apenas para produzir carne, sem considerar os demais produtos. Somente para se ter uma ideia, de janeiro a março de 2011 foram exportadas 264.192 toneladas de carnes e derivados bovinos, que movimentaram US$ 1.224.611.446, conforme dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

Para manter este padrão de consumo, o modelo de produção vigente é o da criação de bilhões de animais confinados em escala industrial, que nem sempre respeitam o bem-estar animal. Ou seja, estes animais vivem em espaços minúsculos, em galpões ou gaiolas, por exemplo, onde não podem expressar seu comportamento natural, como abrir as asas, fazer ninhos, tomar banho de areia ou amamentar seus filhotes de forma apropriada. A maioria nem sequer experimentou a sensação de viver ao ar livre, como o adequado para sua espécie. Grande parte deste animais também não têm nenhuma garantia de uma morte humanitária.

Neste ponto é importante lembrar que há diferenças entre bem-estar animal (em que os animais devem ser tratados humanitariamente, pois o homem é responsável por eles), e a linha de pensamento mais radical que trata dos direitos dos animais (defende que animais não devem ser utilizados para nenhum propósito, como alimentação, vestimenta, pesquisa).

Todavia, de forma geral, o tema bem-estar animal ainda não é suficientemente tratado em todo o mundo. De acordo com a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, da sigla em inglês, World Society for the Protection of Animals) – federação de organizações de bem-estar animal que representa mais de 1 mil afiliadas em 156 países – o sistema intensivo de produção de animais teve início após a Segunda Guerra Mundial, quando houve grande escassez de alimentos na Europa e o modelo de produção industrial em larga escala e em série atingiu todos os setores, inclusive o pecuário.


Princípios de bem-estar animal

Conforme dados da WSPA, a primeira Lei geral sobre bem-estar animal surgiu no ano de 1822, na Grã Bretanha. Já os primeiros princípios sobre bem-estar animal começaram a ser estudados em 1965 por um comitê formado por pesquisadores e profissionais relacionados à agricultura e pecuária do Reino Unido, denominado Comitê Brambell, iniciando-se, assim, um estudo mais aprofundado sobre conceitos e definições de bem-estar animal. Esse comitê constituiu uma resposta à pressão da população, indignada com os maus tratos dados aos animais em sistemas de confinamento, denunciados no livro Animal Machines (Animais Máquinas), publicado pela jornalista inglesa Ruth Harrison em 1964.

Atualmente, há diversas definições sobre o bem-estar animal. A mais utilizada é a de Donald M. Broom (1986), adotada pelo Laboratório de Bem-Estar Animal (Labea) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ligado ao ensino de Medicina Veterinária e Zootecnia, o Labea foi criado 2004 e visa o desenvolvimento de projetos de extensão e pesquisa que culminem em um aumento do grau de bem-estar dos animais. A definição de Donald Broom estabelece que bem-estar é o estado de um indivíduo em relação às suas tentativas de se adaptar ao meio ambiente em que vive. “Ou seja, quanto mais difícil for ao animal enfrentar os desafios que o ambiente lhe traz, pior será seu grau de bem-estar. Ele enfrentará dificuldades e sofrerá com isso. Quanto mais intensas e mais prolongadas forem estas dificuldades, a partir da perspectiva do animal, menor será seu grau de bem-estar”, explica a coordenadora do Labea, professora Carla Forte Maiolino Molento, médica veterinária que idealizou o laboratório.

No entanto, para avaliar o bem-estar dos animais é necessário que sejam mensuradas diferentes variáveis. Para isso, o Comitê Brambell desenvolveu o conceito das Cinco Liberdades, aprimoradas pelo Farm Animal Welfare Council (FAWC - Conselho de Bem-estar na Produção Animal) do Reino Unido que têm sido adotadas mundialmente. São elas: Livre de sede, fome e má-nutrição; Livre de desconforto; Livre de dor, injúria e doença; Livre para expressar seu comportamento normal; Livre de medo e diestresse (estresse negativo, intenso, que gera sofrimento).

A professora Carla explica que as Cinco Liberdades representam uma excelente organização de ideias para que não se esqueça de nenhum aspecto importante para entender o grau de bem-estar de um animal. “A meu ver, elas tem grande valor diagnóstico, apontado onde estão os pontos críticos de restrição de bem-estar e, consequentemente, como podemos começar a agir no sentido de melhorar a situação”. Segundo ela, algumas liberdades têm uma relação direta com produtividade (embora haja exceções). “Por exemplo, a Liberdade Nutricional, em geral é respeitada nos sistemas produtivos. A Liberdade Sanitária é respeitada por meio de medidas de prevenção e tratamento geralmente empregadas nos sistemas produtivos, mas há vários exemplos de doenças e dor gerados pelo ser humano, em sua busca incessante de aumento de produtividade. Exemplos disso são todos os procedimentos invasivos sem controle da dor, como castração e corte de cauda e as doenças criadas pela seleção artificial, como a alta prevalência de problemas articulares em frangos de corte e de mastite em vacas holandesas”, explica.

Já a liberdade ambiental (os animais devem estar livres de desconforto), é em grande medida desrespeitada nas condições de criação intensiva, com seus pisos de concreto, pisos ripados e camas úmidas e sujas, amplamente distribuídos nos sistemas de produção mais comuns. As liberdades comportamental e psicológica são amplamente desrespeitadas na produção animal como vigente no mundo atual”, ressalta.

Outro ponto importante na discussão sobre bem-estar animal é a senciência animal (capacidade de ter consciência de sensações, sentimentos subjetivos). De acordo com Carla, há um conjunto de evidências que tornam a senciência animal a explicação científica mais plausível para vários grupos de animais. Este conjunto dá base para a chamada Teoria Cumulativa da Senciência Animal. As evidências são: os animais se comportam de forma compatível com a presença de sentimentos; os animais têm as estruturas anatômicas, principalmente em termos de sistema nervoso, que no ser humano são responsáveis pela geração de sentimentos; os animais dependeram de sentimentos durante o processo de evolução das espécies por seleção natural das espécies de forma similar ao ser humano; os animais respondem às drogas que controlam sentimentos, como por exemplo a abolição da dor pelo uso de um analgésico (o que comprova que estavam sentindo dor anteriormente) ou da ansiedade pelo uso de ansiolítico.

“Cada uma destas evidências vem sendo estudada com profundo grau de detalhamento, e os resultados permitem à comunidade científica atual o reconhecimento de, no mínimo, todos os animais vertebrados como seres sencientes. Com isso estamos falando de mamíferos (como o próprio ser humano), aves, répteis, anfíbios e peixes. Todos tem capacidade de ser feliz ou sofrer, dependendo de que tipo de vida lhes é imposto”, esclarece. Todavia, isso dificulta a adoção de práticas de bem-estar animal, pois certos animais são reconhecidamente sencientes para a maioria das pessoas, como o cão de estimação. No caso de outros animais, muitas vezes as pessoas preferem evitar esta reflexão. “Aliás, é bastante perturbador pensar que o bife que comemos é um pedaço de um animal que tem, como todos nós, vontade de viver e de desfrutar alto grau de bem-estar. Mas esta é a realidade”, lembra Carla.


Bem-estar animal e a legislação brasileira

As principais discussões sobre bem-estar animal então focadas na criação confinada e nos procedimentos pré-abate como privação de água e ração, fraturas na apanha, transporte, condições da espera e insensibilização.

No Brasil, a obrigatoriedade de atenção ao bem-estar animal integra o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA) conforme o Decreto 30.691/1952 que traz algumas normas específicas para cada espécie. Entretanto, é a Instrução Normativa 03/2000, com o Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue, que tem conseguido consolidar o tema. Há, também, a IN 56/2008, com Recomendações de Boas Práticas de Bem-estar para animais de produção e Interesse econômico, e a Circular 12, de março de 2010, que estabelece adaptações da Circular 176/2005, na qual se atribui responsabilidade aos fiscais federais para a verificação no local e documental do bem-estar animal através de planilhas oficiais padronizadas.

Firmado em 2008 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pela WSPA, com consultoria da Animal-i, o Programa Nacional de Abate Humanitário - Steps visa implementar melhorias para o bem-estar dos animais de produção no Brasil. O Termo de Cooperação contou com a adesão da União Brasileira de Avicultura (UBA), da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango (ABEF - atualmente Ubabef) e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). De acordo com a WSPA, cerca de 1,5 mil profissionais já foram treinados de agosto de 2009 a dezembro de 2010 em 217 frigoríficos no Brasil.

O presidente da Abrafrigo, Péricles P. Salazar, que é também presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne), afirma que a insensibilização antes da sangria é respeitada nos frigoríficos e abatedouros participantes dos serviços de inspeção como o SIF, sistema de controle do MAPA. No entanto, o abate clandestino ainda ocorre, mesmo com a redução da carga tributáia que incidia sobre o setor.

Também é de 2008 a criação da Comissão Técnica sobre o Bem-Estar Animal do MAPA. O intuito foi planejar, coordenar, supervisionar, fomentar e avaliar as atividades, programas, e ações sobre bem-estar animal, visando também os benefícios para o produtor. A fiscal agropecuária federal Andrea Parrilla, que integra a Comissão de Bem-estar Animal do MAPA, ressalta que o programa de capacitação sobre o tema foi ampliado em 2011 para atender também outros integrantes do processo produtivo, como docentes e técnicos de extensão rural.

“Hoje a fiscalização se dá no manejo pré-abate e abate”, explica Andrea, referindo-se à IN 03/2000. Já a IN 56/2008, traz apenas recomendações de boas práticas de bem-estar para animais de produção e interesse econômico, processo ainda não fiscalizado. “Esperamos que num futuro próximo possamos fiscalizar e ter maior controle. Um dos entraves é que o número de propriedades é bastante grande e o MAPA não possui corpo técnico suficiente”, ressalta Andrea.

Além da legislação, existem códigos voluntários da indústria, programas corporativos e acordos internacionais, certificados ou organizações intergovernamentais, como da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da União Europeia, que já possui legislação específica sobre o tema.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) assinou em 2010 seu apoio por uma Declaração Universal de Bem-Estar Animal (DUBEA), idealizado pela WSPA, que visa a substituir a criação intensiva pela extensiva. A Humane Society International (HSI) Brasil também está trabalhando para combater o confinamento intensivo de animais de produção.

A zootecnista Sulivan Alves, coordenadora técnica da Ubabef, ressalta que as instruções normativas vigentes são diretrizes para a produção e a obrigatoriedade de seu cumprimento torna rotina as práticas de bem-estar. A professora Carla ressalta que a Instrução Normativa que regulamenta o Abate Humanitário no Brasil ampliou significativamente a clareza sobre as questões relacionadas à insensibilzação pré-abate no país. “Como sempre, há também o impacto sutil. Uma norma do MAPA que use termos como 'humanitário', no qual está implícito o reconhecimento dos animais como seres sencientes, consolida uma nova forma de relação com os animais. Quanto mais específicos e ativos formos na regulamentação de critérios de bem-estar, mais rapidamente se dará o avanço. Embora ainda haja percepções múltiplas sobre isso, uma análise mais profunda nos sugere que este avanço beneficiará a todos: animais, produtores, indústria e consumidor”, comenta a coordenadora do Labea-UFPR.

Segundo as especialistas, o fato de o Brasil exportar para a Europa, que tem legislação específica, pode influenciar a produção brasileira. “As empresas exportadoras já estão acostumadas com normas de bem-estar animal, e o fizeram antes da força legislativa. Muitas empresas cumprem exigências de clientes europeus, mesmo antes das diretivas europeias. Isso logicamente influencia na conduta da empresa para sua produção para outros mercados, inclusive o interno”, ressalta Sulivan.


O que pensam os setores de produção agropecuária

O Paraná é o maior produtor de aves do Brasil, o terceiro maior produtor de suínos no país e ocupa a décima posição na produção de bovinos no cenário nacional. Conforme dados do Sindicarne, em 2010 foram abatidas 1.351.306.802 cabeças de aves com inspeção federal no Paraná. No mesmo ano, foram abatidas no Paraná 5.237.350 cabeças de suínos e 1.190.025 cabeças de bovinos, com inspeção do SIF. De acordo com informações do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) em 2010 foram produzidas 190 mil toneladas de carne de frango pelas cooperadas para exportação, o que movimentou US$ 345 milhões. Para o mercado interno a produção foi de 700 mil toneladas.

O assessor técnico da Ocepar, o médico veterinário Alexandre Monteiro, ressalta que o desafio é manter o padrão de produção em condições que atendam às necessidades biológicas dos animais. Monteiro atenta que a adaptação deve acarretar custos e questiona se o mercado está disposto a pagar por isso. Opinião semelhante tem o médico veterinário do Departamento Técnico-Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Fabricio Monteiro. “Bem-estar animal é componente importante da qualidade, o único entrave é o custo de produção”, acredita. Ele salienta que a posição da Faep é de que o setor produtivo não esteja fora dos debates. “Todos os cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) têm bem-estar animal e boas práticas implícitos, mas o conceito não pode ser limitante da produção”, sustenta.

Segundo Sulivan, os investimentos extras que se fizerem necessários para melhorias no bem-estar poderão repercutir nos custos de produção e consequentemente no preço final do produto. “Temos esse desafio, pois nos interessa que a carne de frango se mantenha acessível a todos os consumidores e não apenas a uma camada restrita da sociedade”, salienta. O biólogo, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gastão Octávio Franco da Luz questiona: “A primeira questão, é: e quando foi que o consumidor não pagou a conta? Segunda: o produtor paga a conta, quando suas incorreções comprometem a vida do consumidor? Terceira: será que a resistência, em relação às exigências lógicas da BEA, não decorrem da hegemonia do pensamento econômico de produção em escala? Eu também poderia ponderar com a conhecida fome de lucros”, enfatiza.

Para Carla, na discussão da viabilidade econômica do bem-estar, vale a pena discutir as possibilidades de se aumentar bem-estar e lucro em determinadas situações. “Quando fazemos treinamento de pessoal que transporta animais ao abatedouro, para que haja menos sofrimento animal por formas inadequadas de manejo, também diminuímos perdas de carne em quantidade e qualidade. Quando percebemos a intensidade e a duração do sofrimento enfrentado pelos animais por causa da altíssima densidade de lotação existente, por exemplo, na produção de frangos de corte, vemos que a única solução para tal problema é a diminuição desta densidade. Isto aumenta custos de produção”, exemplifica.

A professora acredita que uma maior transparência para a sociedade seja um componente importante da solução. “Será que a sociedade quer comprar um produto proveniente de um animal castrado sem anestesia? De uma porca que não pode nem se virar tal a restrição de espaço que ela enfrenta? Acredito que uma boa parte das pessoas não queira isso. Elas precisam saber o que acontece na produção animal”, questiona Carla. Vale lembrar que em 2007, a WSPA Brasil conduziu mil entrevistas presenciais com brasileiros maiores de 15 anos de idade sobre o tema. A maioria das pessoas entrevistadas (79%) acha que o tratamento de animais de produção no Brasil é importante e 74% acredita que o tratamento dado aos animais de produção no Brasil precisa ser melhorado.

Em geral, os setores ligados à produção agropecuária alegam que bem-estar animal ainda é um tema controverso, dada a dificuldade de medir cientificamente. “Embora haja verdade nesta afirmação, pois existem dificuldades para mensuração de bem-estar, o argumento é truncado. O fato de haver dificuldades não justifica ignorarmos deliberadamente nenhum assunto. Bem-estar animal tem por base uma preocupação genuína de não causar sofrimento ao outro, especialmente se o outro é menos forte ou está de alguma forma sujeito às nossas decisões, como é o caso dos animais. A tendência, à medida que as sociedades têm oportunidade de evoluir do ponto de vista ético, é que o assunto bem-estar animal ganhe cada vez mais espaço”, defende a professora Carla.

Ela também ressalta que a questão pontual mais importante é a formação de técnicos capacitados na área de bem-estar animal, pois zootecnistas e médicos veterinários, por exemplo, não têm o tema contemplado de forma adequada em suas formações. “Enquanto não tivermos recursos humanos, será difícil o desenvolvimento próativo, autônomo e eficiente das questões de bem-estar animal. Um dos maiores gargalos para este desenvolvimento é que ainda não superamos a fase da resistência, no ambiente produtivo e ainda também, muitas vezes, no ambiente acadêmico. Estamos perdendo oportunidades de melhorar a vida dos animais e de ganharmos vantagens competitivas no mercado de produtos de origem animal, pois o Brasil tem algumas características produtivas que intrinsecamente apresentam elevado potencial de bem-estar em várias cadeias produtivas”, comenta.

Luz enfatiza que as dificuldades são inversamente proporcionais à existência de equipes pluridisciplinares, quando das tomadas de decisão, ou seja: projetos de bem-estar animal. “Se apenas empresários e a visão econômica atuarem, a questão torna-se de fato impossível. Por outro lado, se profissionais das áreas de Medicina Veterinária, Ciências Biológicas, Engenharia Agronômica, por exemplo, forem chamados às formulações, prescrições científicas serão elaboradas, pois o saber acumulado responde às necessidades de atuação correta sobre o tema”, acredita.


Pontos fortes

Sulivan lembra que o sistema vertical de produção, característico da avicultura brasileira, beneficia muito a adoção de práticas de bem-estar, uma vez que por meio da parceria, empresa e produtor, as orientações técnicas são acessíveis a todos aqueles que criam os animais. “O país já possui vocação natural para a atividade, com condições naturais favoráveis ao bem-estar dos animais e estrutura que facilita a divulgação e aplicação de normas. Precisamos especialmente trabalhar mais em prol da conscientização e capacitação de pessoal”, acredita.

A professora Carla compartilha desta opinião. “O Brasil tem uma posição privilegiada quando pensamos em sistemas produtivos de alto grau de bem-estar animal. Que outro país tem área e condições ambientais para manter seus animais em sistemas com acesso ao ar livre durante 365 dias ao ano? Somos intrinsecamente beneficiados pela inserção de questões de bem-estar animal em qualquer negociação de produtos de origem animal. Só que ainda não nos demos conta disso, pois ainda não desenvolvemos a autonomia necessária ao país nesta área”. Para ela, é preciso demandar a consideração de bem-estar animal em todos os ambientes de mercado, se não por questões éticas (o ideal, segundo ela), no mínimo por questões pragmáticas.


Certificação de bem-estar animal

A Ecocert Brasil - que realiza a certificação voltada para o mercado interno, conhecida pela certificação para produção orgânica – firmou acordo com a Humane Farm Animal Care para concessão do selo Certified Humane Brasil de sem-estar animal. O selo, com referenciais privados, de aplicação voluntária, é baseado em normas que incluem uma nutrição equilibrada livre de antibióticos e hormônios, abrigos e áreas de repouso para os animais, e espaço adequado para manifestação do comportamento natural da espécie. Já estão disponíveis padrões para certificação de frangos de corte, bovinos de leite, galinhas poedeiras, ovelhas, perus, bovinos de corte e suínos.

Segundo Consuelo Pereira, responsável pela área de bem-estar animal da Ecocert Brasil, há empresas brasileiras com esta certificação há três anos e o número de empresas que buscam o selo vem aumentado. “Temos recebido muitas solicitações de produtores interessados em certificar suas produções. Também temos recebido muita consulta de consumidores interessados em adquirir produtos, carne, ovos e leite certificados”, conta.

A Fazenda São Marcelo, integrante do Grupo JD, em Mato Grosso, foi a primeira empresa brasileira a receber a certificação internacional da Ecocert Brasil. O Programa de Bem-Estar Animal é desenvolvido desde 2009. O gado é criado solto, com alimentação e controle de doenças feitos com o uso de homeopatia e fitoterapia a partir de plantas medicinais cultivadas na própria fazenda que tem, também, certificação orgânica. Outra diferenciação é o manejo do gado. Uma bandeira branca sinaliza e orienta o animal para o local e a direção correta, não sendo necessário o uso de instrumentos que causem dor no animal, como explica Daniel Watanabe, diretor comercial do Grupo JD. Cerca de 40 mil bovinos são criados ao ano.

Há, também o Sistema Intensivo de Suíno ao Ar Livre (Siscal), em que os suínos são criados em piquetes ao ar livre com ambiente similar ao natural. O pasto, rico em vitaminas e nutrientes, torna o animal mais resistente. “Como o animal vive em meio à natureza, no sol e não fica agrupado, as doenças não se espalham como ocorre com os animais criados em confinamento”, conta. Além disso, a carne possui maior quantidade de Ômega-3, substância que auxilia a reduzir os níveis de triglicérides e colesterol no sangue. São 1,5 matrizes que geram 33 mil animais ao ano.

Toda a produção abastece o mercado interno, principalmente a Rede Pão de Açúcar. Segundo Watanabe, o custo da produção não está sendo repassado ao consumidor. “É a filosofia de trabalho do grupo que não faz isso pensando no mercado”, ressalta. Ele destaca que as pesquisas de mercado têm demosntrado um público mais preocupado com as questões de uma alimentação de qualidade, por isso aberto às questões de bem-estar animal.

A Unidade Produtora de Pintainhos da Cooperativa Agroindustrial Lar em Vila Celeste, Santa Helena, Paraná, inaugurada em maio, contempla princípios de bem-estar animal, de acordo com o gerente, Sérgio Luiz Lenz. Neste novo empreendimento são 450 mil matrizes, 9 milhões de ovos incubados aos mês, totalizando 7,5 milhões de pintainhos. Lenz ressalta que devido às normas para exportação, o tema já foi inserido no processo de produção, com funcionários capacitados para atuar dentro das normas de bem-estar animal. Parte da produção de frangos é exportado para 14 países, para empresas como o Grupo Mc Donald's, que exige densidade de 40 quilos por metro quadrado, por exemplo. “O bem-estar animal é tratado desde a temperatura, a ambiência, a densidade de aves. Elas não ficam em gaiolas, mas em ninhos de madeira e puleiros, soltas nos galpões, ciscando. Não tem confinamento”, explica.

As Cinco Liberdades de bem-estar animal:

- Livre de sede, fome e má-nutrição;
- Livre de desconforto;
- Livre de dor, injúria e doença;
- Livre para expressar seu comportamento normal;
- Livre de medo e diestresse (estresse negativo, intenso, causa de sofrimento)

Fonte: WSPA Brasil



Destaques:

“As empresas exportadoras já estão acostumadas com normas de bem-estar animal, e o fizeram antes da força legislativa. Muitas empresas cumprem exigências de clientes europeus, mesmo antes das diretivas europeias. Isso logicamente influencia na conduta da empresa para sua produção para outros mercados, inclusive o interno”, ressalta Sulivan Alves, coordenadora técnica da Ubabef

As principais discussões sobre bem-estar animal então focadas na criação confinada e nos procedimentos pré-abate como privação de água e ração, fraturas na apanha, transporte, condições da espera e insensibilização.


Matéria divulgada originalmente na edição 23 da revista Geração Sustentável - Criselli Montipó

Acesse aqui a entrevista, na íntegra, concedida pelo Biólogo Gastão Octávio Franco da Luz, sobre bem-estar animal para a edição 23 da Revista Geração Sustentável


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2 comentários:

  1. Um dia quem vai virar a caça, seremos nós

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  2. eu amo animais e tenho vontade de matar os caçadores rs
    e os insetos tambem gosto muito

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