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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Matéria de Capa da Edição 23: Tratamentos de Efluentes

EFLUENTES NA NOVA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS

Evoluímos na área industrial, mas não tratamos a maior parte do nosso esgoto doméstico que contamina e gera um grande passivo ambiental.

Fazer a gestão ambiental e mostrar a sociedade que sua indústria ou empresa é sustentável, que não causa nenhum dano ao meio ambiente e principalmente trata seus efluentes de forma correta, para muitos empresários era uma tarefa árdua e considerada cara há alguns anos. Este panorama vem mudando, novas tecnologias surgindo e se tornaram mais baratas e finalmente depois de 20 anos o Brasil aprovou a Nova Política Nacional de Resíduos.

Para Dorivaldo Domingues de Souza, diretor da Ambisol – Soluções Ambientais, empresa especializada no tratamento de efluentes, a Lei 12.305 que institui a nova política, vai ajudar ainda mais o avanço no tratamento de efluentes no país, assim como na gestão dos resíduos e consequentemente no impacto que as indústrias têm no meio ambiente. “A lei vem juntar-se a normas e resoluções já vigentes, que já vinham funcionando bem e certamente muitos geradores mudarão suas posturas quanto ao tratamento dos efluentes, porque as multas serão altas para quem desobedecer“, alerta o diretor.

Além da legislação agora vigente existe uma consciência ambiental crescente nas indústrias. Efluentes líquidos que sempre foram considerados um problema sério, estão tendo seu tratamento cada vez mais eficiente, para que as empresas possam reutilizam a água tratada em seus processos. Na área industrial há um aumento significativo do tratamento de água pelo custo e pela necessidade de usar esse recurso de forma responsável, pontua o Dorivaldo. “Temos uma boa conscientização das indústrias para evitar poluir e consumir em excesso esse bem, além disso, o tratamento de água de efluentes e sua reutilização já são programas obrigatórios em grandes empresas”, completa.

Já para o Giuliano Moretti, diretor da Preserva Ambiental Consultoria, este ano é de adaptação a nova política, onde a sociedade organizada vem discutindo se mobilizando para que a nova legislação seja cumprida. “Esta discussão faz com que o tratamento de efluentes ganhe destaque, acredito que vai ajudar na mudança de cultura no setor empresarial, onde ainda se vê a questão ambiental como gasto e não como investimento que beneficie todos”. Infelizmente hoje ainda muitas empresas somente realizam estes investimentos por sanções impostas, quando são multadas, quando precisam renovar suas licenças ambientais ou quando o mercado força a mudança. Muitas redes de varejos têm uma gestão ambiental que atinge sua cadeia de fornecedores, para isso há necessidade de adequação para poder vender seus produtos, ainda não temos uma mudança voluntária na maioria das empresas, destaca o Moretti.

Medidas simples nas indústrias como a correta destinação do esgoto, que em muitas está ligada a rede fluvial, muitas vezes somente são tomadas pelos empresários quando a fiscalização bate a sua porta. É uma mudança de cultura, que a nova lei vai ajudar que isso aconteça, já que as multas podem ser pesadas, acrescenta o diretor da Preserva. “Não sai barato criar uma rede de tratamento de efluentes própria, ainda os empresários pensam no valor final e não nos benefícios ambientais e econômicos que terá, mas as mudanças estão ocorrendo, de forma lenta, mais avançando”, salienta.

Apesar de muitos ainda acharem que podem burlar a lei, a relação da indústria com os recursos naturais, principalmente os hídricos tem mudado. O uso racional da água nos dias de hoje é prioridade para as empresas que buscam competitividade e sustentabilidade em seus mercados, por isso tratar os efluentes é sinal de redução de custos e ganhos ambientais. Incentivadas por razões econômicas também, inúmeras empresas passaram a conduzir programas de gestão dos recursos hídricos, implementando projetos de reuso, redução de perdas e racionalização do uso, obtendo reduções expressivas do consumo de água e dos lançamentos de efluentes ao meio ambiente. Na maior parte dos casos, as economias anuais geradas por esses projetos superam os valores totais investidos, relata o diretor da Ambisol Dorivaldo.

A lei também reforça a visão com relação à sustentabilidade, tratamento adequado de efluentes e o crescimento sustentável passam a ser muito mais do que um mero conceito, passa por ações reais, isso tem se tornado uma alavanca importante de negócios. Fatores ambientais passam a ter papel fundamental nesse tipo de decisão, então, essa redução de impacto ambiental dos efluentes passa a fazer sentido comercial e o tratamento dos efluentes é prioritário, acredita Dorivaldo.

“Apesar de o Brasil contar agora com ótimas leis e tecnologias cada vez mais baratas e diversificadas, a falta de fiscalização abre caminhos para que infratores ambientais não sejam punidos, principalmente em cidades menores, onde ainda muitos efluentes são jogados nos rios e córregos contaminando o meio ambiente e água que consumimos“, alerta.

Desde os anos 80 o Brasil começou a pensar como tratar seus efluentes e a partir dos anos 90 a legislação que normatiza o setor começou a ser aplicada, aos poucos as indústrias foram de adequando, buscando as certificações como ISO 14001 (ambiental), criando suas próprias áreas de tratamento dos efluentes e algumas destinando para empresas menores, diz o diretor da Ambisol.

A busca por alternativas para tratamento de efluentes e geração de energias renováveis fez a indústria cimenteira, que era a grande “vilã” da poluição, inovar e criar novas tecnologias. Hoje as cimenteiras recebem resíduos de efluentes de outras empresas, que são queimados em fornos e geram energia para fabricação de cimento. O coprocessamento é a operação de reaproveitamento e destinação final, em uma única operação de queima de resíduos industriais com características físico-químicas compatíveis ao processo de produção de clínquer, em fornos rotativos da indústria cimenteira. Enquanto eficiente, seguro e econômico processo de tratamento e reciclagem de resíduos está ocorrendo, através da utilização destes efluentes e resíduos como combustíveis alternativos ou substitutos de matérias-primas, um produto econômico importante está sendo produzido, o cimento. “As indústrias de cimento se organizaram, através da parceria e transferência de tecnologia hoje acabam ajudando outras empresas a tratarem seus efluentes”. Isso gera uma economia de recursos não renováveis (combustíveis fósseis e recursos naturais), reduz as emissões atmosféricas e a destinação dos resíduos de forma segura e definitiva.

Empresas, como a Processa em Colombo/PR, têm papel importante no tratamento de efluentes, porque ela armazena e destina para muitas empresas o mesmo, de forma a garantir que todo o processo seja eficiente. “Levamos muitos efluentes de clientes para a indústria cimenteira, o que possibilita que muitas empresas deem destinos eficientes e não levam mais aos aterros indústrias controlados, o que é muito benéfico” fala Wagner Piz, gerente comercial da Processa.

Além da nova legislação, a população vem tenho tem papel decisivo na fiscalização das empresas e hoje com as redes sociais rapidamente a propaganda negativa dos danos ambientais de efluentes não tratados se espalha pela rede e a imagem da empresa é prejudicada, o que ajuda na conscientização dos empresários, conclui Moretti.


COMO TRATAMOS OS EFLUENTES

Para tratar efluentes no Brasil os empresários contam com várias possibilidades, mas existe muito a ser feito, pesquisas que melhorem os processos e diminuam seus custos. Parcerias com instituições de ensino, com investimento da indústria para incentivar tecnologias cada vez melhores, possibilitaram que o tratamento de efluente melhorasse no país, entre elas está o avanço na área laboratorial.

Para comprovar a eficácia dos tratamentos dos efluentes, exames laboratoriais são importantes e dão segurança que as empresas destinem ou reaproveitarem de maneira segura. Servem para verificar a eficácia do tratamento e os requisitos legais das normas para o descarte de efluentes. Tecnologias modernas como a espectrofotometria, gravimetria, titulometria, cromatografia, espectrofotometria de absorção atômica e ecotoxicologia ajudam as empresas na comprovação da qualidade do tratamento de seus efluentes, fala Silvia Mara Haluch, química do laboratório de análises ambientais Teclab. “Precisamos que o governo olhe para as empresas como geradoras de empregos e renda e ajude com investimento para que tanto instituições de ensino como as próprias empresas possam melhorar o tratamento dos efluentes e diminuam os impactos ambientais” alerta a química.



Conheça algumas formas de tratamento de efluentes

Para efluentes líquidos existem tratamentos físico-químicos (inorgânicos e biológicos para orgânicos, grandes empresas já têm suas próprias ETEs (estação de tratamento de efluentes). É importante destacar que o tratamento dos efluentes pode variar muito dependendo do tipo de efluente tratado e da classificação do corpo de água que irá receber esse efluente, de acordo com a Resolução CONAMA 20/86. Quanto ao tipo, o esgoto industrial costuma ser mais difícil e caro de tratar devido à grande quantidade de produtos químicos presentes.

Quanto à classificação, o efluente deve ser devolvido ao rio tão limpo ou mais limpo do ele próprio, de forma que não altere suas características físicas, químicas e biológicas. Em alguns casos, como por exemplo, quando a bacia hidrográfica está classificada como sendo de classe especial, nenhum tipo de efluente pode ser jogado ali, mesmo que tratado. Isso porque esse tipo de classe se refere aos corpos de água usados para abastecimento.

Para efluentes gasosos são usados filtros (são lavados com química adequada) e sólidos são destinados a aterros controlados, muitos são levados para as cimenteiras onde são incenerados em fornos de clínquer e geram energia.



Processos Tratamentos Efluentes

Processos Químicos: Métodos de tratamento nos quais a remoção ou conversão de contaminantes ocorre pela adição de produtos químicos ou devido a reações químicas.

Processos Físicos: Método de tratamento nos qual predomina a aplicação de forças físicas (ex: gradeamento, filtração).

Processos Físico-Químicos: Método de trabalho no qual se faz uma "junção" dos processos físicos e químicos citados anteriormente.

Processo Biológico: Métodos de tratamento nos quais a remoção de contaminantes ocorre por meio de atividade biológica (ex: desnitrificação, remoção de matéria orgânica carbonácea). Os processos biológicos podem ser divididos em anaeróbios (ocorrem na presença de O2) e anaeróbios (ocorrem na ausência de O2), cada qual com suas peculiaridades, oferecendo isoladamente maior ou menor eficácia dependendo da caracterização do efluente a ser tratado.



EFLUENTES GERADOS POR NÓS E NÃO TRATADOS NO BRASIL

Quando falamos de efluentes, logo vem a nossa mente as grandes indústrias despejando nos rios, não lembramos que o esgoto doméstico que geramos na maioria dos casos é jogado na natureza sem ser tratado. Grande parte da população brasileira está longe de ter acesso pleno ao sistema de saneamento básico. Um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em 2008, 32 milhões de domicílios no país - ou 56% do total - não tinham ligação com a rede de esgoto. Em relação aos municípios, a situação também é preocupante: há dois anos, quase metade (44,8%) das cidades brasileiras não tinham acesso à rede geral de esgoto. São 34,8 milhões de pessoas - 18% da população - viviam em cidades em que não havia nenhum tipo de rede coletora de esgoto. Os dados de tratamento de esgoto também são preocupantes: apenas 28,5% dos municípios em 2008 possuíam tratamento, ante 20,2% em 2000.

O volume de efluente despejado na natureza é gigantesco e preocupante, enquanto a iniciativa privada vem avançado, o setor público ainda tem muito trabalho pela frente. Não somente o esgoto como a água tratada gera efluente. “A água para ser levada as nossas casas, depois de tratada gera lodo contaminado que na maioria das vezes é jogado de novo nos rios sem tratamento ocasionando contaminação uma temática que deveria ser discutida”. “Não sabemos a água que tomamos”, alerta o diretor da Ambisol.

Além do esgoto doméstico temos os efluentes gerados em milhares de cemitérios espalhados pelo Brasil, que contaminam os lençóis freáticos em todas as cidades, ressalta Dorivaldo. ”Temos que começar a pensar nisso e planejar cemitérios, onde seu efluente seja coletado a tratado”, incentiva. Este tema é difícil porque mexe com os sentimentos das pessoas, mas tem que ser questionado, inclusive a cremação, quando feita sem devidos cuidados ambientais gera um efluente gasoso que polui, alerta Dorivaldo.

A localização e operação inadequadas de cemitérios em meios urbanos podem ocasionar a contaminação de mananciais hídricos por microrganismos que proliferam no processo de decomposição dos corpos. Caso o aquífero freático seja contaminado na área interna do cemitério, tal contaminação poderá fluir às regiões próximas, aumentando, assim, o risco de saúde na população que utilizar desta água captada através de poços rasos. Uma das maiores preocupações dos ambientalistas é sobre o necrochorume – líquido que é liberado pelos corpos em decomposição. Apenas para ilustrar: um corpo em decomposição pode liberar cerca de 30 litros de necrochorume-composto basicamente de água, sais minerais e substâncias orgânicas biodegradáveis, como a putrescina – em um período de seis meses (fonte: Livro A ameaça dos Mortos).


Destaques:

“A Lei Nacional de Resíduos vem juntar-se a normas e resoluções já vigentes, que já vinham funcionando bem e certamente muitos geradores mudarão suas posturas quanto ao tratamento dos efluentes, porque as multas serão altas para quem desobedecer“, Dorivaldo Domingues de Souza, da Ambisol Soluções Ambientais

“Não sai barato criar uma rede de tratamento de efluentes própria, ainda os empresários pensam no valor final e não nos benefícios ambientais e econômicos que terá, mas as mudanças estão ocorrendo, de forma lenta, mais avançando”, Giuliano Moretti, da Preserva Ambiental Consultoria



**Matéria publicada originalmente na edição 23 da revista Geração Sustentável - Jornalista: Tania Kamienski

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