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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Visão Sustentável - Edição 34 - Gesso reciclado vira fertilizante para agricultura

Tecnologia patenteada por empresa paranaense garante destinação correta do resíduo da construção civil


Jornalista: Bruna Robassa

Em vez de prejudicar o meio ambiente com a contaminação dos solos e dos lençóis freáticos, algo que é causado quando há o despejo dos resíduos de gesso em aterros, esses detritos da construção civil podem ser utilizados para deixar as terras mais férteis e saudáveis. A transformação do gesso em fertilizante só é possível devido à tecnologia e logística utilizada por duas empresas paranaenses preocupadas com a destinação ambientalmente correta do rejeito. Motivados pela modificação na legislação e movidos pela oportunidade, esses profissionais buscaram conhecimento para reaproveitar o que antes era descartado.

Originário das regiões Norte e Nordeste, o gesso é um mineral que vem sendo cada vez mais utilizado no rebaixamento de tetos, em forros, sancas, molduras ou na composição de divisórias drywall (gesso acartonado). Dados da Associação Brasileira do Drywall apontam que a utilização desse sistema no mercado brasileiro continua crescendo acima dos índices de expansão da construção civil. No período de janeiro a março de 2013, em comparação com o mesmo período de 2012, foi registrada alta de 13,5% no consumo de chapas de drywall, principal indicador de desempenho do segmento, somando 10,4 milhões de m2.

Graças à resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, desde 2011 o gesso faz parte da classe B de resíduos e por isso sua reciclagem é obrigatória. Tal resolução foi na mesma direção da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Principal impactado pela mudança, o setor da construção civil, ainda está se adaptando às novas normas.

Pela logística reversa, o rejeito de  gesso (pedra de gipsita) do Norte e Nordeste deveria retornar para o local onde foi extraído, mas essa é uma opção inviável, visto que o valor do frete para percorrer os cerca de três mil quilômetros, a partir da capital paranaense, não é viável. Mais um motivo que fortalece a necessidade de reciclagem. Mas, afinal, quem é o responsável pela correta destinação do resíduo? Segundo a PNRS, todos os envolvidos na cadeia. O gerador, o construtor, o consumidor, todos têm a sua parcela de participação, o que é chamado de responsabilidade solidária ou corresponsabilidade.

Apesar da obrigatoriedade, a falta de informação, conscientização e fiscalização ainda permite que 90% dos resíduos de gesso gerados na construção civil sejam destinados para aterros clandestinos ou industriais. O descarte incorreto traz sérios problemas ambientais, como contaminação do solo e dos lençóis freáticos.


Responsabilidade

No Município de Curitiba, desde 2004, para que obras  sejam aprovadas pela Prefeitura e pela Secretaria do Meio Ambiente, obtendo assim o Certificado de Vistoria e Conclusão de Obra (CVCO), antigo habite-se, o construtor precisa apresentar uma série de documentos, entre eles um plano que comprove a destinação correta dos resíduos gerados no empreendimento.

“Algumas grandes construtoras já estão adaptadas, mas ainda recebemos apenas 10% de todo o material gerado em Curitiba e Região Metropolitana”, explica Odair Sanches, advogado, engenheiro agrônomo e um dos sócios da OK Ambiental, que, junto a uma empresa parceira, recebe, separa e recicla o gesso proveniente das construções e reformas.
A empresa está em funcionamento há pouco mais de seis meses. Em sua sede, recebe por mês cerca de  100 toneladas de gesso e destina para a transformação em fertilizante.

“Estamos amparados legal e tecnicamente para esse tipo de reciclagem. O gesso é recebido em uma Área de Transbordo e Triagem (ATT), onde passa por um processo de separação/limpeza/preparação e adequação para só depois ser encaminhado para a reciclagem que é feita pela Caliça Engenharia Ambiental. A capacidade de operação das empresas é de 2 mil toneladas por mês”.

“A lei deve ser cumprida, a sociedade não mais tolera desmandos com a natureza, as empresas devem ter responsabilidade socioambiental. Quanto mais reciclamos esse material menos retiramos matéria-prima da natureza. Os recursos naturais são finitos”, lembra Sanches.

Tecnologia

O engenheiro e diretor comercial da Caliça, Fauáz Abdul-Hak, buscou inspiração na Europa, onde, segundo ele, já existe grande preocupação na reciclagem desse minério. Lá o material reciclado é novamente incorporado ao gesso puro. A empresa é única detentora dessa tecnologia patenteada no Brasil, que pode transformar em fertilizante tanto o gesso puro como o drywall. O importante é que quando o material entra nas máquinas para a transformação ele esteja livre de outros resíduos de obra, trabalho que é realizado na ATT da OK Ambiental.

“Quando o resto de gesso sai da obra, ele é um resíduo, após a reciclagem torna-se novamente um minério, o sulfato de cálcio, que, por conter cálcio e enxofre em sua composição, é a matéria-prima ideal para produção de fertilizante”, explica. O produto final já é regularmente comercializado e tem autorização do Ministério da Agricultura e certificação internacional.

Além de fertilizante, o pó originado da reciclagem poderia voltar a ser gesso, mas o custo por enquanto não compensa.

Descarte ilegal

Segundo explica Theodoro Lipinski Neto, também diretor da OK Ambiental, para que um construtor possa descartar o gesso na ATT é preciso que tenha todas as licenças ambientais exigidas pela prefeitura para realização da obra ou reforma. “É feito um contrato para descarte, e com isso os resíduos deixam de ser enviados para aterros”, ressalta.

Para Abdul-Hak, o custo dessa operação não deve ser visto como um empecilho, já que o descarte incorreto gera custos e torna a obra e o profissional ilegais. “Além de contaminar o solo e os lençóis freáticos, o descarte em aterros clandestinos incentiva a invasão e gera um ciclo vicioso prejudicial para toda a sociedade”, destaca. Segundo ele, o construtor já paga e paga mal pelo destino incorreto.

O gesso absorve muita água e, por isso, quando descartado incorretamente se acumula em córregos e traz graves consequências. Na reciclagem, o resíduo de gesso pode ser 100% aproveitado, e o resultado é mais barato que o gesso virgem, podendo ser utilizado praticamente da mesma forma.

Consciência

A consciência ainda na obra, com a separação dos resíduos tanto por parte do gesseiro quanto do instalador de drywall, facilita e otimiza a reciclagem, já que o custo para descarte do material limpo é mais baixo, do que quando o gesso vem misturado com outros resíduos de obras. “Além de deixar de prejudicar o meio ambiente e de preservar os recursos naturais, que são finitos, quem faz a destinação correta do gesso ainda está gerando valor agregado para o produto que se transforma em fertilizante”, ressalta Sanches.

Certificação

Ao ser enviado para a OK Ambiental, o construtor recebe a documentação necessária para a comprovação correta de destinação do resíduo. “O Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR) é chancelado, recebe um selo antifraude e o Certificado de Recepção de Resíduos (CRR). Posteriormente, a Caliça Engenharia Ambiental emite um Laudo de Destinação. Fecha-se, assim, o ciclo de sustentabilidade”. explica Sanches.

Tecnologia móvel

O aparelho utilizado para reciclar o gesso é móvel. “Nós temos o resíduo e temos a tecnologia para transformá-lo novamente em matéria-prima. O que falta é cumprir a legislação. A mudança de mentalidade e de atitude infelizmente só vai acontecer se as autoridades fizerem a parte delas e se os construtores tiverem consciência. Quem for esperto. vai sair à frente”, orienta Lipinski.

Os idealizadores do processo de reciclagem mostram resíduos de gesso antes da transformação


Dados 
- As regiões Sul e Sudeste concentram o maior volume de consumo do sistema drywall, respondendo por 80%;
- Cerca de 3% das placas de drywall e de 20% a 25% do produto comprado para fazer rebaixamentos e sancas de gesso viram rejeitos;
- 100 toneladas de gesso ao mês já são recicladas em Curitiba

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Veja outros conteúdos dessa edição:


Matérias:

 - Capa: Sustentabilidade além da matéria-prima
 - Entrevista: Lourival dos Santos e Souza
 - Responsabilidade Social Corporativa: Educando na Sustentabilidade
 - Desenvolvimento Local: Eficiência Energética no WTC

Artigos:
- Artigo: O sonho acabou? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Oportunidade e realização (Rafael Giuliano)
- Artigo: O mito do PIB (Daniel Thá)
- Artigo: Água: A crise e a inércia política global (Hugo Weber Jr)
  
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2 comentários:

  1. Visão Sustentável: Resíduo de gesso vira Bloco para construção de casas
    De cada 15 ton.do resíduo de gesso serão duas casas no lixo, estamos com PATENTES pelo INPI, explore esta ideia, site www.jpreciclagemdegesso.com.br

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  2. nossa que bom , consciência pode ser a saida para ter um pais bom para todos !

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