----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Artigo Gestão Sustentável - Jerônimo Mendes

O SONHO ACABOU?



Há pouco tempo escrevi um artigo para esta mesma coluna com o título Brasil: emergente para sempre? O artigo fazia referência ao editorial da Revista The Economist, publicado em 12.11.2009, no qual o Brasil foi elogiado de maneira efusiva pela condução da política econômica durante o Governo “Lula” e, na sequência, pelo Governo Dilma.
O mesmo editorial afirmava que o maior risco para o grande sucesso da América Latina era a prepotência dos seus governantes, empolgados com o crescimento econômico, mesmo sem atentar para as bases do desenvolvimento. Trata-se de uma política bem mais populista e protecionista do que econômica, diziam os autores.
Em 2011, dois anos depois, o mesmo editorial colocou em xeque o crescimento sustentado dos quatro países do BRIC ao compará-lo com o de países como Cingapura, Malásia, Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong, os únicos que conseguiram sustentar bons índices por quatro décadas seguidas.
Na edição de julho, novamente, dois anos depois, a capa da revista britânica traz uma avaliação negativa sobre a economia no bloco dos chamados BRIC, composto por Brasil, Rússia, Índia e China. A revista mostra uma ilustração com atletas dos quatro países afundando na lama e o lamentável título “A grande desaceleração”, em que o Brasil aparece como o mais afundado.
Segundo o editorial, publicado na edição de 26.07.2013, após uma década de forte crescimento, durante a qual os países emergentes ajudaram a impulsionar a economia mundial e a segurar os efeitos da crise econômica, eles dão os primeiros sinais de que a recuperação pode estar perdendo o fôlego.
A China terá sorte se conseguir gerenciar a economia para alcançar uma taxa de crescimento em torno de 7,5%. Na Índia, com 5%, e no Brasil e na Rússia, ambos com 2,5%, o crescimento não representa metade do que foi alcançado durante o boom da economia antes da crise instalada a partir de 2008.
A grande desaceleração dos BRIC representa o fim do sonho de posicionamento dos países emergentes no Primeiro Mundo? Seremos emergentes para sempre! Segundo a The Economist, sem uma recuperação econômica mais forte na América, principalmente, nos Estados Unidos, e no Japão, aliada a uma renovação na Zona do Euro, o crescimento da economia mundial não deverá ultrapassar a 3%. Dessa forma, as coisas tendem a caminhar vagarosamente.
Em relação ao Brasil, há um longo caminho pela frente. Torço para que o país não tenha perdido o bonde da história. Não se trata de exaltar os problemas, mas de fazer uma profunda reflexão a respeito do que precisamos e do tipo de governantes que devemos eleger para conduzir o futuro do país.
É inegável o fato de que a economia do país acelerou nos últimos dez anos com a estabilização da moeda, exportação das commodities e o crescimento do consumo interno incentivado pelo impulso ao crédito. Contudo, indiferente ao primeiro alerta da revista em 2009, o Governo se descuidou das bases do desenvolvimento.
Infelizmente, a inflação cada vez mais presente no cotidiano do país, combinada com a desaceleração do crescimento e a visível ausência da infraestrutura, demonstra que o fôlego da expansão é bem mais lento do que a gente pensava.

Por fim, em vez de críticas e depoimentos exaltados contra o editorial da revista, como aconteceu nas duas edições anteriores, está mais do que na hora de os governantes olharem para o próprio umbigo e lembrarem-se de que uma nação é construída com muito mais ações do que palavras. Quando o corporativismo predomina, o sonho da maioria termina.
Jerônimo Mendes - Administrador, Coach, Empreendedor, Escritor e Palestrante. Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE

Nenhum comentário:

Postar um comentário