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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Responsabilidade Social Corporativa - Edição 34 - Educando na sustentabilidade

Instituições de ensino superior do Paraná são destaque na preparação de universitários e profissionais para os desafios do mercado de trabalho


Jornalista: Bruna Robassa

Minimizar os impactos ambientais, comprar matérias-primas, produzir e distribuir de forma sustentável, ter capacidade de liderança e de superar desafios, inovar e trazer soluções rápidas aos problemas são apenas algumas das aptidões exigidas dos profissionais que almejam posições de destaque no mercado de trabalho. Para isso, é essencial que contem com uma educação alinhada a essas novas tendências.

No Paraná e, em especial pelo Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), busca-se desenvolver projetos que envolvam o setor empresarial, a sociedade civil e organismos de governo com o objetivo de promover a educação em suas diversas frentes em prol da sustentabilidade.

Com o objetivo de sensibilizar as instituições a respeito da sustentabilidade nas estratégias de ensino, foi criado Movimento Paraná Educando na Sustentabilidade que nasceu como resultado de toda uma reflexão que teve início a partir de 2006 quando foi criado o Núcleo das Instituições de Ensino Superior pelo CPCE. “Entre os objetivos do Movimento está a necessidade de ampliar as discussões e práticas sobre o tema da sustentabilidade nas suas diferentes dimensões, levar as instituições de ensino a serem signatárias do Pacto Global e ou dos Princípios para a Educação em Gestão Responsável (PRME) e engajar seu corpo docente, discente e funcionários em tais metas, valores e princípios”, resume o professor Nilson Izaias Pegorini, coordenador do Núcleo das Instituições de Ensino Superior no CPCE.

Para embasar o movimento, estão sendo seguidos os Princípios para a Educação em Gestão Responsável (PRME na definição em inglês), braço do Pacto Global específico para instituições de ensino superior incluírem a sustentabilidade no plano pedagógico, preparando, assim, os universitários para o mercado de trabalho em empresas que exigem esse pensamento diferenciado.

“Ou seja, o Movimento está em sinergia com os princípios, a partir do momento em que possui um propósito claro com relação à sustentabilidade, facilita o diálogo, estimula as parcerias, engaja-se com a promoção de pesquisas, estabelece um método para a promoção do desenvolvimento sustentável e inspira a adoção de novos valores”, explica Pegorini.

 

 

Força do Paraná

 

A rede brasileira do PRME conta com 20 instituições signatárias, das quais 11 são instituições de ensino do Paraná. ”Isso demonstra o compromisso regional com a construção de um futuro mais bem lastreado nos valores e princípios da sustentabilidade”, diz Norman de Paula Arruda Filho, presidente do ISAE/FGV, membro da diretoria do Comitê Brasileiro do Pacto Global, um dos mobilizadores dos Princípios para Educação Empresarial Responsável da ONU no Brasil, e professor do Mestrado Profissional em Governança e Sustentabilidade do ISAE.

O PRME é um conjunto de diretrizes para instituições que compartilham da visão sobre a importância de desenvolver líderes responsáveis. “Assim, cada Instituição desenvolve seu plano de implantação, de acordo com a sua estrutura, cultura e realidade. E isso é extremamente positivo, uma vez que, dessa forma, contamos com um leque enorme de boas práticas voltadas para a sustentabilidade corporativa tendo a educação como um vetor dentro desse cenário”, diz o presidente do ISAE/FGV, instituição que é signatária do PRME desde seu início em 2007.
“O PRME é um dos protocolos que, por meio de seus princípios e de seus mecanismos de articulação entre as instituições signatárias inspiram e impulsionam o Movimento. Diríamos que o PRME, e com ele a Carta da Terra, são como a espiritualidade, a mística ou a base de valores, de ideias e princípios que mantêm e nutre o Movimento Paraná Educando na Sustentabilidade”, ressalta Pegorini.


Diferenciais

Instituições de Ensino Superior signatárias desse movimento têm como motivadores a inquietação e a insatisfação. Mesmo estando ainda presas e dependentes de um modelo de pensar, de produzir e viver pouco sustentável, estão abertas e dispostas a um novo horizonte, a um novo paradigma.

Reconhecimento no mercado, que cada vez mais vai se alinhando aos princípios e valores que estão sendo construídos globalmente, a articulação e o diálogo com uma rede de instituições que perseguem os mesmos valores e princípios, o reconhecimento da comunidade por estar contribuindo na construção de um mundo mais justo e sustentável estão entre vantagens ou diferenciais de uma instituição signatária ao PRME. “Profissionais formados com base nesses valores e princípios estarão mais aptos à inovação e de se alinharem ao mercado global em transformação”, destaca Pegorini.

Para Arruda Filho, os grandes benefícios da adesão ao PRME são a possibilidade de agregar mais valor aos produtos da organização, melhorar a reputação institucional, atrair melhores parcerias e oportunidades de negócio, assegurar a competitividade e sobrevivência em longo prazo, ter acesso à rede internacional, eventos, pesquisas e estudos sobre o tema, e o relacionamento com uma rede global de instituições que possuem experiências e informações valiosas para serem trocadas.


Capacitação

Para educar o aluno é preciso que o professor esteja capacitado, por isso o Movimento já realizou cursos de capacitação e teve a aula inaugural com Leonardo Boff e com a participação do Presidente do CPCE, Victor Barbosa. A professora Mari Regina Anastácio, coordenadora do Núcleo de Projetos Comunitários da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) foi coordenadora pedagógica da proposta, onde constavam os princípios fundamentais daquilo que ela acredita ser uma efetiva educação voltada à sustentabilidade.

Segundo ela, deveria ser um dever das instituições educacionais estarem preocupadas com o tema e direcionarem suas reflexões a ações nesse sentido, uma vez que elas estão formando as mentes e os corações que guiarão o nosso futuro. “Não é novidade que estamos vivendo, na condição de espécie, a maior crise da nossa história. E esse tema não pode estar fora do cenário educacional. Todavia, ressalto que em grande parte, as próprias instituições educacionais não têm clareza do seu significado efetivo e consequentemente de sua amplitude”, reflete.

A professora entende que sustentabilidade vai além dos aspectos sociais, ambientais e econômicos. “Envolve aspectos culturais, éticos e por que não dizer espiritualidade, entre outros. Além do que não é possível trabalhar educação na sustentabilidade sem trabalhar educação integral. Meu sonho é que pessoas e instituições compreendam a abrangência do que vem a ser esse tipo de educação a tal ponto que se torne algo tão incorporado que não precise constar como uma diretriz curricular explícita”, diz.


União de esforços

Sob o ponto de vista dos princípios do Pacto Global, as instituições signatárias ao PRME deixam de ser concorrentes para serem parceiras no mesmo objetivo. É o que pensa Arruda Filho. “Nesse momento, deixamos de ser concorrentes e nos tornamos uma rede em prol do mesmo objetivo. Prova disso são os constantes encontros para troca de ideias e experiências sobre conquistas e dificuldades na sensibilização diária de estudantes e professores, que realizamos com instituições muitas vezes consideradas nossas concorrentes diretas”, defende.


Cases

Como forma de reunir as melhores iniciativas educacionais voltadas para a promoção da sustentabilidade, o PRME lança a cada dois anos o “PRME Inspirational Guide”. Os cases publicados no documento são selecionados entre as melhores práticas da rede global de signatários do PRME. A primeira versão do guia foi lançado na Rio+20.

Considerado um dos cases de sucesso do PRME e percussores também do Movimento, a UniBrasil conseguiu engajar os alunos sobre a importância do programa. Mais de 25 trabalhos de conclusão de curso, envolvendo cerca de 100 alunos foram realizados tendo a sustentabilidade como elemento basilar da pesquisa. Questionado sobre a instituição ser referência no projeto, o professor coordenador do curso de Economia, Claudio Marlus Skora, citou a resposta dada por uma aluna quando submetida à mesma questão: “Por que a UniBrasil buscou a adesão aos princípios junto à ONU após comprovar que eles foram internalizados por nossos professores e alunos. Não é marketing professor, é atitude”.

Segundo Skora, aderir às iniciativas da ONU possibilita a uma instituição de ensino superior um diferencial competitivo devido ao reconhecimento no mercado que considera a sustentabilidade um valor inexorável na formação de gestores. “Ainda, há troca de experiências por meio do contato com a rede global que trabalha a educação voltada para a sustentabilidade corporativa e, o objetivo maior, o legado na construção de um futuro suportado por bases mais sustentáveis”, diz.

A Unibrasil participa do Movimento Paraná Educando na Sustentabilidade desde 2009, quando puderam conhecer os princípios do PRME, que foram incorporados às ações que eram desenvolvidas desde 2007. Como forma de aplicar o conhecimento na matriz curricular, a instituição passou a incorporar as disciplinas de Responsabilidade Social, Sustentabilidade e de Governança Corporativa. “Após, nas demais disciplinas, os docentes passaram a abordar a sustentabilidade como uma preocupação cotidiana dos gestores. Em marketing, aborda-se o marketing verde; em Recursos Humanos discute-se a diversidade no ambiente de trabalho; em Administração da Produção enfoca-se na logística reversa, para citar alguns exemplos”, conta o coordenador.

Cada instituição pode aplicar os critérios do PRME de acordo com sua forma de gestão e realidade. “Sabemos que esse é um processo lento e gradual e que não depende apenas das IES. Elas são formadas de pessoas, que têm uma cultura e que atuam em empresas, em indústrias, em comunidades cuja cultura é ainda pouco sustentável. A mudança será fruto da implementação de projetos maiores com impactos também maiores e será fruto também das pequenas mudanças de atitude das pessoas em níveis individual, familiar, comunitário e coletivo”, explica Pegorini.


Aproximação com a indústria

A aproximação das universidades com a indústria é uma das maneiras para que os universitários estejam preparados para os desafios que estão sendo propostos. As experiências proporcionadas pelo setor são capazes de contribuir com a formação do profissional. Isso pode ser constatado pelas ações implantadas pelo ISAE/FGV, também case de sucesso, e que traduz o PRME por meio do seu programa educacional “Perspectivação”, no qual os alunos têm a oportunidade de vivenciar a realidade de grandes empresas.

“Um dos diferenciais do Perspectivação é que, além de colocar o aluno em contato com as tendências do mercado, ele estimula o desenvolvimento de valores sustentáveis nos alunos. É uma oportunidade de desenvolvimento das capacidades de líderes em busca de resultados cada vez mais sustentáveis”, conta o presidente da instituição.

Também como forma de aproximar a indústria com a academia, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) também são signatários do PRME  e atuam para integrar a sustentabilidade dos futuros profissionais.


Nova signatária

A Faculdade Maringá é uma das mais novas signatárias do PRME. No entanto, segundo conta a coordenadora do curso de Administração, Charlanne Kelly Piovezan, a instituição já trabalha com ações sustentáveis na educação desde 2004. A política educacional da faculdade já previa ações voltadas para meio ambiente, sustentabilidade e ação social. “O que mudou foi que, a partir do momento em que a faculdade participou o ano passado do primeiro diálogo sobre o PRME, adotou-se a postura de oficializarmos todas as ações que tínhamos e trabalhar em outras de acordo com a proposta da educação para sustentabilidade orientada e postulada pelo PRME”, relata.

As expectativas da instituição são as melhores possíveis. A partir do 2º semestre, a Faculdade Maringá terá parcerias para captação de lixo eletrônico e visitas técnicas na empresa parceira responsável pela reciclagem, visita técnica na Binacional Itaipu para apresentação do projeto de educação corporativa fundamentada na sustentabilidade, um curso de extensão em saneamento ambiental direcionado para a formação de técnicos em Meio Ambiente em parceria com escolas estaduais da cidade de Maringá, entre outras ações que já estão sendo fomentadas.


Para conhecer mais sobre o PRME, acesse http://www.unprme.org/ e/ou www.cpce.org.br
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Veja outros conteúdos dessa edição:


Matérias:

- Capa: Sustentabilidade além da matéria-prima
- Entrevista: Lourival dos Santos e Souza
- Visão Sustentável: Gesso reciclado vira fertilizante para agricultura

- Desenvolvimento Local: Eficiência Energética no WTC

Artigos:
- Artigo: O sonho acabou? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Oportunidade e realização (Rafael Giuliano)
- Artigo: O mito do PIB (Daniel Thá)
- Artigo: Água: A crise e a inércia política global (Hugo Weber Jr)
  
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