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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sericicultura gera cooperação e desenvolvimento sustentável no Paraná

Produtores paranaenses de bicho-da-seda atuam em conjunto com empresas e entidades visando ampliar o valor agregado nas atividades produtivas do Vale da Seda

Delicada, a seda é bastante usada na indústria têxtil pela leveza e charme que proporciona às peças de roupas, acessórios e demais produtos que pode originar. Entretanto, ao ver aquele tecido de aparência cintilante, muitos esquecem que ele é obtido a partir dos casulos do bicho-da-seda por um processo designado de sericicultura. Mas para se chegar a este resultado demorou um bocado de tempo, milênios, aliás. Afinal, a descoberta foi mantida em segredo por anos.

Conta a lenda que uma imperatriz chinesa descobriu a seda por acaso, cerca de 3 mil anos antes de Cristo. Ela notou que um casulo havia caído de uma amoreira na sua xícara de chá. Ao tentar retirá-lo, ela viu que soltava um delicado fio. Na antiguidade a seda só era produzida na China e qualquer pessoa que revelasse o segredo do bicho-da-seda era executada como traidora. Mas a técnica atravessou fronteiras e a sericicultura já é conhecida mundialmente. No Brasil é praticada desde o século 19.

O Paraná tem destaque como o maior produtor nacional de casulos verdes, há dez anos, de acordo com dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab). Na safra 2009-2010, o Paraná foi responsável pela produção de 4.099 toneladas, ou seja, 92,34% da produção nacional, conforme o Relatório Takii Perfil da Sericicultura no estado do Paraná Safra 2009-2010, de Outubro de 2010, realizado pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, em parceria com o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Cedraf) e a Câmara Técnica do Complexo da Seda do Estado do Paraná (CTCSE-PR).

Ainda de acordo com o relatório, o segmento agroindustrial da seda participou com mais de R$ 27 milhões na formação do Produto Interno Bruto Paranaense e gerou em torno de 20 mil empregos diretos e indiretos. O relatório apresentou uma pequena redução quanto aos municípios que possuem a sericicultura em atividade, mas os indicadores de produtividade média em quilo de casulos por hectare ao ano aumentaram em 4,63%, bem como o preço médio pago aos produtores, que apresentou um acréscimo de 2,78%. Dependendo da qualidade do casulo, os produtores chegam a receber R$ 9 pelo quilo do casulo verde (bicho-da-seda vivo).

Segundo informações do Deral, o Paraná possui cerca de 4 mil criadores com mais de 4,3 mil barracões e área de amoreiral em hectare de 10.067,2. A produção está concentrada no Vale da Seda, composto por cerca de 30 municípios no noroeste do Estado, situados na Bacia do Rio Pirapó. A área média de amoreiras e a média de produção de casulos do Vale da Seda é o triplo da média paranaense, ou seja, 3.149,8 hectares e 1.163.860,33 quilos de casulos produzidos.

O maior município produtor de casulos verdes do Paraná, na safra 2009-2010, foi Nova Esperança, com 632 mil quilos de casulo verde, representando 15,41% da produção paranaense. Afinal, o município possui a Vila Esperança, maior vila rural do Paraná com cerca de 150 famílias. A vila, criada há cerca de dez anos, tem como foco a sericicultura, como conta uma das moradoras, Dirce Gonçalves dos Santos. Ela produz bichos-da-seda antes mesmo de morar na Vila Esperança, há quase 30 anos, e explica que mais da metade das famílias se dedicam à sericicultura. Os demais moradores plantam verduras, feijão e café. A Vila Esperança fica a cinco quilômetros do centro de Nova Esperança, município a 40 quilômetros de Maringá.

O pólo produtivo de Nova Esperança é um dos atendidos pelas estratégias de Desenvolvimento Regional Sustentável - DRS do Banco do Brasil que incentivam atividades econômicas em comunidades onde o banco atua. A ideia é potencializar o que as comunidades têm de bom, incrementando o negócio, como conta o gerente de DRS da Superintendência do Paraná do Banco do Brasil, Ney Augusto Resmer Vieira.

As estratégias de DRS vêem oportunidade de melhoria em determinada atividade produtiva, como viabilidade econômica, preservação ou recuperação ambiental, observando sempre a questão social com o aumento de renda e do número de empregos. Também respeita a diversidade cultural daquela comunidade.


Copraseda: seda literalmente justa

Dona Dirce preside a Cooperativa de Produtores de Artesanato de Seda (Copraseda) que tem alavancado os negócios na região desde 2009, quando foi criada com o apoio do Programa Universidade Sem Fronteira da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Governo do Paraná (Seti). Cerca de 40 mulheres são cooperadas, produzindo cachecóis e echarpes que já estão sendo vendidos no exterior sob a marca de Artisan Brasil. O empreendimento coletivo está inserido no modelo de comércio justo, como explica João Berdu, um dos coordenadores do projeto Seda Justa, que visa ampliar o valor agregado nas atividades produtivas do Vale da Seda. Entretanto, já em 2007, antes da criação da cooperativa, as mulheres já produziam as peças organizadas na Associação dos Produtores da Vila Rural Esperança.

Berdu explica que o comércio justo já está maduro na Europa, por isso, a cooperativa iniciou a venda de produtos junto à Artisans Du Monde, associação francesa que tem este princípio. Vale ressaltar que o comércio justo, entendido pela Artisans Brasil, é uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca uma melhor distribuição da riqueza gerada pelo comércio internacional, contribuindo para o desenvolvimento sustentável por meio de melhores condições de troca e a garantia dos direitos para produtores e trabalhadores marginalizados, em sua maioria localizados no hemisfério sul.

Segundo João Berdu, os cachecóis produzidos pelas artesãs são exportados diretamente para lojas da rede Artisans du Monde, na França (que conta com mais de 150 lojas e trabalha somente com artigos do comércio justo). Com o valor arrecadado, as artesãs e demais parceiros envolvidos são pagos. “Iniciamos a produção com casulo de qualidade inferior, que era vendido a R$ 1,7 o quilo. Com a iniciativa, as artesãs passaram a receber 12 euros por cachecol, uma renda de 59% da receita bruta desta exportacao, ou seja, cada artesã fica com R$ 17 reais de cada cachecol, o que multiplicou por dez a renda com o mesmo quilo de casulo”, conta.

Logo, o casulo de primeira qualidade foi incorporado ao projeto e novas parcerias foram firmadas como a realizada com a Incubadora Técnológica de Maringá que conta com a assessoria técnica de docentes e discentes da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e do Centro Universitário de Maringá (Cesumar).

“Visamos a incorporação de novos empreendimentos, toda uma economia baseada na produção”, ressalta Berdu. Atualmente, o projeto ganha forças graças a uma ampla rede de parceiros que reúne empresas, sindicatos, cooperativas, órgãos públicos (Emater, Prefeitura de Nova Esperança), além das universidades e do Banco do Brasil. “As artesãs conseguem produzir até dois cachecóis por dia”, comenta Berdu, proprietário da empresa Bisa Overseas, que trabalha com o beneficiamento do fio. “Por isso pretendemos trabalhar com uma linha artesanal e outra linha com produtos da região fabricados sob a identidade do Vale da Seda”, salienta.

Entre as novidades do projeto estão a possibilidade de venda dos cachecóis pelo site da Artisans Brasil (www.artisansbrasil.com.br), prevista para o início de 2011. Na Loja da Sustentabilidade do Banco do Brasil (www.bb.com.br/sustentabilidade) os pontos do cartão de crédito já podem ser trocados por produtos do Vale da Seda. Além disso, os produtos da Artisans Brasil serão vendidos em cada uma das 12 cidades sedes da Copa do Mundo de 2014 por meio do Projeto Talentos Brasil Rural do Sebrae do Rio Grande do Sul. A venda dos produtos também será incrementada com a realização da 1ª Feira Nacional do Vale da Seda, que deve ocorrer de 12 a 20 de novembro de 2011. “Para que possamos fazer a diferença, uma mudança de foco com base na identidade regional e do desenvolvimento sustentável, com uma remuneração justa para as artesãs, de 800 a 900 reais por mês”, esclarece Berdu.


Sericicultura: cooperação na produção e no artesanato

Dona Dirce conheceu a sericicultura quando tinha 14 anos, no sítio de um descendente de japoneses. “Andei mais de dez quilômetros para conhecer o bicho-da-seda em Floraí”, recorda. A curiosidade foi tamanha e a vontade de trabalhar maior ainda. Com trinta anos de experiência no ramo, as respostas estão na ponta da língua da presidente da Copraseda quando o assunto é sericicultura. O trabalho é árduo, a produção ocorre durante oito meses do ano – só não é possível produzir bicho-da-seda no inverno (maio, junho, julho, agosto) porque não tem folha de amoreira, alimento dos bichinhos.

As folhas de amoreira são oferecidas como alimento de acordo com o ciclo de vida do bicho-da-seda. A plantação deve ser renovada, em média, a cada sete anos. “Na primeira idade o bicho-da-seda come folhas pequenas, já na última fase, a quinta, come bastante”, conta. Em condições normais o ciclo até a entrega do casulo é concluído em 23 dias, mas em épocas mais frias pode chegar a 45 dias. Em geral, as empresas fornecem as larvas e compram os casulos. O trabalho é feito de forma cooperada nas famílias: em geral, os homens são responsáveis pelo corte e transporte dos ramos de amoreira e as mulheres pela alimentação dos casulos. Segundo dona Dirce, a atividade não agride o ambiente, pois são usados apenas fertilizantes.

O artesanato também é produzido de forma cooperativa: as vizinhas se reúnem para trabalhar e tricotam os cachecóis. “As mulheres atuam na costura, no tricô e nos acabamentos ou tingimentos. É o gênero com mais necessidades de alternativas de renda na área rural”, salienta Berdu.

Ele explica que o intuito do projeto é chegar numa situação em que as mulheres tenham condição de produzir artesanato no período entre-safra, pois terão mais tempo para se dedicarem às atividades. Dona Dirce esclarece que atualmente as artesãs trabalham de acordo com pedidos recebidos. “Desde 2007 já produzimos cerca de 600 cachecóis e lenços, que foram vendidos em feiras e para países como França, Japão e Itália”, conta.

Dona Alice Liberato Gargaro é uma das cooperadas, ela atua como artesã quando recebe pedidos. “É bom porque posso fazer em casa, não precisa sair. A cooperativa foi uma iniciativa muito boa pois trabalhamos em conjunto”, comenta.


Difusão da sericicultura

Dona Dirce comenta que uma das atribuições da Copraseda e do projeto Seda Justa é difundir a sericicultura que não é muito conhecida. “Recebemos estudantes que nunca tinham visto o bicho-da-seda”, ressalta. O pólo produtivo, com todos os parceiros, também visa ampliar o número de produtores, como lembra dona Dirce.

Afinal, como destaca o gerente da agência do Banco do Brasil de Nova Esperança, Diomar José dos Santos, a estratégia de DRS no Vale da Seda surgiu m 2007 justamente porque houve um declínio no número de sericicultores. “A iniciativa visa o aumento da produção de casulos do bicho-da-seda, a conscientização sobre os problemas ambientais, com o estímulo à adoção de práticas de conservação do solo, além de capacitar os agentes envolvidos, manter as famílias no campo e democratizar o acesso ao crédito”.

Para isso, o Banco do Brasil oferece financiamentos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Custeio e Investimento, com juros que variam de 2 a 5% ao ano, dependendo da linha de crédito. “O intuito é oferecer um incremento na renda de pequenas propriedades”, comenta.

O analista de DRS do Banco do Brasil, Arilson Cesar Lorensini dos Santos, ressalta que as estratégias de DRS transformam a ação individual em forma coletiva de trabalho. “É a união de diversas entidades que transforma”, enfatiza.

Serviço: A venda de cachecóis da Artisans Brasil será realizada pelo site www.artisansbrasil.com.br a partir de 2011. Na Loja da Sustentabilidade do Banco do Brasil (www.bb.com.br/sustentabilidade) os pontos do cartão de crédito já podem ser trocados por produtos do Vale da Seda.


O Paraná possui cerca de 4 mil criadores de bicho-da-seda que são responsáveis por 92,34% da produção nacional

A sericicultura brasileira está concentrada no Vale da Seda, composto por cerca de 30 municípios no noroeste do Paraná

Cerca de 40 mulheres paranaenses integram a Copraseda e produzem cachecóis e echarpes que já estão sendo vendidos no exterior sob a marca de Artisan Brasil, inserida no modelo de comércio justo


Matéria Responsabilidade Social: Edição 21 - Revista Geração Sustentável (Criselli Montipó)
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