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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Artigo: Do limão à limonada

No princípio - por volta de 1980, temas como ecologia, necessidade de ser politicamente correto, e similares, incomodava muita gente. Parece até que atrapalhava o “crescimento” das empresas, do país e assim por diante.

As instituições financeiras, por exemplo, se limitavam a exigir a licença ambiental do empreendedor, apenas para cumprir determinação de lei da co-responsabilidade. O empreendedor apresentava a licença e estava tudo resolvido; ainda que ficasse apenas no papel. Os tempos mudaram. Mudou também o clima, e suas consequências se mostraram preocupantes também para as instituições financeiras. Como a administração de riscos é a essência do negócio financeiro, a incorporação da análise socioambiental como ferramenta de redução de incertezas começou a tomar contornos de um segmento dentro das instituições financeiras. A razão é simples: os desafios representados pelo aumento da incidência de desastres naturais, em sua maioria devido às mudanças climáticas globais, têm impacto financeiro direto para elas.

No restante do setor financeiro, sobretudo nos bancos comerciais, o processo de incorporação da sustentabilidade é em grande parte estimulado por pressões da sociedade civil ou por perdas associadas a questões socioambientais. Em paralelo, os bancos gradativamente começaram a acreditar que o que é bom para o meio ambiente também é bom para os negócios. Nesse sentido, finanças sustentáveis é um movimento que busca promover uma atuação do sistema financeiro de forma economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta.

O apelo sustentável ou uma empresa que atue com responsabilidade socioambiental, já não são mais termos a serem explorados como posicionamento de comunicação e marketing. Mesmo quem inicialmente pensava em apenas “parecer” responsável, está concluindo que vale a pena ser e ter responsabilidade socioambiental nos seus empreendimentos. Faz bem pra saúde. Aliás, os projetos socioambientais elevam em até 4% o valor de mercado das empresas, segundo levantamento da consultoria espanhola Management & Excellence.

Há, hoje, um interesse muito maior do que simplesmente parecer bonzinho, ou como se dizia, ecologicamente correto. Por quê? Business! Exemplificando: há tempos a base da pirâmide social vem mostrando um enorme universo de oportunidades empreendedoras, despertando o interesse notadamente das grandes corporações. A cada dia temos notícias de novos produtos lançados para esse segmento. Nas instituições financeiras, a bancarização é o tema que instiga o lançamento de produtos e serviços com atributos socioambientais. Na outra ponta, onde a renda está mais concentrada, as oportunidades de acesso aos recursos internacionais passam necessariamente pela condicionante gestão de riscos socioambientais. Traduzindo: os investidores estão privilegiando empresas com práticas avançadas de governança corporativa e de responsabilidade socioambiental. As pessoas e o meio ambiente estão no foco. O desenvolvimento versus crescimento a qualquer preço.

A população mundial hoje é de 6,9 bilhões de habitantes. A previsão é de que no ano de 2.020, nosso planeta azul terá que acomodar (e deveria suprir as necessidades) de 7,7 bilhões de pessoas (fonte Instituto Akatu). Em 2.040, 8,8 bilhões. Dá pra imaginar? A grande parcela desse número estará na base da pirâmide.

No Brasil de hoje, 49 milhões recebem até meio salário mínimo. Outros 54 milhões de brasileiros não possuem rendimento; são pobres. Com renda per capta de US$8.020, o brasileiro pena para alcançar nossos hermanos argentinos com seus 12.460 dólares de renda por habitante, segundo dados do FMI e Banco Mundial. Pode ser cruel, mas não dá pra negar que existe um mar de oportunidades em negócios, diante desses números. Escala existe.

Para reflexão: empreender para atender as necessidades e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, além de nobre pode ser um grande negócio.


** Ney Augusto Resmer Vieira: Gerente DRS da Superintendência de Negócios Varejo e Governo do Paraná do Banco do Brasil

Artigo sobre Gestão Estratégica publicado originalmente na edição 21 da revista Geração Sustentável

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