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sábado, 17 de julho de 2010

Artigo: Afinal, o que é mesmo Responsabilidade Socioambiental?



A Responsabilidade Socioambiental tornou-se um termo constante nas estratégias empresariais e está, a cada dia, mais presente nos discursos dos gestores das empresas, mas que na prática ainda tem muito a evoluir.

Tenho constantemente acompanhado os projetos, as publicações e os ícones de sustentabilidade nos sites das empresas, além de tudo aquilo que é divulgado na mídia com a denominação de responsabilidade social e responsabilidade ambiental. Ultimamente até essas duas palavras foram unidas e já se fala em “responsabilidade socioambiental”. Mas afinal, o que é mesmo essa nova responsabilidade das empresas?
Para responder essa questão temos que voltar um pouco no tempo e rever como aconteceram, nesse sentido, as primeiras iniciativas empresariais no Brasil. Há pouco mais de uma década as empresas passaram a considerar o desenvolvimento de projetos sociais e ambientais em suas diretrizes e estratégias de negócios. Até então os compromissos empresariais se limitavam, nos aspectos sociais, pela geração de empregos e recolhimento de impostos e, nas questões ambientais, em não causar grandes desastres ambientais para não aparecer negativamente na mídia de massa. Até então as empresas entendiam que as responsabilidades socioambientais eram necessariamente uma preocupação pública, ou seja, um dever do Estado. As empresas “faziam a sua parte” e deveria ficar a cargo das entidades públicas zelar pelas questões do bem estar das pessoas e a conservação/preservação do meio ambiente.
Os primeiros lampejos para um novo modelo, com um maior envolvimento das empresas, iniciaram na década de 80, onde uma das iniciativas mais conhecidas foi a do sociólogo Herbert de Souza (Betinho) que procurou formular o conceito de empresa cidadã, a divulgação dos conceitos democráticos de cidadania e a criação do Instituto IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Apesar dessa iniciativa gloriosa, os reflexos imediatos nas empresas foram poucos. Na década de 90 intensificava-se a inoperância do Estado em cumprir com o seu papel social e ambiental. Algumas empresas realizavam práticas de filantropia e doações e outras já rascunhavam e implantavam pequenos programas junto à comunidade. Neste mesmo período, o mercado consumidor começava a valorizar as iniciativas, mesmo que isoladas, de empresas que estavam dispostas em contribuir, de alguma forma, com melhoria na qualidade de vida das pessoas ou dos recursos naturais. Esses consumidores passam a considerar também o comprometimento que os fabricantes possuíam com aspectos socioambientais. Nascia aí um maior compromisso empresarial com essas causas.
Em meio a esse discurso de responsabilidade, um processo de divulgação das ações e projetos começa a se intensificar no ambiente empresarial. Vislumbrando melhoria da imagem, transparência da empresa, formação de capital humano e parcerias com outros agentes da sociedade – as empresas começam a elaborar seus balanços socioambientais e apresentá-los para seus investidores, colaboradores, comunidades e demais stankeholders. Algumas ferramentas foram desenvolvidas para orientar as empresas a criar seus indicadores, como por exemplo, o GRI (Global Reporting Initiative) e o Indicadores Ethos de Responsabilidade Social. Este balanço socioambiental passa a ser um relatório precioso e que contribui para o processo de comunicação que é fundamental na construção da sustentabilidade corporativa.
Por outro lado, muitos desses relatórios trazem uma visão míope de responsabilidade socioambiental, pois os holofotes estão direcionados apenas para a imagem da empresa e não para resultados efetivos na comunidade. Esses balanços geralmente estão recheados de fotos com cobertura jornalística dos eventos e das ações realizadas, mas com pouco conteúdo qualitativo. Outra crítica sobre essas publicações é a forma de mensuração dos resultados que mantêm o padrão dos balanços econômicos e contábeis. Os negócios, pela sua natureza voltada a resultados financeiros, transferem esse modelo para a apresentação dos resultados socioambientais. Não podemos negar que a busca de ferramentas cada vez mais eficazes foi sempre objetivo das áreas que mensuram resultados dentro das empresas e que as empresas possuem no seu DNA a necessidade constante de geral lucratividade, pois faz parte da sua natureza. Historicamente os indicadores econômico-financeiros são referências para avaliação do desempenho dos negócios, mas talvez não seja a melhor forma de se apurar resultado socioambiental. Mas, porque, a maioria enfatiza seus resultados socioambientais em volume de recursos financeiros? O que significam efetivamente para o desenvolvimento das pessoas (comunidade) ou para o meio ambiente o detalhamento de volumes de recursos investidos? Para uma efetiva avaliação socioambiental é necessário a demonstração de indicadores qualitativos e não apenas o descritivo dos volumes financeiros. As empresas demonstram os valores em treinamentos, recolhimentos de impostos, eventos junto à comunidade, etc., mas o que efetivamente esses milhares de reais melhoraram a qualidade de vida das pessoas ou minimizaram os impactos ambientais? O que precisa de fato ser evidenciado em um balanço socioambiental não é o valor numérico, mas sim o resultado efetivo junto localidade na qual foram realizados. Precisam aparecer os resultados após os investimentos... O que de fato os treinamentos ou a quantidade de participantes em um evento melhoraram a qualidade de vida da comunidade... Ajudaram a melhorar a renda das pessoas, por exemplo? Ou foi feito algum acompanhamento da área degradada após o direcionamento de recursos?
Outro detalhe é a mania dos projetos de plantio de árvores, motivada pelos projetos de MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Esse tipo de projeto virou uma espécie de febre entre os projetos ambientais. Parece até que todos os impactos dos processos produtivos serão neutralizados pelo plantio de árvores. Mas dentro de uma visão mais sistêmica, essa ação vai efetivamente minimizar os impactos gerados? Será que essas empresas não causam maiores impactos através de seus efluentes e que os investimentos deveriam ser realizados nesse sentido. Ou será que realizar investimentos em outras áreas não dará um retorno tão interessante, para a imagem da empresa, quanto o investimento em plantio de árvores? Ou a escolha por um projeto dessa natureza é mais barato e quando a empresa estiver sujeita a um passivo ambiental, esse projeto fica como comprovação junto à entidade fiscalizadora de que a empresa é “responsável ambientalmente”. Na prática a sociedade vê com bons olhos os projetos de plantio de árvores como forma de responsabilidade ambiental. E por motivos como esse as empresas fazem aquilo que a sociedade e o seu consumidor desejam e não o que deveria ser feito.
Ainda se tratando das questões ambientais as empresas procuram através das consultorias (ambientais e jurídicas) cumprirem as leis e resoluções a fim de minimizar riscos de passivos ambientais e chamam isso de responsabilidade ambiental! Cumpre leis de cotas para empregabilidade de deficientes e chamam isso de responsabilidade social! Cumprir legislação faz parte do objeto do negócio, é igual a recolher impostos ou apresentar documentos fiscais. Cumprindo essas leis as empresas se posicionam como entidades que são responsáveis. Para aspectos socioambientais, cumprir lei é sinônimo de ser responsável?
Apesar das intenções positivas e de todos esses projetos serem válidos é preciso realizar essas críticas, pois hoje são as leis que obrigam a empresa, amanhã será a sociedade! Responsabilidade ou qualquer outro nome que seja dado a esse compromisso empresarial faz parte de “ações transformadoras” junto à comunidade e ao meio ambiente e não apenas do exercício de “boas práticas”.

Artigo publicado originalmente na revista GESTÃO EFICAZ (http://www.estacaopr.com.br/)

**Pedro Salanek Filho, mestre em sustentabilidade socioeconômica, professor de MBA do ESTAÇÃO BUSINESS SCHOOL e Diretor Executivo da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL.

Um comentário:

  1. Gostei pra caramba do artigo, ele toca em aspectos essenciais e apoia reflexões de maior compromisso. Na vida pessoal cabe igual reflexão: em que áreas de nosso cotidiano estamos nos acomodando a indicares e balanços 'vencidos'/inadequados?

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