Falta de regulamentação, de incentivos fiscais e isenções de tributos impedem consumidores de adquirirem carros não poluentes
O primeiro protótipo de carro elétrico brasileiro foi o Itaipu, fabricado pela Gurgel em 1974, cuja motivação foi a crise do petróleo no ano anterior. Com o avanço tecnológico automobilístico ao longo dos anos e a necessidade de uma realidade amplamente sustentável, a expectativa é de que as vendas de automóveis elétricos no Brasil ocorram em breve.
Ainda que uma comercialização deslanchada desses veículos venha a ser vantajosa ao planeta pelos baixos impactos ao meio ambiente e esteja em promissor crescimento em países como Japão e França, o cenário em nosso território conta com vários entraves.
Os principais obstáculos que inviabilizam o incentivo à comercialização de carros elétricos no Brasil envolvem incentivos fiscais, isenções tributárias e toda uma legislação não regulamentada. Segundo o presidente da Aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn – que palestrou na Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, em outubro de 2011 – para que esses veículos possam circular no país, há a necessidade de cooperações privada e pública.
“O Nissan Leaf – modelo de um 100% elétrico apresentado aqui, recentemente – não pode ser comercializado porque não existe infra-estrutura”, referindo-se à falta de postos de abastecimento e a oficinas mecânicas especializadas. “Se não há cooperação privado-pública, não tem carro elétrico”, disse Ghosn, que também afirmou não acreditar no futuro para a indústria automobilística se ela não se desengajar do petróleo.
Para exemplificar uma das formas de incentivar a comercialização dos carros elétricos, o presidente da Renault-Nissan citou os EUA, que recebem 7.500 dólares do Governo Federal quando o consumidor adquire um carro elétrico; França, 5 mil euros, e Japão, 700 mil yenes. “Os governos decidiram assim porque se trata do interesse deles, o que os levam ao corte da dependência do petróleo (porque são países importadores) e à redução de todos os problemas relacionados à emissão de gases poluentes”, conta. Os incentivos financeiros atribuídos às montadoras acabam sendo repassados ao consumidor final.
Preço
O Nissan Leaf, caso pudesse ser vendido no Brasil, custaria entre R$ 80 mil e R$ 110 mil. A princípio, a ideia é de um valor nada competitivo. Mas, segundo o presidente da marca, se os carros – em geral – estão muito caros não é porque as montadoras são “gulosas”.
“A causa disso está relacionada primeiramente à tributação, que no Brasil é bárbara para os automóveis. O governo chega a levar de 40% a 48% do valor de um carro. Trata-se da maior tributação de todos os países desenvolvidos ou em desenvolvimento”, afirma.
O segundo aspecto citado diz respeito a outros setores do país que não são competitivos e cujos valores acabam interferindo no preço final dos automóveis, como o do aço, apontando o Brasil como o maior produtor, porém, com o maior preço de venda do mundo.
Apesar da falta de competitividade no preço e na impossibilidade atual de comercialização dos elétricos no país, a montadora japonesa Nissan investiu no marketing de apresentação do modelo. Nos últimos meses, a empresa trouxe uma frota de dez unidades do Leaf e do compacto March para ser mostrada ao público no chamado Nissan Inova Show (evento que levou a “experiência da marca” para 30 cidades brasileiras), e também para provar ao governo brasileiro a viabilidade da tecnologia.
Projeto de Lei propõe menor tributação a carros elétricos
A Câmara analisa proposta que isenta os automóveis elétricos, bem como suas peças, do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A medida está prevista no Projeto de Lei nº 2092/11, que também isenta a comercialização desse tipo de produto do pagamento de PIS/Pasep e Cofins.
O objetivo da proposta, segundo seu autor, o deputado Irajá Abreu (PSD-TO), é incentivar a utilização de veículos de motor elétrico em detrimento daqueles de combustão. “O emprego desses veículos trará ganhos extraordinários para a elevação da qualidade de vida dos habitantes das metrópoles e promoverá sensível diminuição das despesas com serviços públicos de saúde decorrentes dos males causados pela poluição provocada pelos automóveis convencionais”, argumentou.
A proposta também prevê o crescimento progressivo do uso de veículos elétricos na frota oficial. Pelo projeto, os automóveis elétricos deverão representar, num prazo de dez anos, pelo menos 20% do total de carros comprados ou alugados pelos governos.
Eficiência Energética - Um dos principais pontos favoráveis à mudança, afirma seu autor, é a maior eficiência energética dos veículos elétricos, uma vez que eles consomem menos da metade da energia requerida por um automóvel convencional da mesma categoria.
Irajá Abreu afirma ainda que, quanto ao aspecto ambiental, é importante lembrar que o setor de transporte é aquele que possui maior peso na emissão de gases de efeito estufa de origem energética no Brasil. O setor elétrico, por outro lado, produz emissões bem menos relevantes, uma vez que, em nosso país, aproximadamente 85% da eletricidade gerada é originada de fontes renováveis, principalmente a hidráulica.
Economia – O deputado explica que essa mudança deverá garantir, além de benefícios ambientais, economia aos cofres públicos. “Em relação ao custo por quilômetro rodado, a vantagem dos veículos elétricos é expressiva, chegando a um quarto do custo relativo aos carros movidos a gasolina”, disse. A proposta, que tramita de forma conclusiva, será analisada pelas comissões de Minas e Energia; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Constituição e Justiça e de Cidadania; e Finanças e Tributação, inclusive no seu mérito. (Fonte: Agência Câmara).
Características do Nissan Leaf
Geração Sustentável: O Leaf é uma realidade para os mercados onde será vendido. No Brasil, o modelo veio apenas para mostrar ao público que a tecnologia já existe?
Yochio Ito (Gerente de Engenharia da Nissan do Brasil): O Nissan Leaf é uma das estrelas do Nissan Inova Show, evento organizado pela marca que acontece nos fins de semana em uma grande cidade do país durante um ano. A ideia é possibilitar aos brasileiros conhecer a tecnologia de um carro 100% elétrico e apresentar toda a gama de veículos da marca.
GS: Qual a proposta de uso: urbano? Estrada? Por quê?
YI: O Nissan Leaf foi pensado para ter uma autonomia de 160 km com uma carga, pois, de acordo com pesquisas feitas pela Nissan, é uma distância que atende com folga à mobilidade urbana, já que muitas pessoas não percorrem mais do 50 km por dia.
GS: Qual a durabilidade das baterias para o modelo?
YI: As baterias têm garantia de dez anos, com autonomia de 160 km.
GS: O que compõe as baterias do elétrico Leaf e o que isso significa?
YI: As baterias são de íon-lítio e posicionadas no assoalho do veículo, possibilitando melhor distribuição do peso e melhorando a condução. Elas são projetadas para maximizar o tempo de direção e minimizar o tempo de carregamento.
GS: São recarregáveis em quanto tempo?
YI: O modelo oferece várias opções para carregamento. Uma porta de recarga de 220V é localizada na dianteira, juntamente com uma porta para o cabo portátil de carga lenta (110V). A porta de recarga rápida permite recarga de 80% da capacidade em 30 minutos em estações de recarga públicas. Há também um aerofólio com painel solar fotovoltaico que suporta o carregamento de 12 volts, fornecendo energia para os acessórios do carro. Os freios também são equipados com um sistema que ajuda a regenerar (recarregar) as baterias, transformando a energia cinética das frenagens em eletricidade.
GS: Qual o desempenho e a velocidade final?
YI: Em termos de desempenho, o Nissan Leaf apresenta números muito interessantes. O moto elétrico gera 107 cavalos de potência e 28,5 kgfm de torque. A velocidade máxima é de 150 km/h.
GS: O peso do modelo:
YI: 1.256 kg, sendo apenas 300 kg de bateria.
GS: O que falta de infraestrutura nas estradas para viajar com um elétrico?
YI: Seja onde for, é necessária uma tomada elétrica aterrada ou pontos de recarga rápida. Assim, para tornar o uso do modelo em uma viagem, por exemplo, seria importante ter eletropostos ou locais próprios nos trajetos com tomada para o carregamento.
GS: Qual o custo do abastecimento/mês com uso diário?
YI: Cada região do país tem uma tarifa para o uso da energia. E seu custo de rodagem é três vezes menor que o de um veículo abastecido com gasolina equivalente.
GS: Por que o valor comercial é alto?
YI: Como ocorre com toda nova tecnologia em um primeiro momento, seu custo é elevado até que seja produzida em massa. Após atingir uma quantidade suficiente na produção, o carro elétrico não necessitará de incentivos governamentais para se tornar acessível. Este é o próximo passo do Nissan Leaf, que já vendeu mais de 20 mil unidades em todo o mundo em seu primeiro ano de mercado.
Matéria publicada originalmente na Edição 26 da Revista Geração Sustentável - Jornalista: Karla Ramonda
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