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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Iniciativas privadas buscam educar a sociedade a reduzir, reutilizar e reciclar o lixo

Celebridades se unem para ajudar, como na campanha Limpa Brasil Let’s Do It! e no filme Lixo Extraordinário

Se Chico Buarque, Marília Pera, Milton Nascimento e outras assim chamadas celebridades se anunciam catadoras de lixo, por que não você ou eu? Contando com a ajuda dessas e de outras pessoas famosas e respeitadas pelo público em geral, a campanha Limpa Brasil Let’s Do It! pretende educar a população brasileira e mostrar que o lixo é um problema de cada cidadão e não somente das autoridades públicas. “Já tivemos o envolvimento direto de quase 40 mil pessoas e esperamos atingir o Brasil inteiro no decorrer dos dez anos de duração previstos para o projeto”, diz Marta Rocha, diretora executiva da Atitude Brasil, empresa responsável pela campanha e que desenvolve programas e projetos com foco em sustentabilidade e democratização do conhecimento.

Com o objetivo de reunir meio milhão de pessoas na limpeza das 14 das maiores cidades brasileiras, a campanha foi lançada este ano e a primeira ação aconteceu em junho, no Rio de Janeiro. Reunindo cerca de seis mil pessoas, em um dia de mobilização foram recolhidas do espaço público 17 toneladas de materiais recicláveis. Até agora, a campanha já contribuiu para a retirada de mais de 650 toneladas de resíduos recicláveis do espaço público nas cidades pelas quais passou (Rio, Brasília, Goiânia e Campinas).

Mais do que recolher o lixo irresponsavelmente descartado nas ruas, a intenção é mostrar que não é vergonha pôr a mão no lixo para destiná-lo corretamente: “Convidamos personalidades e formadores de opinião para participar da campanha porque sabemos que essa é uma problemática que muitos brasileiros ignoram”, diz Marta. Os convidados gravaram um filme publicitário que já vem sendo veiculado pela mídia, além de vários depoimentos.

Para Marta, essa problemática envolve todos os cidadãos e inclui desde o consumo e a consequente produção excessiva de resíduos até o descarte irregular e os baixos índices de reaproveitamento de materiais: “Acreditamos que, independentemente da qualidade dos serviços de limpeza urbana e gestão dos resíduos, nossa iniciativa tem um papel muito importante na conscientização do indivíduo, que é necessária em todas as grandes cidades de nosso país”.

Marta explica ainda que, no Brasil, há uma cultura enraizada de jogar lixo fora do lixo que precisa ser revertida urgentemente, um mau hábito inserido ainda no período colonial que, até hoje, mesmo com a popularização de conceitos como sustentabilidade e a ampliação dos debates a esse respeito, persiste. E a falta de informação – ou educação - não tem relação com classe social: “Aqui, ninguém é multado ou repreendido por jogar lixo na rua”.

Além disso, o brasileiro tende a pensar que o lixo que produz não é “problema seu”, mas responsabilidade do governo municipal ou das empresas, sem perceber que a responsabilidade é compartilhada: “A matéria-prima passa por vários processos até se tornar o que chamamos de lixo. Como temos a opção de escolher gerar ou não esse lixo, temos também a necessidade de assumir nossa responsabilidade”, diz Marta.

Ela diz também que certas regiões urbanas são varridas diversas vezes por dia, mas continuam sujas porque, mesmo que o trabalho governamental de limpeza do espaço público seja eficiente, não é possível mantê-lo se as pessoas jogam lixo na rua. “A maior preocupação do Limpa Brasil Let’s do it! é incentivar a sociedade a mudar essa cultura de descaso”, diz.

Quem limpa, não suja: Um dos convidados da campanha é o ator Cássio Reis que, em seu depoimento, afirma: “O lixo não está só nas ruas. O lixo está dentro de casa e mais do que isso: dentro da consciência de cada um. Reduza. Reutilize. Recicle”. Marta Rocha completa: “Partimos do preceito de que ‘quem limpa não suja’ e acreditamos que aqueles que estão dispostos a se engajar nessa iniciativa assumem sua responsabilidade perante os resíduos que produzem e, no mínimo, não vão mais jogar lixo fora do lixo”.

O projeto nasceu na Estônia e já atingiu quase 20 países. A Atitude Brasil trouxe-o com a colaboração da UNESCO. Aqui, devido à extensão territorial e ao hábito ainda muito enraizado de jogar lixo fora do lixo, a iniciativa é voltada principalmente à conscientização da sociedade civil, motivo pelo qual terá duração de 10 anos.
Todo material reciclável recolhido será enviado a cooperativas de catadores que já atuam nas cidades. Já os rejeitos ficarão sob a responsabilidade das prefeituras que os encaminharão a aterros sanitários.

Após as ações nas cidades, haverá shows com artistas da música brasileira. Esses eventos terão o mote “do meu lixo cuido eu” e a proposta é que os artistas cobrem dos espectadores a limpeza do espaço, propondo que cada um se responsabilize pelos resíduos que produzir.

Lixo Extraordinário: Entre as personalidades apoiadoras do projeto Limpa Brasil Let’s do It! está o catador Tião Santos, presidente da Associação de Catadores de Material Reciclável de Jardim Gramacho (ACAMJG), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Tião ficou famoso após participar de outra iniciativa que levantou, com eloquência, não somente o problema do lixo, mas das pessoas que ganham a vida em torno do recolhimento e da reciclagem de resíduos sólidos: o filme Lixo Extraordinário (Waste Land, 2009). Nele, é mostrado o trabalho do artista plástico Vik Muniz em Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo. Retratando a realidade dos catadores de uma forma tocante e surpreendente, o filme contou com a produção do cineasta Fernando Meirelles e recebeu prêmios importantes como o Sundance, além de ser indicado ao Oscar deste ano de Melhor Documentário: um filme que se tornou referência em documentário e arte e acabou se transformando em bandeira dos catadores e da reciclagem.

A ACAMJG foi criada em 2004 para tratar da inclusão social dos catadores e organizá-los para o provável fechamento do aterro, no ano que vem, condenado por estudos da Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro. Segundo o estudo, o aterro, que recebe 80% do lixo produzido na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (cerca de mil toneladas por dia), está no limite de sua capacidade e, caso não seja fechado, pode se tornar um desastre ambiental grave.

O sociólogo Jorge Pinheiro, coordenador do site Lixo.com.br (espaço para a troca de informações sobre práticas sustentáveis na área de resíduos sólidos no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro), declara em artigo no site que o aterro já apresenta sinais de que uma parte do lixo acumulado ali nos últimos 30 anos pode verter para dentro da Baía de Guanabara.

Segundo Pinheiro, desde 2005, a secretaria do Fórum Estadual Lixo e Cidadania – fundado em 1998 pela UNICEF - vem acompanhando a luta dos catadores de jardim Gramacho para garantir seu trabalho na cadeia da reciclagem, trabalho do qual dependem para sua subsistência. E que, sem custos para a sociedade, reintroduziu toneladas de matéria-prima reciclável no ciclo produtivo economizando preciosos recursos naturais.

Eco Cidadão: Outro projeto no Rio de Janeiro vem ganhando destaque no Brasil e no mundo é o Eco Cidadão. Fundado em 1997, o programa desenvolve campanhas educativas e projetos dirigidos à população em geral, buscando incluir os cidadãos no processo de preservação urbana e manutenção da limpeza da cidade, como o projeto Educação para Limpeza Urbana.

Segundo a coordenadora do programa, Marielza Horta, esse projeto buscou a educação a respeito da redução, disposição e destinação adequada do lixo e adoção de tecnologias limpas: “O programa Eco Cidadão foi pioneiro em incluir os cidadãos no processo de manutenção da limpeza urbana. Macaé não tem coleta seletiva, assim, incentivamos a doação de lixo reciclável para os catadores e instituições, além de provocarmos um debate positivo junto aos segmentos da sociedade sobre a questão”.
Outras práticas incentivadas pelo Eco Cidadão em projetos desenvolvidos a curto e longo prazos estão agricultura urbana agroecológica, uso sustentável da água, preservação do Rio Macaé, consumo consciente, seguranças alimentar e nutricional e o desenvolvimento do sentimento de pertencimento comunitário, com a construção de valores da cultura da paz.

Marielza conta que, entre os resultados alcançados estão a implementação de seis hortas comunitárias e jardins produtivos junto às comunidades beneficiadas pelo projeto Cultivar Plantas - Cultivar Paz, além de implementação de seis bibliotecas comunitárias.

O projeto já recebeu prêmios de várias entidades da ONU e da União Europeia. “Temos como um dos objetivos disseminar os valores e princípios da educação ambiental, por meio de nossas práticas e metodologia, que são de fácil reaplicabilidade”, informa Marielza. “Estamos disponíveis para replicar o trabalho desenvolvido aqui em outras regiões, essa é nossa missão.”


Foto: Chico Buarque numa das peças publicitárias da campanha: “O lixo está se tornando um problema cada dia mais sério”
Foto: Obra do artista plástico Vik Muniz produzida com lixo reciclável e inspirada em catadora do Jardim Gramacho


** Texto divulgado originalmente na edição 25 da Revista Geração Sustentável - jornalista Leticia Ferreira.

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Veja os conteúdos dessa edição:

Matérias:
Capa: Saiba como andam as práticas de sustentabilidade dos bancos brasileiros
Entrevista com Manfred Alfonso Dasenbrock - Sicredi PR
Desenvolvimento Local: Iniciativa sustentável inova modelo de entregas
Responsabilidade Social: Sustentabilidade - da teoria à prática

Artigos:
Ivan Dutra - Da Tunísia a Wall Street
Jeronimo Mendes - O encanto permance, mais o gosto muda
Yuri Beltramin - Como estamos construíndo nosso mundo sustentável?

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