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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

GRI: Relatando a sustentabilidade


Mais de mil instituições pelo mundo já aderiram a projetos de organização mundial não governamental para divulgar seus projetos ligados à sustentabilidade

Divulgar com coerência e clareza dados de empresas referentes ao seu desempenho econômico, social e ambiental, assim como se faz com os relatórios financeiros das instituições. Mostrar e relatar, continuamente, a atuação em cada setor e ter instrumentos de alta confiabilidade para apresentação de resultados com um objetivo comum: estabelecer uma plataforma de comunicação e diálogo com seus públicos. Esse é o preceito básico da GRI (Global Reporting Iniciative), organização sem fins lucrativos multi-stakenholder (com muitas pessoas interessadas), que desenvolve uma estrutura de relatórios de sustentabilidade já adotada por mais de mil organizações em todo o mundo.

Criada em 1997, a GRI nasceu da idealização de um grupo de ambientalistas, ativistas sociais e representantes de fundos sociais responsáveis que conceberam tornar habituais e úteis os relatórios dentro das áreas ambientais, sociais e econômicas. De acordo com Gláucia Térreo, coordenadora das atividades da GRI no Brasil, “hoje, para acompanhar o desempenho das organizações são usados os relatórios financeiros, balanços patrimoniais, balanços contábeis. Porém, o mais correto seria inserir mais duas dimensões nesses balanços: o social e o ambiental. Esse é um dos objetivos da GRI”. Construída por muitas mãos, a estrutura de relatórios apresentada pela GRI como sugestão de uso para as organizações é resultado da experiência de milhares de especialistas, de diversos países, ligados a essas áreas, que contribuíram para o seu desenvolvimento e organização.

Altamente pensada e estudada, a estrutura de relatórios apresentada pela GRI, que hoje pode ser aplicada em qualquer organização e país, lutou pela sua credibilidade e legitimidade. Por isso o cuidado em ser fruto de uma discussão ampla, baseada em processos de desenvolvimento global e multi-stakeholder. Os indicativos presentes na estrutura proposta pela GRI passam pelo consenso de vários membros da entidade antes de integrarem o arquivo final das diretrizes. De acordo com Vitor Seravalli, consultor em responsabilidade social e especialista em GRI, “abrangência global da GRI possibilita uma comparabilidade que é incomparável a outros mecanismos de reporte”.
Hoje, o uso da GRI é uma realidade pelo mundo inteiro. Só no Brasil são cerca de cem empresas que já investem na utilização do modelo. “Isso está acontecendo porque não se pode mais ignorar os sinais que vêm de todos os lados. As organizações sentem que precisam fazer algo para fazer parte da solução e não do problema”, afirma Gláucia. Para Seravalli, “as empresas vêm percebendo que, ao elaborar relatórios de sustentabilidade, encontram um caminho para refletir e internalizar o tema, além de tornar públicos sua própria visão, desafios e resultados econômicos, sociais e ambientais”.

De acordo com os estudos feitos pela estrutura da GRI, para que seja possível mostrar resultados expressivos, é necessária, segundo Gláucia, adesão de uma grande massa crítica. “O uso da GRI traz muitos benefícios as empresas que investem na metodologia. Com a GRI muda a forma de pensar a gestão das organizações inserindo as duas dimensões faltantes. Isso muda também a estratégia, os procedimentos, as políticas das empresas e, por fim, a forma de prestar contas e medir o desempenho”, avalia Gláucia.

O Brasil é hoje é um dos únicos quatro países do mundo em que a GRI atua que conta com um ponto focal, ou seja, um representante da entidade alocado no país com o objetivo de ampliar a disseminação das diretrizes da GRI no país. Os outros países que contam com o ponto focal da GRI são Austrália, Índia e China. “O Brasil foi o primeiro país a ter um ponto focal e isso foi resultado de uma conjunção de fatores: abertura para o tema criada por uma história de iniciativas desde a década de 80 - a democratização, o surgimento e estabelecimento de diversas ongs nacionais e internacionais (como, por exemplo: Idec, SOS Mata Atlântica, Ethos, Greepeace, WWF), e outras iniciativas como o CDC, o fortalecimento do Ministério Público, a ECO92 e as auto-regulações como o Novo Mercado. Tudo isso criou um solo fértil onde as mentes já estavam preparadas para falar sobre o "repensar" as coisas”, afirma Gláucia.

Para Seravalli, a GRI tem grandes possibilidades para o futuro. “Não há limites para a expansão do uso da GRI. Porém, a maioria das pequenas e médias empresas deverão passar por um processo de aprendizado, não somente sobre o tema Responsabilidade Social, mas também na busca da internalização da sustentabilidade em seus negócios, e finalmente na melhor forma para reportar seus resultados. Um caminho longo, mas promissor e sustentável”, afirma.


GRI Readers Choice Awards 2010 tem premiados no Brasil

Com mais de dois mil relatórios produzidos nos últimos dois anos dentro de suas especificações, a GRI premiou em 2010 os melhores produzidos nos quatro cantos do mundo. Com categorias que premiam desde o relatório mais útil aos leitores até os inovadores e os mais completos, a votação dos melhores foi feita, como em edições anteriores, de forma voluntária. Os mais de 20 mil stakeholders espalhados pelos 80 países em que a GRI está presente, além de outros interessados pelo assunto, puderam votar nos melhores relatórios apresentados em diversas categorias. Ao todo, dos dois mil relatórios concorrentes ao prêmio, que acontece a cada dois anos, 1.100 receberam votos nessa edição.

Entre as empresas brasileiras que adotam o modelo da GRI para confecção de seus relatórios, está o Banco do Brasil, um dos ganhadores do prêmio GRI Readers Choice Awards 2010, que aconteceu em Amsterdã, na Holanda, no final de maio. Pelo resultado de seu relatório anual de 2008, a instituição financeira foi a ganhadora em três categorias (Prêmio Engajamento, Prêmio Investidor e Vencedor Geral) das seis existentes. O resultado consolida o Banco como referência na prática de demonstração da sua transparência com seus públicos e a sua preocupação com a sustentabilidade onde atua.

A opção em adotar o modelo da GRI para composição de relatórios nas áreas ambiental, social e econômica chegou ao Banco do Brasil em 2007. O incentivo veio da possibilidade de que os resultados do maior banco estatal do Brasil pudessem ser comparados pelos leitores e stakeholders com os relatórios e resultados de diversas outras grandes instituições mundiais de segmentos iguais ou diferentes.

Matéria publicada originalmente na edição 18 - Revista Geração Sustentável (Lyane Martinelli) Clique na imagem e tenha acesso às últimas edições

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