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quinta-feira, 23 de maio de 2013

ARTIGO: ESCASSEZ OU ABUNDÂNCIA? EIS A QUESTÃO! Edição 32

Em todas as cidades e países do mundo, alguns poucos privilegiados – menos de 10% da população – vivem de modo que contrasta demais com o modo de viver da maioria das pessoas. No decorrer de milhares de anos, essa disparidade mantém-se constante e, ao que tudo indica, parece difícil de ser anulada.

O mundo caminha para 10 bilhões de pessoas até o ano 2050. Em diferentes regiões do planeta, milhões de pessoas aguardam e algumas imploram pela ajuda de países mais abastados, considerando a máxima de que “enquanto dois terços da população mundial passa fome, um terço faz regime para emagrecer”. Isso nos leva a imaginar que a abundância existe. O que não existe é a distribuição justa e igualitária das coisas.

Se o mundo dispõe de recursos, então, onde está o problema? Acabei de ler (devorar) o livro Abundância: o futuro é melhor do que você imagina, Peter H. Diamandis, empreendedor que se tornou um inovador pioneiro no Vale do Silício, e Steven Kotler, premiado jornalista e escritor de ciências.

Durante uma agradável leitura, os autores documentam como o progresso nas áreas de inteligência artificial, robótica, computação infinita, redes de banda larga, manufatura digital, nanomateriais, biologia sintética e muitas tecnologias de crescimento exponencial permitirão que todo ser humano na face da Terra disponha, nas próximas duas décadas, de ganhos maiores que os ganhos obtidos nos últimos dois séculos, em termos de qualidade de vida.

Em mais de quatrocentas páginas enriquecidas por depoimentos, pesquisas e dados inquestionáveis, os autores exploram como quatro forças emergentes – tecnologias exponenciais, inovadores que seguem a filosofia faça-você-mesmo, tecnofilantropos e o bilhão ascendente – conspiram para resolver os maiores dilemas da humanidade.

Um dos principais exemplos citados pelos autores vem da cidade planejada de Masdar, nos Emirados Árabes Unidos, que está sendo construída pela Abu Dhabi Future Energy Company. Localizada na periferia de Abu Dhabi, depois da refinaria de petróleo e do aeroporto, Masdar foi projetada para abrigar 50 mil moradores, enquanto outros 40 mil trabalhadores se esforçam para colocar a cidade em pé.

O interessante nesse exemplo é que nenhum carro será permitido dentro do perímetro da cidade, e nenhum combustível fóssil será consumido dentro do seu território, apesar de Abu Dhabi ser considerada o quarto maior produtor de petróleo da OPEP, com 10% das reservas conhecidas.

Segundo os autores, a cidade inteira está sendo construída para um futuro pós-petróleo, ameaçado pela falta dessa matéria-prima fóssil, e pelos conflitos por água, entretanto, mesmo num mundo sem petróleo, Masdar continuará banhada por muita luz solar.

A quantidade de energia solar que atinge nossa atmosfera foi calculada em 174 petawatts, com variação de 3,5% para mais ou para menos. Desse fluxo solar total, cerca de metade atinge a superfície da Terra. Como a humanidade consome atualmente cerca de 16 terawatts anuais (2008), existe, portanto, mais de 5 mil vezes energia solar atingindo a superfície do planeta do que consumimos num ano.

Com base nessa constatação e em outros exemplos citados no livro, Diamandis e Kotler são enfáticos: o problema não é de escassez, mas de acessibilidade. Isso não é diferente com a água, considerando que Masdar fica no Golfo Pérsico, um grande corpo aquoso, entretanto, salgado demais para o consumo ou para a produção agrícola. Mas, e se uma nova tecnologia conseguisse dessalinizar uma pequena fração dos oceanos para resolver o problema da água, não apenas do Golfo Pérsico, mas de outros países também?

O “modelo da escassez” ganhou velocidade a partir dos estudos de Thomas Robert Malthus, economista inglês do século 18, o qual percebeu que enquanto a produção de alimentos expandia-se linearmente, a população mundial crescia exponencialmente.

Por conta disso, Malthus estava convencido de que chegaria o tempo em que o ser humano excederia a sua própria capacidade de se alimentar ou, como ele mesmo observou: “o poder da população é indefinidamente maior do que o poder da Terra de produzir subsistência para o homem”.

Contudo, de 1800 para cá, a população mundial cresceu 7 vezes, ao ritmo de 80 milhões de pessoas por ano, em média. Apesar de a fome ser ainda uma preocupação mundial, o mundo continua produzindo alimentos suficientes para alimentar em torno de duas vezes a população da Terra todos os anos. Mais uma vez, o problema não está na escassez, mas no desperdício.

O número de pessoas que vivem em pobreza extrema, com apenas USD 1,25 ao dia ou menos, caiu de 1,8 bilhões em 1990 para menos de 1,4 bilhões em 2010, entretanto, ainda é assustador. Em menos de trinta anos, a China retirou mais de 400 milhões de pessoas da miséria absoluta.

Ao contrário do que pensava Malthus, os recursos continuam aparecendo, as tecnologias e a boa vontade política também. Na prática, como dizem os autores, só existe uma opção: se não é possível livrar-se das pessoas, é preciso ampliar os recursos que essas pessoas consomem.

Com escassez ou abundância, construir um mundo melhor é o maior desafio da humanidade. Abundância é uma palavra mais otimista do que escassez e devemos torcer para que uma combinação adequada de tecnologia, pessoas sensatas e capital seja capaz de superar qualquer obstáculo.

Jerônimo Mendes

Administrador, Coach
Empreendedor, Escritor e
Palestrante.
Mestre em Organizações
e Desenvolvimento Local
pela UNIFAE

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