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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Transformando entulho da construção civil em novos produtos

Reciclagem de resíduo da construção civil contempla o tripé da sustentabilidade: gera economia, proteção ambiental e desenvolvimento social

Toda obra, seja ela de pequeno ou grande porte, gera entulhos da construção civil. Tijolos, areia, restos de blocos cerâmicos e de concreto, pedras, entre outros, são materiais que podem ser reaproveitados em outras obras. Preocupado com a grande geração de resíduos pela construção civil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) emitiu a resolução Nº 307, de 5 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Segundo o texto da resolução, “os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final”.

Há pouco mais de um ano foi editada a Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A lei reforça diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos sólidos, como os da construção civil. Afinal, os entulhos podem gerar riscos sanitários, ambientais e econômicos. No caso da reciclagem, por exemplo, os ganhos são inúmeros. Desde a redução da utilização de áreas públicas destinadas ao depósito desses entulhos ou o descarte em áreas irregulares que propiciam a procriação de animais transmissores de doenças, até a diminuição da extração de pedras, minério de ferro e outras matérias-primas utilizadas na construção civil.

“Com a nova lei as empresas precisam criar um plano de gerenciamento desses resíduos. Um processo de reciclagem irá propiciar a geração de empregos, o recolhimento de impostos, propiciando assim que negócios sejam viáveis do ponto de vista social-econômico-ambiental.", comenta o promotor Edson Luiz Peters (foto ao lado), da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente de Curitiba. E completa: “Não podemos permitir que esses resíduos ainda sejam jogados em rios, beira de estradas ou em outros locais impróprios”.

Para o promotor, o assunto deve ser tratado com as principais entidades envolvidas, como o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado (Sinduscon/PR) que representa o setor, com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) que fiscaliza e outras entidades como a Acertar (Associação dos Transportes de Resíduos de Curitiba e Região). “Quero envolver também o Estado como um todo. O Estado é um grande agente que demanda construções. E no momento atual com a Copa e outros projetos de infraestrutura, projeto Minha Casa, Minha Vida (por exemplo), é importante envolver entidades como a Cohapar e a Cohab nesse processo”, comenta.

O intuito é incluir nos processos de licitação que materiais reciclados façam parte dos editais. “Incluir que a pavimentação (calçadas e blocos de cimento para calçadas) sejam feitos com material reciclado). Essas calçadas ficarão mais seguras, pois serão mais abrasivas e evitarão alguns acidentes comuns nas calçadas de Curitiba. Solicitei também um estudo para a ABNT sobre o uso desses materiais. Temos que perceber que podemos reduzir a mineração e a extração de materiais da natureza e reutilizar materiais reciclados”, salienta o promotor.

Vale lembrar que a atividade da construção civil gera quatro qualidades de lixo e cada uma deve ser destinada de forma diferente. A bióloga Cláudia Regina Boscardin, da Coordenação Técnica de Recursos Hídricos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente explica que o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil deve ser elaborado e implementado pelo município para estabelecer diretrizes técnicas e procedimentos para o exercício das responsabilidades dos pequenos geradores.

No Plano Integrado de Curitiba, foram definidos dois tipos de pequenos geradores. “Aqueles que descartam uma única vez a quantidade total de meio metro cúbico de resíduo de construção e demolição (RCD) Classe A e C, previamente segregados, num intervalo não inferior a dois meses; e aqueles que geram a quantidade máxima total de dois metros cúbicos e meio de RCD Classe A e C, num intervalo não inferior a dois meses. Para os primeiros, o município realiza a coleta pública no local, mediante solicitação ao serviço 156; para os últimos, o município prevê a implantação de áreas de transbordo para armazenamento temporário e posterior destinação final”, conta Cláudia.

A prefeitura oferece também a coleta pública de RCD Classe B no local até a quantidade de zero vírgula seis metros cúbicos por semana, respeitada a freqüência de coleta no local, e a coleta especial de resíduos tóxicos nos terminais de transporte, para os resíduos classe D.


Grandes geradores

Já os entulhos proveninetes de obras maiores são de responsabilidade dos geradores. A Resolução 307 do Conama também determina a elaboração de plano integrado de gerenciamento de resíduos (PIGRCC), de responsabilidade dos municípios.

O Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil de Curitiba (Decreto 1.068/2004) disciplina o manuseio e disposição dos vários tipos de resíduos produzidos nos canteiros de obras. Conforme o Sinduscon/PR, os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC) deverão ser elaborados e implementados pelos geradores e terão como objetivo estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e destinação ambientalmente adequada dos resíduos.

A Portaria da SMMA 07/2008 instituiu o Relatório de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil a ser apresentado pelas empreiteiras e construtoras no momento da conclusão das obras. “O Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil define os geradores destes resíduos como responsáveis pelo seu gerenciamento, cuja prioridade deve ser a não geração e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a adequada destinação final”, comenta Cláudia.

Além da reciclagem, os grandes geradores também dispõem os entulhos em Aterros de Resíduos da Construção Civil licenciados para este fim. De acordo com dados de 2010, citados no Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Curitiba, são geradas cerca de 2,4 mil toneladas de resíduos da construção civil por dia na capital paranaense, correspondente a aproximadamente 65% do montante de resíduo gerado no município.

O Decreto 1.120/1997 regulamenta o transporte e a disposição de resíduos de construção civil. De acordo com o decreto, o transporte das caçambas carregadas deverá ser acompanhado por um Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR), expedido pela empresa transportadora, além de outros dados, como endereço da destinação do resíduo e número da autorização da área expedida pela SMMA. Na Secretaria Municipal do Meio Ambiente há 75 empresas cadastradas e licenciadas para transporte de resíduos da construção civil, principalmente para Classe A, e 97 empresas ativas com cadastro ou licença em transição de renovação de licença.


Usina recicla entulho da construção civil

Inaugurada em abril e em funcionamento desde junho deste ano na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), em Almirante Tamandaré, a Usina de Recicláveis Sólidos Paraná (Usipar) atua na reciclagem de sobra de materiais de construção civil de Curitiba e Região Metropolitana. A usina ocupa uma área de 54 mil metros quadrados e teve um investimento inicial de R$7 milhões.

A Usipar recicla resíduos classe A, que inclui a caliça das obras de construção civil - como restos de material cerâmico, concreto e argamassa. Após separar os materiais de acordo com sua classificação, a Usipar tritura a caliça transformando-a em areia, brita, pedrisco e rachão, que são comercializados para nova utilização na construção civil.

O diretor presidente do grupo que implantou a Usipar, Adonai Aires de Arruda, explica que a usina visa atender 15% do mercado de Curitiba e RMC até o final do ano, inclusive ampliando o projeto com a construção de novas unidades em outras regiões. De acordo com ele, o segmento da construção civil, um dos mais aquecidos do país principalmente pela proximidade da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil, aumentará ainda mais a procura por estes produtos e, por consequência, sua destinação correta.

Arruda também destaca as vantagens competitivas da reutilização como a preservação ambiental com a redução da extração de areias e pedreiras. “Além de propiciar o não acúmulo deste tipo de material, podemos reciclá-lo e dar a destinação adequada. Somos grandes geradores de lixo, pois a densidade demográfica cresce em progressão geométrica. Por isso precisamos dar atenção à preservação das matérias-primas, principalmente à água. Nesse boom da construção civil, em que cada esquina tem uma obra, se não construirmos alternativas, no futuro teremos problemas sérios”, lembra Arruda.

Sua holding tem foco em limpeza e conservação. “Há anos tenho convivido com pessoas do meio que vivenciam o problema de destinação de resíduos de construção civil”, comenta. Foi então que, juntamente com outros profissionais, vislumbrou a oportunidade de negócio. O grupo contratou uma consultoria técnica e iniciou as pesquisas para a implantação da usina há cerca de quatro anos.

Após o período para a obtenção de todas as licenças ambientais e a adequação do projeto às necessidades regionais, a empresa começou sua operação com a capacidade média de 8 mil toneladas de resíduos ao mês, com a possibilidade de alcançar em médio prazo a demanda de 20 mil toneladas ao mês.

Atualmente são 30 colaboradores, que atuam em diversos processos: da classificação até a trituração da matéria-prima que pode ser reutilizada na construção civil com preço até 25% mais baixo.

A bióloga Priscilla Marques, responsável pelo Programa de gestão ambiental interno da holding destaca que a criação da usina representa um salto estratégico com foco na sustentabilidade. “Não podemos achar que os recursos naturais são infinitos, é preciso preservar para as futuras gerações”, ressalta.


O processo de reciclagem

O gerente comercial e operacional da Usipar, Adilson Penteado, que é também presidente da Acertar e do Sindiresíduos, comenta que a usina busca destinar o material inerte de forma adequada. “Muitas vezes este material acaba sendo descartado em locais impróprios e agride rios”, lembra.

Ele explica que o processo de reciclagem dos materiais oriundos da construção civil começa no canteiro de obras, quando ocorre uma primeira separação dos materiais. Depois, o gerador contrata um transportador de resíduos que os leva até a usina. “O gerador deve contratar o destinador final. A Usipar pode fazer o transporte e o laudo de destinação adequada. Pagamos R$5,00 o metro cúbico de caliça, desde que os materiais de concreto tenham espessura máxima de 60 centímetros”, explica.

Alexandre Graeser Blaszezyk, sócio administrador da usina, comenta que o processo de reciclagem é simples: ocorre a triagem, a trituração e a separação dos materiais de acordo com a granulometria. O processo gera cinco produtos: bica corrida, rachão, brita 2, pedrisco e pó de pedra que podem ser usados em bases asfálticas e de pisos. Penteado ressalta que o material, após ser reciclado, pode ser comprado 25% mais barato com material agregado: cal e cimento que geram economia desses materiais.

O resíduo da construção civil é um dos mais heterogêneos resíduos industriais. Ele é constituído de restos de praticamente todos os materiais de construção (argamassa, areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais, papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas) e sua composição química está vinculada à composição de cada um de seus constituintes. No entanto, a maior fração de sua massa é formada por material não mineral (madeira, papel, plásticos, metais e matéria orgânica).

Por isso, na Usipar, todo o material reciclado que é separado na triagem e não serve para a construção civil, como o plástico e o papelão, são prensados e encaminhados às empresas licenciadas para o destino correto destes produtos. O material excedente como aço e madeira é destinado para a reciclagem específica. “Cerca de 10% é rejeito (tapetes, roupas) que são encaminhados para aterro industrial”, conta Blaszezyk.

A engenheira Livia Ferreira, da 3R Ambiental – empresa que, juntamente com o Instituto de Ecologia Terrestre atuou nos estudos preliminares desde o início do projeto – destaca que a Usipar é uma planta desenvolvida especificamente para o processamento de resíduos sólidos da construção, e não uma planta de britagem adaptada como muitas instaladas no Brasil. “Logo, a qualidade do agregado produzido pela planta é excelente”, comenta.

Ela ressalta que a reciclagem de resíduos é fundamental para implementar um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de satisfazer as necessidades do conjunto da população do presente sem comprometer a capacidade de sobrevivência das relações futuras. “O processo de reciclagem de resíduos da construção civil é simples, econômico e principalmente eficiente”, salienta.


Logística inteligente

Penteado salienta que a Usipar desburocratiza a relação entre poder público e os geradores, por meio da contratação direta do gerador com o destinador final. “Facilitando assim, a fiscalização do descarte dos resíduos, com a emissão de laudos de destinação, contemplando os números dos MTRS, números das caçambas e quantitativos em metros cúbicos”.

Ele também destaca a redução no transporte, ou seja, otimização de itinerários. “Pois o mesmo caminhão que levar os resíduos na usina, poderá retornar para a origem carregado com o material agregado a ser utilizado na obra”.

Apesar de todo o trabalho de triagem prestado nas dependências da Usipar, direcionando para outros recicladores resíduos como plástico e papelão, é imprescindível que seja feita uma melhor separação já nos canteiros de obras. Nesse sentido a empresa atua também na orientação aos geradores para que façam a separação desses outros materiais. Assim, a Usipar contribui para essa mudança cultural na gestão dos resíduos da construção civil.

"Nosso objetivo é mostrar que a reciclagem destes materiais é importante para o meio ambiente, por isso precisamos conscientizar que a separação de lixo tem que ser efetuada desde o começo do processo, como fazemos em casa", afirma a engenheira Livia Ferreira.

O engenheiro civil Leonardo Almeida, sócio proprietário da AN Sistemas Construtivos, há sete anos no mercado, também enfatiza que a separação no canteiro de obra facilita o processo. Ele está usando a brita reciclada para a base da rede de esgoto e água em um condomínio residencial de Piraquara com 42 residências. “A Caixa Econômica Federal, financiadora da obra, dá prioridade a projetos que visem a sustentabilidade”, explica Almeida.

Ele destaca que os benefícios são ambientais e econômicos, entretanto, é necessário que sejam abertas mais unidades de usinas como esta, pois há locais que inviabilizam a compra do material devido ao longo percurso de transporte.

Foto: (da esquerda para direita) Vice-Presidente da FECOMÉRCIO: Paulo César Nauiack, Diretor Administrativo Financeiro da COHAPAR: Agostinho Creplive Filho, Prefeito de Almirante Tamandaré: Vilson Goinski, Sócio Usipar: Adonai Aires de Arruda, Sócio Usipar: Alexandre Graeser Blaszezyk,Secretário Municipal de Administração e Previdência de Almirante Tamandaré: Gerson Denilson Colodel, Sócio Usipar: Adilson Orlando Penteado,Diretor da Nortec: Artur Granato



Reciclagem – Processo realizado pela Usipar

a) Todo material a ser reciclado é depositado em área de triagem onde são selecionados os materiais que não poderão ser processados na usina, tais, papel, ferro, madeira, vidro, entre outros. Após previamente separados o material resultante passará pelo processo de reciclagem.

b) Esses rejeitos (pedras, terra, resto de concreto) são levados por caminhão ou pás carregadeiras até um alimentador vibratório que alimentará mecanicamente um britador que fará a redução destes materiais a tamanhos compatíveis a sua reutilização.

c) O resultado desta britagem é recolhido por um transportador de correia que levará o produto até uma peneira vibratória onde se realizará a separação dos materiais que podem chegar a cinco produtos: bica corrida, pedra 1, pedra 2, pedrisco e pó.

Fonte: 3R Ambiental

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Veja os outros conteúdos dessa edição!

Matérias:
Responsabilidade Ambiental: Composteiras Industrializadas
Visão Sustentável: Os projetos florestais do Grupo Ecoverdi
Responsabilidade Social: Ações e Projetos CPCE
Qualidade de Vida: Academias ao ar livre (Curitiba)
Desenvolvimento Local: Os desafios da Construção Civil


Artigos:
Fabrício Campos: Círculo Virtuoso e os Caminhos da Sustentabilidade
Gastão F. da Luz: De cógidos, fatos e acontecimentos
Jeronimo Mendes: A nova Ordem Econômica
Evandro Razzoto: Marketing Verde como ferramenta estratégica de negócio

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Um comentário:

  1. O pior é que não tem uma construção que não deixa restos de materiais. Algumas construtoras acabam com os entulhos, sempre que vou contratar, priorizo elas. Agora vou poder começar a usar essas dicas. Não preciso mais me preocupar com os restos de uma obra. Obrigado!

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