Se você pretende dar um presente para as próximas gerações, conheça maneiras criativas de embalar os produtos, que podem minimizar a criação de lixo
As embalagens fazem parte do dia-a-dia da humanidade pois conservam, acomodam e divulgam uma infinidade de tipos de produtos. Imagine quais dos produtos consumidos por você diariamente que não possuem uma embalagem, pois este exercício é mais fácil do que pensar nos que têm.
As embalagens fazem parte do dia-a-dia da humanidade pois conservam, acomodam e divulgam uma infinidade de tipos de produtos. Imagine quais dos produtos consumidos por você diariamente que não possuem uma embalagem, pois este exercício é mais fácil do que pensar nos que têm.
Saiba que as primeiras embalagens surgiram há mais de 10 mil anos, de acordo com a Associação Brasileira de Embalagens (Abre). Elas serviam como simples recipientes para beber ou estocar, como cascas de coco ou conchas do mar, usados em estado natural, sem qualquer beneficiamento. Depois, tais recipientes passaram a ser obtidos a partir da habilidade manual do homem. Aí surgiram tigelas de madeira, cestas de fibras naturais, bolsas de peles de animais e potes de barro.
Segundo a Abre, a primeira matéria-prima usada em maior escala para a produção de embalagens foi o vidro, criada pelos artesãos sírios já no primeiro século depois de Cristo. No início do século 19, a Marinha Inglesa utilizava as latas de estanho e os enlatados de alimentos começaram a aparecer nas lojas inglesas por volta de 1830. Após a Segunda Guerra Mundial, a vida urbana conheceu novos elementos. Um deles foi o supermercado e com ele, a necessidade de transporte e armazenamento de produtos. Foi aí que surgiram as embalagens de papel e papelão. É também do pós-guerra o aparecimento do plástico.
Hoje é possível afirmar que o uso de embalagens é inevitável. É aí que vão quilos e quilos de resíduos sólidos. Estima-se que um brasileiro gera, em média, um quilo de lixo por dia. Pode ter certeza que grande parte é composta por embalagens. Por isso, empresários e pesquisadores começaram a pensar em novas formas de acomodar e conservar os produtos. Boas iniciativas estão surgindo nas universidades, principalmente em cursos de Design e especializações na área. Afinal, é daí que saem a maioria dos profissionais que atuarão no design de embalagens. A professora Sieglinde Piper Roede, que é graduada em Desenho Industrial, com mestrado em Tecnologia, atua no curso de Design das Faculdades Integradas do Brasil, de Curitiba, e conta que na área de Design há disciplinas que tratam do desenvolvimento de novos produtos, priorizando a sustentabilidade. É o caso da Gestão Ambiental em que se realizam estudos sobre o ciclo de vida de cada produto existente, quando se leva em consideração todo impacto ambiental, desde a extração até o descarte. “Na nova solução busca-se escolher matérias-primas que causem menor impacto ambiental”, explica.
Nas disciplinas de Design Gráfico, Sieglinde ressalta que se procura aplicar os conhecimentos adquiridos durante o desenvolvimento dos projetos, avaliando sempre o custo-benefício de cada escolha de materiais e também para que contexto ele está sendo projetado. Em 2008, ela e seus alunos desenvolveram embalagens e rótulos para produtos alimentícios preparados pelos participantes Projeto Empório Metropolitano de Curitiba, da Fundação de Ação Social (FAS), que são comercializados em lojas do Mercado Municipal. Segundo ela, tais produtos alimentícios não possuem aditivos químicos (como conservantes e estabilizantes), pois têm a proposta de serem artesanalmente produzidos e naturais. “Dentro desse contexto não combina utilizar um material como uma bandeja de isopor para acondicionar biscoitos, pois trata-se de uma embalagem altamente poluente, que está na corrente oposta (produção industrial) do conceito que os produtos querem passar (produção artesanal)”, explica.
Durante as pesquisas para a concretização do projeto, os estudantes levaram em conta a necessidade do produto ter uma embalagem. “Num primeiro momento foi estudado o que pode ser reduzido em termos de matéria-prima. Num segundo momento vários alunos escolheram desenvolver as embalagens em cartão kraft que é produzido com polpa de fibras de madeira que não sofreram branqueamento químico, processo altamente poluente na fabricação de papel”, exemplifica. Na impressão da embalagem evitaram também o uso exagerado de cores e de áreas coloridas que prejudicam a reciclagem póstuma do material.
Algumas embalagens receberam apenas etiquetas com impressões localizadas para que o cartão kraft ficasse isento de impressão. “Em alguns casos o uso do plástico é importante para a conservação dos alimentos e também para não encarecer tanto o produto. Então optou-se pela criação de etiquetas impressas em papel que possam ser retiradas na separação do lixo reciclável”, conta. Sieglinde ressalta que o design é uma área que reúne múltiplos fatores (mercadológicos, tecnológicos, ambientais, sociais, culturais), assim, todas as estratégias utilizadas têm que equilibrar esses fatores. “É necessário avaliar cada ideia desenvolvida levando em conta esses fatores. De nada adianta também tirar a embalagem se o produto deixa de aparecer na gôndola e o consumidor deixa de visualizá-lo”, enfatiza.
Plástico: envolto em benefícios e males
Vale lembrar que entre as matérias-primas das embalagens, o plástico está presente na maioria delas. Sua decomposição leva cerca de cem anos. O produto já surgiu como resíduo, pois é o excedente do petróleo. Relativamente novo – se comparado ao vidro e ao papel – o plástico registrou um desenvolvimento acelerado a partir de 1920.
O Brasil produz cerca de 3 milhões de toneladas de plástico, segundo dados de 2009 do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Desse total, apenas 10% são reciclados anualmente (cerca de 300 mil toneladas). O consumo per capita de plásticos no Brasil é de 21 quilos, por habitante, ao ano. Nos Estados Unidos, este índice quase quadruplica.
O agravante é que, em geral, os materiais plásticos ocupam muito espaço nos aterros devido a dificuldades de compactação e por sua baixa degradabilidade. Além disso, as embalagens plásticas lançadas indevidamente no ambiente contribuem para entupimentos, propiciam condições de proliferação de vetores, prejudicam a navegação marítima e agridem a fauna aquática, além de causarem poluição visual.
No Brasil, eles já representam cerca de 20% dos resíduos. Basta verificar que alguns produtos têm excesso de embalagens plásticas. A atitude do consumidor, neste sentido, é fundamental para a mudança de hábito. No caso das embalagens desenvolvidas pelos alunos do 6º período de Design da UniBrasil, em 2008, o plástico não foi totalmente substituído, mas seu uso foi minimizado. Naotake Fukushima, que é mestre em Design, com aperfeiçoamento em Design de Embalagem e Graduação em Design Gráfico, lembra que, no momento, há um abuso no uso do plástico. Fukushima preside a Associação Profissional de Design do Paraná (Pro Design) e atua como diretor do Centro de Design do Paraná, que está organizando a Bienal de Design 2010, em Curitiba. Ele é pesquisador do Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde é professor. O designer pondera sobre a substituição do plástico. Para ele, existe uma lenda que trocar é bom por si só. “De fato, substituir o plástico atende a diretriz da sustentabilidade no requisito da conservação e biocompatibilidade mas, muitas vezes, entra em conflito com outras diretrizes, como minimização do consumo e do transporte ou otimização da vida do sistema", sublinha.
O designer destaca que na atualidade não existe um material que ofereça, ao mesmo tempo, resistência, durabilidade, estrutura, proteção e custo. “Ao se realizar uma avaliação mais criteriosa utilizando a análise de ciclo de vida, o plástico tem seu valor. Assim, por exemplo, consumir menos produtos que utilizam plástico é bem melhor que trocar o plástico por um outro material e continuar consumindo tanto”, salienta.
Alternativas
A professora Alice Maria Ribeiro da Silva, mestre em Design, com especialização em Design de Embalagens e graduação em Desenho Industrial, pesquisou sobre o uso do grés (material obtido da argila) no design cerâmico de embalagens para cosméticos. Ela atua como docente no curso de Design da UniBrasil.
Alice ressalta que há um polo cerâmico em Campo Largo, região próxima a Curitiba, onde estão instaladas diversas empresas produtoras de louça de mesa e objetos de adorno. Além disso, o Paraná tem uma grande concentração de indústrias produtoras de cosméticos e perfumaria e está situado entre o terceiro e quarto lugar em números de indústrias no Brasil neste segmento. Estes foram os motivos que originaram sua pesquisa sobre a cerâmica do tipo grés como alternativa ao plástico e ao vidro, amplamente utilizados para a área de cosméticos.
Em seu experimento, Alice fez um estudo comparativo de uma embalagem existente em vidro com a sua reprodução em material cerâmico. “O resultado foi satisfatório, pois, de acordo com as avaliações realizadas, laboratorial, mercadológica e industrial, os resultados apontaram para a possibilidade de utilização no setor de perfumaria e cosméticos desde que atenda às especificações de normatização de mercado e adaptações técnicas para produção industrial”, conta.
Para ela, a indústria de embalagens deve estar preocupada com a sustentabilidade. “Os aspectos ambientais devem ser considerados, pois a preocupação com o descarte de material e seu reaproveitamento é cada vez maior”. Em seu projeto de mestrado esta questão foi abordada com a possibilidade de utilização de refil para reaproveitamento do mesmo pote cerâmico ou sua reutilização com outra função depois de conter e embalar o produto inicial. Desta forma, a embalagem terá um maior valor agragado, além de contribuir para o prolongamento do seu uso.
No caso da pesquisa de Alice, o uso do material cerâmico como alternativa ao vidro é viável, pois o processo produtivo da cerâmica, ao contrário do vidro, permite que se produzam pequenas quantidades, com custo acessível. “Mostrando-se adequado para séries especiais, datas comemorativas, funcionando como chamariz da empresa e contribuindo para seu posicionamento estratégico”, ressalta.
Planejamento: o “papel” das embalagens
O designer Cláudio Pereira, mestre em Design, professor do curso de Design Gráfico da Universidade Estadual de Londrina (UEL), coordenador do curso de especialização em Ecodesign da Universidade Positivo, e também pesquisador do Núcleo de Design e Sustentabilidade da UFPR, pesquisou sobre diretrizes para o design de embalagens em papelão ondulado.
“Nos últimos cinco anos de pesquisa em design e sustentabilidade, tem ficado cada vez mais evidente, para mim, que já não basta pesquisarmos novas soluções tecnológicas para os problemas ambientais e sociais. Antes disso, é preciso um questionamento sobre como consumimos produtos e serviços, pois é extremamente necessária a necessidade de atendermos as nossas necessidades utilizando uma proporção de recursos muito menor do que se utilizou até agora”, comenta. Ele sustenta que só assim as gerações futuras conseguirão também atender às necessidades delas.
Por isso, sua pesquisa consiste em definir diretrizes que orientem os designers e projetistas de embalagens, entre outros profisisonais envolvidos em sistemas logísticos B2B (business to business), no planejamento de sistemas de proteção e transporte mais eficientes utilizando o papelão ondulado como matéria-prima principal das embalagens. Segundo ele, apesar desse recorte, várias das diretrizes, notadamente aquelas com foco no sistema, são aplicáveis a sistemas que utilizem embalagens feitas com outros materiais.
Pereira esclarece que as diretrizes são organizadas em dois grupos: o primeiro com foco na embalagem, que traz recomendações para o projeto das embalagens de papelão em si, incluindo, por exemplo, a seleção de materiais, o uso de energia e água, a forma de desmontagem e descarte, etc.; e o segundo com foco no sistema, que traz recomendações para o planejamento do ciclo de vida do sistema, incluindo por exemplo, o tipo de transporte, armazenamento e controle logístico, entre outros aspectos.
“As conclusões foram surpreendentes, pois constatamos, no caso estudado, que o grande impacto das embalagens B2B (ou seja, voltadas à logistica entre empresas, e não ao consumidor final) está no transporte, e não na embalagem em si”, conta. Por meio da análise do ciclo de vida, percebeu-se que mais de 60% do impacto ambiental relacionava-se ao transporte com caminhão a diesel por um trecho de cerca de 500 quilômetros, enquanto que a embalagem em si, incluindo os resíduos gerados, representava apenas 30% do impacto. “Com isso, notamos que não basta apenas o designer criar embalagens ditas ‘ecológicas’, um termo aliás, bastante inadequado. É importante que o designer tenha um papel mais estratégico no planejamento do sistema, atuando junto com outros profissionais no planejamento”.
Para Pereira, o mercado de embalagens funciona como um termômetro do mercado em geral, pois quando há uma tendência recessiva este é um dos primeiros mercados a sofrer. Com isso, a busca por abordagens inovadoras de negócios é muito importante para o setor. O designer destaca que o mercado de embalagens ainda está focado no paradigma de produção-consumo-descarte, ou seja, uma abordagem industrial linear, incompatível com os graves problemas ambientais enfrentados hoje. “Esse modelo vê apenas a produção de bens tangíveis (no caso as embalagens) como unidade rentável de negócio. No entanto, para conciliar as necessidades de sobreviência econômica das empresas com a necessidade de reduzir drasticamente o consumo de recursos (materiais, água, energia, etc) faz-se necessária a busca por novos paradigmas de negócio, que foquem, por exemplo, os benefícios finais para o consumidor como unidade de valor, e não a posse do bem em si”.
Isso vale para diversos produtos que não precisam necessariamente ser “possuídos” pelo usuário. Pereira acredita que as embalagens podem entrar nessa abordagem, bem como automóveis, ferramentas, máquinas de lavar, roupas e outros produtos.
Descarte de embalagens
O professor Cláudio Pereira esclarece que há uma oportunidade de aliar inovação e sustentabilidade no mercado de embalagens, mas as empresas devem estar preparadas para novas abordagens de negócios, mais desmaterializadas, focadas nas necessidades dos consumidores e usuários em vez da posse dos produtos.
O professor Cláudio Pereira esclarece que há uma oportunidade de aliar inovação e sustentabilidade no mercado de embalagens, mas as empresas devem estar preparadas para novas abordagens de negócios, mais desmaterializadas, focadas nas necessidades dos consumidores e usuários em vez da posse dos produtos.
Ele lembra que no setor de embalagens B2B, por exemplo, as empresas já utilizam embalagens retornáveis há bastante tempo, mas não necessariamente com foco ambiental, e sim de redução de custos e otimização logística. “Se é mais interessante economicamente o uso de uma embalagem retornável em vez de descartável, a empresa a utiliza, sem levar em conta se será menos impactante ambientalmente ou não. No setor B2B, o uso de materiais mais avançados tecnologicamente, notadamente os plásticos, também tem aumentado”, adverte.
De acordo com o professor, a redução do impacto ambiental causado pelo descarte inadequado de embalagens é hoje um dos problemas ambientais mais graves. Ele acredita que se houvesse um sistema de recolhimento e destinação adequada destas embalagens, o problema ambiental causado seria bastante reduzido. “No Brasil, muitas cidades ainda sequer têm um sistema de gestão de resíduos sólidos, e as embalagens plásticas acabam sendo descartadas de forma irresponsável. E mesmo nas que têm esses sistemas, a população ainda não está suficientemente educada para colaborar com a destinação correta”.
Entretanto, o Congresso Nacional aprovou, depois de muitos anos de discussão, a Lei Nacional de Resíduos, que traz para os fabricantes um novo nível de responsabilidade pelos resíduos que geram, entre eles os de embalagens. Atenta a esta necessidade, a professora Dulce de Meira Albach sempre se envolveu em projetos na área de embalagens. Graduada em Desenho Industrial pela UFPR, ela possui mestrado em Gestão Ambiental.
Um de seus principais projetos é o Caixa Ecológico. Tudo começou com suas pesquisas sobre recicladoras de embalagens, pois estava preparando para atuar no processo de reciclagem. “Nesta pesquisa pude observar que o problema já acontecia anteriormente à recicladora, na forma como os resíduos são separados e descartados.Foi aí que surgiu a ideia de atuar na forma de descarte. O supermercado foi escolhido por ser um lugar de grande concentração de embalagens e que saem para o local de consumo (casas, empresas, etc.) e assim o consumidor fica o responsável pelo descarte”, conta.
Então teve que escolher o supermercado. “O Festval já chamava minha atenção por ter um programa social de contratação de pessoas surdas ou com deficiências mentais leves. E assim, imaginou-se que talvez também pudessem estar interessados em ter um programa na área de sustentabilidade ambiental. E foi o que aconteceu. Quando fizemos o contato com eles, estavam construindo uma nova loja - o Festval Barigui (em Curitiba) - e desta forma, o Caixa Ecológico foi incluído no projeto e inaugurado no momento de sua abertura, 10 de outubro de 2006”, conta.
A professora Dulce – que também é pesquisadora na área de embalagens e gerenciamento de resíduos – explica que o Caixa Ecológico é um check-out (local onde se paga as compras) diferenciado dos demais pela cor verde e identificação própria, onde os consumidores podem fazer um descarte antecipado de embalagens que, segundo seu próprio critério, não precisam ser levadas embora. “Por exemplo, uma pasta de dente. O consumidor leva o tubo e descarta a caixinha; ou um congelado o qual não há mais necessidade de ler as instruções; ou embalagens que embalam outras”.
Estas embalagens são descartadas em conteiners apropriados ao lado do caixa e são encaminhadas para a reciclagem. A cada quatro meses, o valor obtido com esta reciclagem é revertido para uma instituição filantrópica. “Juntamente com a proposta, sugere-se que os consumidores utilizem sacolas próprias retornáveis para suas compras, reduzindo desta forma o uso excessivo de sacolas plásticas”, completa.
A rede de supermercados Pão de Açúcar também se interessou pelo projeto e o implantou. “No Pão de Açúcar chama-se Caixa Verde e quem se responsabiliza pela destinação são cooperativas de catadores cadastradas pela rede. Teve início em uma loja em São Paulo e agora já se estende para toda a rede, inclusive em todas as lojas de Curitiba”. Segundo Dulce, o que pude concluir até o momento é que o Caixa Ecológico é um passo importante na discussão do grave problema que envolve os resíduos sólidos caracterizados por embalagens (neste caso de uso doméstico), no entanto há necessidade de mais divulgação e conscientização do cenário atual e das formas e atitudes que podem ser tomadas visando a minimização de impactos ambientais negativos. “E isto envolvendo toda a sociedade desde os próprios pontos de venda, seus funcionários, fornecedores e os consumidores. É um trabalho lento e que requer muita persistência”, considera.
Atores envolvidos
Quando se trata de minimizar o impacto ambiental das embalagens, é preciso lembrar de todos os atores envolvidos durante o ciclo de vida do material, pois cada um tem a sua responsabilidade. O projeto do Caixa Ecológico, por exemplo, identifica três importantes personagens em seu contexto: o fabricante, o ponto de venda e o consumidor. No entanto, o formato aplicado até o momento se destina apenas ao ponto de venda a ao consumidor. “Para que este ciclo seja mais abrangente, tenho a intenção de (provavelmente em um doutorado) explorar as questões que envolvem o fabricante. Da mesma forma que fiz um caminho inverso quando visitei as recicladoras e acabei chegando ao descarte, agora ‘retornari’ mais ainda, tentando chegar na ‘primeira’ fonte: o fabricante”, revela Dulce.
Ela ressalta que o imenso universo de embalagens com o qual convivemos merece discussão, atenção e análises aprofundadas no campo da sustentabilidade. “Os fabricantes têm uma grande responsabilidade e o desafio de encontrar saídas sustentáveis para materiais e processos de fabricação e embalamento ecologicamente sustentáveis em associação à viabilidade econômica. Porém, acredito que muito deste esforço envolve mudanças de hábitos de consumo, e neste caso uma relação mútua entre consumidores e fabricantes, onde ambos têm que estar dispostos e se preparar para estas mudanças”, defende.
A pesquisadora observa alguns casos onde empresas tentam abordar a questão de embalagens sustentáveis, utilizando o princípio da troca apenas de refil, por exemplo. Outras investem em materiais classificados como sustentáveis. “Infelizmente, em alguns casos, empresas estão se apoiando nesta onda e utilizando selos que identificam o produto como ‘sustentável’, mas, no entanto, estes selos são criados pela própria empresa, sem reconhecimento de algum órgão competente para tal. Neste caso, até o consumidor bem intencionado acaba sendo enganado”, adverte.
Dulce lembra de uma dura realidade: a sociedade atual gera muito lixo e as embalagens formam um montante considerável nesta pilha. “A sociedade como um todo precisa questionar a forma e a validade do volume de seu consumo e juntos buscarmos saídas para satisfazermos nossas necessidades sem desequilibrarmos o tripé da sustentabilidade: socialmente justo, ambientalmente correto e economicamente viável”, defende.
Matéria publicada na edição 19 da revista Geração Sustentável
Criselli Montipó
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