OS AMBIENTES E AS “VISIBILIDADES”. Quando a Educação faz a diferença.
Há uma parábola que é recorrente em relação a vários aspectos e temáticas contemporâneos. Trata-se da que ficou conhecida como Os seis cegos e o elefante e que se transmite no tempo, aproximadamente assim.
Era uma vez seis amigos indianos que estavam em casa a conversar, quando, da rua, vem um urro. Um deles proclama: “É um elefante! Eis a nossa oportunidade de saber como é este bicho.” Todos já na via pública, de pronto cercam o animal, cada um tocando-lhe uma parte do corpo (pernas, abdômen, orelhas, tromba, calda, presas). Começaram então a “definir” um elefante: “É algo que possui quatro colunas.”. “Não: é como uma parede.”. “Em absoluto! É um animal com o formato de uma ventarola.”. “É longo e roliço como uma serpente.”. “Para mim, é exatamente como uma corda.”. “Todos vocês são mesmo cegos: um elefante é idêntico a uma lança!”.
Quando se ouve ou lê, por exemplo, sobre as concepções de empresários, políticos, pesquisadores, ruralistas, estudantes e ambientalistas, em relação a “meio ambiente”, não é muito diferente. Cada um percebe o mesmo assunto por partes, de acordo com seus referenciais e/ou centros de interesse. E essa incapacidade de ver o todo em todas as suas implicações, se reflete nas relações sociedade-natureza, nas tomadas de decisão no dia-a-dia e, mais grave, nas Políticas Públicas. A revisão do Código Florestal Brasileiro, sob tutela da Câmara Federal, nos tem propiciado uma panorâmica da Babel conceitual ao redor do tema, bem como a convicção de que, na falta de um Projeto Sócio-Ambiental Nacional, corremos o risco de herdarmos um “elefante” teratológico e, como sempre, branco.
Por outro lado, no Brasil há iniciativas de tomadas de decisão dignas de registro e que nos colocam à altura de similares internacionais. Assim, também, por exemplo, no final da década de 1970, a partir da mobilização de jovens acadêmicos da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Rio Grande, RS, surge o Projeto Tamar, cuja pauta de trabalhos se dava com base em observar, descobrir, conhecer e intervir em prol de recuperação e preservação da Natureza. Tudo isso em uma época em que o “desenvolvimento a qualquer custo” era a tônica e pouco ou nada se veiculava sobre uma teoria-e-prática sócio-ambiental responsável. Hoje, presente em nove Estados Brasileiros, cobrindo cerca de 1.100 quilômetros de praias através de 23 Bases Científicas, o Projeto é um marco referencial de fôlego a ser mantido e reproduzido.
Porém, o sucesso do Tamar não se restringe à sua missão, tão somente: o ânimo daquela juventude de então, contagiou parceiros importantes e igualmente relevantes – de saída, os pescadores e suas famílias; depois, a Marinha do Brasil, a Petrobras e o Ministério do Meio Ambiente que lhe constituem hoje o tripé essencial onde a sabedoria ancestral, dos primeiros, se coaduna com os demais por meio de tombamento e financiamento, numa comunhão virtuosa que continua atraindo Universidades, Prefeituras Municipais, instituições privadas, ..., em cada um dos Estados em que se faz presente! Ou seja: é possível!
Então, os “cegos” podem se tornar videntes. O “elefante” pode ser interpretado por inteiro (além de bem-cuidado e preservado), quando os gestores emprestam seus olhos, uns aos outros em prol de um plano comum e que se torna, de fato, sustentável. E ainda ajudam a dar visibilidade a outras organizações, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, criado em 2007 e que, além de ser co-partícipe nas ações do Projeto Tamar, assume, como Autarquia do Ministério do Meio Ambiente, tarefas que exigem o reconhecimento e o apoio nacionais.
Há pouco, Saramago partiu. Em seu último grande trabalho, deixou um alerta, aqui registrado num breve diálogo, conforme seu estilo e compasso:
“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”. (Excerto de Ensaio sobre a cegueira, 1995).
Penso (ou, quero crer), que os autores (o indiano e o português) gostariam de saber que, nos idos dos 1970, no Rio Grande do Sul, um grupo de Jovens Brasileiros, viu! E viram, a partir e de dentro de uma Escola. O restante é História.
** Gastão Octávio Franco da Luz: Biólogo, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Consultor em Sustentabilidade
Artigo sobre Meio Ambiente publicado originalmente na edição 18 da revista Geração Sustentável
Acesse aqui as edições da revista Geração Sustentável!
Há uma parábola que é recorrente em relação a vários aspectos e temáticas contemporâneos. Trata-se da que ficou conhecida como Os seis cegos e o elefante e que se transmite no tempo, aproximadamente assim.
Era uma vez seis amigos indianos que estavam em casa a conversar, quando, da rua, vem um urro. Um deles proclama: “É um elefante! Eis a nossa oportunidade de saber como é este bicho.” Todos já na via pública, de pronto cercam o animal, cada um tocando-lhe uma parte do corpo (pernas, abdômen, orelhas, tromba, calda, presas). Começaram então a “definir” um elefante: “É algo que possui quatro colunas.”. “Não: é como uma parede.”. “Em absoluto! É um animal com o formato de uma ventarola.”. “É longo e roliço como uma serpente.”. “Para mim, é exatamente como uma corda.”. “Todos vocês são mesmo cegos: um elefante é idêntico a uma lança!”.
Quando se ouve ou lê, por exemplo, sobre as concepções de empresários, políticos, pesquisadores, ruralistas, estudantes e ambientalistas, em relação a “meio ambiente”, não é muito diferente. Cada um percebe o mesmo assunto por partes, de acordo com seus referenciais e/ou centros de interesse. E essa incapacidade de ver o todo em todas as suas implicações, se reflete nas relações sociedade-natureza, nas tomadas de decisão no dia-a-dia e, mais grave, nas Políticas Públicas. A revisão do Código Florestal Brasileiro, sob tutela da Câmara Federal, nos tem propiciado uma panorâmica da Babel conceitual ao redor do tema, bem como a convicção de que, na falta de um Projeto Sócio-Ambiental Nacional, corremos o risco de herdarmos um “elefante” teratológico e, como sempre, branco.
Por outro lado, no Brasil há iniciativas de tomadas de decisão dignas de registro e que nos colocam à altura de similares internacionais. Assim, também, por exemplo, no final da década de 1970, a partir da mobilização de jovens acadêmicos da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Rio Grande, RS, surge o Projeto Tamar, cuja pauta de trabalhos se dava com base em observar, descobrir, conhecer e intervir em prol de recuperação e preservação da Natureza. Tudo isso em uma época em que o “desenvolvimento a qualquer custo” era a tônica e pouco ou nada se veiculava sobre uma teoria-e-prática sócio-ambiental responsável. Hoje, presente em nove Estados Brasileiros, cobrindo cerca de 1.100 quilômetros de praias através de 23 Bases Científicas, o Projeto é um marco referencial de fôlego a ser mantido e reproduzido.
Porém, o sucesso do Tamar não se restringe à sua missão, tão somente: o ânimo daquela juventude de então, contagiou parceiros importantes e igualmente relevantes – de saída, os pescadores e suas famílias; depois, a Marinha do Brasil, a Petrobras e o Ministério do Meio Ambiente que lhe constituem hoje o tripé essencial onde a sabedoria ancestral, dos primeiros, se coaduna com os demais por meio de tombamento e financiamento, numa comunhão virtuosa que continua atraindo Universidades, Prefeituras Municipais, instituições privadas, ..., em cada um dos Estados em que se faz presente! Ou seja: é possível!
Então, os “cegos” podem se tornar videntes. O “elefante” pode ser interpretado por inteiro (além de bem-cuidado e preservado), quando os gestores emprestam seus olhos, uns aos outros em prol de um plano comum e que se torna, de fato, sustentável. E ainda ajudam a dar visibilidade a outras organizações, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/ICMBio, criado em 2007 e que, além de ser co-partícipe nas ações do Projeto Tamar, assume, como Autarquia do Ministério do Meio Ambiente, tarefas que exigem o reconhecimento e o apoio nacionais.
Há pouco, Saramago partiu. Em seu último grande trabalho, deixou um alerta, aqui registrado num breve diálogo, conforme seu estilo e compasso:
“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”. (Excerto de Ensaio sobre a cegueira, 1995).
Penso (ou, quero crer), que os autores (o indiano e o português) gostariam de saber que, nos idos dos 1970, no Rio Grande do Sul, um grupo de Jovens Brasileiros, viu! E viram, a partir e de dentro de uma Escola. O restante é História.
** Gastão Octávio Franco da Luz: Biólogo, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e Consultor em Sustentabilidade
Artigo sobre Meio Ambiente publicado originalmente na edição 18 da revista Geração Sustentável
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