Por Julianna Antunes
Por mais que a frase soe estranha, ela é mais comum do que imaginamos; a sustentabilidade inviabiliza, sim, um negócio. Para os leigos, fica um pouco difícil de entender, mas a lógica e a realidade da sustentabilidade corporativa são muito diferentes da lógica do terceiro setor, principalmente das grandes instituições que, vira e mexe, aparecem na televisão em protestos contra diversas empresas. Elas estão erradas? Não do ponto de vista dos seus objetivos.
Acontece que o objetivo das empresas é bem diferente e seria uma baita demagogia falar de sustentabilidade corporativa sem levar em conta o aspecto financeiro. Uma empresa não é uma organização filantrópica; o lucro é, querendo ou não, personagem principal para ela. Cabe à área de sustentabilidade ou aos profissionais responsáveis pelo processo, que o lucro não se dê a qualquer custo.
Ser sustentável não sai barato
A questão é que muitas vezes a sustentabilidade é um longo caminho a ser percorrido. E por mais que deva ser considerada investimento, dependendo do negócio, ela não sai barato. É aí que a sua prática pode ser inviabilizada. Pergunto: o que fazer nessas horas? Fechar as portas, demitir todos os funcionários e sumir do mapa? Adotar o processo e falir por perda de mercado? Continuar atuando sem levar em consideração a sustentabilidade? Em todas essas hipóteses o resultado seria ruim. A diferença seria o tempo que a empresa duraria.
A principal característica da sustentabilidade, e um de seus maiores desafios no mundo empresarial, é que a maioria dos resultados é percebida em longo prazo. Mas nem por isso as estratégias têm de deixar de ser feitas no tempo presente. Vejamos o exemplo da então British Petroleum, que há mais de uma década percebeu que o negócio não era exatamente petróleo, mas sim energia. O que seria dela daqui a, sei lá, 30 anos, se no passado ela não mudasse seu escopo de atuação?
Sustentabilidade é para todas as empresas?
O tema é mais fácil de ser entendido e praticado quando falamos de grandes empresas. De empresas que trabalham com planejamento estratégico para, ao menos, médio prazo, de empresas que têm profissionais que analisam as tendências e movimentações do mercado e, principalmente, de empresas que têm margem financeira para bancar a necessidade de mudança. Foi isso que a BP e muitas outras fizeram.
Mas, e quando a realidade é outra? E quando o caso se trata de uma média ou pequena empresa onde qualquer impacto, por menor que seja, pode significar o fim do empreendimento? Por mais tenso que possa parecer, é uma situação muito comum e na maioria das vezes os donos optam por levar a empresa até quando der. Obviamente não é o ideal, mas como julgar?
Querendo ou não, dependendo do caso, a sustentabilidade encarece o produto final. E por mais que o discurso das grandes empresas e da própria sociedade seja bonito, a maioria não está disposta a pagar mais por isso. Ainda. A minha sugestão pessoal, que também está muito longe do ideal: faça o possível. Faça o basicão, se for a única coisa viável. Mas faça. Qualquer ação de sustentabilidade é melhor que nada. Agora se a empresa ainda está no papel, por favor, que tal procurar outro segmento para atuar?
Jornalista (com diploma), corredora de alto rendimento físico e baixo rendimento financeiro (ou seja, só gasto dinheiro!), pós-graduada em responsabilidade social empresarial e terceiro setor, diretora da Agência de Sustentabilidade e editora do blog Sustentabilidade Corporativa.
Concordo plenamente!
ResponderExcluirAntes de gastar tempo e dinheiro com as empresas, para que se tornem sustentáveis, é necessário primeiramente um esforço no sentido de torná-las lucrativas!
Em casa onde falta pão, não se coloca bebedouro para beija-flor.