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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Carambeí: História e sustentabilidade no interior do Paraná

Parque Histórico de Carambeí busca manter vivas as origens da região e construir uma gestão sustentável da história

Uma forma de manter viva a história, com bons usos dos materiais à disposição. Esse é um dos objetivos do Parque Histórico de Carambeí, localizado na região dos Campos Gerais do Paraná e que será um dos marcos mais importante nas comemorações ao centenário da imigração holandesa na região. Um espaço marcado pelo caráter multiuso e pelo objetivo de proporcionar um espaço destinado à educação e ao lazer para a população de Carambeí. De acordo com Fabio Silvestre, curador executivo do Parque, “o projeto também pretende desenvolver pesquisa patrimonial cultural, como um centro de divulgação e inteligência em seu ramo de atividades, com continuidade e sustentabilidade”. Multifacetado, o espaço busca dar nova cara a história em Carambeí, mostrando que a preservação histórica está junto com a sustentabilidade e a preservação ambiental.


O parque e a sustentabilidade

Com o objetivo de mostrar a todos a trajetória e promover a presença do público dentro da história da colônia holandesa no Paraná, o projeto também procura apresentar aos visitantes um espaço que forma um organismo interdependente, ligado à sustentabilidade. De acordo com Dick de Geus, diretor presidente do Parque, o projeto “é uma forma de apresentar a todos a contribuição da comunidade holandesa na história do Paraná e também na aplicação da sustentabilidade em suas ações”.

Sobre o parque, Silvestre comenta que “hoje o espaço do Parque Histórico de Carambeí tem várias alas novas sendo construídas, mas está sempre pronto como espaço museal completo. Isso porque cada ala disponibilizada, independentemente do que ainda está em desenvolvimento, contempla os aspectos integrais do que se pretende oferecer”.

Hoje, no parque, é possível classificar de três formas a questão da sustentabilidade dentro do seu projeto. A primeira, de acordo com Fábio Silvestre, é a questão social. “O parque tem o objetivo de ser sustentável em relação ao ser humano, e por isso investe em projetos de comunicação para a sociedade”, afirma. Nessa área, o parque desenvolve o projeto ‘Vamos Ler’, que trabalha com 1200 crianças da 5ª a 7ª série do ensino fundamental e faz um trabalho de incentivo à leitura. O trabalho também tem o objetivo formar um público consciente em relação aos objetivos do projeto. “Solitários não somos sustentáveis, por isso é interessante formar um público consciente sobre a causa e que replique esse conhecimento entre os demais membros da sociedade”, sintetiza Silvestre.

Outro aspecto da sustentabilidade está na questão da infraestrutura. Através de uma parceria com a APRE (Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal), toda a madeira utilizada nas construções do parque tem origem certificada, ou seja, é madeira oriunda de florestas plantadas. “Assim evitamos que florestas nativas sejam desmatadas e temos controle sobre a qualidade da madeira, seu sequestro de carbono no ambiente e sua origem”, explica Silvestre. Outra questão ligada à infraestrutura está na captação de água das chuvas. O parque está em processo de implantação de cisternas e sistemas de coletas de água da chuva, que serão utilizadas para serviços brutos e decorativos. Ao final, toda a água que não precisar de tratamento irá correr para o “Parque das Águas”, um dos espaços que tem como objetivo reconstruir aos visitantes os famosos os canais holandeses. De acordo com Fábio, o sistema de águas deve entrar em uso ainda no ano de 2011. Outro projeto que está em processo de estudos no Parque Histórico de Carambeí é a implantação do uso de energia solar para a iluminação pública no parque.

O terceiro ponto em que o conceito está presente no parque são os apoios aos projetos dos parceiros ligados à sustentabilidade. Um dos principais pontos é a reciclagem e para Fábio, “esse é o processo dentro dos 5 Rs (reduzir, reutilizar, reciclar, reeducar e replanejar) em que é possível aplicar a tecnologia, por isso recebe investimentos altos. Um exemplo é o programa de reciclagem de uma das parceiras do projeto, que investe na reciclagem de embalagens longa-vida de leite”. Além do apoio a esses projetos, o Parque Histórico de Carambeí desenvolve sua própria coleta seletiva de lixo e o projeto de descarte ordenado dos resíduos.

Toda essa preocupação tem um motivo: a região tem um histórico relevante em relação à sustentabilidade. Lá, há pelo menos 30 anos, já se fala em ação sustentável. Os moradores da região de Carambeí são os responsáveis pela técnica de plantio direto na palha, que previne assoreamento dos rios e lagos. A técnica, hoje utilizada em todo o Brasil, nasceu na região em busca de soluções que diminuíam os efeitos contra o meio ambiente. Além do cooperativismo, uma ação econômica sustentável em seu modelo, resultando em organização como a Batavo Cooperativa Agroindustrial, neste ano completando seus 85 anos.


O parque e a educação

A Casa da Memória, que se encontra dentro do Parque Histórico de Carambeí, já está completa para o atendimento à população. Hoje estão à disposição na casa seis coleções completas de itens, com destaque para o Museu dos Tratores. “Indo à Casa da Memória hoje os alunos das escolas públicas de toda a região (que são a maioria dos usuários visitantes) podem conhecer o traçado da história da região e das famílias holandesas”, conta Silvestre.

O parque investe também na educação continuada, ligada diretamente à sustentabilidade. “Por se tratar de um centro cultural, a continuidade das atividades pode ser relacionada com pedagogias de sustentabilidade, pois existe tempo disponível para o desenvolvimento de relacionamento estável e biunívoco com a sociedade”, explica Fábio. Ele afirma ainda que “o mais importante na pedagogia do Parque Histórico de Carambeí, é que se trata de um espaço museal que retrata a história da agroindustria nos Campos Gerais do Paraná, onde o cooperativismo, o plantio direto na palha, a reciclagem e a economia da cultura são interligados para dar contornos aos temas de sustentabilidade”, confirma.


A criação

Os primeiros passos para a criação do Parque Histórico de Carambeí foram dados em 1991, nas comemorações dos 80 anos de imigração holandesa ao Paraná. Foi quando alguns dos descendentes diretos das primeiras famílias que chegaram à região perceberam que não havia nenhuma iniciativa para preservar a história e recuperar os símbolos da luta daqueles que escolheram a região de Carambeí para iniciar uma nova etapa em suas vidas. Desde a chegada das famílias em 1911, até a fundação da Batavo Cooperativa Agroindustrial em 1925 (na época chamada de Sociedade Cooperativa Holandesa), os acervos históricos não estavam sendo preservados. Por isso, no ano de 1991, foram estabelecidas as bases da Casa da Memória de Carambeí.

Nos últimos quatro anos, já pensando nas celebrações pelo centenário da imigração holandesa ao Paraná, foi estruturado um plano diretor para dar suporte ao Programa de Patrimônio Cultural do Parque Histórico de Carambeí. Hoje, os projetos construtivo-arquitetônicos de expansão das alas do parque são desenvolvidos por conta e capital da Associação mantenedora com o Patrocínio Institucional da Batavo Cooperativa Agroindustrial. Hoje, o parque conta com um rol de patrocinadores, que tem ideologias afins diante das questões históricas e ambientais. O parque e todo o projeto que o envolve estão abertos aos novos parceiros que se identifiquem com a ideologia local. Novos patrocinadores podem integrar o projeto, que possui estratégia de incentivo fiscal com amplo retorno de imagem corporativa, em função dos valores socioculturais que congrega.

Na foto acima: Diretoria da APHC esquerda p/ direita no lançamento da pedra fundamental da Vila Histórica
Dick Carlos de Geus – Presidente; Gaspar João de Geus – Secretário Geral; Joahanes Gillisen – Arquiteto; Franke Dikjstra – Vice Presidente



2011: Ano da Holanda no Brasil

Os senadores aprovaram, no final de 2010, que 2011 seja o “Ano da Holanda no Brasil”. O projeto aprovado tem como objetivo comemorar o centenário da imigração holandesa e fazer uma homenagem aos descendentes das primeiras famílias que chegaram ao país, como reconhecimento de todos os brasileiros ao importante legado das comunidades holandesas ao Brasil. A confirmação do ano da Holanda no Brasil abre também espaço para mais negociações entre os países e a consolidação das relações comerciais para os próximos anos.

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