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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Isak Kugrianskas/USP - Entrevistado 15ª Edição da Revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Isak Kugrianskas: Uma vida dedicada à pesquisa sobre o desenvolvimento sustentável em empresas e universidades. Assim se pode resumir a trajetória do professor doutor Isak Kruglianskas, chefe de Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e coordenador do Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (Progesa) da Fundação Instituto de Administração (FIA). Graduado em Engenharia Aeronáutica, na década de 1960, Isak ingressou na profissão e logo percebeu que algo lhe incomodava. A maneira como as empresas trabalhavam, sem qualquer preocupação além do lucro, fez com que ele retornasse à universidade para repensar seu papel como profissional. De lá não saiu mais. Atualmente, seu trabalho acadêmico realizado no Brasil e também no exterior, onde é membro de conselhos de diversas instituições fronteiras, auxilia na formação de profissionais que já entram no mercado com uma missão a mais: enraizar a sustentabilidade no mundo corporativo.

Em entrevista para a GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, mesmo em viagem fora do Brasil, o professor Isak falou sobre o Progesa, a necessidade de unir experiências profissionais e acadêmicas, e avaliou os passos do desenvolvimento sustentável no Brasil.

Como começou o seu interesse pela sustentabilidade?
No início da minha carreira, quando atuava como engenheiro de produção, comecei a despertar para o tema. As práticas adotadas pelas empresas na época despertaram em mim um grande sentimento de culpa que seguiu me atormentando até meu ingresso no mundo acadêmico. Na década de 80, mais ou menos, inspirado na tese do professor Denis Donaire, associei-me a ele e criamos uma disciplina sobre gestão empresarial e meio ambiente. A partir desse momento, comecei a pesquisar sobre o assunto ao qual me dedico até hoje.


Como surgiu a ideia de criar o Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (Progesa)?
A ideia do Progesa surgiu no âmbito de um grupo de alunos e profissionais interessados no tema, com destaque especial para o professor João Furtado. Esse grupo entendeu ser oportuno criar um programa sobre o tema, porém com um foco no nível estratégico, haja vista haver, na época, algumas iniciativas mais focadas aos níveis tático e operacional. A ideia do Progesa foi e continua sendo a de propiciar um ambiente que favorecesse a realização de pesquisas, intercâmbios, reflexões, treinamento e assessoria para os stakeholders (partes interessadas).


Quais as atividades realizadas pelo Progesa atualmente? Quais os planos futuros?
Atualmente, o Progesa está bastante focado em pesquisa e treinamento. Foram realizados alguns MBAs in Company e treinamentos abertos de curta duração. Integrantes do Progesa têm realizado atividades de consultoria em pequena escala por meio de contratações pessoais diretas. Os planos futuros incluem a continuidade das atividades de pesquisa, uma ênfase maior para as atividades de assessoria e a consolidação de MBA e Cursos de Especialização em nível de Pós-Graduação. Será, também, buscada maior inserção internacional e uma exposição à mídia mais intensa.


Tradicionalmente, profissionais acreditam que a academia e as empresas vivem realidades, muitas vezes, opostas. O que é necessário fazer para mudar esse pensamento e aproximar pesquisas acadêmicas voltadas à sustentabilidade e ao cotidiano das empresas?
Essa crença repousa em um mito que considero falso. Entendo que não há nada mais prático do que uma boa teoria. No passado, como consequência, em grande parte, do nosso tipo de colonização e do baixo nível de industrialização do país até a década dos 60 e 70, havia maior dicotomia entre a produção industrial e a academia, até mesmo porque a tecnologia era praticamente toda importada. Porém, hoje a realidade é bem diferente, tanto os empresários como os acadêmicos esclarecidos sabem de sua mútua interdependência. Portanto, o que precisa ser feito é o diálogo e como consequência o esclarecimento, porém reconhecendo sempre que as motivações e o ritmo (timing) da academia e da empresa são diferentes.


Quais os principais benefícios gerados em uma parceria entre universidade e empresa?
Tanto o setor empresarial quanto a academia sabem que uma das principais razões de sua existência é propiciar qualidade de vida para a sociedade, que, em contrapartida, sustenta ambos. Portanto, se houver colaboração entre empresa e academia, a empresa terá acesso a uma importantíssima fonte de conhecimentos que lhe proporcionará diferenciais competitivos e, por sua vez, a academia, além de ter acesso a uma importante fonte de necessidades a serem atendidas, também terá acesso a conhecimentos empíricos e recursos materiais que tornarão sua missão muito mais efetiva e gratificante.


Em sua opinião, como está a sustentabilidade no setor corporativo brasileiro, em comparação com outros países? Falta muito para avançar ou o empresariado está mais sensibilizado e consciente a respeito da necessidade de mudanças?
Acredito que há muito caminho a percorrer pelo setor corporativo em todo o mundo e também no Brasil. Nosso país tem forte vocação para liderança mundial no que diz respeito à sustentabilidade, pois é praticamente o último grande país com reservas naturais que poderá adentrar o futuro numa nova economia de baixo carbono e de respeito ao meio ambiente, usando tecnologias ecoeficientes de forma bastante competitiva. Muitos empresários brasileiros estão se dando conta dessa oportunidade e vêm se preparando para aproveitá-la. O governo também parece estar se sensibilizando para esse fato. Por essa razão, acredito que o processo de mudança está se acelerando, especialmente nos centros brasileiros mais desenvolvidos. O grande desafio é envolver de forma mais intensa as regiões menos desenvolvidas e as pequenas e médias empresas de setores mais tradicionais.

Em sua opinião, como vem sendo tratada a sustentabilidade nas universidades brasileiras?
Como no setor corporativo e no resto da sociedade, a sustentabilidade ainda é um tema emergente nas universidades brasileiras, apesar de inúmeros artigos científicos oferecidos em diferentes congressos. De fato, nos últimos cinco ou dez anos esse tema começou a surgir e sua inserção na academia vem acelerando-se acentuadamente. Um dos grandes problemas para o trato da sustentabilidade nas universidades em geral, e nas brasileiras em particular, é o fato de que esse tema é transversal e precisa ser tratado de forma sistêmica, o que se contrapõe com a tradição disciplinar das universidades.


A Fundação Instituto de Administração (FIA) foi eleita por três vezes consecutivas a melhor faculdade de negócios do Brasil. Por qual motivo acha que merece esse título?
A FIA foi eleita por três anos consecutivos como a Melhor Escola de Negócios pelo Ranking da Revista Você S.A., de acordo com a pesquisa realizada por ela. Nas edições, todos os cursos da FIA que participaram das cinco categorias foram considerados os melhores do Brasil (Recursos Humanos, Marketing, Executivo, Tecnologia de Informação e Finanças) e, em alguns casos, com os dois primeiros lugares. Os principais motivos indicados foram a capacidade de fornecer conteúdo atualizado, excelentes instalações e infraestrutura, qualidade do corpo docente e propiciar networking. Essas afirmações foram feitas por alunos, ex-alunos, professores, diretores de empresas, especialmente das áreas de recursos humanos e por profissionais especializados. A FIA também recebeu destacadas posições em rankings internacionais, como o respeitado ranking do Financial Times e da revista America Economia. A FIA foi criada e é administrada por professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), com titulação mínima de doutor e ampla experiência prática, portanto, acredito que o titulo foi merecido.


Qual mensagem gostaria de deixar para os leitores da Geração Sustentável?
O fato de ser um leitor dessa conceituada revista já é uma evidência de que são pessoas diferenciadas com visão de futuro e valores éticos elevados. Minha mensagem é a de que sigam nessa direção, aprimorando suas qualidades profissionais, pois um mundo novo está se criando e abrindo oportunidades únicas, tanto para uma convivência com melhor qualidade de vida, respeito com a diversidade biótica e o papel que nos cabe como humanos, como para o exercício de atividades profissionais gratificantes e auto-realizadoras.

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