Tecnologia
patenteada por empresa paranaense garante destinação correta do resíduo da
construção civil
Jornalista: Bruna Robassa
Em
vez de prejudicar o meio ambiente com a contaminação dos solos e dos lençóis
freáticos, algo que é causado quando há o despejo dos resíduos de gesso em
aterros, esses detritos da construção civil podem ser utilizados para deixar as
terras mais férteis e saudáveis. A transformação do gesso em fertilizante só é
possível devido à tecnologia e logística utilizada por duas empresas
paranaenses preocupadas com a destinação ambientalmente correta do rejeito.
Motivados pela modificação na legislação e movidos pela oportunidade, esses
profissionais buscaram conhecimento para reaproveitar o que antes era descartado.
Originário
das regiões Norte e Nordeste, o gesso é um mineral que vem sendo cada vez mais
utilizado no rebaixamento de tetos, em forros, sancas, molduras ou na
composição de divisórias drywall (gesso acartonado). Dados da Associação
Brasileira do Drywall apontam que a utilização desse sistema no mercado
brasileiro continua crescendo acima dos índices de expansão da construção
civil. No período de janeiro a março de 2013, em
comparação com o mesmo período de 2012, foi registrada alta de 13,5% no consumo
de chapas de drywall, principal
indicador de desempenho do segmento, somando 10,4 milhões de m2.
Graças
à resolução nº
307 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, desde 2011 o
gesso faz parte da classe B de resíduos e
por isso sua reciclagem é obrigatória. Tal resolução foi
na mesma direção da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS). Principal
impactado pela mudança, o setor da construção civil, ainda está se adaptando às
novas normas.
Pela
logística reversa, o rejeito de gesso
(pedra de gipsita) do Norte e Nordeste deveria retornar para
o local onde foi extraído, mas essa é uma opção inviável, visto que o valor do
frete para percorrer os cerca de três mil quilômetros, a
partir da capital paranaense, não é viável. Mais um
motivo que fortalece a necessidade de reciclagem. Mas,
afinal, quem é o responsável pela correta destinação do resíduo?
Segundo a PNRS, todos os envolvidos na cadeia. O gerador, o construtor, o
consumidor, todos têm a sua parcela de participação, o que é chamado de
responsabilidade solidária ou corresponsabilidade.
Apesar
da obrigatoriedade, a falta de informação, conscientização e fiscalização ainda
permite que 90% dos resíduos de gesso gerados na construção civil sejam
destinados para aterros clandestinos ou industriais. O descarte incorreto traz
sérios problemas ambientais, como contaminação do solo e dos lençóis freáticos.
No
Município de Curitiba, desde 2004, para que obras
sejam aprovadas pela Prefeitura e pela Secretaria do Meio Ambiente, obtendo
assim o Certificado de Vistoria e Conclusão de Obra (CVCO), antigo habite-se, o
construtor precisa apresentar uma série de documentos, entre eles um plano que
comprove a destinação correta dos resíduos gerados no empreendimento.
“Algumas
grandes construtoras já estão adaptadas, mas
ainda recebemos apenas 10% de todo o material gerado em Curitiba e Região
Metropolitana”, explica Odair Sanches, advogado, engenheiro agrônomo e um dos
sócios da OK Ambiental, que, junto a uma empresa parceira, recebe, separa e
recicla o gesso proveniente das construções e
reformas.
A
empresa está em funcionamento há pouco mais de
seis meses. Em
sua sede, recebe por
mês cerca de 100
toneladas de gesso e destina para a transformação em
fertilizante.
“Estamos amparados legal e
tecnicamente para esse tipo de reciclagem. O gesso é recebido em uma Área de
Transbordo e Triagem (ATT), onde passa por um processo de separação/limpeza/preparação
e adequação para só depois ser
encaminhado para a reciclagem que é feita
pela Caliça Engenharia Ambiental. A capacidade de operação das empresas é de 2
mil toneladas por mês”.
“A
lei deve ser cumprida, a sociedade não mais tolera desmandos com a natureza, as
empresas devem ter responsabilidade socioambiental. Quanto mais reciclamos esse
material menos retiramos matéria-prima da natureza. Os recursos naturais são
finitos”, lembra Sanches.
Tecnologia
O
engenheiro e diretor comercial da Caliça, Fauáz Abdul-Hak, buscou inspiração na
Europa, onde, segundo ele, já existe grande preocupação na reciclagem desse
minério. Lá o material reciclado é novamente incorporado ao gesso puro. A
empresa é única detentora dessa tecnologia patenteada no Brasil, que pode
transformar em fertilizante tanto o gesso puro como o drywall. O importante é que quando o material entra nas máquinas
para a transformação ele esteja livre de outros resíduos de obra, trabalho que
é realizado na ATT da OK Ambiental.
“Quando
o resto de gesso sai da obra, ele é um resíduo, após a reciclagem torna-se
novamente um minério, o sulfato de cálcio, que, por conter cálcio e enxofre em
sua composição, é a matéria-prima ideal para produção de fertilizante”,
explica. O produto final já é regularmente comercializado e tem autorização do
Ministério da Agricultura e certificação internacional.
Além
de fertilizante, o pó originado da reciclagem poderia voltar a ser gesso, mas o
custo por enquanto não compensa.
Descarte ilegal
Segundo
explica Theodoro Lipinski Neto, também diretor da OK Ambiental, para que um
construtor possa descartar o gesso na ATT é preciso que tenha todas as licenças
ambientais exigidas pela prefeitura para realização da obra ou reforma. “É
feito um contrato para descarte, e com isso os resíduos deixam de ser enviados
para aterros”, ressalta.
Para
Abdul-Hak, o custo dessa operação não deve ser visto como um empecilho, já que
o descarte incorreto gera custos e torna a obra e o profissional ilegais. “Além
de contaminar o solo e os lençóis freáticos, o descarte em aterros clandestinos
incentiva a invasão e gera um ciclo vicioso prejudicial para toda a sociedade”,
destaca. Segundo ele, o construtor já paga e paga mal pelo destino incorreto.
O
gesso absorve muita água e, por isso, quando descartado incorretamente se
acumula em córregos e traz graves consequências. Na reciclagem, o resíduo de
gesso pode ser 100% aproveitado, e o resultado é mais barato que o gesso virgem,
podendo ser utilizado praticamente da mesma forma.
Consciência
A
consciência ainda na obra, com a separação dos resíduos tanto por parte do
gesseiro quanto do
instalador de drywall, facilita e
otimiza a reciclagem, já que o custo para descarte do material limpo é mais
baixo, do que quando o gesso vem misturado com outros resíduos de obras. “Além
de deixar de prejudicar o meio ambiente e de preservar os recursos naturais,
que são finitos, quem faz a destinação correta do gesso ainda está gerando
valor agregado para o produto que se transforma em fertilizante”, ressalta
Sanches.
Certificação
Ao
ser enviado para a OK Ambiental, o construtor recebe a documentação necessária
para a comprovação correta de destinação do resíduo. “O Manifesto de Transporte
de Resíduos (MTR) é chancelado, recebe um selo antifraude e o Certificado de
Recepção de Resíduos (CRR). Posteriormente, a Caliça Engenharia Ambiental emite
um Laudo de Destinação. Fecha-se, assim, o ciclo de sustentabilidade”. explica
Sanches.
Tecnologia móvel
O
aparelho utilizado para reciclar o gesso é móvel. “Nós temos o resíduo e temos
a tecnologia para transformá-lo novamente em matéria-prima. O
que falta é cumprir a legislação. A mudança de mentalidade e de atitude
infelizmente só vai acontecer se as autoridades fizerem a parte delas e se os
construtores tiverem consciência. Quem for esperto. vai sair à frente”, orienta
Lipinski.
Os idealizadores do processo de reciclagem mostram resíduos de gesso antes da transformação
Dados
-
As regiões Sul e Sudeste concentram o maior volume de consumo do sistema drywall, respondendo por 80%;
- Cerca de 3% das placas de drywall e de 20% a 25% do produto
comprado para fazer rebaixamentos e sancas de gesso viram rejeitos;
- 100 toneladas
de gesso ao mês já são recicladas em Curitiba
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Veja outros conteúdos dessa edição:
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Matérias:
- Capa: Sustentabilidade além da matéria-prima
- Entrevista: Lourival dos Santos e Souza - Responsabilidade Social Corporativa: Educando na Sustentabilidade
- Desenvolvimento Local: Eficiência Energética no WTC
Artigos:
- Artigo: O sonho acabou? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Oportunidade e realização (Rafael Giuliano)
- Artigo: O mito do PIB (Daniel Thá)
- Artigo: Água: A crise e a inércia política global (Hugo Weber Jr)
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Visão Sustentável: Resíduo de gesso vira Bloco para construção de casas
ResponderExcluirDe cada 15 ton.do resíduo de gesso serão duas casas no lixo, estamos com PATENTES pelo INPI, explore esta ideia, site www.jpreciclagemdegesso.com.br
nossa que bom , consciência pode ser a saida para ter um pais bom para todos !
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