O SONHO ACABOU?
Há
pouco tempo escrevi um artigo para esta mesma coluna com o título Brasil: emergente para sempre? O artigo
fazia referência ao editorial da Revista The Economist, publicado em
12.11.2009, no qual o Brasil foi elogiado de maneira efusiva pela condução da
política econômica durante o Governo “Lula” e, na sequência, pelo Governo
Dilma.
O
mesmo editorial afirmava que o maior risco para o grande sucesso da América
Latina era a prepotência dos seus governantes, empolgados com o crescimento
econômico, mesmo sem atentar para as bases do desenvolvimento. Trata-se de uma
política bem mais populista e protecionista do que econômica, diziam os
autores.
Em
2011, dois anos depois, o mesmo editorial colocou em xeque o crescimento
sustentado dos quatro países do BRIC ao compará-lo com o de países como Cingapura,
Malásia, Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong, os únicos que conseguiram sustentar
bons índices por quatro décadas seguidas.
Na
edição de julho, novamente, dois anos depois, a capa da revista britânica traz
uma avaliação negativa sobre a economia no bloco dos chamados BRIC, composto
por Brasil, Rússia, Índia e China. A revista mostra uma ilustração com atletas
dos quatro países afundando na lama e o lamentável título “A grande
desaceleração”, em que o Brasil aparece como o mais afundado.
Segundo
o editorial, publicado na edição de 26.07.2013, após uma década de forte
crescimento, durante a qual os países emergentes ajudaram a impulsionar a
economia mundial e a segurar os efeitos da crise econômica, eles dão os
primeiros sinais de que a recuperação pode estar perdendo o fôlego.
A
China terá sorte se conseguir gerenciar a economia para alcançar uma taxa de
crescimento em torno de 7,5%. Na Índia, com 5%, e no Brasil e na Rússia, ambos
com 2,5%, o crescimento não representa metade do que foi alcançado durante o boom da economia antes da crise
instalada a partir de 2008.
A
grande desaceleração dos BRIC representa o fim do sonho de posicionamento dos países
emergentes no Primeiro Mundo? Seremos emergentes para sempre! Segundo a The Economist, sem uma recuperação
econômica mais forte na América, principalmente, nos Estados Unidos, e no Japão,
aliada a uma renovação na Zona do Euro, o crescimento da economia mundial não deverá
ultrapassar a 3%. Dessa forma, as coisas tendem a caminhar vagarosamente.
Em
relação ao Brasil, há um longo caminho pela frente. Torço para que o país não
tenha perdido o bonde da história. Não se trata de exaltar os problemas, mas de
fazer uma profunda reflexão a respeito do que precisamos e do tipo de
governantes que devemos eleger para conduzir o futuro do país.
É
inegável o fato de que a economia do país acelerou nos últimos dez anos com a
estabilização da moeda, exportação das commodities
e o crescimento do consumo interno incentivado pelo impulso ao crédito.
Contudo, indiferente ao primeiro alerta da revista em 2009, o Governo se
descuidou das bases do desenvolvimento.
Infelizmente,
a inflação cada vez mais presente no cotidiano do país, combinada com a
desaceleração do crescimento e a visível ausência da infraestrutura, demonstra
que o fôlego da expansão é bem mais lento do que a gente pensava.
Por
fim, em vez de críticas e depoimentos exaltados contra o editorial da revista,
como aconteceu nas duas edições anteriores, está mais do que na hora de os
governantes olharem para o próprio umbigo e lembrarem-se de que uma nação é
construída com muito mais ações do que palavras. Quando o corporativismo
predomina, o sonho da maioria termina.
Jerônimo Mendes - Administrador, Coach, Empreendedor, Escritor e Palestrante. Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE
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