* Por Wanda Camargo
Comenta-se, acidamente, que "todos são iguais perante a lei, mas alguns
são mais iguais que outros" sempre que vem à luz notícia de privilégios
injustos, ainda que legais, auferidos por pessoas ou grupos. Entretanto há
prerrogativas que são, sim, devidas legitimamente, ninguém sensato nega a
idosos as vagas demarcadas e atendimento prioritário, num exemplo simples.
Muitos têm direito a tratamento diferenciado, até como forma de equilíbrio de
oportunidades de vida, e agora correm o risco de tê-lo negado: são aqueles com
deficiências várias, de visão, de audição, de locomoção, de aprendizagem;
estudantes de Escolas de Educação Especial em entidades filantrópicas de
terceiro setor, civil, beneficente e outras, a maior parte delas sérias e
desenvolvendo um trabalho essencial à sociedade, que estão ameaçadas de
fechamento.
Isso ocorre, em parte, pela decisão de que "dinheiro público deve ser
apenas para a escola pública", a questão é que a regra, normalmente
válida, tem algumas exceções, fundamentais e extremamente justas, como é o caso
das escolas voltadas ao deficiente, altamente especializadas e que realizam
atendimento da população carente. Apenas aquele que nunca entrou em uma delas,
e acompanhou seu dia a dia, poderá gritar slogans genéricos de responsabilidade
governamental em tema tão delicado, quando na verdade este comprometimento já é
insuficiente em segurança, transportes, saúde pública e muitas outras áreas.
Existe uma compreensão equivocada de que a inclusão deve ocorrer sempre em
salas de aulas comuns, com deficientes convivendo com os demais alunos em
condição de igualdade, o que em teoria é perfeito, e é válido para certos tipos
e graus de necessidades, porém, infelizmente, nem sempre possível. Além da
questão óbvia da falta de qualificação de muitos docentes para o trato com
todos os desajustes cognitivos, cegueira, surdez, e outras síndromes, é preciso
lembrar que a eles ainda cabe a responsabilidade de ministrar conteúdos
(matemática, língua portuguesa, ciências e outras), em salas de 30 ou até 40
alunos, com as demandas normais da faixa etária.
A grande queixa atual dos regentes de classe no ensino fundamental é exatamente
a dificuldade enfrentada na rotina escolar, pela inclusão forçada e sem a
correspondente formação específica. Muitos relatam a existência, numa mesma
sala, de vários tipos diferentes de necessidades educacionais, cada uma delas
exigindo formação distinta, e individualizado trato pedagógico. A ideia de que
as turmas comuns das escolas podem absorver naturalmente todo esse contingente
é voluntarista e despropositada, isso pode e deve acontecer em muitos casos,
não em todos.
Escolas especiais continuarão necessárias, embora sejam dispendiosas pela
demanda de atendimento em fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e de vários
outros profissionais de saúde, além de mestres com formação específica. Seus
alunos, a maioria vinda de famílias de baixa renda, merecem todas as
oportunidades de uma formação que lhes permita a verdadeira inclusão.
Para boa parte dos professores o atendimento ao deficiente é decorrência de
solidariedade, senso de dever e responsabilidade; a esses devemos todo respeito
e gratidão por um trabalho indispensável e meritório, embora difícil. No
entanto, para os atuantes em instituições de ensino capacitadas para esta
atividade, isso é tão natural quanto respirar, e, parafraseando Bertolt Brecht:
esses são os imprescindíveis.
* Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência das Faculdades
Integradas do Brasil - UniBrasil e voluntária da Associação Franciscana de
Educação ao Cidadão Especial.
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