Instituições de ensino superior do Paraná são destaque na
preparação de universitários e profissionais para os desafios do mercado de
trabalho
Jornalista: Bruna Robassa
Minimizar os impactos ambientais,
comprar matérias-primas, produzir e distribuir de forma sustentável, ter
capacidade de liderança e de superar desafios, inovar e trazer soluções rápidas
aos problemas são apenas algumas das aptidões exigidas dos profissionais que
almejam posições de destaque no mercado de trabalho. Para isso, é essencial que
contem com uma educação alinhada a essas novas tendências.
No Paraná e, em especial pelo
Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), da Federação das
Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), busca-se desenvolver projetos que
envolvam o setor empresarial, a sociedade civil e organismos de governo com o
objetivo de promover a educação em suas diversas frentes em prol da
sustentabilidade.
Com o objetivo de sensibilizar as instituições a
respeito da sustentabilidade nas estratégias de ensino, foi criado Movimento
Paraná Educando na Sustentabilidade que nasceu como resultado de toda uma
reflexão que teve início a partir de 2006 quando foi criado o Núcleo das
Instituições de Ensino Superior pelo CPCE. “Entre os objetivos do Movimento
está a necessidade de ampliar as discussões e práticas sobre o tema da
sustentabilidade nas suas diferentes dimensões, levar as instituições de ensino
a serem signatárias do Pacto Global e ou dos Princípios para a Educação em Gestão Responsável
(PRME) e engajar seu corpo docente, discente e funcionários em tais metas,
valores e princípios”, resume o professor Nilson Izaias Pegorini, coordenador
do Núcleo das Instituições de Ensino Superior no CPCE.
Para embasar o movimento, estão
sendo seguidos os Princípios para a Educação em Gestão Responsável
(PRME na definição em inglês), braço do Pacto Global específico para
instituições de ensino superior incluírem a sustentabilidade no plano
pedagógico, preparando, assim, os universitários para o mercado de trabalho em
empresas que exigem esse pensamento diferenciado.
“Ou seja, o Movimento está em
sinergia com os princípios, a partir do momento em que possui um propósito
claro com relação à sustentabilidade, facilita o diálogo, estimula as parcerias,
engaja-se com a promoção de pesquisas, estabelece um método para a promoção do
desenvolvimento sustentável e inspira a adoção de novos valores”, explica
Pegorini.
Força do Paraná
A rede brasileira do PRME conta com 20 instituições
signatárias, das quais 11 são instituições de ensino do Paraná. ”Isso demonstra
o compromisso regional com a construção de um futuro mais bem lastreado nos
valores e princípios da sustentabilidade”, diz Norman de Paula Arruda Filho,
presidente do ISAE/FGV, membro da diretoria do Comitê Brasileiro do Pacto
Global, um dos mobilizadores dos Princípios para Educação Empresarial
Responsável da ONU no Brasil, e professor do Mestrado Profissional em
Governança e Sustentabilidade do ISAE.
O PRME é um conjunto de diretrizes para instituições
que compartilham da visão sobre a importância de desenvolver líderes
responsáveis. “Assim, cada Instituição desenvolve seu plano de implantação, de
acordo com a sua estrutura, cultura e realidade. E isso é extremamente
positivo, uma vez que, dessa forma, contamos com um leque enorme de boas
práticas voltadas para a sustentabilidade corporativa tendo a educação como um
vetor dentro desse cenário”, diz o presidente do ISAE/FGV, instituição que é
signatária do PRME desde seu início em 2007.
“O PRME é um dos protocolos que, por meio de seus
princípios e de seus mecanismos de articulação entre as instituições
signatárias inspiram e impulsionam o Movimento. Diríamos que o PRME, e com ele
a Carta da Terra, são como a espiritualidade, a mística ou a base de valores,
de ideias e princípios que mantêm e nutre o Movimento Paraná Educando na
Sustentabilidade”, ressalta Pegorini.
Diferenciais
Instituições de Ensino Superior signatárias desse
movimento têm como motivadores a inquietação e a insatisfação. Mesmo estando
ainda presas e dependentes de um modelo de pensar, de produzir e viver pouco
sustentável, estão abertas e dispostas a um novo horizonte, a um novo
paradigma.
Reconhecimento no mercado, que cada vez mais vai se
alinhando aos princípios e valores que estão sendo construídos globalmente, a
articulação e o diálogo com uma rede de instituições que perseguem os mesmos
valores e princípios, o reconhecimento da comunidade por estar contribuindo na
construção de um mundo mais justo e sustentável estão entre vantagens ou
diferenciais de uma instituição signatária ao PRME. “Profissionais formados com
base nesses valores e princípios estarão mais aptos à inovação e de se
alinharem ao mercado global em transformação”, destaca Pegorini.
Para Arruda Filho, os grandes benefícios da adesão
ao PRME são a possibilidade de agregar mais valor aos produtos da organização,
melhorar a reputação institucional, atrair melhores parcerias e oportunidades
de negócio, assegurar a competitividade e sobrevivência em longo prazo, ter
acesso à rede internacional, eventos, pesquisas e estudos sobre o tema, e o
relacionamento com uma rede global de instituições que possuem experiências e
informações valiosas para serem trocadas.
Capacitação
Para educar o aluno é preciso que
o professor esteja capacitado, por isso o Movimento já realizou cursos de capacitação
e teve a aula inaugural com Leonardo Boff e com a participação do Presidente do
CPCE, Victor Barbosa. A professora Mari Regina Anastácio, coordenadora do
Núcleo de Projetos Comunitários da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC-PR) foi coordenadora pedagógica da
proposta, onde constavam os princípios fundamentais daquilo que ela acredita
ser uma efetiva educação voltada à sustentabilidade.
Segundo ela, deveria
ser um dever das instituições educacionais estarem preocupadas com o tema e
direcionarem suas reflexões a ações nesse sentido, uma vez que elas estão
formando as mentes e os corações que guiarão o nosso futuro. “Não é novidade
que estamos vivendo, na condição de espécie, a maior crise da nossa história. E
esse tema não pode estar fora do cenário educacional. Todavia, ressalto que em
grande parte, as próprias instituições educacionais não têm clareza do seu
significado efetivo e consequentemente de sua amplitude”, reflete.
A professora entende
que sustentabilidade vai além dos aspectos sociais, ambientais e econômicos.
“Envolve aspectos culturais, éticos e por que não dizer espiritualidade, entre
outros. Além do que não é possível trabalhar educação na sustentabilidade sem
trabalhar educação integral. Meu sonho é que pessoas e instituições compreendam
a abrangência do que vem a ser esse tipo de educação a tal ponto que se torne
algo tão incorporado que não precise constar como uma diretriz curricular
explícita”, diz.
União de esforços
Sob o ponto de vista dos princípios do Pacto
Global, as instituições signatárias ao PRME deixam de ser concorrentes para
serem parceiras no mesmo objetivo. É o que pensa Arruda Filho. “Nesse momento,
deixamos de ser concorrentes e nos tornamos uma rede em prol do mesmo objetivo.
Prova disso são os constantes encontros para troca de ideias e experiências
sobre conquistas e dificuldades na sensibilização diária de estudantes e
professores, que realizamos com instituições muitas vezes consideradas nossas
concorrentes diretas”, defende.
Cases
Como forma de reunir as melhores iniciativas
educacionais voltadas para a promoção da sustentabilidade, o PRME lança a cada dois anos
o “PRME Inspirational Guide”. Os cases publicados
no documento são selecionados entre as melhores práticas da rede global de
signatários do PRME. A primeira versão do guia foi lançado na Rio+20.
Considerado um dos cases de sucesso do PRME e percussores
também do Movimento, a UniBrasil
conseguiu engajar os alunos sobre a importância do programa. Mais
de 25 trabalhos de conclusão de curso, envolvendo cerca de 100 alunos foram
realizados tendo a sustentabilidade como elemento basilar da pesquisa.
Questionado sobre a instituição ser referência no projeto, o professor coordenador do curso
de Economia, Claudio Marlus Skora, citou a resposta
dada por uma aluna quando submetida à mesma questão: “Por que a UniBrasil
buscou a adesão aos princípios junto à ONU após comprovar que eles foram
internalizados por nossos professores e alunos. Não é marketing professor, é atitude”.
Segundo Skora, aderir às iniciativas da ONU
possibilita a uma instituição de ensino superior um diferencial competitivo
devido ao reconhecimento no mercado que considera a sustentabilidade um valor
inexorável na formação de gestores. “Ainda, há troca de experiências por meio
do contato com a rede global que trabalha a educação voltada para a
sustentabilidade corporativa e, o objetivo maior, o legado na construção de um
futuro suportado por bases mais sustentáveis”, diz.
A Unibrasil participa do Movimento Paraná Educando
na Sustentabilidade desde 2009, quando puderam conhecer os princípios do PRME,
que foram incorporados às ações que eram desenvolvidas desde 2007. Como forma
de aplicar o conhecimento na matriz curricular, a instituição passou a
incorporar as disciplinas de Responsabilidade Social, Sustentabilidade e de
Governança Corporativa. “Após, nas demais disciplinas, os docentes passaram a
abordar a sustentabilidade como uma preocupação cotidiana dos gestores. Em marketing, aborda-se o marketing verde; em Recursos Humanos
discute-se a diversidade no ambiente de trabalho; em Administração da Produção
enfoca-se na logística reversa, para citar alguns exemplos”, conta o
coordenador.
Cada instituição pode aplicar os critérios do PRME
de acordo com sua forma de gestão e realidade. “Sabemos que esse é um processo
lento e gradual e que não depende apenas das IES. Elas são formadas de pessoas,
que têm uma cultura e que atuam em empresas, em indústrias, em comunidades cuja
cultura é ainda pouco sustentável. A mudança será fruto da implementação de
projetos maiores com impactos também maiores e será fruto também das pequenas
mudanças de atitude das pessoas em níveis individual, familiar, comunitário e
coletivo”, explica Pegorini.
Aproximação com a indústria
A aproximação das universidades
com a indústria é uma das maneiras para que os universitários estejam
preparados para os desafios que estão sendo propostos. As experiências
proporcionadas pelo setor são capazes de contribuir com a formação do
profissional. Isso pode ser constatado pelas ações implantadas pelo ISAE/FGV,
também case de sucesso, e que traduz
o PRME por meio do seu programa educacional “Perspectivação”, no qual os alunos
têm a oportunidade de vivenciar a realidade de grandes empresas.
“Um dos diferenciais do Perspectivação é que, além
de colocar o aluno em contato com as tendências do mercado, ele estimula o
desenvolvimento de valores sustentáveis nos alunos. É uma oportunidade de
desenvolvimento das capacidades de líderes em busca de resultados cada vez mais
sustentáveis”, conta o presidente da instituição.
Também como forma de aproximar a indústria com a
academia, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço
Social da Indústria (Sesi) também são signatários do PRME e atuam para integrar a sustentabilidade dos
futuros profissionais.
Nova signatária
A Faculdade Maringá é uma das mais
novas signatárias do PRME. No entanto, segundo conta a coordenadora do curso de
Administração, Charlanne Kelly Piovezan, a instituição já trabalha
com ações sustentáveis na educação desde 2004. A política educacional da faculdade
já previa ações voltadas para meio ambiente, sustentabilidade e ação social. “O
que mudou foi que, a partir do momento em que a faculdade participou o ano
passado do primeiro diálogo sobre o PRME, adotou-se a postura de oficializarmos
todas as ações que tínhamos e trabalhar em outras de acordo com a proposta da
educação para sustentabilidade orientada e postulada pelo PRME”, relata.
As expectativas da instituição são
as melhores possíveis. A partir do 2º semestre, a Faculdade Maringá terá
parcerias para captação de lixo eletrônico e visitas técnicas na empresa
parceira responsável pela reciclagem, visita técnica na Binacional Itaipu para
apresentação do projeto de educação corporativa fundamentada na
sustentabilidade, um curso de extensão em saneamento ambiental direcionado para
a formação de técnicos em Meio Ambiente em parceria com escolas estaduais da
cidade de Maringá, entre outras ações que já estão sendo fomentadas.
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Veja outros conteúdos dessa edição:
Matérias:
- Capa: Sustentabilidade além da matéria-prima
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- Desenvolvimento Local: Eficiência Energética no WTC
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- Artigo: Água: A crise e a inércia política global (Hugo Weber Jr)
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