Água: a crise e a inércia
política global
“A água de boa qualidade é exatamente como a saúde ou a liberdade: ela
só tem valor quando acaba”
João Guimarães Rosa (Escritor)
A UNESCO divulgou oficialmente um
relatório cujo teor é a ameaça de redução das reservas mundiais de água em
cerca de 1/3 nos próximos 20 anos.
Esse
documento adverte os governos sobre a “inércia
política” que só agrava a situação, marcada pela permanente redução dos
mananciais do planeta, pelo grau de poluição e pelo aquecimento global, e deixa
claro que não há água suficiente para a agricultura, que hoje se tornou a maior
consumidora de água no mundo (a irrigação responde por 70% do consumo).
O estudo
coordenado pela UNESCO é o maior já realizado sobre a disponibilidade de água
doce no planeta, e demonstra que a meta mundial em erradicar a fome até 2020 é
impossível de alcançar, sendo necessários pelo menos 30 anos a mais para que
esse objetivo seja alcançado. O motivo é a falta de água para a produção de
alimentos.
Segundo esse
relatório, o maior obstáculo ao combate da crise da água é a vontade política.
“De todas as crises sociais que
enfrentamos, a da água é a que mais afeta nossa sobrevivência e a sobrevivência
do planeta, Nenhuma região será poupada dessa crise, que abala desde a saúde
das crianças até a capacidade das nações assegurarem comida aos seus cidadãos.
Globalmente, o desafio é político. É preciso consciência para mudar os padrões
de consumo de água’’ disse o
diretor da UNESCO Koichito Matsura.
Os números
mostram que a humanidade nunca consumiu e sujou tanta água. Desde 1950, o
consumo mundial quase dobrou e a poluição aumentou drasticamente. Hoje há mais
água poluída do que o conjunto das dez maiores bacias hidrográficas do planeta.
Mesmo em países como o Brasil – que abriga a maior bacia hidrográfica do mundo,
a bacia Amazônica – não estão livres da escassez, já que as maiores reservas de
recursos hídricos ficam distantes dos grandes centros urbanos e das zonas
agrícolas, onde são mais necessárias.
Matérias
sobre o relatório publicadas nos principais jornais mostram que 20 dos 180
países cobertos pelo estudo usam mais de 40% de seus recursos hídricos
renováveis em irrigação. “Alguns países
já são obrigados a escolher entre produzir alimentos ou levar a água para a população beber” destaca o
relatório. A pior situação é prevista para o Sul da Ásia, o Oriente Médio e o
Norte da África. Outras regiões, entretanto, poderão nos próximos 30 anos, ver
sua fronteira agrícola expandida e o combate à fome intensificado, já que
contam com boas reservas de água. São elas a América Latina, o Leste da Ásia e
a África Subsaariana.
Uma das
metas assumidas pela comunidade internacional é reduzir à metade a proporção de
pessoas do mundo que não tem água potável e saneamento básico. No Brasil, 92,7%
das residências têm rede de água potável, segundo o Ministério das Cidades, mas
no Nordeste o sistema de abastecimento não consegue garantir água todo dia. No
que diz respeito à rede de esgotos, a situação é oposta. Apenas 37,7% dos domicílios
estão ligados à rede de coleta. O resto do esgoto é lançado nos rios e no mar.
É essa
poluição – somada aos dejetos industriais – que está na base da crise da água.
Atualmente, estima-se que haja 120.000 Km3 de água contaminada no
mundo – uma quantidade maior do que o total existente nas dez maiores bacias
hidrográficas do planeta. Se o ritmo de contaminação não se alterar, esse número
pode chegar a 180.000 km3 em 2050. Ainda segundo a ONU, um litro de
água com dejetos contamina oito litros de água pura.
De uma coisa
poderemos estar certos: se a água se transformar numa espécie de commodity, não pagaremos por ela o que
pagamos agora. O padrão de consumo não
poderá ser mantido e gastadores terão grandes dores de cabeça e nem poderão
esfriá-la com uma “ducha de água fria” porque sairá muito caro.
Hugo Weber JR. - Consultor em Gestão Verde. Diretor da AGRESSOR ZERO - Sustentabilidade Corporativa
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Veja outros conteúdos dessa edição:
Matérias:
- Capa: Sustentabilidade além da matéria-prima
- Entrevista: Lourival dos Santos e Souza
- Visão Sustentável: Gesso reciclado vira fertilizante para agricultura- - Responsabilidade Social Corporativa: Educando na Sustentabilidade
- Desenvolvimento Local: Eficiência Energética no WTC
Artigos:
- Artigo: O sonho acabou? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Oportunidade e realização (Rafael Giuliano)
- Artigo: O mito do PIB (Daniel Thá)
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