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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Artigo Gestão Estratégica - Hugo Weber

Água: a crise e a inércia política global


“A água de boa qualidade é exatamente como a saúde ou a liberdade: ela só tem valor quando acaba”
João Guimarães Rosa (Escritor)

A UNESCO divulgou oficialmente um relatório cujo teor é a ameaça de redução das reservas mundiais de água em cerca de 1/3 nos próximos 20 anos.
            
Esse documento adverte os governos sobre a “inércia política” que só agrava a situação, marcada pela permanente redução dos mananciais do planeta, pelo grau de poluição e pelo aquecimento global, e deixa claro que não há água suficiente para a agricultura, que hoje se tornou a maior consumidora de água no mundo (a irrigação responde por 70% do consumo).
            
O estudo coordenado pela UNESCO é o maior já realizado sobre a disponibilidade de água doce no planeta, e demonstra que a meta mundial em erradicar a fome até 2020 é impossível de alcançar, sendo necessários pelo menos 30 anos a mais para que esse objetivo seja alcançado. O motivo é a falta de água para a produção de alimentos.
            
Segundo esse relatório, o maior obstáculo ao combate da crise da água é a vontade política. “De todas as crises sociais que enfrentamos, a da água é a que mais afeta nossa sobrevivência e a sobrevivência do planeta, Nenhuma região será poupada dessa crise, que abala desde a saúde das crianças até a capacidade das nações assegurarem comida aos seus cidadãos. Globalmente, o desafio é político. É preciso consciência para mudar os padrões de consumo de água’’ disse o diretor da UNESCO Koichito Matsura.
            
Os números mostram que a humanidade nunca consumiu e sujou tanta água. Desde 1950, o consumo mundial quase dobrou e a poluição aumentou drasticamente. Hoje há mais água poluída do que o conjunto das dez maiores bacias hidrográficas do planeta. Mesmo em países como o Brasil – que abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, a bacia Amazônica – não estão livres da escassez, já que as maiores reservas de recursos hídricos ficam distantes dos grandes centros urbanos e das zonas agrícolas, onde são mais necessárias.        
            
Matérias sobre o relatório publicadas nos principais jornais mostram que 20 dos 180 países cobertos pelo estudo usam mais de 40% de seus recursos hídricos renováveis em irrigação. “Alguns países já são obrigados a escolher entre produzir alimentos ou levar a água para a população beber” destaca o relatório. A pior situação é prevista para o Sul da Ásia, o Oriente Médio e o Norte da África. Outras regiões, entretanto, poderão nos próximos 30 anos, ver sua fronteira agrícola expandida e o combate à fome intensificado, já que contam com boas reservas de água. São elas a América Latina, o Leste da Ásia e a África Subsaariana.
            
Uma das metas assumidas pela comunidade internacional é reduzir à metade a proporção de pessoas do mundo que não tem água potável e saneamento básico. No Brasil, 92,7% das residências têm rede de água potável, segundo o Ministério das Cidades, mas no Nordeste o sistema de abastecimento não consegue garantir água todo dia. No que diz respeito à rede de esgotos, a situação é oposta. Apenas 37,7% dos domicílios estão ligados à rede de coleta. O resto do esgoto é lançado nos rios e no mar.
            
É essa poluição – somada aos dejetos industriais – que está na base da crise da água. Atualmente, estima-se que haja 120.000 Km3 de água contaminada no mundo – uma quantidade maior do que o total existente nas dez maiores bacias hidrográficas do planeta. Se o ritmo de contaminação não se alterar, esse número pode chegar a 180.000 km3 em 2050. Ainda segundo a ONU, um litro de água com dejetos contamina oito litros de água pura.

            
De uma coisa poderemos estar certos: se a água se transformar numa espécie de commodity, não pagaremos por ela o que pagamos agora.  O padrão de consumo não poderá ser mantido e gastadores terão grandes dores de cabeça e nem poderão esfriá-la com uma “ducha de água fria” porque sairá muito caro. 

Hugo Weber JR. - Consultor em Gestão Verde. Diretor da AGRESSOR ZERO - Sustentabilidade Corporativa







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Veja outros conteúdos dessa edição:


Matérias:

- Capa: Sustentabilidade além da matéria-prima
- Entrevista: Lourival dos Santos e Souza
- Visão Sustentável: Gesso reciclado vira fertilizante para agricultura
- - Responsabilidade Social Corporativa: Educando na Sustentabilidade
- Desenvolvimento Local: Eficiência Energética no WTC

Artigos:
- Artigo: O sonho acabou? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Oportunidade e realização (Rafael Giuliano)
- Artigo: O mito do PIB (Daniel Thá)

  
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