Dentre
questões ambientais decisivas para um futuro sustentável, a discussão sobre o reaproveitamento
de resíduos como fonte de energia ganha destaque quando se fala em economia
verde.
O
aumento da geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) é resultante tanto do
crescimento populacional como do modelo econômico. Estimada em seis bilhões de
habitantes, 75% da população mundial se distribui pelos centros urbanos, elevando o consumo de
produtos cada vez mais descartáveis. Logo, saber gerenciar e destinar corretamente
os RSU é essencial na contemporaneidade.
No Brasil, o manejo inadequado
de resíduos reflete a ausência de uma cultura efetiva de separação de resíduos
na fonte e de responsabilidade dos geradores de resíduos, resultando em um
grave problema ambiental. No país onde dados oficiais falam em um nível de
descarte inadequado em lixões de 42% (Plano Nacional de Resíduos Sólidos,
versão preliminar para consulta pública de setembro de 2011), a falta de gestão
de resíduos indica que na realidade esse número pode ser bem maior.
Embora medidas como a
ampliação da compostagem como o destino ambientalmente adequado para resíduos
orgânicos e a exigência da coleta seletiva de recicláveis, além do fim dos
lixões até 2014, foram determinados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS
(Lei nº 12.305/2010), o caminho ainda é árduo.
Em
aterros sanitários, quando descartada, a matéria orgânica leva cerca de seis meses para se
decompor em um processo que gera metano, um dos principais Gases Efeito Estufa
(GEEs). Por outro lado, a combustão converte o metano (CH4) em gás
carbônico ou dióxido de carbono (CO²). A queima minimiza o impacto ambiental, pois
o dióxido de carbono é aproximadamente 21 vezes menos causador do efeito estufa
que o gás metano.
Entretanto, a queima do gás
metano em aterro não precisa parar por aí. É possível gerar energia a partir do
gás. A
Política Nacional de Resíduos Sólidos elencou como uma das alternativas para a
destinação ambientalmente adequada dos resíduos, justamente, a recuperação
energética.
O aproveitamento energético depende do volume de
resíduos descartados para ter viabilidade técnica e econômica. Para incentivar a valorização
energética, foi formado um Comitê de Valorização Energética, formado pela
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE) e pelo Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos Plastvida, que
publicaram o Caderno Informativo sobre a Recuperação Energética dos Resíduos
Sólidos Urbanos.
Estudos comprovam que
essa alternativa permite reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEEs) dos
aterros; aproveitar a energia dos resíduos que, convencionalmente, seria perdida;
além de utilizar menos áreas do aterro para implantação, que pode ser próximo à
cidade, reduzindo os custos de coleta e transporte. Processos industriais, como
a incineração e a gaseificação, possibilitam aproveitar o alto poder calorífico
dos resíduos sólidos, energia denominada biogás. A partir daí, gera-se vapor,
energia térmica, elétrica e combustível
para abastecer gasodutos.
Conforme
o Ministério do Meio Ambiente (MMA), com geração diária de 182.728
toneladas de lixo e considerando o biogás acumulado nos 56 maiores aterros do
país, o Brasil seria capaz de fornecer eletricidade a 5,6 milhões de pessoas! A
expectativa é que, em 2020, essa produção abasteça quase 8,8 milhões de
pessoas, o que equivale ao estado de Pernambuco.
Embora
existam 22 projetos no Brasil, apenas dois a aplicam de fato. O Bandeirantes, aterro que em 2004 abrigou a primeira usina de biogás do Brasil,
e o São João, ambos em São Paulo. Juntos, respondem por mais de 2%
de toda a eletricidade consumida na cidade. A tecnologia cara e o custo elevado
do megawatt-hora em relação à energia convencional são alguns dos empecilhos
responsáveis pela tímida participação do sistema.
É importante lembrar
que não se trata de queimar todo e qualquer tipo de resíduos - e sim melhorar a
gestão de resíduos com a mitigação dos impactos ambientais pela destinação de
resíduos, aproveitando um pouco de cada tipo de tecnologia disponível para
destinação ambientalmente adequada. Para
se viabilizar ambientalmente, por exemplo, a queima de resíduos em
incineradores com aproveitamento energético, é obrigatória a instalação e
manutenção de equipamentos de monitoramento ambiental contínuo e alarmes de
interrupção (no caso de ultrapassagens de emissão). Se não houver investimentos
adequados e fiscalização eficiente, no caso de incineradores, não é possível garantir
a segurança da comunidade do entorno e do meio ambiente.
Especialistas concordam que a melhor forma de
explorar a recuperação energética, considerada uma tendência da atualidade, é aliá-la
às políticas públicas de investimentos, de modo a conferir competitividade a
esse tipo de energia. E então, por que não investir também no aproveitamento
energético de resíduos?
Fernando de Barros é engenheiro civil,
especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, mestre em Engenharia de
Edificações e Saneamento e responsável técnico da Master Ambiental. www.masterambiental.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário