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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

EIMA 8: Economia verde e a sustentabilidade nos negócios

Encontro reúne líderes e especialistas ibero-americanos para debater as mudanças necessárias no modelo econômico para um futuro sustentável

Espaço privilegiado para o debate de grandes temas da atualidade, desta vez o auditório da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, está servindo de palco para se esmiuçar o principal dilema da humanidade neste início de século: as transformações necessárias no modelo econômico para garantir trabalho, habitação, educação, saúde e outros direitos fundamentais aos 7 bilhões de habitantes da Terra.

O Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8), organizado pela fundação espanhola Conama, converteu-se num espaço de troca de ideias, experiências e construção de sinergias para o desenvolvimento de projetos e negócios entre parceiros públicos, privados e organizações da sociedade civil. De acordo com Gonzalo Echagüe, presidente da Fundación Conama, o cenário global é de uma economia sem limites atuando num mundo com recursos finitos. “Isso não pode seguir assim. É preciso dar respostas às demandas do cotidiano dentro dos limites impostos pela natureza”, explica Echagüe.

Os debates, que se iniciaram nesta segunda-feira, 17/10, e vão até o dia 20/10, estão possibilitando a troca de experiências entre diversos países, principalmente em relação a modelos de gestão e de produção que já demonstram potencial de aplicação mais ampla. Isso é importante porque, segundo o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV, as mudanças de modelo e a redução de impactos ambientais dependem muito fortemente de uma participação internacional. Nakano acredita que o Brasil pode desempenhar um papel importante nessa transição, principalmente por conta da multiplicidade de recursos disponíveis no país, que vão do potencial hidrelétrico às reservas do pré-sal, mas também pela capacidade de ganhos com as mudanças nos processos de produção. “Temos hoje 300 milhões de hectares de pastagens e cerca de metade disso pode ser convertido para a agricultura, com ganhos substanciais para a sociedade brasileira e para o país”, destaca.

Já no primeiro dia de debates, a construção de conhecimentos em sustentabilidade avançou muito. Para Denise Hamu, nova representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), é importante perceber que o mundo mudou e que a economia que se desenvolveu no século XX não serve para o futuro. Ela explica que o Pnuma realizou um estudo sobre a economia verde que servirá como base dos debates da Rio+20, (a conferência da ONU sobre desenvolvimento que se realizará em 2012, no Rio de Janeiro). E aponta dez setores estratégicos para que as mudanças econômicas ganhem escala: agricultura, energia, construção civil, pesca, florestas, manufaturas, turismo, transportes, resíduos e saneamento. Hamu explica que as mudanças podem ser feitas com um investimento de apenas 2% do PIB global por ano, “muito menos do que se gasta com a crise financeira global”. Ela reafirma que há necessidade de investimentos objetivos em inovação, pesquisa, ciência e tecnologia, além de uma mudança da cultura empresarial e das pessoas.

De maneira geral, há alguns consensos em relação aos objetivos de uma economia verde. As disparidades aparecem na hora de estabelecer os modelos e as prioridades. No setor público, por exemplo, a economia verde ainda é vista como uma política ambiental, e não como uma demanda de planejamento econômico, social e ambiental. Isso fica claro quando, para debater a construção de uma economia sustentável, tanto o governador paulista, Geraldo Alckmin, como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, designaram como representantes seus respectivos secretários de Meio Ambiente, Bruno Covas e Eduardo Jorge. Em sua participação nos debates, ambos apresentaram as principais políticas ambientais das duas administrações.

Ainda há, portanto, uma lacuna perceptível para que o tema sustentabilidade assuma um papel transversal na construção de políticas públicas. E isso é importante porque, segundo Caio Magri, gerente executivo de Políticas Públicas do Instituto Ethos, a mudança de modelo econômico precisa ser sinalizada por meio de políticas públicas que apontem para o enfrentamento da pobreza e a redução das desigualdades e que contenham claramente uma dimensão ética.

Para Magri, a governança pública é fator estratégico. No entanto, ele afirma que é preciso a articulação de novos polos de governança, na medida em que alguns setores estão assumindo proporções não imaginadas em relação à sociedade e aos Estados. Ele aponta que recente pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que as 50 maiores corporações privadas do mundo têm faturamento maior do que 150 países e que as três maiores entre elas movimentam mais dinheiro do que o PIB do Brasil. “A própria Petrobras tem um faturamento anual maior do que o PIB da Argentina”, ressalta Magri. Diante desse quadro, e das instabilidades dos mercados financeiros globais, Magri acredita que a evolução do processo econômico passará por um choque de transparência, com o enfrentamento da evasão de riquezas dos países e mais transparência nos fluxos internacionais de capitais. “Esta é uma questão estrutural”, afirma.

Também no setor privado a capacidade de mudar vem sendo questionada. Mas algumas experiências mostram que as transformações têm um movimento difícil de ser impedido. O jornalista e consultor Ricardo Voltolini, autor de um livro sobre liderança sustentável, explica que há três fontes de pressão para a mudança nas empresas: a primeira é a escassez de recursos, que redesenha o mercado; a segunda é a pressão regulatória, em que as leis obrigam a mudar; e a terceira é a pressão do consumidor e da sociedade. Ele lembra uma frase de Peter Senge, conferencista sênior do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que diz que a economia está no “fim da bolha industrial”, na qual extrair, produzir e descartar foi a base desde a revolução industrial. Mas alerta: “Ainda estamos mais próximos da economia clássica do que de um modelo mais sustentável de produção e consumo”.

Voltolini acredita que a inovação no setor empresarial pode ser um forte aliado das transformações necessárias. No entanto, para que isso tenha uma escala com capacidade de impacto, “é preciso investir na formação de lideranças com capacidades diferentes das tradicionais”. E afirma que um dos gargalos importantes são as escolas de administração e de negócios, “as quais ainda preparam líderes que são avaliados pelas métricas convencionais de sucesso”. Para ele, é necessário apontar novos valores na liderança empresarial, caso contrário “estaremos sempre com um discurso desvinculado das práticas”.

As transformações propostas pela economia verde são de múltiplos enfoques. No entanto, com a crise que assola os mercados e, especialmente, os países europeus, há quem defenda que essa nova economia é também uma saída para a crise existencial do capitalismo. Para Luis Jiménez Herrero, diretor executivo do Observatório de Sustentabilidade da Espanha, é preciso estabelecer um modelo de desenvolvimento que não ignore que os recursos naturais são finitos e no qual externalidades como poluição, desmatamento ou emissão de gases estufa não sejam tratadas como irrelevantes na contabilidade empresarial. “O capitalismo tem sofrido inúmeras transformações ao longo das décadas e agora está novamente diante de limites para sua atuação”, afirma. Herrero acredita que o desenvolvimento de um modelo econômico com uma métrica diferente, assim como está no documento do Pnuma sobre economia verde, é um caminho para a reinvenção do capitalismo em crise.

Uma crise que, segundo Nelton Friederich, diretor de Meio Ambiente da Itaipu Binacional, se manifesta em alguns dados simples, como o fato de as 270 pessoas mais ricas entre os 7 bilhões de habitantes do planeta terem mais dinheiro do que a soma das posses dos 2,1 bilhões de pessoas mais pobres. Para ele é preciso desenvolver uma economia de menor impacto ambiental e de maior valor social e, para isso, é preciso formar profissionais que saiam das universidades imbuídos desses novos valores. “Quantas são as universidades brasileiras que formam para essa nova economia?”, pergunta. Friederich afirma que é necessário que os governos, a sociedade e as empresas tenham uma visão sistêmica dos processos econômicos e assumam uma responsabilidade compartilhada em relação às transformações necessárias.

De certa forma, essa é também a visão de Ana Leiva, diretora da Fundación Biodiversidad, ligada ao Ministério de Meio Ambiente da Espanha, para quem a integração dos custos do capital natural à formação de preços dos produtos é uma questão vital. Ela defende que se pode contabilizar importantes avanços desde a conferência de cúpula Rio-92, que no ano que vem completa 20 anos e será objeto de uma nova avaliação. Leiva ataca com firmeza dois mitos que atrapalham as mudanças: o primeiro é que a proteção do meio ambiente é um entrave para o desenvolvimento; e o segundo é que apenas os países ricos podem se dar ao luxo de proteger seus ecossistemas. Para ela não há essa contraposição e a preservação ambiental, quando incluída nos processos econômicos, pode representar um novo campo de oportunidades para os negócios e para a melhoria do bem-estar humano.


Por Dal Marcondes (Envolverde), para o Instituto Ethos

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