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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Responsabilidade Social Corporativa - Edição 33


Implantação de projetos socioambientais requer planejamento

Além da discriminação das atividades, objetivos realistas e quantificados são características de projetos bem-sucedidos 

Dificuldade em cumprir os prazos e o orçamento. Esse costuma ser o resultado de um projeto mal elaborado, desenvolvido às pressas e em completo isolamento. É o que analisa o consultor em elaboração, gerenciamento e avaliação de projetos, planejamento estratégico e captação de recursos, Ricardo Falcão. “Projeto não é difícil, mas dá trabalho, pois há muitos detalhes e sua elaboração é demorada. Cada semana gasta na elaboração dos detalhes representa meses de tranquilidade na sua implantação”, alerta. Ainda segundo o consultor, os projetos são o meio mais viável e efetivo para instituições que buscam captação de recursos para desenvolvimento de suas atividades e para as empresas patrocinadoras e apoiadoras estabelecer  as parcerias. Objetivos realistas e quantificados, com cronograma e orçamento factíveis são características apontadas como essenciais para que projetos desenvolvidos por empresas e entidades do terceiro setor saiam do papel.  

Além disso, segundo relata Falcão, que durante 11 anos atuou como financiador, a técnica comum a todos que conquistam recursos é a elaboração do projeto certo para o parceiro certo. “O principal é determinar e oferecer o que o financiador quer”, diz. As empresas podem captar recursos nas agências de fomento, via bancos e sócios, enquanto as instituições sem fins econômicos encontram financiadores nos três setores. Entre alguns exemplos de boas parcerias firmadas entre empresas e banco, o melhor exemplo, segundo Falcão, está no BNDES que tem sido o grande parceiro das empresas com baixos juros para projetos socioambientais que visam modernização das empresas para a redução dos impactos ambientais e a maximização dos impactos socioeconômicos. Do outro lado, empresas como a Petrobras, Tigre, Banco Itaú, Banco Santander, Grupo Pão de Açúcar, entre outros, têm muitas parcerias com o terceiro setor. 

Planejamento e profissionalização

Instituições que pretendem desenvolver alguma atividade com apoio de recursos de agentes financiadores “precisam entender que projeto é parceria e que uma parceria tem que ser boa para os dois”, destaca Falcão. Além disso, o consultor alerta que elaborar um projeto sozinho sem ouvir as outras áreas envolvidas é uma atividade estéril. “Projeto é planejamento e planejamento é uma atividade coletiva”, destaca.

No caso das organizações empresariais e sociais que desejam captar recursos, a profissionalização em todas as suas áreas é essencial. “Uma das grandes preocupações que os financiadores têm é a falta de conhecimento técnico gerencial na maioria das ONGs, em que a função é exercida, muitas vezes, por excelentes técnicos bem intencionados, mas sem formação gerencial”, analisa.

Outra orientação importante é que a pessoa responsável pela captação de recursos precisa estar sempre informada do panorama econômico geral e da situação da empresa onde está buscando investimento. "O captador de recursos precisa prestar atenção na situação econômica antes de oferecer projetos às empresas, precisa saber negociar e conquistar. A fidelização de parceiros também é importante. Mostrar profissionalismo dá credibilidade à entidade”, ressalta Falcão.

Por que investir?
            
Se de um lado estão as empresas, indústrias e entidades do terceiro setor buscando recursos para desenvolvimento de seus projetos, de outro estão os agentes financiadores, que são outras empresas, normalmente de grande porte, e os bancos. A orientação para que a empresa tenha segurança de estar investindo em um bom projeto é considerar que o principal não é o projeto, mas a instituição que deve implementá-lo.

Para começar, é necessário que o investidor saiba mais sobre a organização, que deve apresentar seus dados cadastrais em dia e uma estrutura mínima que ofereça segurança no andamento do projeto e na prestação de contas. Além disso, a empresa deve avaliar também os certificados e prêmios conquistados pela instituição, assim como sua missão, experiência na área e no mercado, qualificações da equipe, parceiros e os resultados que já obteve com suas ações e projetos. “Todas essas informações  precisam ser sintetizadas em apenas uma página”, destaca Falcão.

Outra indicação, principalmente se a entidade na qual o investidor decidiu apostar for desconhecida, é que a duração dos projetos seja de até um ano, pois assim será possível avaliar como é a organização e se presta contas adequadamente. Para avaliar o trabalho, Falcão sugere que sejam feitos acompanhamentos de três em três meses para ver o avanço do projeto e dos objetivos propostos.


Acompanhamento

“Projeto exige acompanhamento”, enfatiza. Não basta investir, é de extrema importância que as empresas valorizarem o dinheiro destinado a ações sociais cobrando resultados e acompanhando de perto a instituição escolhida. “O problema ocorre quando as empresas só deixam o recurso nas instituições e vão embora sem saber dos resultados, da progressão e da melhora obtida. As empresas precisam acompanhar, visitar a instituição, a qual até pode mandar um relatório, mas a empresa precisa conferir”, completa Falcão.

Investimento Social Privado x Responsabilidade Social 
            
É importante ter em mente que investir em projetos não é o mesmo que ter responsabilidade social. Investimento social privado significa investir em projetos de Organizações não Governamentais (ONGs), enquanto responsabilidade social é produzir de forma socialmente responsável, isto é, sem explorar funcionários, sem utilizar trabalho infantil, sem destruir o meio ambiente, entre outras práticas. Uma empresa pode não ter responsabilidade social e investir em projetos. “Há pouco tempo, saiu na mídia uma empresa que fazia investimento em projetos de ONGs, mas explorava trabalho infantil na fabricação de seu produto”, analisa Ricardo Falcão.
            
As empresas devem pensar no investimento social privado da mesma forma e com o mesmo cuidado com que pensam em seu investimento financeiro e tratar a sua área de responsabilidade social com mesmo profissionalismo com que trata as suas outras áreas, colocando à sua frente pessoas capacitadas. “O social não é o determinante em seu negócio, mas, se bem feito, será o diferencial do seu negócio. A globalização tornou tudo muito igual, nesse quadro, o investimento e a responsabilidade social podem reduzir custo, motivar seus funcionários, aumentando a produtividade e dar um destaque à sua empresa e aos seus produtos”, diz.

Oficina

Esses e outros assuntos foram abordados pelo consultor no segundo encontro dos Temas Relevantes para Indústrias e Sindicatos: Oficina de Elaboração de Projetos, promovido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) por meio da iniciativa do Núcleo de Indústrias e Sindicatos (NIS) do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), com o objetivo de mostrar aos profissionais de sustentabilidade como avaliar e desenvolver projetos na área de responsabilidade socioambiental corporativa.

No evento, que aconteceu nos dias 24 e 25 de abril, a coordenadora executiva do CPCE, Rosane Fontoura, ressaltou a importância dos eventos realizados pelo NIS e das indústrias se interessarem pelo tema. “As empresas têm um importante papel como protagonistas no desenvolvimento sustentável local quando apoia projetos na área socioambiental. Em nossa visão, o investimento social deve ter foco  nas estratégias empresariais e nas necessidades das comunidades atendidas”, explica Rosane.

Agentes Financiadores  
Além de empresas investidoras, organizações do terceiro setor devem estar sempre atentas às organizações nacionais e internacionais que oferecem recursos, sendo apenas em alguns casos via edital. Entre os agentes financiadores desse tipo, destacam-se fundações, institutos e empresas participantes do GIFE e do Instituto Ethos, as agências bilaterais, como a agência de cooperação técnica da Alemanha GTZ e a agência de cooperação internacional do Japão JICA.

Também são financiadoras as agências multilaterais, como a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e as Nações Unidas e suas agências dos quais se destacam o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o UNICEF, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), entre muitos outros. “As principais áreas de interesse costumam ser para projetos com ações para o meio ambiente, geração de renda e para a infância, e não precisamos esperar por editais para captar recursos junto a elas”, lembra Falcão.


Inovação

Mais voltado para empresas que desejam captar recursos, um edital nacional de destaque é o Senai Sesi de Inovação. De acordo com a gestora do programa, Daniele Farfus, o edital é uma iniciativa que visa apoiar projetos de pesquisa aplicada em empresas do setor industrial, por meio dos Centros de Tecnologia do SENAI e unidades do SESI, com ênfase em inovações tecnológica e social.
 “O Paraná é uma referência nesse Edital, sobretudo em aprovação de projetos submetidos. Para submeter projetos ao edital, é necessária a participação das indústrias e percebe-se, a cada ano, procura maior. Para o Sesi também é interessante avaliar que já temos indústrias parceiras em mais de um projeto”, avalia Daniele.
            
As principais características dos projetos aprovados por esse edital são ideias inovadoras que efetivamente possam ser transformadas em produtos, processos e serviços que agreguem valor às indústrias e que promovam a qualidade de vida do trabalhador. Outro fator importante para as inovações sociais é analisar o potencial de replicabilidade, ou seja, como esses projetos podem ser disseminados em outros contextos.

Os critérios de avaliação dos projetos consideram, em linhas gerais, a descrição da inovação proposta e análise de viabilidade econômica e do cenário por meio de apresentação de plano de negócios e contrapartidas econômicas e financeiras aportadas para o desenvolvimento da inovação. Segundo conta Daniela, quatro projetos do edital de 2011 estão em fase final e sete novos projetos aprovados no Edital 2012 estão em fase inicial. 

Ainda de acordo com a gestora, o SESI Paraná está de portas abertas para indústrias que queiram desenvolver novas propostas de inovação social. “Um projeto bom é aquele que envolve parcerias estratégicas, que busca desenvolver o novo e que consegue contribuir com o desenvolvimento social durante e após sua aplicação”, lembra.


O edital é uma oportunidade para que parcerias efetivas se concretizem entre o SESI-PR e a indústria. De acordo com a gestora do programa, as indústrias estão cada vez mais  inserindo nos seus processos a metodologia de gestão por meio de projetos. “Trabalhar por projetos é ter clareza de que determinada ação será desenvolvida em certo período com um objetivo a ser atingido, mensurado e com resultados concretos. Eventos como o do CPCE contribuem para o desenvolvimento das competências técnicas necessárias”, completa Daniele.

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Veja os conteúdos dessa edição:

Matérias:
- Capa: Arquiteto Empreendedor
- Entrevista: Jeferson Navolar
- Espaço Arquitetura
- Construções Sustentáveis: Integração e Sustentabilidade desde a concepção do projeto
- Responsabilidade Ambiental: Cultivando Água Boa
- Desenvolvimento Local: Aliança Paraná Sustentável
- Desenvolvimento Social: CEF apoia empreendimentos habitacionais sustentáveis


Artigos:
- Artigo: Vamos de carro ou de metrô? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Engajando e cultivando talentos (Rafael Giuliano)
- Artigo: Arquitetura Sustentável: um processo (Ivan Dutra)

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