Implantação de projetos socioambientais
requer planejamento
Além da discriminação das atividades,
objetivos realistas e quantificados são características de projetos
bem-sucedidos
Dificuldade em cumprir os prazos e o
orçamento. Esse costuma ser o resultado de um projeto mal elaborado,
desenvolvido às pressas e em completo isolamento. É o que analisa o
consultor em elaboração, gerenciamento e avaliação de projetos, planejamento
estratégico e captação de recursos, Ricardo Falcão. “Projeto não é
difícil, mas dá trabalho, pois há muitos detalhes e sua elaboração é demorada.
Cada semana gasta na elaboração dos detalhes representa meses de tranquilidade
na sua implantação”, alerta. Ainda segundo o consultor, os projetos são o meio
mais viável e efetivo para instituições que buscam captação de recursos para
desenvolvimento de suas atividades e para as empresas patrocinadoras e
apoiadoras estabelecer as parcerias. Objetivos realistas e quantificados,
com cronograma e orçamento factíveis são características apontadas como
essenciais para que projetos desenvolvidos por empresas e entidades do terceiro
setor saiam do papel.
Além disso, segundo relata Falcão, que
durante 11 anos atuou como financiador, a técnica comum a todos que conquistam
recursos é a elaboração do projeto certo para o parceiro certo. “O principal é
determinar e oferecer o que o financiador quer”, diz. As empresas podem captar
recursos nas agências de fomento, via bancos e sócios, enquanto as instituições
sem fins econômicos encontram financiadores nos três setores. Entre alguns
exemplos de boas parcerias firmadas entre empresas e banco, o melhor exemplo,
segundo Falcão, está no BNDES que tem sido o grande parceiro das empresas com
baixos juros para projetos socioambientais que visam modernização das empresas
para a redução dos impactos ambientais e a maximização dos impactos
socioeconômicos. Do outro lado, empresas como a Petrobras, Tigre, Banco Itaú,
Banco Santander, Grupo Pão de Açúcar, entre outros, têm muitas parcerias com o
terceiro setor.
Planejamento e profissionalização
Instituições que pretendem desenvolver
alguma atividade com apoio de recursos de agentes financiadores “precisam
entender que projeto é parceria e que uma parceria tem que ser boa para os
dois”, destaca Falcão. Além disso, o consultor alerta que elaborar um projeto
sozinho sem ouvir as outras áreas envolvidas é uma atividade estéril. “Projeto
é planejamento e planejamento é uma atividade coletiva”, destaca.
No caso das organizações empresariais e
sociais que desejam captar recursos, a profissionalização em todas as suas
áreas é essencial. “Uma das grandes preocupações que os financiadores têm é a
falta de conhecimento técnico gerencial na maioria das ONGs, em que a função é
exercida, muitas vezes, por excelentes técnicos bem intencionados, mas sem
formação gerencial”, analisa.
Outra orientação importante é que a pessoa
responsável pela captação de recursos precisa estar sempre informada do
panorama econômico geral e da situação da empresa onde está buscando
investimento. "O captador de recursos precisa prestar atenção na situação
econômica antes de oferecer projetos às empresas, precisa saber negociar e
conquistar. A fidelização de parceiros também é importante. Mostrar
profissionalismo dá credibilidade à entidade”, ressalta Falcão.
Por que investir?
Se de um lado estão as empresas,
indústrias e entidades do terceiro setor buscando recursos para desenvolvimento
de seus projetos, de outro estão os agentes financiadores, que são outras
empresas, normalmente de grande porte, e os bancos. A orientação para que a
empresa tenha segurança de estar investindo em um bom projeto é considerar que
o principal não é o projeto, mas a instituição que deve implementá-lo.
Para começar, é necessário que o
investidor saiba mais sobre a organização, que deve apresentar seus dados
cadastrais em dia e uma estrutura mínima que ofereça segurança no andamento do
projeto e na prestação de contas. Além disso, a empresa deve avaliar também os
certificados e prêmios conquistados pela instituição, assim como sua missão,
experiência na área e no mercado, qualificações da equipe, parceiros e os
resultados que já obteve com suas ações e projetos. “Todas essas informações
precisam ser sintetizadas em apenas uma página”, destaca Falcão.
Outra indicação, principalmente se a
entidade na qual o investidor decidiu apostar for desconhecida, é que a duração
dos projetos seja de até um ano, pois assim será possível avaliar como é a
organização e se presta contas adequadamente. Para avaliar o trabalho, Falcão
sugere que sejam feitos acompanhamentos de três em três meses para ver o avanço
do projeto e dos objetivos propostos.
Acompanhamento
“Projeto exige acompanhamento”, enfatiza.
Não basta investir, é de extrema importância que as empresas valorizarem o
dinheiro destinado a ações sociais cobrando resultados e acompanhando de perto
a instituição escolhida. “O problema ocorre quando as empresas só deixam o
recurso nas instituições e vão embora sem saber dos resultados, da progressão e
da melhora obtida. As empresas precisam acompanhar, visitar a instituição, a
qual até pode mandar um relatório, mas a empresa precisa conferir”, completa
Falcão.
Investimento Social Privado x Responsabilidade
Social
É importante ter em mente que investir em
projetos não é o mesmo que ter responsabilidade social. Investimento social
privado significa investir em projetos de Organizações não Governamentais
(ONGs), enquanto responsabilidade social é produzir de forma socialmente
responsável, isto é, sem explorar funcionários, sem utilizar trabalho infantil,
sem destruir o meio ambiente, entre outras práticas. Uma empresa pode não ter
responsabilidade social e investir em projetos. “Há pouco tempo, saiu na mídia
uma empresa que fazia investimento em projetos de ONGs, mas explorava trabalho
infantil na fabricação de seu produto”, analisa Ricardo Falcão.
As empresas devem pensar no
investimento social privado da mesma forma e com o mesmo cuidado com que pensam
em seu investimento financeiro e tratar a sua área de responsabilidade social
com mesmo profissionalismo com que trata as suas outras áreas, colocando à sua
frente pessoas capacitadas. “O social não é o determinante em seu negócio, mas,
se bem feito, será o diferencial do seu negócio. A globalização tornou tudo
muito igual, nesse quadro, o investimento e a responsabilidade social podem
reduzir custo, motivar seus funcionários, aumentando a produtividade e dar um
destaque à sua empresa e aos seus produtos”, diz.
Oficina
Esses e outros assuntos foram abordados
pelo consultor no segundo encontro dos Temas Relevantes para Indústrias e
Sindicatos: Oficina de Elaboração de Projetos, promovido pelo Serviço Social da
Indústria (Sesi) por meio da iniciativa do Núcleo de Indústrias e Sindicatos
(NIS) do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE), com o objetivo de
mostrar aos profissionais de sustentabilidade como avaliar e desenvolver
projetos na área de responsabilidade socioambiental corporativa.
No evento, que aconteceu nos dias 24 e 25
de abril, a coordenadora executiva do CPCE, Rosane Fontoura, ressaltou a
importância dos eventos realizados pelo NIS e das indústrias se interessarem
pelo tema. “As empresas têm um importante papel como protagonistas no
desenvolvimento sustentável local quando apoia projetos na área socioambiental.
Em nossa visão, o investimento social deve ter foco nas estratégias empresariais
e nas necessidades das comunidades atendidas”, explica Rosane.
Agentes Financiadores
Além de empresas investidoras,
organizações do terceiro setor devem estar sempre atentas às organizações
nacionais e internacionais que oferecem recursos, sendo apenas em alguns casos
via edital. Entre os agentes financiadores desse tipo, destacam-se
fundações, institutos e empresas participantes do GIFE e do Instituto Ethos, as
agências bilaterais, como a agência de cooperação técnica da Alemanha GTZ e a
agência de cooperação internacional do Japão JICA.
Também são financiadoras as agências
multilaterais, como a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos
(OEA) e as Nações Unidas e suas agências dos quais se destacam o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD), o UNICEF, o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), entre muitos outros. “As principais áreas de interesse
costumam ser para projetos com ações para o meio ambiente, geração de renda e
para a infância, e não precisamos esperar por editais para captar recursos
junto a elas”, lembra Falcão.
Inovação
Mais voltado para empresas que desejam
captar recursos, um edital nacional de destaque é o Senai Sesi de Inovação. De
acordo com a gestora do programa, Daniele Farfus, o edital é uma iniciativa que
visa apoiar projetos de pesquisa aplicada em empresas do setor industrial, por
meio dos Centros de Tecnologia do SENAI e unidades do SESI, com ênfase em
inovações tecnológica e social.
“O Paraná é uma referência nesse Edital, sobretudo em
aprovação de projetos submetidos. Para submeter projetos ao edital, é
necessária a participação das indústrias e percebe-se, a cada ano, procura
maior. Para o Sesi também é interessante avaliar que já temos indústrias
parceiras em mais de um projeto”, avalia Daniele.
As principais características dos projetos
aprovados por esse edital são ideias inovadoras que efetivamente possam ser
transformadas em produtos, processos e serviços que agreguem valor às
indústrias e que promovam a qualidade de vida do trabalhador. Outro fator
importante para as inovações sociais é analisar o potencial de replicabilidade,
ou seja, como esses projetos podem ser disseminados em outros contextos.
Os critérios de avaliação dos projetos
consideram, em linhas gerais, a descrição da inovação proposta e análise de
viabilidade econômica e do cenário por meio de apresentação de plano de
negócios e contrapartidas econômicas e financeiras aportadas para o desenvolvimento
da inovação. Segundo conta Daniela, quatro projetos do edital de 2011
estão em fase final e sete novos projetos aprovados no Edital 2012 estão em
fase inicial.
Ainda de acordo com a gestora, o SESI
Paraná está de portas abertas para indústrias que queiram desenvolver novas
propostas de inovação social. “Um projeto bom é aquele que envolve parcerias
estratégicas, que busca desenvolver o novo e que consegue contribuir com o
desenvolvimento social durante e após sua aplicação”, lembra.
O edital é uma oportunidade para que
parcerias efetivas se concretizem entre o SESI-PR e a indústria. De acordo com
a gestora do programa, as indústrias estão cada vez mais inserindo nos
seus processos a metodologia de gestão por meio de projetos. “Trabalhar por
projetos é ter clareza de que determinada ação será desenvolvida em certo
período com um objetivo a ser atingido, mensurado e com resultados concretos.
Eventos como o do CPCE contribuem para o desenvolvimento das competências
técnicas necessárias”, completa Daniele.
Matérias:
- Capa: Arquiteto Empreendedor
- Entrevista: Jeferson Navolar
- Espaço Arquitetura
- Construções Sustentáveis: Integração e Sustentabilidade desde a concepção do projeto
- Responsabilidade Ambiental: Cultivando Água Boa
- Desenvolvimento Local: Aliança Paraná Sustentável
- Desenvolvimento Social: CEF apoia empreendimentos habitacionais sustentáveis
Artigos:
- Artigo: Vamos de carro ou de metrô? (Jerônimo Mendes)
- Artigo: Engajando e cultivando talentos (Rafael Giuliano)
- Artigo: Arquitetura Sustentável: um processo (Ivan Dutra)
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