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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Artigo Gestão Sustentável - Edição 33

Vamos de carro ou de metrô?

O conceito original do Metrô de Chicago, nos Estados Unidos, conhecido como subway, nasceu há 120 anos. O de Boston, há 116 anos. O de Nova Iorque, há 110 anos. Do outro lado do Atlântico, o metrô de
Londres, na Inglaterra, também conhecido como tube ou underground, foi concebido há mais de 110 anos, e o de Tóquio, do outro lado do mundo, foi oficialmente inaugurado há mais de 80 anos.

Em diferentes países do mundo, os chamados desenvolvidos, a história do metrô teve evolução gradual, porém, mais sólida e mais acelerada do que em outros países do globo, até há pouco tempo considerados subdesenvolvidos. Historicamente, há mais de 100 anos, muitos países já previam o crescimento exponencial da população e os problemas decorrentes da ocupação desordenada das metrópoles
e, com base nisso, foram capazes de mobilizar recursos na tentativa de amenizar o problema.

Por tudo isso, é fato que a humanidade ainda não sabe lidar com as consequências do desenvolvimento
industrial nada sustentável e o apetite voraz do ser humano por mais poder, dinheiro e bens materiais. Na prática, as forças da globalização são muito claras: o mercado é implacável, tudo precisa crescer, inclusive o número de veículos nas ruas, caso contrário, o que seria das grandes corporações?

Do ponto de vista econômico, queremos o melhor para nós mesmos, seja por meio do conforto e da realização pessoal. Do ponto de vista filosófico, são poucos os que estão dispostos a abrir mão da comodidade provocada pela satisfação de dirigir o seu próprio veículo em benefício da coletividade, da preservação dos recursos naturais, da qualidade do ar, das gerações futuras. Para a maioria, o que importa
é o momento, pois não estará aqui quando o caos da mobilidade estiver consolidado.

De acordo com levantamento realizado pela Agência Internacional de Energia, com sede em Paris, a frota mundial de veículos deverá chegar a 1,7 bilhão de unidades em 2035, capitaneada pela crescente demanda do mercado chinês, cuja frota atual gira em torno de 60 milhões de veículos. Em menos de trinta anos, a frota chinesa deverá alcançar a incrível marca de 400 milhões de unidades.

Alguém consegue imaginar onde serão encontrados estacionamentos, estradas, ruas, garagens e recursos naturais imprescindíveis para produzir e acomodar tudo isso? Imagine se cada cidadão chinês, indiano, paquistanês, africano ou mesmo brasileiro tiver a mínima pretensão de adquirir o seu próprio veículo. Seria um direito universal, afinal, não somos todos iguais?

Para se ter a mínima ideia do desafio a ser enfrentado, segundo dados da mesma Agência, em 2000, havia quatro veículos para cada grupo de mil habitantes. Em 2010, o número saltou de quatro para quarenta veículos a cada mil pessoas e, em 2035, o número será de 310 automóveis para cada grupo de mil pessoas.

No Brasil, os programas de mobilidade urbana promovidos pelo Governo Federal têm como bandeira principal a inclusão social e a cidadania por meio da universalização do acesso aos serviços públicos de transporte coletivo. Seria fantástico se não houvesse um forte componente político capaz de emperrar a máquina administrativa ao ser confrontado com interesses particulares.

Exemplos práticos disso são o do Metrô de Fortaleza, o qual levou treze anos para circular com a primeira linha desde que foi emitida a ordem de serviço para o início das obras, e o de Curitiba, uma novela que se arrasta há mais de vinte anos nos bastidores da Prefeitura Municipal e dos órgãos de apoio, preocupados com o impacto ambiental atual em vez de se preocupar com o impacto ambiental do futuro.

Por outro lado, existe sempre alguém reivindicando a autoria, porém, o tempo de mandato não é suficiente para concluir o projeto nem a obra, tamanha a discussão gerada em torno do assunto. Além do mais, não seria inteligente, do ponto de vista político, executar uma obra e transferir o gostinho da inauguração para o próximo candidato.

A questão é complexa e o “peixe está sobre a mesa”, como se diz na Sicília. Para limpá-lo e transformá-lo em benefício da coletividade mundial, é necessário repensar o termo cunhado pelo Professor e Físico brasileiro José Goldemberg, “as forças ocultas da globalização”, que empurram nossa sociedade para um futuro incerto.

Na minha humilde opinião, o mercado nem sempre determina a regra, nem tudo tem de crescer e, por fim, nem toda tecnologia está a serviço da coletividade humana. O viés econômico é importante, mas pode ter consequências irreversíveis. O viés filosófico fica por conta da evolução humana e passa pela seguinte questão: na prática, quem é que vai abrir mão do quê? Pense nisso, pense sustentável!

Jerônimo Mendes
Administrador, Coach
Empreendedor, Escritor e
Palestrante
Mestre em Organizações
e Desenvolvimento Local
pela UNIFAE

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