Por
Fernando de Barros
Ser ou não ser sustentável, eis a questão. Afinal,
uma pergunta que sempre se coloca para qualquer empresário é “O que eu ganho
com isso?” Embora exista resistência quanto ao tema da sustentabilidade no meio
empresarial, a adoção de diretrizes de sustentabilidade na gestão de uma
empresa mostra-se cada vez mais crucial, inclusive se torna oportunidade de
novos bons negócios.
A relutância de muitos empresários fundamenta-se na
ideia de que sustentabilidade é origem de custos e que não rende lucratividade.
As ações não são encaradas como um investimento. Em pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apesar das vantagens, apenas
46% das micro e pequenas empresas brasileiras acreditam que o investimento em
sustentabilidade pode gerar ganhos financeiros.
A
pesquisa examinou os setores de Comércio e Serviços (50%), Indústria e
Construção Civil (46,0%) e Agronegócios (4,0%). Dos 3.912 empresários
entrevistados, 80,6% confirmaram o controle do consumo de água, 81,7%, o
consumo de energia, 70,2% a realização da coleta seletiva e 72,4% o consumo de
papel. Mais da metade das empresas, porém, informou não ter o hábito de usar
materiais recicláveis nas produções, 83,4% não reutilizam água e 50,9% não
reciclam lixo eletrônico ou pneus. Desenvolver produtos que reduzam o consumo
de energia, recursos naturais e provoquem menos impactos ambientais é a
tendência que concilia bons negócios com sustentabilidade.
Por sua vez, a Universidade de Harvard, nos EUA,
realizou uma pesquisa sobre o desempenho das maiores empresas do mundo, entre
1992 e 2010, considerando a adoção de políticas sustentáveis. A pesquisa elencou as 27 posturas sustentáveis
mais adotadas no meio empresarial. Dentre elas, eficiência energética, redução
de emissão, respeito aos direitos humanos e transparência de informações. A
partir disso, as empresas foram divididas em dois grupos: alta
sustentabilidade, com mais de 10 posturas sustentáveis desde os anos 1990; e
baixa sustentabilidade, com menos de quatro políticas inseridas nos anos 2000.
Eis a resposta que deve quebrar paradigmas ou
preconceitos no meio empresarial. O resultado revelou que o comprometimento
ambiental assegurou o dobro da rentabilidade líquida e a mínima desvalorização
durante a queda das bolsas. A que se deve esse alto desempenho? Segundo a pesquisa,
a liderança baseada no diálogo entre as partes interessadas, as metas
sustentáveis sob a responsabilidade da diretoria e os investimentos de longo
prazo para satisfazer os consumidores são alguns pilares que endossam a eficiência
de mercado. Vale dizer que a iniciativa, nesses casos, foi das próprias
empresas.
Um
exemplo de que ganho econômico combina com sustentabilidade advem do programa
pioneiro de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), implantado pela Prefeitura
de Nova York aos agricultores das Montanhas de Catskill. A estratégia aponta que
os protetores de áreas naturais – sejam eles governos, organizações
não-governamentais ou particulares – devem ser reconhecidos pela conservação das
terras, pois os serviços ambientais das prestados em suas propriedades (que é
principalmente a conservação da qualidade da água na região de nascentes)
beneficia toda a sociedade. Nesse caso, a cada dólar pago pela manutenção da
qualidade ambiental nas áreas de nascentes, foram economizados sete dólares no
custo do tratamento da água.
Os
números surpreendem positiva e negativamente, ora pelos dados de experiências
estrangeiras que demonstram as oportunidades de ganhos econômicos ao investir em
sustentabilidade, ora devido à resistência e ausência de uma cultura
consolidada no meio empresarial brasileiro, especialmente no universo de
pequenas empresas. De todo modo, as práticas de gestão para a sustentabilidade
precisam ser aprimoradas e desenvolvidas. Cabe aos empresários fazerem a
escolha pela sustentabilidade que traz, sim, lucro.
Fernando
de Barros é engenheiro civil, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental,
mestre em Engenharia de Edificações e Saneamento e responsável técnico da Master Ambiental. www.masterambiental.com.br
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