Desde a Revolta de Jasmim, que derrubou o ditador tunisiano Bem Ali, passando pelos “Dias de Fúria” no Egito, pelo esfacelamento da Líbia e por alterações em todo norte da África e grande parte do Oriente Médio, até as recentes manifestações inspiradas no “Occupy Wall Street” em muitos países, este tem sido um ano de manifestações públicas e insatisfações com injustiças sociais. Gostaria de exercitar três reflexões sobre pontos em comum em todas essas manifestações, mesmo reconhecendo terem origem e motivos aparentes diferentes.
A primeira é que, independentemente da discussão, se novas democracias africanas abrirão portas para grupos radicais mulçumanos tomarem o poder ou se concentrações em praças vão ou não gerar empregos para um grande número de pessoas sem atividade na Europa ou nos EUA, pode-se concluir, sem sombra de dúvidas, que o modelo reducionista e teleológico de pensar os homens e a sociedade como apenas mais um produto econômico não se sustenta mais. Com o passar dos anos, o andar da carruagem não consegue mais ajeitar as abóboras e só acentua diferenças socioeconômicas entre países e grupos sociais.
A segunda é como as novas tecnologias de registro, informação e comunicação têm-se tornado mais efetivas na organização desses movimentos, não importando mais o país onde ela tem origem. As redes sociais venceram as censuras, os toques de recolher e a falta de liberdade de expressão. A onda global de movimentos sociais que precedeu a Revolução Francesa durou mais de 20 anos, iniciando-se EUA em 1776 e atingindo diversos outros países, como Inglaterra, Irlanda, Países Baixos e outros. Hoje somos convidados a participar e a acompanhar ao vivo os acontecimentos, independentemente de proibições.
O MUNDO PRECISA DE LÍDERES
A terceira reflexão sobre pontos em comum nas revoltas de 2011 é a ausência de lideranças fortes e reconhecidas em todos eles. A movimentação é bastante positiva, pois são sinais de mudança. Porém, as reivindicações nesses movimentos não são muito claras. Em alguns casos, como na Argélia, a simples suspensão de um Estado de Emergência é recebida como satisfação e vista como uma medida pacificadora. Em outros, como no “Occupy Wall Street” e nos movimentos ocorridos recentemente em diversos outros países, inspirados na ocupação do centro financeiro norte-americano, os objetivos dos insatisfeitos não são tão claros. Constata-se apenas que do jeito que está não está bom. “Queremos o fim da ganância das grandes corporações e das instituições financeiras”, como se isto fosse compatível com um regime capitalista de mercado, que tem na acumulação de capital sua meta principal.
Precisamos desenvolver novas lideranças, em nosso país e em todo o mundo, em todas as áreas. Pessoas comprometidas com o novo, com o inédito, capazes de perceber a insatisfação de grupos e sociedades, de refletir, discutir, aparar diferenças e conduzir insatisfeitos para uma situação diferente, que tenha sempre como objetivo final uma maior igualdade entre regiões, povos e pessoas. Torço para que essa lacuna social de lideranças seja temporária e não signifique o esquecimento, a descrença ou o desinteresse das pessoas de retomar o caminho de construção da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
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** Ivan de Melo Dutra: Arquiteto e Urbanista e Mestre em Organizações e Desenvolvimento
Artigo publicado originalmente na edição 25 da revista Geração Sustentável
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Veja os conteúdos dessa edição:
Matérias:
Capa: Saiba como andam as práticas de sustentabilidade dos bancos brasileiros
Entrevista com Manfred Alfonso Dasenbrock - Sicredi PR
Desenvolvimento Local: Iniciativa sustentável inova modelo de entregas
Responsabilidade Social: Sustentabilidade - da teoria à prática
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