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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Crescimento da economia gera alerta para escassez de recursos naturais

Economista diz que, ao contrário da Europa e Estados Unidos, crise do Brasil pode ser ambiental

Ricardo Amorim passou por Curitiba, na última semana, para falar sobre um assunto ainda pouco debatido na área econômica: sustentabilidade. Comentarista e colunista de grandes veículos nacionais e internacionais na área de economia e presidente da RICAM Consultoria, Amorim veio à capital paranaense para encerrar a 11ª Feira de Gestão da FAE.

Antes disso, em Paris e Londres, o economista proferiu palestra para um público qualificado e ansioso para saber sobre a visão da América sobre a situação da Europa. Sem esperança, ele afirmou: "a crise européia vai ser pior que a dos Estados Unidos".

Segundo ele, o endividamento de países como a Grécia, Itália, Portugal, Irlanda e Espanha é apenas o começo de uma crise que já começa a preocupar as grandes potências, como França, Inglaterra e Alemanha. "Um quarto dos jovens ingleses estão desempregados e revoltados", alerta Amorim. E não é só: "infelizmente, ainda tem muito problema para aparecer nos países ricos". Para ele, a Europa é uma grande candidata a um calote generalizado.

Por outro lado, todas as oportunidades se voltam para o Brasil. Com um discurso simples e bem-humorado, o economista afirma que o País está "condenado" a dar certo: "para dar errado, só importando o Hugo Chavez ou entrando em uma guerra civil", brinca. E completa: "só não crescemos mais, até agora, porque não fizemos a nossa lição de casa", referindo-se a políticas de saúde, educação, infraestrutura, tributação, entre outras.

Amorim lembra que, entre 1980 e 2003, o ritmo de crescimento médio do Brasil foi bem modesto, de apenas 2,4%. De 2004 para cá, a média foi de 4,9%. "E, na pior das hipóteses, esse patamar deve se manter. Ou seja, assumindo que nenhuma das reformas necessárias será feita nos próximos anos. Se algumas delas saírem do papel, aí pode ser que o País cresça em média uns 6%, 7% ao ano", diz o economista. "Em suma, o Brasil vai crescer, apesar dele mesmo", reforça.

A boa notícia, segundo o economista, é que tanto economicamente, quanto socialmente, as coisas estão melhorando muito no Brasil: "nos últimos cinco anos, 45 milhões de brasileiros emergiram da zona de pobreza. Basicamente, uma Espanha inteira". Porém, como Newton dizia, "toda ação gera uma reação". Nesse sentido, Amorim faz um alerta para a sociedade, governo e setor produtivo: "à medida que grandes parcelas da população mais carente do Brasil e do mundo melhorarem a condição econômica e consumirem mais, a pressão sobre o meio ambiente aumentará".

Para o economista, a importância da educação ambiental nunca foi tão grande no Brasil. "Para lidar com esta pressão, o desenvolvimento de novas tecnologias menos poluidoras deve ser incentivado tanto por políticas de governo quanto, principalmente, por todos nós, através de um estilo de consumo mais preocupado com a sustentabilidade socioambiental", afirma Amorim.



Os Perigos do Crescimento Brasileiro

O principal motivo que "condena" o Brasil a crescer, segundo Amorim, é a pressão que os preços das commodities devem continuar a sofrer nos próximos anos. O economista lembra que produzir manufaturados que incorporem tecnologia já não é mais garantia de diferencial. "Tecnologia também vira commodity. Ela passa a ser reproduzida e se torna mais barata", diz. As matérias primas, por outro lado, nunca estiveram tão caras. O petróleo, por exemplo, vai continuar encarecendo, segundo ele.

Pressão semelhante será sentida sobre os preços dos alimentos, sendo que a área cultivável do País, que já é a maior do mundo, pode se expandir ainda mais. "Por outro lado, o aumento exponencial da utilização de recursos naturais nas próximas décadas vai dificultar o equilíbrio ecológico", alerta. O crescimento espantoso do agronegócio, desde 2001, também chama atenção para a inversão dos fluxos migratórios do Brasil: "faz dez anos que as cidades que mais crescem no País são do interior e a isso atribuímos o início do processo de interiorização da população", avalia Amorim, que sugere ao varejo que volte as atenções para este mercado em expansão.

No setor produtivo, o economista garante que os líderes globais mudaram. "Empresas como Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, JBS e InBev ocupam posições entre as maiores e mais valiosas do mundo, em seus segmentos". As corporações brasileiras deixaram de ser as compradas para se tornarem as compradoras. Ao mesmo tempo, com o consumo em baixa nos países ricos, as multinacionais aqui instaladas passaram a se beneficiar mais do mercado interno que do mercado de seus países. "Para a Fiat, o mercado brasileiro já é mais importante que o italiano; para o espanhol Santander, a maior parte do lucro vem hoje do Brasil", exemplifica o economista.

Nos últimos anos, o Brasil experimentou a estabilização econômica, na forma do controle da inflação e do câmbio e no fortalecimento do sistema financeiro. Para a população, as mudanças se manifestaram na forma de aumento da renda, do nível de emprego e da oferta de crédito, que conferiram aos brasileiros um poder de consumo nunca experimentado antes. Para Amorim, esse poder de fogo vai continuar crescendo: "as classes A, B e C ainda vão engordar mais - a previsão é que as duas primeiras cresçam mais 50%, e que a terceira aumente em 20% até 2014", afirma.

Amorim observa também que os brasileiros que estavam trabalhando em outros países estão retornando e que o Brasil começa a receber estrangeiros no mercado de trabalho. Segundo ele, nos últimos três anos, 400 mil brasileiros retornaram ao País e o número de vistos de trabalho para estrangeiros triplicou nesse período. "Hoje, a vantagem competitiva para um país crescer é a oferta de gente para trabalhar", conta, citando como exemplo a volta de profissionais como modelos e jogadores de futebol - que antes eram mais valorizados no exterior e agora encontram melhores oportunidades no Brasil.

Impulsionada pela oferta de crédito - que, segundo Amorim, ainda deve ser ampliada -, a população brasileira nunca teve tanto poder de consumo. Em termos de sustentabilidade, há dois fatores a considerar: o primeiro é um alerta em relação ao endividamento da população - que, para o economista, está ligado à sustentabilidade financeira. O segundo é em relação ao consumo consciente: "com o poder de compra, está nas mãos do consumidor direcionar seu consumo para produtos sustentáveis e evitar o desperdício", sugere.

Para citar um exemplo, Amorim conta que o Brasil já é o quarto lugar onde mais se vende automóveis no mundo. Ótimo para a economia, mas muito prejudicial para a mobilidade urbana, com o aumento de problemas no trânsito, e para o meio ambiente, com o crescimento da poluição e de sucatas em ferros-velhos.

O economista lembrou que a realização de dois grandes eventos no Brasil - a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, são as maiores oportunidades que o País possui de aplicar e difundir o conceito de sustentabilidade mundial. "Podemos ser os primeiros a adotar a emissão zero de carbono nesses eventos - só depende da população pressionar o governo para isso", incentiva.

Ricardo Amorim estudou e trabalhou no Brasil, Europa e Estados Unidos. Ele atua no mercado financeiro desde 1992, tendo passado por instituições financeiras como BankBoston, Itaú, Banco Société Générale, BNP Paribas e WestLB, como diretor-executivo. A sustentabilidade está na pauta do economista desde 1993, quando foi vencedor de um concurso de monografias, com o trabalho "A Tecnologia e o Meio Ambiente".

Fonte: Central Press

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